sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Sim. O autor é João Salvador Pérez, Tonico da dupla sertaneja Tonico & Tinoco.
Se alguém pensa que esse dueto é uma dupla sertaneja qualquer, é bom se informar melhor. Tonico é autor de centenas de composições, 25 peças teatrais e este maravilhoso volume de conto sertanejo. É um genuíno resgatador de legado cultural que se perderia. Longe da imitação e do humor estereotipado, é literatura com genuíno sabor caipira.
Orelha
As forças telúricas, os elementos da natureza, foram, são e sempre serão um fator decisivo na formação do temperamento humano.
O mundo todo de Tonico & Tinoco é arrancado do atávico silêncio. Um mundo nostálgico, às vezes alegre e outras triste, muitas vezes satírico.
Do contato com a própria natureza surgiu um estilo todo seu, tanto na melodia e cadência das músicas quanto na linguagem das peças teatrais e contos.
Tonico & Tinoco, a dupla coração do Brasil, são expoentes legítimos do mais legítimo de nosso folclore. Sem dúvida, merecedores do prestigio que gozam.
As composições se contam a centenas, o número de peças teatrais atingiu o cifra de 25, e ultimamente alcançaram inaudito sucesso com os filmes: Lá em meu sertão e Obrigado a matar!.
Nesta coletânea de conto temos uma prova definitiva de seu talento, da capacidade de apreensão do elemento vivo, nos dando uma transcrição fiel do homem do campo, com seus modismos, costumes e a maneira simples de viver. Sem dúvida, mil vezes mais autêntica que o cosmopolitismo da cidade grande.
A linguagem simples e expressiva traduz fielmente toda uma gama de sensações e emoções onde sua singeleza transmitem em toda a grandeza o modo de sentir do sertanejo. Esse homem calado, quieto, humilde, desconfiado, mas que sabe amar, viver e morrer cum heroísmo sem limite.
Nossa história está cheia desses exemplos!
Tonico e Tinoco nasceram no campo, queimaram a pele sob o sol causticante, formaram o espírito ao contato direto da natureza e forjaram um temperamento de aço, ao sabor das intempéries. Dali a autenticidade de suas narrativas.
Os campos brasileiros são muitos: Norte, sul, centro, leste, oeste, centro-este... mas, há algo comum a todos. Disse o poeta: O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Nessa frase está tudo definido, sintetizando, compreendido. Atinge a todos.
Tonico é o poeta, Tinoco o prático. Ambos se completam. Personalidades diferentes, sem dúvida, porém uma sem a outra seria impossível imaginar.
Tonico escreveu esta seleção.
Quanto ao resto, creio que após ler este livro vossa opinião coincidirá com a minha.
Eduardo Llorente

Numa nota de rodapé pus minha concepção e a de Macedo Dantas, sobre o dialeto caipira:
Expressões como Ó!, xente, Virxe! (Ó!, gente, Virgem!) são do vocabulário galego, língua mais aparentada ao português que ao castelhano. Na Bahia é comum porque ali é forte reduto de imigrante da Galiza. Já expressões muié, meus fios, trabaiá, não são produto de ignorância e desleixo mas influência do linguajar catalão, língua aparentada ao castelhano, italiano e francês, onde se pronuncia o L como I, como no francês Versailles (Versalhes), se pronuncia Versaies. Segundo Macedo Dantas, em Cornélio Pires: Criação e riso, foi um importante etnógrafo da cultura caipira e do dialeto caipira, que surgiu no século 18, quando a língua brasileira, o nheengatu, foi proibida pelo rei de Portugal e se passou a falar português com sotaque nheengatu, como é o caso de muié, cuié, zóio, orêia, falá, dizê, comê, dado que a língua nheengatu estranhava os infinitivos dos verbos e as consoantes duplas. A fala caipira não é um erro de linguagem, é um dialeto, uma legítima variante da língua portuguesa. Nota do digitalizador
Na primeira nota, sobre o vocábulo anhangüera, contestei o significado consagrado, diabo velho:
Anhangüera não é diabo velho
Em dicionário e enciclopédia se encontra a explicação clássica sobre o vocábulo. Por exemplo: http://www.dicionarioinformal.com.br/:
Anhangüera foi o Apelido dado a Bartolomeu Bueno da Silva, um aventureiro português nascido na capitania de São Paulo. Quando desbrava o interior brasileiro se deparou com alguns índios e os obrigou a mostrar onde encontrar ouro. Como negaram informar lançou fogo a uma botija com aguardente ameaçando incendiar da mesma forma os rios e lagos se não mostrassem o ouro. Os índios, com muito medo, levaram imediatamente ao local onde existia ouro em abundância. Doravante Bartolomeu Bueno ficou conhecido pelos índios como Anhangüera, cuja tradução grosseira e sumária é Diabo Velho.
Anhangá é uma assombração, saci, espírito maligno. Na verdade o sufixo tupi güé e o guarani qüé significam ex, o que foi, o que era. Anhangüé significa ex-diabo, o que era um gênio, o que foi uma assombração mas agora está personificado como homem. Se confunde o sufixo guarani qüé com qüera. Qüera significa os seus, sua turma, correspondente ao tupi güé. Portanto Anhangüera significa o da turma do diabo, o que tem parte com a assombração, o que tem aliança com o espírito maligno. Não diabo velho. Há uma música paraguaia, Che novia cué mi (minha ex-noiva). Quando alguém diz, em guarani (na verdade se fala jopará, onde o castelhano supre lacunas vocabulares), Juan cuêra significa a turma de João, João e seus companheiros. Portanto Anhangüera significa O que tem parte com o Diabo, O da turma do Diabo, O diabólico ou O diabo.
Mesmo porque velho, em guarani, é tudjá. Caraí tudjá, homem velho, senhor velho, velho.
À coleção Adeene neles!
Cotação no mercado agiota de raridade:

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