sábado, 23 de novembro de 2013

Devedê militar, uso exclusivo pra general
● Na revista Super interessante de outubro de 2013 o anúncio dum aparelho faz um microfuro na rolha da garrafa de vinho e o fecha instantaneamente, evitando entrar ar. O que conservaria o vinho como se não aberto. R$ 720. Contrariando as leis da física? É impossível retirar matéria duma garrafa sem entrar ar. Retirar no vácuo duma garrafa pete a faz se encolher, acompanhando o vácuo. Uma de vidro se quebraria. Um anúncio desse numa revista que se apresenta tão científica!
● Não é só Seleções. Espantosa a decadência da revista Mad. Desenhos e roteiros ruins. Dos velho tempo só restou Spy x Spy.
● Também a Planeta está bem descaracterizada. Da excelente revista sobre realismo fantástico que era, virou uma espécie de Super interessante. Não que a super seja ruim, mas é uma guinada de 180º, do realismo fantástico ao cientificismo oficial.
● Costumo passar nas bancas pra ver os lançamentos. Nada mau os Recruta Zero, Popeye, Luluzinha... Comprei Natal de Ouro disney 4. Desenhos toscos, histórias bobas.
● Acabei de ler O grande livro de histórias de fantasma (The virago book of ghost stories), organizado por Richard Dalby, editora Objetiva, 2010. Não justifica o título grandiloqüente. (Bem melhor o pequeno volume Fantasmas vitorianos (Victorian ghost stories), outro volume só de autoras.) Não chega a ser ruim. Com raríssimas exceções, como Charlotte Brontë e Edith Wharton, as autoras decepcionam. Muito longe, mas muito longe mesmo, das obras-primas do gênero. É que se vê muitas histórias forçadas, não de autêntica inspiração. Antologia bem medíocre.
Apesar de anunciar estar na nova ortografia (pra quê?) escreve n vezes café da manhã, cadeira de rodas, etc. Cadê o hífen?, minha gente. E os demais vícios de linguagem que já cansei de apontar.
● O mesmo posso dizer dos grossos volumes também afetadamente grandiloqüentes Os cem melhores contos de..., organizados de Flávio Moreira da Costa. Decepcionante ver tanta crônica posta ali como se fosse conto. Como pode um antologista não saber diferenciar conto de crônica? É muito aborrecido pra quem gosta de conto levar gato por lebre.
● Li Névoa - contos sobrenaturais de suspense e terror, editora Andross, São Paulo, 2013, organizado por Cristiana Gimenes. Uma linda capa mas uma péssima antologia. Crônicas passando por conto e muitos autores ruins e textos péssimos. Não se deveria lançar antologia tão ruim. É um desserviço, pois quem se inicia na leitura em vez de se encantar tomará ojeriza.
Tem gente que tem pretensão mas não tem talento, vivência literária, maturidade, conhecimento e idéia pra escrever, que quer escrever porque quer escrever.
Muitos escrevem o que vêm à cabeça, como se estivesse rabiscando. Literatura não é isso. Um conto parte duma idéia, tem um planejamento, se usa engenho e arte. Fazer uma feijoada não é só jogar feijão e toucinho na água e ferver.
O verdadeiro talento brota, se derrama, não se força. Quem força, por favor, desista, porque a internete está lotada de textos péssimos, verdadeira poluição literária. Editoras, por favor: Não publicai obra ruim.
Uns terrores forçados, pueris, e contos sem desfecho, sem enredo. É péssimo escrever terror pelo terror. Não me lembro quem escreveu que Poe nunca escreveu o terror pelo terror porque era inteligente demais pra isso.
Os que salvaram o livro:
Moinho, de Clóvis de Moraes Fajardo. Um belo conto
O vampiro da rua São Francisco, de Eliane Verica. Um conto curto, que poderia ser um episódio de Além da imaginação.
Minha mente inquieta, de Mara S.
A sombra na névoa, de William Wagner Westphal
O último apóstolo, de Gabriel Réquiem
Maldito retorno, de André Cardoso
Parasita, de Paulo R. Ongaro
O legista, de K Melquíades
Há um fator que diferencia o autor imortal, o grande autor, do comum ou medíocre. O verdadeiro talento, que produz texto saboroso, escreve porque a inspiração vem em onda, pra expressar e registrar essa inspiração que transborda e sente ser um desperdício a deixar perder. As idéias o ficam apoquentando como pintos tentando sair do ovo. Pro autor de talento escrever é como um alívio, como fotografar um evento efêmero, como a vaca em amojo, que se alivia ao aleitar. Inspiração é um estado de consciência, de humor, de sintonia cerebral, de conexão neuronal. O autor que se senta a escrever porque é escritor e tem de escrever algo é um autor de segunda ou terceira.
Cada obra dum autor ruim é um leitor a menos no mundo.

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