segunda-feira, 12 de maio de 2014

O rei está nu
Figura retirada de
Como no magistral conto folclórico, O rei está nu, vivemos na literatura, arte, no mundo das celebridades em geral, essa situação, onde uma obra e seu autor são considerados um clássico e cada indivíduo percebe a fraude mas como se julga rodeado de tantos hipnoticamente embasbacados, se deixa intimidar finge que comunga a mesma crença. E assim a situação se perpetua, nunca aparecendo alguém que diga O rei está nu!
Não são os bestséleres, lixos como 50 tons de cinza, coisa que só gente desinformada e equivocada cogita ler, que abordarei.
Também não é hora de falar dos paulocoelhos da vida.
Em vez de falar sobre meus autores e obras prediletos farei o oposto: Falarei sobre os que não gosto.
Já falei sobre o vício de confundir crônica com conto (e de que o conto é a mais alta forma de expressão literária) no artigo Crônica não é conto, http://www.gargantadaserpente.com/artigos/mariojorge.shtml, vício freqüente naquelas grossas antologias intituladas Os cem melhores contos de...
Machado de Assis, somente os contos, maravilhosos, onde é mestre incontestável, à altura dos melhores do mundo. Seja conto longo ou noveleta, O alienista é uma obra-prima.
É impressionante o número de mediocridades elevado ao grau de clássico, adotado como livro estudantil e forçadamente tratado como obra-prima. Tanto que dá a entender não coincidência mas um plano sutil pra desestimular a leitura.
Na volta de Santiago tive longa espera na conexão em Guarulhos. Percorrendo, na madrugada, uma livraria no aeroporto, fiquei espantado de no meio de tantos livros nenhum ser atraente. É por isso que não freqüento livraria de novo, só sebo. É deprimente ver que quase só tem porcaria.
E tanto alarde por uma tal série televisiva True detective. Pois é: Hoje se tem preguiça de traduzir até o título! Aquilo é série detetivesca? Um enredo rastejante, alongado, tão ruim quanto Lost (Diz que premiada!). E pesado, macabro em todos os detalhes, com tripas de fora e tudo. Como em Lost, que não é uma série mas experiência interativa, os roteiristas não sabem o que fazer com o enredo, e vão enchendo lingüiça. Caí fora dessa chatice. Meu cérebro não é lixeira, pra perder tempo vendo essa porcaria.
Como a obra de Pasolini, citada, por esses zumbis do reino do rei nu, como magnífica! Assim como os livros de Norman Mailer, as obras abomináveis criadas conforme o plano num dos itens do Protocolos.
Muito se fala em leitura, mas a verdade é que é melhor não ler a ler porcaria. Porque quem lê porcaria entorpece e congestiona a mente com estereótipos, com poluição intelectual. Há analfabetos que se informam de muitas maneiras e adquirem muita sabedoria, enquanto há muito literato burro.
Não gosto de Oscar Wilde, pois seus contos são tão pueris que sinto estar lendo um daqueles livros infantis bem medianos. Andersen, com seus contos supostamente infantis é muito melhor, cuja obra-prima do conto, A sombra, é digno das melhores antologias.
Mark Twain também é pueril, mas já bem melhor, com enredo mais interessante, mas ainda assim mediano.
Já Volter, um maníaco da polêmica, cujas sátiras pesadas são rebuscadas, mais visava atacar a sociedade do que criar arte escrita.
Recentemente resolvi ler Uma casa assombrada, de Virginia Woolf, que no livro diz que são contos. Mas cadê os contos? Crônicas. Mas crônicas ruins, muito ruins! Senti raiva em perder tempo lendo essa porcaria. Quero meu dinheiro de volta! Uma autora psicótica, que escreve apenas impressões desordenadas que lhe vêm à cabeça. Uma tremenda chatice. Não sei quem, como nem o motivo pôs essa autora entre os grandes autores.
Jorge Amado, outro escritor ruim elevado ao patamar de clássico. Pode servir bem pra adaptar pra telenovela, mas como literatura é muito fraco. Infelizmente parece que só autor comunista têm chance de ser considerado autor clássico, assim como só ativista político tem chance de ganhar o Nobel de literatura.
Outro autor superestimado, certamente por motivos históricos, mas que é chato e insosso, é José de Alencar.
Enquanto isso Monteiro Lobato, com ou sem seu patriotismo ingênuo, vem sendo difamado por uma elite de intelectualóides politicamente corretos fanáticos do tipo idiotas da objetividade, num prêmio nobel ao avesso. Como Kipling, acusado de imperialista. E assim, num insano auto-de-fé, uma camisa-de-força que prende o literário ao ideológico.
Todo ser é produto de seu meio, de sua época. Se todo autor tiver de se adequar a ser um bom-menino conforme a ideologia da moda teremos de esquecer todos os autores anteriores de há dez anos. Mais que insensatez, loucura.
Não poderemos mais ver os filmes clássicos porque neles fumar era muito elegante. Os ambientalistas proibirão os filmes de Tarzã, porque o herói mata leão e jacaré a facada. E será uma lista interminável de obras censuradas.
Um pecado imperdoável na literatura é a chatice. Quem quer documentar, que escreva documentário, compêndio sociológico, o que seja! Mas literatura tem de ser interessante. Se o autor não domina a arte de criar um texto saboroso, que mude de profissão. Já se imaginou um gastrônomo que cria pratos não saborosos? Comei! Tem gosto de sabão mas é bom prà saúde!
Guimarães Rosa? Misericórdia! A chatice das chatices. A ruindade das ruindades. Li Primeiras histórias e só achei dois contos que considero publicáveis. Provavelmente foram causos que alguém contou. É a única explicação presses contos destoarem tanto do restante da obra. Se isso é um clássico a lista telefônica também é.
Também não gosto de Murilo Rubião, José J. Veiga, Clarice Lispector, Mário de Andrade. Autores insossos, sem sal nem açúcar.
Enquanto ficam esquecidos autores excelentes, como João do Rio, Inglez de Souza, João de Minas e Gustavo Barroso.
Aqui em Mato Grosso do Sul tem um ícone. Um tal poeta Manoel de Barros, festejado às pampas. O repertório consiste em neologismos e trocadilhos sobre o nada e coisa nenhuma, tanto que um dos títulos é Livro sobre nada. Vede que seu trabalho é comparado a Guimarães Rosa. Mais um comunista premiado.
Me lembro da decepção que tive ao ler Mário Quintana. Autor de belos chavões, mas que poeta chato!
Infelizmente o mecanismo desses endeusamentos não é premiar o mérito mas a primeva e simiesca necessidade dum herói. Tá tudo mais pra torcida de futebol que pra intelectualidade. Por isso essa profusão de roques santeiros. É um fenômeno muito mais religioso que cultural. O que se poderia esperar desta humanidade de zumbis.
Eu tinha na cabeça Brian Aldiss como um dos bons da ficção-científica mas ao ler Los superjuguetes duran todo el verano y otras historias del futuro fiquei decepcionado. Muito fraco, inspiração forçada, insosso.
Uma tese disse que Cheiquespir apenas re-redigia os contos alheios. Mas isso é notório. Não se sabe se existiu esse autor, se é um amálgama de vários autores ou um pseudônimo de Marlowe. Então pra quê endeusar esse cristo, esse rei-artur da literatura? No que consiste se considerar autor tão excelente assim. Não sei. Talvez propaganda imperial britânica. Sua virtude consistia em pegar belos contos toscamente narrados e os reescrever, os lapidando, dando um trato literário. Não é exatamente um autor mas um re-redator. É outro gênero, outra profissão. É como confundir um fabricante ou inventor cum reciclador. Como dizem dos japoneses, que não inventam mas que aperfeiçoam os inventos. No mais só vejo um bom autor, nada tão genial assim como dizem. O que pensar dum autor que escreva algo tão boboca e pueril como Sonho duma noite de verão? Eu teria vergonha de escrever aquilo. Bom... Demos um desconto à mentalidade da época. Cervantes e Gustavo Adolfo Bécquer são bem melhores.
Não é com autores chatos que a escola conseguirá formar leitores. Está fazendo justamente o contrário. Está criando ojeriza à leitura. Adotar livros piegas e melosos como Meu pé de laranja-lima, ou de enredo tristonho e pesado prá idade, como Clarissa, Música ao longe, Dom Casmurro, é um suicídio. Crianças de 12 anos serem obrigadas a lerem essas obras e fazer resumo. Misericórdia!
Discutindo com Denílson, o do projeto Lovecraft, sobre filme bom, cheguei à seguinte conclusão: O conceito de bom é relativo. Como contista, quando vejo um filme meu enfoque é no enredo. Me cansa um longa-metragem que enche lingüiça, que estica até 2 horas um enredo que cabe em 20 minutos. Outras pessoas apreciam, respectivamente, a fotografia, a qualidade da imagem, o desempenho dos atores, nos erros de continuidade, no figurino, iluminação. Alguém pode considerar ruim porque o enredo é inverossímil, outro porque o enfoque psicológico foi desperdiçado. Cada um julgará conforme sua formação, gosto, cultura, condição psicológica,idade, sexo. A mesma pessoa, em momentos diferentes da vida, sob diferente estado psicológico, fará julgamento diferente do mesmo filme. O adolescente dirá que é filme ruim porque não tem mulher pelada, a adolescente porque não tem um caso de amor no enredo...
Mas há critérios fixos pra se julgar um enredo, seja filme, conto escrito, quadrinho.
Não é a o veículo do enredo o que determina a qualidade. Não é ser texto escrito o que o torna obra maior. É a dinâmica que o determina. Uma obra-prima pode ser criada em texto escrito, quadrinho, fotonovela, teatro ou poema. A pessoa intelectualmente bem formada navega nesses meios com a mesma naturalidade. Existem obras menores mas não gênero menor.
Assim como não são as pessoas feias e de voz desagradável sempre más, sempre o vilão, não é pela roupa que alguém é mais ou menos digno, nem porque faz estripe quer dizer que é prostituta. Os contos infantis nos condicionam a simplificar as coisas demais assim mas a realidade não é tão simples.
Vejamos uns itens pra qualificar um texto:
● Um texto literário tem de ser saboroso, dar prazer de ler. Por isso maturidade é essencial. Se retrata fato real, os imprescindíveis itens que o sobrecarregam devem ser postos noutro texto, que seja um documentário pra quem quiser pesquisar informação objetiva. Se um texto literário não é saboroso, o autor fracassou.
É válido e divertido apontar o inverossímil na ficção, mas não podemos exigir que seja verossímil demais, porque perderia o sabor, e tudo o que é correto demais é muito chato. Quando alguém reclama que na telenovela acontecem coisas muito fantasiosas, com a célebre frase Só em novela, mesmo!, eu diria: Então não é novela o que procuras, e sim um documentário.
● Tem de ser conciso, coerente, enxuto.
● Uma obra de qualidade nos faz pensar, é inspiradora, dá vontade de a recriar, ver como ficaria com outra abordagem ou fazer uma continuação. Quem nunca sentiu aquele gostinho de Por que não tive a idéia de escrever isto?
● Um enredo de qualidade traz idéia e informação. A forma como o autor monta o enredo, encaixando idéias, seqüências e conseqüências, é como um jogo de xadrez ou um programa de computador, onde a eficácia é maximizada e o supérfluo excluído. É por isso que o conto é um gênero tão difícil.
● Uma obra nunca está acabada enquanto o autor estiver vivo. O bom autor lapida, apara as arestas, retoca sempre que surge uma nova idéia, mesmo prum texto antigo. Á! Esta idéia é ótima pra encaixar naquele texto...
Requisitos ausentes nos pseudoclássicos.
Quando criança tinha de ler Dom Casmurro, Música ao longe, etc, e resumir! Não tinha maturidade pra entender aqueles enredos que eram uma tristeza profunda, mas tinha de resumir. Então enchi um caderno com fingido resumo e, claro, a professora nem leu, passou batido. Como um professor exige algo que depois não poderá verificar se foi feito? E os livros eram impostos. Não se discutia. Era comprar o livro e, pronto! Mas como? Por que todos lerem o mesmo? Não poderia haver troca de experiência? Opção de se emprestar um numa biblioteca, etc. Tantas formas inteligentes de se adotar uma leitura, mas não: Aquela coisa rígida, brutal.
Depois adotaram um exatamente o oposto: Tão bobo, que causou ojeriza. A sorte foi terem adotado O homem que calculava, de Malba Tahan. Foi o que me salvou.
Só falta aparecer um fanático religioso ou anti-religioso que tente relegar Malba ao olvido. Não duvido.


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