O rei está nu
Figura retirada de
Como no
magistral conto folclórico, O rei está nu,
vivemos na literatura, arte, no mundo das celebridades em geral, essa situação,
onde uma obra e seu autor são considerados um clássico e cada indivíduo percebe
a fraude mas como se julga rodeado de tantos hipnoticamente embasbacados, se
deixa intimidar finge que comunga a mesma crença. E assim a situação se
perpetua, nunca aparecendo alguém que diga O rei está nu!
Não são os
bestséleres, lixos como 50 tons de cinza,
coisa que só gente desinformada e equivocada cogita ler, que abordarei.
Também não é
hora de falar dos paulocoelhos da vida.
Em vez de
falar sobre meus autores e obras prediletos farei o oposto: Falarei sobre os
que não gosto.
Já falei sobre
o vício de confundir crônica com conto (e de que o conto é a mais alta forma de
expressão literária) no artigo Crônica
não é conto, http://www.gargantadaserpente.com/artigos/mariojorge.shtml,
vício freqüente naquelas grossas antologias intituladas Os cem melhores contos de...
Machado de
Assis, somente os contos, maravilhosos, onde é mestre incontestável, à altura
dos melhores do mundo. Seja conto longo ou noveleta, O alienista é uma obra-prima.
É
impressionante o número de mediocridades elevado ao grau de clássico, adotado
como livro estudantil e forçadamente tratado como obra-prima. Tanto que dá a
entender não coincidência mas um plano sutil pra desestimular a leitura.
Na volta de
Santiago tive longa espera na conexão em Guarulhos. Percorrendo, na madrugada,
uma livraria no aeroporto, fiquei espantado de no meio de tantos livros nenhum
ser atraente. É por isso que não freqüento livraria de novo, só sebo. É
deprimente ver que quase só tem porcaria.
E tanto alarde
por uma tal série televisiva True
detective. Pois é: Hoje se tem preguiça de traduzir até o título! Aquilo é
série detetivesca? Um enredo rastejante, alongado, tão ruim quanto Lost (Diz que premiada!). E pesado,
macabro em todos os detalhes, com tripas de fora e tudo. Como em Lost, que não é uma série mas
experiência interativa, os roteiristas não sabem o que fazer com o enredo, e
vão enchendo lingüiça. Caí fora dessa chatice. Meu cérebro não é lixeira, pra
perder tempo vendo essa porcaria.
Como a obra de
Pasolini, citada, por esses zumbis do reino do rei nu, como magnífica! Assim
como os livros de Norman Mailer, as obras abomináveis criadas conforme o plano
num dos itens do Protocolos.
Muito se fala
em leitura, mas a verdade é que é melhor não ler a ler porcaria. Porque quem lê
porcaria entorpece e congestiona a mente com estereótipos, com poluição
intelectual. Há analfabetos que se informam de muitas maneiras e adquirem muita
sabedoria, enquanto há muito literato burro.
Não gosto de
Oscar Wilde, pois seus contos são tão pueris que sinto estar lendo um daqueles
livros infantis bem medianos. Andersen, com seus contos supostamente infantis é
muito melhor, cuja obra-prima do conto, A
sombra, é digno das melhores antologias.
Mark Twain
também é pueril, mas já bem melhor, com enredo mais interessante, mas ainda
assim mediano.
Já Volter, um
maníaco da polêmica, cujas sátiras pesadas são rebuscadas, mais visava atacar a
sociedade do que criar arte escrita.
Recentemente
resolvi ler Uma casa assombrada, de
Virginia Woolf, que no livro diz que são contos. Mas cadê os contos? Crônicas.
Mas crônicas ruins, muito ruins! Senti raiva em perder tempo lendo essa
porcaria. Quero meu dinheiro de volta! Uma autora psicótica, que escreve apenas
impressões desordenadas que lhe vêm à cabeça. Uma tremenda chatice. Não sei
quem, como nem o motivo pôs essa autora entre os grandes autores.
Jorge Amado,
outro escritor ruim elevado ao patamar de clássico. Pode servir bem pra adaptar
pra telenovela, mas como literatura é muito fraco. Infelizmente parece que só
autor comunista têm chance de ser considerado autor clássico, assim como só
ativista político tem chance de ganhar o Nobel de literatura.
Outro autor
superestimado, certamente por motivos históricos, mas que é chato e insosso, é
José de Alencar.
Enquanto isso
Monteiro Lobato, com ou sem seu patriotismo ingênuo, vem sendo difamado por uma
elite de intelectualóides politicamente corretos fanáticos do tipo idiotas da
objetividade, num prêmio nobel ao avesso. Como Kipling, acusado de
imperialista. E assim, num insano auto-de-fé, uma camisa-de-força que prende o
literário ao ideológico.
Todo ser é
produto de seu meio, de sua época. Se todo autor tiver de se adequar a ser um
bom-menino conforme a ideologia da moda teremos de esquecer todos os autores
anteriores de há dez anos. Mais que insensatez, loucura.
Não poderemos
mais ver os filmes clássicos porque neles fumar era muito elegante. Os
ambientalistas proibirão os filmes de Tarzã, porque o herói mata leão e jacaré
a facada. E será uma lista interminável de obras censuradas.
Um pecado
imperdoável na literatura é a chatice. Quem quer documentar, que escreva
documentário, compêndio sociológico, o que seja! Mas literatura tem de ser
interessante. Se o autor não domina a arte de criar um texto saboroso, que mude
de profissão. Já se imaginou um gastrônomo que cria pratos não saborosos? Comei! Tem
gosto de sabão mas é bom prà saúde!
Guimarães
Rosa? Misericórdia! A chatice das chatices. A ruindade das ruindades. Li Primeiras histórias e só achei dois
contos que considero publicáveis. Provavelmente foram causos que alguém contou.
É a única explicação presses contos destoarem tanto do restante da obra. Se
isso é um clássico a lista telefônica também é.
Também não
gosto de Murilo Rubião, José J. Veiga, Clarice Lispector, Mário de Andrade.
Autores insossos, sem sal nem açúcar.
Enquanto ficam
esquecidos autores excelentes, como João do Rio, Inglez de Souza, João de Minas
e Gustavo Barroso.
Aqui em Mato
Grosso do Sul tem um ícone. Um tal poeta Manoel de Barros, festejado às pampas.
O repertório consiste em neologismos e trocadilhos sobre o nada e coisa
nenhuma, tanto que um dos títulos é Livro
sobre nada. Vede que seu trabalho é comparado a Guimarães Rosa. Mais um
comunista premiado.
Me lembro da
decepção que tive ao ler Mário Quintana. Autor de belos chavões, mas que poeta
chato!
Infelizmente o
mecanismo desses endeusamentos não é premiar o mérito mas a primeva e simiesca
necessidade dum herói. Tá tudo mais pra torcida de futebol que pra
intelectualidade. Por isso essa profusão de roques santeiros. É um fenômeno
muito mais religioso que cultural. O que se poderia esperar desta humanidade de
zumbis.
Eu tinha na
cabeça Brian Aldiss como um dos bons da ficção-científica mas ao ler Los superjuguetes duran todo el verano y
otras historias del futuro fiquei decepcionado. Muito fraco, inspiração
forçada, insosso.
Uma tese disse
que Cheiquespir apenas re-redigia os contos alheios. Mas isso é notório. Não se
sabe se existiu esse autor, se é um amálgama de vários autores ou um pseudônimo
de Marlowe. Então pra quê endeusar esse cristo, esse rei-artur da literatura? No
que consiste se considerar autor tão excelente assim. Não sei. Talvez
propaganda imperial britânica. Sua virtude consistia em pegar belos contos toscamente
narrados e os reescrever, os lapidando, dando um trato literário. Não é
exatamente um autor mas um re-redator. É outro gênero, outra profissão. É como
confundir um fabricante ou inventor cum reciclador. Como dizem dos japoneses,
que não inventam mas que aperfeiçoam os inventos. No mais só vejo um bom autor,
nada tão genial assim como dizem. O que pensar dum autor que escreva algo tão
boboca e pueril como Sonho duma noite de
verão? Eu teria vergonha de escrever aquilo. Bom... Demos um desconto à
mentalidade da época. Cervantes e Gustavo Adolfo Bécquer são bem melhores.
Não é com
autores chatos que a escola conseguirá formar leitores. Está fazendo justamente
o contrário. Está criando ojeriza à leitura. Adotar livros piegas e melosos
como Meu pé de laranja-lima, ou de
enredo tristonho e pesado prá idade, como Clarissa,
Música ao longe, Dom Casmurro, é um suicídio. Crianças de 12 anos serem obrigadas a
lerem essas obras e fazer resumo. Misericórdia!
Discutindo com
Denílson, o do projeto Lovecraft, sobre filme bom, cheguei à seguinte conclusão:
O conceito de bom é relativo. Como
contista, quando vejo um filme meu enfoque é no enredo. Me cansa um
longa-metragem que enche lingüiça, que estica até 2 horas um enredo que cabe em
20 minutos. Outras pessoas apreciam, respectivamente, a fotografia, a qualidade
da imagem, o desempenho dos atores, nos erros de continuidade, no figurino,
iluminação. Alguém pode considerar ruim porque o enredo é inverossímil, outro
porque o enfoque psicológico foi desperdiçado. Cada um julgará conforme sua
formação, gosto, cultura, condição psicológica,idade, sexo. A mesma pessoa, em
momentos diferentes da vida, sob diferente estado psicológico, fará julgamento
diferente do mesmo filme. O adolescente dirá que é filme ruim porque não tem
mulher pelada, a adolescente porque não tem um caso de amor no enredo...
Mas há
critérios fixos pra se julgar um enredo, seja filme, conto escrito, quadrinho.
Não é a o
veículo do enredo o que determina a qualidade. Não é ser texto escrito o que o
torna obra maior. É a dinâmica que o determina. Uma obra-prima pode ser criada
em texto escrito, quadrinho, fotonovela, teatro ou poema. A pessoa
intelectualmente bem formada navega nesses meios com a mesma naturalidade.
Existem obras menores mas não gênero menor.
Assim como não
são as pessoas feias e de voz desagradável sempre más, sempre o vilão, não é
pela roupa que alguém é mais ou menos digno, nem porque faz estripe quer dizer
que é prostituta. Os contos infantis nos condicionam a simplificar as coisas
demais assim mas a realidade não é tão simples.
Vejamos uns
itens pra qualificar um texto:
● Um texto
literário tem de ser saboroso, dar prazer de ler. Por isso maturidade é
essencial. Se retrata fato real, os imprescindíveis itens que o sobrecarregam
devem ser postos noutro texto, que seja um documentário pra quem quiser
pesquisar informação objetiva. Se um texto literário não é saboroso, o autor
fracassou.
É válido e
divertido apontar o inverossímil na ficção, mas não podemos exigir que seja
verossímil demais, porque perderia o sabor, e tudo o que é correto demais é
muito chato. Quando alguém reclama que na telenovela acontecem coisas muito
fantasiosas, com a célebre frase Só em novela, mesmo!, eu diria: Então não é
novela o que procuras, e sim um documentário.
● Tem de ser
conciso, coerente, enxuto.
● Uma obra de
qualidade nos faz pensar, é inspiradora, dá vontade de a recriar, ver como
ficaria com outra abordagem ou fazer uma continuação. Quem nunca sentiu aquele
gostinho de Por que não tive a idéia de
escrever isto?
● Um enredo de
qualidade traz idéia e informação. A forma como o autor monta o enredo,
encaixando idéias, seqüências e conseqüências, é como um jogo de xadrez ou um
programa de computador, onde a eficácia é maximizada e o supérfluo excluído. É
por isso que o conto é um gênero tão difícil.
● Uma obra
nunca está acabada enquanto o autor estiver vivo. O bom autor lapida, apara as
arestas, retoca sempre que surge uma nova idéia, mesmo prum texto antigo. Á! Esta idéia
é ótima pra encaixar naquele texto...
Requisitos
ausentes nos pseudoclássicos.
Quando criança
tinha de ler Dom Casmurro, Música ao longe, etc, e resumir! Não tinha
maturidade pra entender aqueles enredos que eram uma tristeza profunda, mas
tinha de resumir. Então enchi um caderno com fingido resumo e, claro, a
professora nem leu, passou batido. Como um professor exige algo que depois não
poderá verificar se foi feito? E os livros eram impostos. Não se discutia. Era
comprar o livro e, pronto! Mas como? Por que todos lerem o mesmo? Não poderia haver
troca de experiência? Opção de se emprestar um numa biblioteca, etc. Tantas
formas inteligentes de se adotar uma leitura, mas não: Aquela coisa rígida,
brutal.
Depois
adotaram um exatamente o oposto: Tão bobo, que causou ojeriza. A sorte foi
terem adotado O homem que calculava,
de Malba Tahan. Foi o que me salvou.
Só falta
aparecer um fanático religioso ou anti-religioso que tente relegar Malba ao
olvido. Não duvido.
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