terça-feira, 29 de julho de 2014

O encadernado A gazeta juvenil, de 1948
Crônicas de Sampaulo
Se San Tiago vira Santiago. E já que vivemos uma zorra ortográfica...
De 23 a 26 de julho de 2014 um rápido passeio em Sampa. Faz tempo que queria fazer isso. Curitiba e São Paulo são duas cidades que podem ser visitadas em qualquer época, pois não falta atração.
E fui conhecer mais um correspondente. Nada menos que José Antônio Constantino, Joanco. O que temos em comum é bem mais do fato de eu morar na rua Constantinopla. Joanco queria me hospedar de qualquer jeito mas a seca, com racionamento dágua em Guarulhos e a visita a uma parente doente fizeram com que só nos encontrássemos na sexta, 25.
Na aerolinha foi a Gol o serviço de lanche é todo venda. Mas pensando bem, se a política é de baratear, isso é o mais lógico e certo. Como o frigobar de hotel agora: Se paga o que se pede. E parece que aboliram aquela frescura supérflua dos aeronautas sorrindo e cumprimentando os que entram ou saem do avião.
Não seria hora de se incluir no pacote de viagem o lanche antecipadamente? Na compra da passagem o viajante teria a opção de programar a refeição.
Na quarta, como rato-de-sebo que se preza, mal cheguei e já fui percorrendo os sebos. Fiquei no centro, perto da praça da Sé e da João Mendes (onde fica a livraria Messias). Nunca chegava ao Messias, pois sempre ia parando nos sebos no caminho. E é uma infinidade de sebo.
Na quinta fui ao Mercadão. Que espetáculo! E lá reclamam que nunca cresce, que prefeito vai, prefeito vem e nada muda! Como em Santiago, fiquei babando ante a imensa fartura de frutos-do-mar. Camarões enormes, lagostins, lagostas, grande variedade de peixe. Coisa que não existe aqui. No máximo uma parte disso nalguma temporada no Extra. Muitas frutas exóticas, das mais estrambóticas e com direito a degustação. Os vendedores dali deveriam dar um curso, aos daqui, de simpatia e indução a comprar. Um pastel de camarão já valeu um almoço.
Quase chegando ao Messias, atrás da catedral, um sebo me encantou pelos gatos em vez dos livros. O atendente acendeu a luz da seção do fundo, onde estão os livros de literatura, e ali estavam três lindos e enormes gatos de pelagem creme com lombo em tom rosa bem claro. Logo me lembrei de dona Adriana, que também tem três gatos e é malucamente apaixonada por felino. Afaguei os gatos. Sempre tem um mais chegado, já foi subindo em minha perna dobrada. Percorri as prateleiras e um gato estava dormindo na cesta sobre a mesa. Logo ouvi um miado insistente, um gato chamando o outro. Durante um instante procurei a origem do som, e continuava o miado. Quando olhei a cima, sobre uma pilha de pacotes, o gato miando. Mas era a mim que chamava! Queria mais afago (ou talvez por eu ser rato-se-sebo). E se desmanchava todo, querendo mais afago, igual aquela gata branca apaixonada cuja história já contei. Como não sei se gosto mais de gato ou de livro (deve ser meu lado meio Lovecraft), dividi a atenção em metade. Se o atendente não o tocasse de volta seria capaz de ir embora comigo. Disse ao atendente:
— Onde achaste esses gatos tão lindos?
— São do dono da livraria. Vieram filhotes há sete meses e já estão desse tamanho!
Joanco marcou na sexta me encontrar 9h no hotel. Me entregou uma sacola de feira cheia de preciosidade: 3 encadernados da antiga revista Detective, várias revistas X-9 e outras. Disse que crê ter só mais dez anos de vida a diante (Claro que é coisa de sua cabeça, pois é um idoso mais ativo que muito jovem) e que os filhos não se interessam por essas coisas. Nem é meu aniversário e já ganhar um presente assim! Ganham também meus leitores, porque vou escaneando... Dali fomos passear. Demos uma olhada nalguns sebos seus conhecidos, no caminho. Um nos chamou a atenção por causa dum livro aberto. Era uma encadernação de exemplares de 1948 de A gazeta juvenil, quadrinhos raros. Joanco disse Nem perguntarei o preço. Perguntei. R$ 200! Uma pechincha! Não hesitei. Não poderei escanear ainda porque é formato muito grande pra meu escâner mas logo resolverei isso.
Valeu!, Joanco. Já começou me dando sorte.
A rua Santa Ifigênia, com artigos eletrônicos e infinidade de loja. Joanco disse que não é de correria, gosta de ver tudo com calma. Eu disse:
— Lá sempre digo que quem for apressado que vá morar em São Paulo. Aqui direi o quê? Que vá morar em Nova Iorque?
Chegamos ao ponto de inspiração da canção de Caetano Veloso, a rua Ipiranga com avenida São João, a esquina mais famosa do Brasil.
Alguma coisa acontece em meu coração
quando cruzo a Ipiranga e a avenida São João
É que quando cheguei àqui nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas
Me mostrou a galeria Pagé, que é como o camelódromo em formato gigante. Disse que em Sampa tentaram fazer um camelódromo como aqui, retirando os camelôs da rua e legalizando tudo. Mas não deu certo. Por isso lá ainda tem aquela de Olha o rapa! Outra coisa que em Campo Grande é mais moderno é o transporte coletivo, ao menos quanto ao pagamento. Aqui é só cartão, lá é dinheiro mesmo. Pois é: Não devemos reclamar tanto assim de Campo Grande.
No metrô a passagem é um pequeno bilhete que é engolido pela catraca. Em Santiago é cartão recarregável: Na catraca um sensor ótico identifica o cartão, basta o postar na frente do sensor, e o mesmo cartão também paga ônibus e trem, tudo integrado. Nisso o sistema santiaguenho é muito mais moderno que o paulistano.
Fiquei pensando na retirada dos trilhos de Campo Grande. Comentei que pode ser uma falta de visão futurista colocar a feirona na antiga estação ferroviária. Vai que voltam os trens ou se precisar utilizar a área pra fazer metrô. Será um drama retirar todo mundo de lá. Que lástima o país sucatear a malha ferroviária. Foi o único país de projeção que cometeu essa estupidez. Enquanto a velha rodoviária, essa sim deveria virar uma expansão do Mercadão, já saturado tanto o espaço quanto o trânsito, fica no limbo ante a indecisão dos políticos.
No centro tem uma ladeira, que deve ser uma antiga encosta de morro, cuja inclinação deve beirar 45º. É cansativa até pra descer. Cadeirista ali, só se for suicida. Deveriam instalar uma escada-rolante.
Depois dum giro na cidade voltamos ao hotel, pra pegar a mala com os presentes a Joanco e fomos a sua casa. Um trecho em metrô, outro em ônibus, mais um trechinho a pé com ladeiras bem mais suaves carregando a pesada mala um em cada lado, e chegamos ao bairro Rio das pedras, onde mora com dona Sueli e um netinho.
Uma casa com discreta fachada com sobrado acessível via escada metálica no fundo, tão íngreme quanto a tal ladeira. Primeiro instalou uma encaracolada mas tirou porque nela não dá pra levar móvel ao alto. Na esquerda fica seu escritório, com estante e o computador. O resto é uma área de serviço coberta, onde a filharada e amigos se reuniam pra ver os jogos do Brasil na copa, com mesa de jantar e vista panorâmica da cidade. Já noite, vi o horizonte todo iluminado.
Me deu mais coisas: Uma enorme coleção Cinemin (a revista da sétima arte) e Fan-cine (fanzine sobre cinema), dois volumes de Tarzan em texto, Scaramouche, muitos devedês de filme e seriado.
Culminamos a noite com três sabores duma excelente pitsa que dona Sueli encomendou.
Encerrei o inesquecível encontro no meio da noite cantando a vinheta de encerramento do programa radiofônico que ouvia muito quando criança, Rancho do Zé-do-Brejo:
Com licença, minha gente
Desculpe a pouca demora
A prosa está muito boa
mas tenho de ir embora
Comprei muito livro. Qual a melhor opção? Pagar excesso de bagagem ou postar no correio? No sítio do correio, http://www2.correios.com.br/sistemas/precosPrazos/, fiz um simulacro do envio São Paulo–Campo Grande, PAC, 8kg, 36cm x 24cm x 18cm, R$39,80.
Gol (promocional): 8kg, R$34.
Imaginava que o excesso de bagagem seria muito mais caro que o frete do correio.


3 comentários:

  1. não vejo a hora de ler essas jóias raras

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  2. São Paulo já tem cartão integrando ônibus, metrô e trem já há um bom tempo. O fato é que ainda persistem, como em toda parte do mundo, outros modos de pagamento.

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    1. E´verdade
      Alias, pelo que sei, foi São Paulo que lançou primeiro esse sistema no Brasil,
      não sei se copiado de algum país estrangeiro.
      Aqui neste país se copia tudo de fora :musica, roupa, tenis esportivo, piercing, tipo de restaurante, corte de cabelo, comportamento pessoal, etc. etc.

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