domingo, 2 de outubro de 2016

Cambate
(Deve ser a refarma artográfica)
+ cancer
e o ponto final
Crônica buenairense-montevideana, 2016
Capítulo 1
Bons Ares O quê é argentina O carrinho do cansa-mão Susto na chegada 98%∞
Buenos Aires e Montevidéu ficam pertinho. Então deu pra matar dois coelhos duma cajadada. Uma semana em Bons Ares e um fim-de-semana em Montevidéu. Nada mau.
Sobre a etimologia buenairense parece que os nativos não sabem. Só se supõe o óbvio: Que é por causa dalgum vento fresco.
Argentina: Variedade de calcita branca, nacarada, formando lamelas onduladas. Do latim argentinus, prateado, pela cor e brilho. Não confundir com argentita.
Argentita: Sulfeto de prata, Ag2S, com 87,1% de prata, importante fonte desse metal. Dimorfo cúbico da acantita, tem cor cinzenta, brilho metálico, é séctil e maleável. Dureza 2,0–2,5. D 7,30. Do latim argentum, prata. Não confundir com argentina.
Ramão brincará um pouco pra que a gata Christie não sinta muito minha falta, e uma dose extra de ração, pois agora aparece um amigo, um gato preto, que aparece pra filar ração, sempre ronronando triste. Chora mais que dueto de Leonardo com Morris Albert.
Do aeroporto de Buracópolis, antiga Campo Grande, na madrugada de 6 de setembro, a Guarulhos, pra passar um dia inteiro. Cum livro de sudoco difícil o dia passou célere. No mais os mesmos golpistas de sempre, assediando quem passa perto do balcão, pra fingir brindar uma maleta e angariar assinatura pra Veja, etc. Não se pode passar perto do balcão desse pessoal, que fica mosqueando igual os vendedores de fruta do mercadão paulistano.
Além da feiúra, desconforto e desumanidade do ambiente, com tanto espaço mas sem bagageiro nem pousada, tem os carrinhos novos. Um novo sistema, que só destrava a roda quando se aperta o guidão. Mas o problema é que tem de apertar pra valer. Como brasileiro não gosta de manutenção, virou o carrinho cansa-mão. Só trocou a tortura de segurar mala pesada pela de apertar forte o guidão pràs rodinhas deslizarem. Trocou 6 por meia-dúzia. Na próxima viagem terei de levar uma morsa na bagagem-de-mão. Quero achar o engenheiro autor dessa idéia, pra dar uns cascudos. Merece o troféu Burro.

Esse engenheiro deveria trabalhar na Microsoft, já que é bom em melhorar uma coisa mas estragar outra. No Windows 10 a busca, que era super eficiente, não funciona mais. Ficou misturada com a busca internética, uma barafunda infernal onde nada mais se acha.
Um carrinho que só anda com o peso da mão dalguém segurando, pra não desembestar numa ladeira. Parece uma idéia boa, mas não aqui, onde ninguém quer inovar nem fazer manutenção. Os primeiros que vi, em Santiago, eram novos, suaves, bem lubrificados, liberando as rodas sob o natural peso das mãos. Mas esses nossos, verdadeiras mulas empacadas, devem ser refugo importado de lá, muito piores que os de supermercado.
Nos horríveis telões o lema Vás ao cinema. Deixa óbvio que o público dos cinemas está caindo. Espero que continue caindo, pois só gente alienada vai ver tanto lixo.
Como nas outras vezes, vez-e-outra soava o aviso, uma voz feminina avisando em português e castelhano, pra não comprar de ambulante no âmbito do aeroporto. Assim se colabora evitando produtos irregulares e exploração infantil. Na verdade é só pra proteger os comerciantes dali, com produtos caríssimos, explorando o viajante. Todo mundo sabe que em xópim e aeroporto é tudo muito caro e muito ruim.
Aquilo é uma gravação. Não é alguém falando ao vivo, de improviso. Não seria difícil colocar uma moça que fale um castelhano natural em vez do sotaque forte duma óbvia brasileira que nunca falou castelhano. Na descida na vinda o comandante anunciou a chegada num português quase sem sotaque, e não era gravação.
Outra coisa esquisita é que quando se faz o chequim e se recebe ali a passagem com número de portão, quando se vai ao embarque se tem de ficar sempre conferindo esse portão no telão, pois raramente ele não muda! Algumas vezes se tem de ir longe, correndo, ao novo portão!
Se não cápsula pra dormir, ao menos pra guardar bagagem. Seria um filão rendoso, pois muita gente fica muitas horas presa ali por causa da bagagem, quando poderia ter mais mobilidade ou mesmo ir passear na cidade. Como nossos políticos e empresários são cegos!
Nessa viagem muita aventura. Na comunidade Taringa uma postagem sobre as aerolinhas dizia que a Aerolíneas argentinas é a pior de todas. Deve ser, porque uma atendente do chequim consultou meu papel no sistema e me direcionou à Gol, dizendo que é a Gol quem opera aquele trecho, de Guarulhos a Buenos Aires. E a Gol disse que não. Que nalguns casos é, noutros casos não. Não era.
O caso era que minha passagem foi comprada na Edestinos. Se perdesse o vôo teria de comprar tudo de novo, pois o sistema derruba toda a passagem restante.  Ainda compensa, pois a Edestinos encontra promoções que nem a própria aerolinha tem. É como um investimento: Se pode ganhar num período e nalguns momentos perder. Se não ficar perdendo vôo, compensa.
Agora, rumo a Bons Ares. Deve ser o primeiro lugar sem alguém dizer que não gosta de argentino.
A chegada, na madrugada, foi uma aventura. Quando já despontavam as luzes da cidade e a roda já tocava o chão, o avião arremeteu. O pessoal gritou de susto e começou a rezar. Logo soou um aviso de que tudo foi por causa dum vendaval. Suspiros de alívio. O avião ficou meia hora dando volta. Claro que também o fato de que o piloto tem de esperar nova autorização de pouso, pois nesse intervalo pode estar chegando outro avião. Quando corriam gotas na janela dava pra pensar que estava descendo, pois nuvem fica baixo, mas logo subia de novo. Era uma espessa camada de nuvem cinzenta, como conferi ao chegar, com insistente garoa fina, que ofuscava as luzes da cidade, mas sem raio. A cada volta aparecia uma grande bola de luz fosca.
— Aiaiai! Só faltava ser caçado por um ufo! Gosto de ler e assistir esses casos de mistério e enigma mas não quero ser personagem.
Era só um ponto onde estava a cidade ao longe, ofuscada pelas nuvens.
Quando finalmente pousou foi um aplauso geral.
Se sabe que os momentos mais vulneráveis num vôo são a partida e o pouso.
Dali entramos numa jardineira (deve ser o nome daquele ônibus que mais parece bonde, pra transportar passageiros dentro do aeroporto), em direção à esteira de bagagem. Ali um grupo de brasileiros rumo a Uxuaia não queria continuar viagem imediatamente, assustado. Dizia que as aeromoças estavam brancas de susto, que decerto aquele susto foi o primeiro.
No salão das esteiras nada de telão indicando o número de vôo e o número de esteira correspondente, de modo que eu corria duma a outra. Numa o grupo de brasileiros: É aqui, não é aqui…
Os carrinhos estavam longe mas estavam lá. Felizmente não são do tipo cansa-mão. Até agora Bogotá é o único com a esquisitice do carrinho ser pago.
Foi outra meia hora até a esteira funcionar. Deu até pra pensar que na verdade morremos e que passaríamos a eternidade ao redor da esteira. Enquanto isso um funcionário de casacão, que era sósia de Murilo Rosa naquela minissérie onde representava um tenente que caçava Lampião, orientava o pessoal, com voz estentórea, perguntando quem é da conexão tal, da outra tal… A todo momento subia à esteira pra explicar os procedimentos e responder às perguntas.
Fiquei pensando como seria se a esteira começasse a funcionar de repente…
E o grupo de brasileiros… A moça contando que uma pista tal dava muito acidente. Estudaram o caso e descobriram que a pista tinha muito defeito porque foi feita apressada, pra cumprir prazo. Que já passou susto assim, que o pai não deixou mãe e irmãs voarem juntas, porque se a nave caísse ficaria sozinho. Que se perdesse a família preferiria ir junto, porque não queria ficar sozinha no mundo…
Fiquei pensando na bobeira que é pensar assim. Já passei isso… Mas isso é outra história.
O primeiro dia na cidade foi de céu cinzento, garoa e frio.
Fim do primeiro capítulo
Agora liberarei espaço no gemeio, porque prometem espaço infinito mas aparece a mensagem 98% cheio. Liberar espaço ou comprar espaço adicional.
98% de infinito é infinito, mas decerto os gemeeiros fugiam da aula de matemática.
Não é só político que promete mas não cumpre.


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