Reflexinhos e reflexões
O Chile precisou evacuar toda a área costeira pra se prevenir contra o vagalhão resultante do terremoto no Japão. Mas o problema é que o Chile é todo costeiro.
— A solução foi nos mudarmos à costa oriental.
— Muito bom. Agora nos desloquemos a norte, até o Amapá. É bem melhor ter fronteira com o Brasil do que com a Argentina.
● Os acidentes rodoviários foram maiores que na temporada carnavalesca passada. Além da bebedeira a chuva. Mas não é imbecil quem anda no chão molhado na mesma velocidade que no seco? E um raciocínio óbvio: Todos sabemos que governo é um ente avaro, que só procura arrecadar, nunca gastar (a não ser em farra). Então achas que gastaria dinheiro pra pintar aquelas faixas contínuas amarelas nas rodovias, se não fosse extremamente necessário? Então, caro 200 cavalos no motor e burro ao volante, não ultrapasses em faixa contínua.
● Não é verdade que a mulher vive mais. Se bem que talvez a natureza estique um pouco a meia-vida do gênero que gesta, o que não seria surpreendente. O caso é que a expectativa vital é uma média. O homem, com excesso de progesterona, se mete muito mais em confusão. É alta a taxa de mortalidade entre rapazes de 15 a 24 anos. Criminalidade alta, trânsito violento, leis frouxas, problemas sociais, álcool e droga. Sejam quais sejam as razões, o caso é que é esse o motivo da expectativa vital masculina ser menor.
● Não sou afeito a sentimentalismo e nostalgia piega. Mas gosto de comparar o passado e balancear. Sempre se ganha algo e se perde outro algo. É uma lei da física: Nada se cria nem se perde. Tudo se transforma. Como dizia Malba Tahan: Iazul (tudo passa). Tudo é fase. Tudo é ciclo. Assim também o Carnaval. Estamos no ponto de mínimo do biorritmo. Esbocei um ritmo carnavalesco:
● Fui dar uma olhada no desfile local, que já é fraco e estava fraco ao quadrado. Estranhei tanta gente vindo, quando o esperável é que estivessem indo. Na ala da frente um sujeito com olhar de extática beatitude e uma lata de cerveja na mão. Um discurso interminável já impacientava o público. Então pediu um minuto de silêncio pra sei-lá-o-quê. Mas se é carnaval não deveria ser um minuto de gargalhada? Em seguia rezaram um pai-nosso. Se querem rezar por que não foram a um retiro espiritual? Melhor ir embora...
● Vida de video-carnavalesco é muito sofrida. Ficamos dependentes de quem transmite o que não assiste, portanto sem senso crítico. Moralistas, entrevistadores chatos, câmeras sonolentos... Nas vésperas o tão esperado Caldeirão, com a eleição das musas. É uma conversarada interminável. Quem quer ver a musa falando? Musa, quando abre a boca é uma desilusão. De permeio umas horríveis e dissonantes músicas baianas que nem são carnavalescas. Aí já é falta de inteligência. Há alguns anos venho deslocando meu frenesi ao desfile das campeãs, pois os desfiles principais estão nas mãos da Globo, que é o Bush da televisão. Assim como conseguiu acabar com a graça de Os trapalhões, esculhambou também o desfile das escolas de samba. Então a salvação era a Band (viu como não adianta dar nome comprido às coisas? Bandeirantes acabou virando Band! Por isso Mato Grosso do Sul é tão sofrível) com seu desfile das campeãs no sábado (agora sexta e sábado) seguinte. Mas a Band está se globomorfizando. Como vem caindo a qualidade. Neste ano fui dormi, como já o faço durante as transmissões globescas. O negócio dela é só futebol. É uma emissora futebolística. E só. Até punha narradores desportivos pra transmitir os desfiles. Até que não foi tão ruim assim, se bem que nunca chegou aos pés da Manchete. Agora resolveu prestigiar seus pedantes apresentadores. Começou com um dos piores apresentadores da tevê, o famigerado tagarela Datena, que estragou toda a transmissão do boi-bumbá de Parintins. Na Manchete eram profissionais do ramo, da pesada. A transmissão era um verdadeiro banho de cultura. Cada detalhe do desfile tinha uma explicação pesquisada de antemão. Uma autêntica ópera-enciclopédia. Claro que tinha erro e tal. Na Band a lengenda da letra do samba não bate com o que se canta. Não existe hífen. Explicam que Edison foi o inventor da lâmpada. Mas lâmpada existe há milênios. O cara foi inventor da lâmpada elétrica, não da lâmpada. E o câmera morrendo de sono. Chega à musa e custa levantar o foco. Quando está subindo dos pés à coxa não dá tempo, já cortaram a cena. Parece ser tudo automático. Muitos carros alegóricos só vemos em panorama. Exatamente como na transmissão globesca. Imagines um jogo de futebol com a bola num lado e a câmera noutro. Sai um pênalti e a câmera está mostrando o zagueiro, no outro lado, amarrando a chuteira. Ou um jogo onde a todo momento estão mostrando imagem panorâmica do alto. Por que quem gosta de jogo pode ver o jogo de verdade, quem gosta de corrida não fica xingando a câmera a todo momento mas quem gosta de desfile carnavalesco não pode ver o que interessa? E se tem uma musa dançando? E daí? Não tenho de me envergonhar disso, pois está em meu código genético. Ainda mais se quem deveria se envergonhar dalguma coisa, em vez disso faz passeata de orgulho, eu é que não me envergonharei do que é normal.
● E o que vem acontecendo às musas? É bizarro, monstruoso. Uns seios exagerados, inflados, pernas musculosas, glúteos caricatos e voz grossa, doentia. Que perversão leva a isso? Que psicose leva a tomar tanto anabolizante? Que se acompanhe a vida dessas musas daqui a alguns anos a ver se ainda estarão vivas. E as vinhetas, cada uma mais chata. Desde a copa africana que a Band vem com vinhetas dissonantes, irritantes. Será que fazem as coisas com tanta pressa e não há tempo de revisar? Se fosse Salomão eu daria, como castigo, a pena de assistirem tudo o que transmitiram.
● Um mostra Einstein como gênio. Einstein é uma farsa. Mas tudo bem. É carnaval. Outra mostra Abraão, louvando um fanático disposto a sacrificar o filho pra agradar a uma divindade duvidosa. Tá... é carnaval. Antes os travestis faziam tudo e de tudo pra imitar as mulheres. Hoje elas é que tudo fazem pra imitar os travestis. Se bem que a definição de momo, no dicionário, é: Ridículo, espalhafatoso, grotesco, burlesco, satírico, escárnio, zombaria... Então os ignorantes, que, manipulativamente, falavam em carnaval família (Na década de 1980 a Bandeirantes, pra vender fitas de VHS eróticas ou pornôs, usava esse sofisma pra censurar sua própria tevê e as outras, e puritanizar o carnaval) cometiam a mesma incoerência duma madame da alta sociedade que dissesse que a festa de são João está muito caipira, pouco elegante e sem classe. Segundo o dicionário KingHost, http://www.kinghost.com.br/vocabulario/momo.html, a definição da palavra momo: sm Entre gregos e romanos, ator que interpretava uma peça familiar e burlesca. Gênero de comédia onde o ator representa, com gestual, ação e sentimento. Mímica, pantomima. Momice, trejeito grotesco ou ridículo. (antigo) Farsa na qual se ridicularizavam os costumes da época. O ator que representava nessas peças. (figurativo) Escárnio, zombaria. Rei Momo: Figura tornada símbolo do Carnaval.
● Hoje qual samba é bonito, cantável? Cada um mais forçado e sem-graça que outro. Se querem transmitir tanta mensagem na canção então o verso não é recomendável, que se use a prosa. Umas canções insossas, uma apatia total em todos os aspectos. O mesmo fenômeno ocorre com a festa de Parintins: Virou uma massa insossa, monotônica, enjoativa. O jogo na copa estava menos chato que o boi-bumbá. Deve ser o magnetismo, um ciclo galático, uma fase que deprime e dilui o psiquismo.
● Sou do tempo quando a marchinha carnavalesca era assim: É mesmo, a verdade é: Qual é o homem que não gosta de mulher?
Mas, como cantou o samba da Caprichosos de Pilares, 1985, em Tem bumbum de fora pra chuchu: Mas hoje está tudo mudado. Tem muita gente no lugar errado.
Hoje a marcha é assim: Será que é mulher? Será que ela é homem? Cuidado com o silicone!
Melhor ir dormir. O pesadelo é acordado.
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