segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A língua esculhambada
Miscelânea 2
● O uso distraído, irresponsável e simplificado dos pronomes e preposições leva à degeneração do idioma.
Te mostrarei, te direi, te levarei...
Quem mostrará?
Se Pedro disser a Paulo Te mostrarei, significa que Pedro mostrará Paulo a alguém. Se tiver intenção de mostrar algo a Paulo deve dizer Mostrarei a ti.
A mesma forma Te direi, etc. Te levarei, quando a segunda pessoa é quem será levada. Se a intenção é levar algo à segunda pessoa, se deve dizer Levarei a ti.
● Itens em maiúsculo ou iniciais em maiúsculo, como num índice, por exemplo, é invenção de quem tinha dúvida de quando usar maiúscula. Pra contornar isso pôs tudo em maiúscula e, pronto. Como aquela piada do patrão que mandou a secretária marcar a reunião pra sexta-feira. A secretária perguntou se sexta-feira se escreve com x. Então o patrão mandou marcar pra quinta.
Joanco contou esta:
O caso da secretária que  não sabia escrever sexta-feira correto me fez lembrar um caso idêntico do folclórico ex-presidente do Corinthians, Vicente Matheus.
Precisava emitir um cheque de 60 cruzeiros mas não sabia se escrevia com s, c, ou ç. Pra resolver o problema emitiu dois cheques de 30.
● O estilo revela quando alguém não tem muito trato literário. Como quando usa exclamação e ou interrogação espaçado e ou múltiplos. Certo ???????
● Idem quando usa e/ou. Qual a necessidade dessa barra?
● Idem quando põe ponto final em título, frase solta, nome e data isolados. Só se usa ponto final se existiu ponto intermediário ou se houve necessidade de o colocar ali.
● Evitar abreviatura em texto. Números, quando em seqüência ou comparativos, em número em vez de em extenso, pra maior legibilidade. Em legenda cinematográfica abreviar e usar notação científica, e simplificar a frase. Por causa da necessidade de ler rápido. Simplificação máxima em nome de arquivo de computador.
Em legenda e em texto científico ou de tema científico se deve usar 30m em vez de trinta metros, por exemplo, pra maior rapidez, fluidez e clareza. Principalmente quando as medidas aparecem seguidamente, facilitando comparar e localizar.
● Abreviatura, sigla e notação científica não têm plural. Abreviatura é pra economizar espaço e tempo. É coisa arcaica, bom que caia em desuso. É um contra-senso fazer questão de acrescentar um S pra explicitar ser plural. Já vi casos em que se abreviando a palavra ficava com apenas uma letra a menos! Como 2MTS. (pasmes! Ainda tem o ponto!) pra metro, quando existe unidade de medida com apenas uma letra: 2m
Então é burrice escrever Dois CD’s. Duas TVs, dois DVDS, 24hs ou dizer dois emeeles (2ml).
Quando a sigla se torna de uso corrente deve ser transformada em palavra. Então, sim, terá plural: Dois cedês. Duas tevês, dois devedês.
● Em raros casos se deve usar minúsculo após :, pois nova sentença se inicia com maiúscula.
● Sempre preferir a forma mais simples. Só usar plural quando necessário. Evitar o uso abusivo de plural pra coisas incontáveis ou coletivas: A areia do deserto, um rio de água tranqüila, um objeto planando no céu, o funeral do coronel, a ossada foi retirada..., em vez de As areias do deserto, um rio de águas tranqüilas, um objeto planando nos céus, os funerais do coronel, as ossadas foram retiradas...
● Tanto à quanto, e não tanto à como
Antes era tão difícil quanto hoje
Era tão grande quanto esse barril
Há um filme francês com título Uma jovem tão bela como eu. Por que o título não é Uma jovem tão bela quanto eu? Suponhamos que se chama Maria. Porque no primeiro caso a jovem do título se cita como exemplo. É o mesmo que dizer Eu, uma jovem tão bela assim. Como se dissesse Como isso pode acontecer a mim?, sendo uma jovem tão bela. No segundo caso é comparativo. Maia se refere a outra jovem, que é tão bela quanto Maria. Portanto o título do filme não se refere a uma segunda jovem.
● Há - havia
Estamos em 2013. Estou contando sobre um caso acontecido em 1960.
Encontrei a cabana existente ali havia 80 anos.
Encontrei a cabana existente ali há 80 anos.
No primeiro caso a idade da cabana se conta até a data da história sendo contada. No segundo caso até hoje.
● Da mesma fora evitar o uso abusivo de ex-presidente, por exemplo. Se nos referirmos quando Getúlio Vargas foi presidente não devemos dizer Naquela ocasião o ex-presidente Getúlio Vargas..., pois assim teríamos de sempre dizer ex-rei Jorge, ex-imperador Pedro II, ex-papa João XIII..., pois todos são ex, evidentemente. Usar o ex quando no período mencionado o sujeito deixou de ser.
● Sítio ao castelo, invasão ao Iraque, culto aos mortos, lutar contra o adversário
Sítio do castelo é quando o castelo é que sitia. Invasão do Iraque é quando Iraque é o invasor, culto dos mortos é quando os mortos cultuam algo, lutar com o adversário é ter o adversário como companheiro, ajudando a lutar contra algo ou alguém.
● Clichê também sinaliza a época da redação. Nos anos 1960 e 1970 era moda dizer universo em vez de mundo. Assim o famoso e obsoleto concurso de beleza era chamado Misse universo, embora só participassem humanas do planeta Terra. Hoje o clichê é dizer planeta em vez de Terra ou mundo. Naquelas décadas era mais comum os termos super, hiper. Hoje o modismo é mega. Se Super-homem fosse criado hoje seria Megaman em vez de Superman. Se deve usar o termo planeta em contexto astronômico. Dizer Essa é a montanha mais alta do planeta é clichê. Qual planeta? Este? Aquele? Melhor dizer que é a montanha mais alta do mundo, ou da Terra.
Mas clichê não é erro gramatical. É como a frase-feita. Se trata doutro fenômeno, comumente relativo, pois se torna incômodo quando banalizado: Sem sombra de dúvida, no negror da noite, na calada da noite...
● A palavra extra não tem plural porque é extrato, como abreviação, de extraordinário. Horas extra. Da mesma forma Na Nicarágua os contra fizeram uma ofensiva..., porque nesse caso contra vem de contra-revolucionário.
Uma mulher pão-duro, um sujeito magricela, um cara magrela. O masculino de donzela é donzel, não donzelo, assim como de princesa não é princeso. Senhorito, donzel são termos usuais na península ibérica.


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