sexta-feira, 23 de junho de 2017

Crônica foz-iguaçuense


A mais famosa tríplice fronteira é apenas uma das tantas
Curiosidade mesmo é no continente antártico, múltipla fronteira
Só não o é de fato porque no lugar do pólo existe o buraco da Terra oca
Crônica foz-iguaçuense
Capítulo 1
A tríplice e a múltipla fronteiras Minha definição de catarata Os ônibus quase não evoluíram em décadas Vantagens do transporte rodoviário e do aéreo Cachoeira, cascata e catarata Mais uma de Santos Dumont Um elevador panorâmico sem panorama O resto foi programa-de-índio A ponte do Diabo e o ônibus assassino
Tríplice fronteira é muito comum, a da foz do Iguaçu é apenas a mais famosa. A antártica não é bem múltipla fronteira, pois fronteira pontual não é bem fronteira. O que faz recordar o princípio topológico de que pra se pintar um mapa de modo que países fronteiriços nunca tenham a mesma cor não se necessita mais que cinco cores.
No domingo, 30 de junho, fui a Foz do Iguaçu. Experimentei ir em ônibus, pra evitar os rodeios da conexão Guarulhos e ou Cumbica e ou Viracopos. (O que me faz lembrar que do exterior se pode trazer 12 garrafas de vinho mas se for pacote de café, dois, três. Quem manda no Brasil são os bebuns. Deve ser por isso que o aeroporto se chama Viracopos). O ônibus da Eucatur sai no meio da tarde, atravessa a cidade e pára durante uma hora num inóspito estacionamento ao sol cum restaurante no fundo, pra abastecer, etc. Por quê já não chega à rodoviária pronto pra ir só pode ser por receber comissão do restaurante ou é restaurante da empresa. No fim-de-tarde bate sol-a-pino, de modo que os únicos lugares sombreados são no muro da entrada, longe, e dentro do restaurante.
É digno de reflexão o pouco que os ônibus evoluíram em décadas. São praticamente a mesma coisa desde os anos 1970. Exceto o fato de o motorista ficar isolado, os passageiros encima, quase nada notável de evolução além de ar-condicionado. Mas ar-condicionado não é bem evolução, pois joga muito íon positivo ao ar, e nossa tradição em postergar manutenção… Já-viu, né? Dali até a primeira parada na madrugada, ar gelado demais, resultando numa gripe lascada.
As janelas continuam aquela coisa tosca, travada. Piorada, pois antes podia ser aberta. Agora não podemos nos defender dum motorista trapalhão que nos deixa no frízer, nem do ar viciado. As cortinas, as mesmíssimas, tão toscas e travadas quanto as janelas. Não cobrem tudo nem abrem de vez.
Comparando as vantagens dum e doutro meio de transporte: A viagem rodoviária, muito menos segura, é dez vezes mais lenta e pára muito no caminho, além do desconforto das luzes e breques sempre que atravessa uma cidade. Isso é minimizado no norte e centro-oeste, onde as cidades distam muito entre si. Mas no sul e sudeste é uma cidade encostada na outra. Não tem de fazer estripetise porque os países ficaram com fobia de terrorismo, como se terrorista não soubesse que existe viagem rodoviária. Apesar de estarmos cansados de saber que os atentados de 11.09 são uma farsa, a segurança aérea é exagerada e de opereta. O recosto das cadeiras de ônibus são um horror, atacando a coluna, de modo que é melhor dormir com a cadeira levantada mesmo. As empresas de ônibus mentem, dizendo que tal trajeto é direto. Mas estranhamente pra retirar a bagagem do ônibus se tem de apresentar a etiqueta de despacho, pois tem um funcionário entregando e conferindo, mas no aeroporto fica tudo na esteira, a deus-dará, podendo alguém pegar a bagagem alheia. Vá-entender!
As paradas são uma chatice, especialmente pra trocar de veículo. Mas ao menos não se tem de percorrer corredores quilométricos e confusos como nos aeroportos e com risco de não chegar a tempo de embarcar. Na madrugada tem uma parada numa lanchonete em Eldorado, cujo bufê está sempre vazio. Ramão, que já passou lá, contou que disse à dona do estabelecimento que se não quer ganhar dinheiro que passe o negócio a outro.
Foz do Iguaçu é uma cidade comum. É fronteira com o Paraguai mais ninguém toma tereré. O pitoresco é que, cum pouco de exagero, tudo se chama Catarata. É padaria Cataratas, más a diante farmácia Cataratas. Tem até um hospital Cataratas, mas não é pra cirurgia da cataratas, é mais pra pôr o nome da moda mesmo.
O nome praquela afecção ocular vem da Grécia antiga e tem tudo a ver com o acidente geográfico. Como quem está com catarata nos olhos vê como se estivesse atrás duma catarata, deram esse nome. Eis minha definição aos três acidentes geográficos similares:
Cachoeira - Queda dágua
Cascata - Cachoeira ou cascata escalonada. Dali a expressão efeito cascata.
Catarata - Cachoeira gigante
Como cheguei na manhã de segunda-feira, 1º de maio, corri agendar um passeio às tais cataratas, pra não desperdiçar o feriado. Além do quê no hotel Mirante o chequim é às 14h em vez do tradicional meio-dia. Como cheguei no meio da manhã não pude entrar, apesar de ter muita vaga no hotel, tanto que a diária era promocional. Felizmente o movimento no feriado foi pequeno. Nas vésperas é que foi o pique, com a cachoeira lotada de turista.
O hotel é grande, barateiro e de bom atendimento. O esquisito é a numeração dos quartos, meio enrolada pra achar o quarto, pois num setor ficam os números pares e noutro os ímpares. Só faltava separar os primos também. O café-da-manhã (prefiro dizer desjejum, pra evitar palavra comprida e composta) é sortido, num salão grande.
Os hóspedes pareciam ser campo-grandenses, porque vá-ter ojeriza assim de responder a bom-dia! Realmente, a humanidade está muito longe de formar uma internete mental.
Não sou muito de ver essas coisas turísticas. Ainda mais cachoeira gigante. É pra ver uma vez. Como os estúpidos espetáculos de rojão no reveião: Viu um viu todos. Preferia tomar banho numa uma cachoeira normal. Mas fazer o quê? Vivemos na era do espetáculo. Pior: Do espetáculo espetacular.
Confesso que nesse ponto sou meio ranzinza desde criança. Não teria estímulo pra viajar se não fossem os livros. Ver paisagem. Sei-lá. É bom mas… Outros estímulos mesmo seriam outros sabores, outras mentalidades, outras sensações.
Então se cheguei cerca de 8:30h e teria de esperar até 14h, nada mau sair às 10h ao passeio. Como ao lado do balcão estavam duas moças vendendo os passeios, foi rápido agendar. O furgão parou no caminho, pruma visita a uma tal casa do Chocolate. Duas portuguesas de Porto, que já estiveram ali, preferiram ficar no carro.
Não era pra menos. Não sei pra quê parar ali. Programa-de-índio. É loja cujos preços são pro perfil de turista que vai a Dubai freqüentemente. Na entrada enormes e decorativas pedras cada uma com etiqueta tipo assim pedra tal, pesando 1500kg, R$80.000,00. Perguntei se está incluído excesso de bagagem. No fundo uma lojinha de chocolate, disse o guia que de Gramado, mas achei muito simplória comparando com o resto da loja. Então não sei por quê o nome casa do Chocolate. Mas achei muita graça ter ali bombom Ferrero Rocher. Não vi gente comprando.
São gozadas essas coisas. Em Campo Grande, ou melhor, Buracópolis, tem um restaurante que se chama Luci doces mas a sobremesa não é seu forte.
Consta que foi Santos Dumont quem lutou pra fazer das cataratas uma atração turística. Tanto que tem uma estátua sua ali cuja inscrição diz que não seria justo que tão deslumbrante vista pertencesse a um particular.
São vários passeios. Optei só o parque das Aves e a catarata. Esse parque é muito parecido com o Buin zôo de Santiago do Chile. A ida às cataratas é nuns ônibus abertos, jardineiras. Muita escadaria. Tem gente que inadvertidamente vai levando carrinho-de-bebê e se depara com as muitas ramificações de longa escadaria.
Tem uma passarela que chega ao meio do caminho à catarata, onde chove lateralmente porque a queda dágua levanta gotículas que são levadas longe, causando permanente chuvisca lateral. Na entrada vendem impermeáveis de plástico aos turistas.
Na margem tem um elevador que se diz panorâmico mas que de panorâmico nada tem, pois só tem uma vista frontal enquanto a catarata está na esquerda. O pessoal precisa consultar no dicionário, pra ver o que significa panorâmico. Tá parecendo os pães integrais de Campo Grande.
Em toda a mata ali abundam os quatis. Há cartazes alertando pra não alimentar os quatis, pois quando vêem comida ficam agressivos, mordem e podem transmitir doença, como a raiva. Tem até um, chocante, mostrando uma mão ferida sangrando. São muito mansos e passeiam em toda parte no meio dos turistas, que não ligam pros avisos e alimentam os bichos, com andar meio ondulante e rabo levantado, igual a gata Borralheira aqui de casa, que ficou grandalhona e tem rabo de esquilo.
No final tem um restaurante, onde um funcionário a todo momento corre batendo uma lata pra os afugentar. Mas é uma tarefa inglória, pois enquanto uns fogem outros aparecem noutro lado. Sugeri usar um apito ultra-sônico, que afugenta cão.
No final da tarde uma leve dor-de-cabeça, como perda de sal mineral, mas na noite o catarro subindo não deixou dúvida que era um resfriado.
Na segunda visitei os sebos de Foz já com o desconforto do resfriado. São três pequenos sebos. Destaque ao sebo Cultural, com muito livro bom e barato. Encontrei um Contos magazine a R$2,00. Infelizmente o Cultural é dos que estragam a capa com adesivo.
Na quarta-feira iria aos sebos de Cidade do Leste. Peguei um táxi pra atravessar a ponte. O taxista contou sobre os horários em que a ponte congestiona. Não imaginei que fosse tão problemático a atravessar. As laterais estão gradeadas. Foi a solução pra acabar com aquelas famosas cenas de muambeiros jogando mercadoria do alto da ponte.
E quem-diz que consegui chegar ao destino? Mesmo com tudo anotado e trajeto desenhado como mapa, é um deus-nos-acuda chegar a um endereço, pois só põem o nome da rua, nada de número. Nada a ver com Assunção. O trânsito é um caos. Os carros andam feito uma boiada, sem sinal de tráfego nem faixa no chão. Dei uma olhada na feira de abasto, uma feira pra-lá de feia, só de fruta, verdura e legume, e fui direto à rodoviária, antecipar a volta, pois o resfriado na verdade era uma gripe. Poderia continuar a aventura com um táxi local, mas não dava pra bater perna com o corpo doendo e a perna bamba, necessitando repouso.
Pra completar o programa-de-índio a ponte ficou bloqueada mais de meia hora por causa duns presos sendo levados escoltados, como soubemos depois. Discutíamos qual seria o motivo do bloqueio. Eu disse que só podia ser algo programado, pois havia repórteres ali com câmera.
Cidade do Leste é só pra quem vai especificamente à casa China, etc., comprar importado. Bater perna na cidade é programa-de-índio.
Então, se fizesse questão de ir aos sebos do lado de lá teria de me hospedar ali perto, porque atravessar aquela ponte do Diabo não tem condição!
Diz que Lula cogitou fazer outra ponte, mas até agora… Ali tem de ter umas três pontes, e olhe-lá!
As façanhas foram: Atravessar a ponte do Diabo e sobreviver ao ônibus assassino.


À coleção Adeene neles!

Carlos Dickens - Benito di Paula

Marco Nanini - Sterling Holloway

Roberto Carlos - David Carradine
  
Coleção de cartão-postal de Joanco
 

2 comentários:

  1. MUITO BOA, COMO SEMPRE. ESPERO QUE ESTEJA MELHOR DA GRIPE!

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  2. Já com novo resfriado, agora fraquinho, doutra viagem
    Hehehe
    Valeu, Geninha

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