domingo, 19 de junho de 2011

CSI Campo Grande


Todos conhecem a série CSI Lasvegas (investigação criminal). Depois surgiu a CSI Maiame, com o sabe-tudo Raquel. Surgiu CSI Nova Iorque. CSI Toronto abortou.

Depois do caso do assassino da cruz, de Aquidauana, foi preciso criar um órgão especial pra resolver os casos mais escabrosos, cabeludos e estrambóticos. Assim foi criada a seção regional do famigerado Centro Criminal de Investigação. Como aqui impera a síndrome de Chacrinha não só nas fotocopiadoras: Nada se cria, tudo se copia, apresentamos
CSI Campo Grande
Este é o primeiro CSI com personagens reais. A idéia é que alguém se incomode e processe a página. Por favor!: Alguém processe, com direito a barraco, manchete no jornal Nacional, polícia com sirene, o diabo-a-quatro, que é pra fazer sucesso.

Episódio 1
O maníaco do tereré
Texto de Mário Jorge Lailla Vargas
1
O misterioso serial tereré
Os investigadores estavam todos reunidos na hora do recreio, na tradicional roda-de-tereré.
— Cês sabiam que o Iraque virou o maior importador de erva-mate? Pois é. Gostaram tanto que estão fazendo até um carnaval com desfile com carro alegórico e tudo. Em três etapas. Primeiro o abre-ala, o carro-guampa. No meio aparece o carro-erva. E, encerrando o desfile, duma vez por todas, o carro-bomba.
Mal Ciro Chã terminou de contar a piada quando o chefe Gláuder interrompeu, chamando os investigadores pra atender uma ocorrência.
— Ué, Glau. Também irás? Já tá confiando em Pauloco? Acabou a paranóia de que tenha uma recaída na mania de ráquer?
— Ai! CSI em terceiro mundo não é fácil! Ter de aceitar um mirim como perito deixa qualquer um arrepiado. E ainda tu como estagiário. E Natália onde está?
— Falando com o namorado virtual na internete.
— Mais uma pra cair no conto da foto.
— Pois é. Já falei que a foto que o cara manda é de Tom Cruise mas no encontro quem aparece é Sérgio Cruz.
Passando diante da porta de entrada alguém que chegava perguntou:
— Aqui é o Cié-sai?
— Cié-sai é o cacete! — Ciro, indignado — Aqui é o Ceesseí: Centro Super-especial de Investigação.
— Hahaha! Calma, Ciro.
— Além dos maníacos costumeiros ainda temos de lidar com os assassinos da gramática!
Chegaram a uma casa popular na vila Nhanhá. Natália disse:
— Na piada este é o bairro mais violento. É que nhanhá, em guarani, significa briguento, provocador. Ciro, agora tens de nos contar qual o apelido que nos deram. Chega de suspense. Até agora não descobri.
— A cidade já está nos apelidando de Os urubus, pois basta morrer um e em seguida aparecemos, cercamos a área e ficamos em volta do defunto.
— É mesmo! Os seriados sempre começam com um cenário crime e a perícia já farejou e está ali. Poderiam apelidar também de arroz-de-velório.
Gláuder:
— Mas neste caso não tem corpo. Tal como noutras ocorrências, suspeitamos de homicídio com escamoteagem do cadáver. Por enquanto temos de considerar cada evento desaparição.
Então começaram a varredura, coleta de impressão digital, perscrutando todos os cantos, buscando vestígio.
— Não vejo o dia de ter câmera até nas casas mais humildes. Facilitará tanto nosso serviço. — Disse Ciro.
— Mas estás pensando mais em ver mulher pelada que solucionar crime. Não é?, Ciro. — Natália, com uma risota marota.
Atrás da porta, preso com fita crepe, um bilhete num pedaço de papelão, escrito a pincel atômico:
Quem só gosta de chimarrão
Eta sujeito assim marrão!
Tenha negra sorte ou, se marrom
Um tiro à moda de Cimarron
Preso com corda, num, chi!, amarrão
Natália:
— Ai!, che dios! Um assassino serial gozador! Só aqui!
Gláuder:
— Parece que temos um serial-quíler do tereré. Bem que os jesuítas chamavam a erva-mate de erva-do-diabo. Numa ocorrência anterior um sujeito desapareceu logo após uma roda-de-tereré na calçada. A vítima era quem promoveu a tererezada. O bilhete dizia que quem usa caneco como guampa tem de sumir. Outro desapareu porque tomou tereré com refrigerante. Outro porque a erva era muito vagabunda. Os bilhetes estão ficando mais elaborados, em verso rimado, mas parece ser tudo obra do mesmo maníaco. Na ocorrência anterior, quando desapareceu um sujeito que não gosta de tereré, o bilhete dizia assim:
Quem não gosta de tereré
sujeito sensato não é
Tem tremedeira no pé
A cabeça lelé
Não tem samba no pé
Só faz papel de mané
e não gosta de mulher
Ciro:
— É como aqueles pitseiros muito puristas, que sentem um calafrio ao imaginar o cliente pondo quetchupe na pitsa.
No iemiele do CSI doutora Lígia chupava água-de-coco no canudo, deitada na rede, pois não havia corpo pra autopsiar. Pauloco fez a análise do vestígio recolhido.
— Nos 9 casos de desaparição só em 2 havia vestígio de sangue, e todos eram do desaparecido, sendo que num desses dois o desaparecido não é morador da casa. Em todos os casos, exceto no mais recente, a desaparição foi subseqüente a uma roda-de-tereré.
— Em toda a cidade só se fala no maníaco do tereré ou tererezeiro assassino. O povo já está com medo de dar umas chupadas na bomba. — Disse Gláuder.
— Á, não! Logo agora que o tereré foi declarado patrimônio cultural do estado! Deve ser coisa espalhada pelos patrões, que não gostam que os empregados façam a roda e passem horas jogando conversa fora. Ou conspiração da Coca-cola, pra eliminar concorrência. Tá vendo? No último nem tinha roda.
— Pode ser que o mais recente desaparecido também tomara tereré, só que sozinho. O material recolhido pra análise continha resquício de erva-mate. Nas outras ocorrências encontramos fragmentos de pó indicando se tratar de erva-mate de tereré. Porém no caso mais recente houve uma cuspida e a análise revelou erva-mate, mandioca e tapocó.
— Tapocó? O que é isso? — Disseram, em uníssono. Natália explicou:
— No Paraguai o fumo mais popular é vendido sem processamento. Folhas secas. Não há lugar que venda isso aqui, apesar da grande colônia paraguaia. O lugar mais perto onde se pode obter é Pedro João Cavaleiro, na fronteira com Ponta Porã. Não, Ciro, não é irmão do cantor Zeca Baleiro! Por isso Pauloco está achando que o serial tereré é paraguaio.
Ciro, mais porque tem rixa com Pauloco:
— Qualé?! Só falta dizer que é porque tem indício de que falava guarani na musculatura da língua por causa do esforço em pronunciar o y.
— E como sabes que é tereré e não chimarrão? Não pode ser um gaúcho? — Disse Gláuder. Não é só por causa dos bilhetes...
Nesse instante chegou Natália, dizendo que os vizinhos atestavam que a vítima mais recente, que morava sozinha, não tinha hábito de tomar tereré nem chimarrão. Pauloco disse:
— Gláuder, como não és tererezeiro nem chimarronzeiro, não sabes que em ambos se usa a mesma erva, Ilex paraguariensis. Só que no chimarrão a erva é moída mais fino, por isso a bomba chimarrônica tem furinhos menores, de modo que se alguém usar a erva de chimarrão e bomba de tereré acabará tossindo. Grânulos da erva na garganta é tão irritante quanto farofa no nariz. E... — Fez uma careta de suspense, arregalando os olhos — Olha-só! A cuspida foi por causa disso. Não a costumeira cuspida dos mascadores de fumo. Há grânulos de erva além do cuspe verde.
— Isso mesmo. — Disse Natália — A vítima mascava tapocó.
— Óóóóó! Então o adeene da cuspida é da vítima, não do autor. — Disse Gláuder.
— Mas é claro! O maníaco é doido mas não é burro.
No meio da tarde o tereré estava servido mas ninguém queria ser o primeiro a se servir. Natália nem chegou perto:
— Isso aí tem muita cafeína e fico sem dormir na noite.
Ciro olhou de lado:
— Esse treco é muito afrodisíaco. Pra solteiro fica meio contramão.
Pauloco:
— Pois é. Muita cafeína. Deixarei pro fim-de-semana. Tomarei uma laranjada.
Mal terminou de falar e foram chamados a mais uma ocorrência. Numa repartição pública um coquetel molotove incendiou a cantina e um funcionário foi visto em última vez com copinho descartável de cafezinho na mão. O atentado foi quase na meia-noite, quando a cantina estava deserta e dois funcionários faziam hora-extra. Um bilhete atrás da porta clamava contra o costume do café:
O prata-da-casa qual é?
Não o famigerado café
Neste auto-de-fé
O que é? O que é?
Tereré, tereré
Isso é que é!
Mas nesse caso o chefe informou que havia uma monitoragem com câmera na porta de entrada por causa dum problema que não quis revelar.
No outro dia o detetive Elias Franco entregou um cedê com as imagens obtidas na ocasião. Gláuder:
— Isso é que é profissão boa! Só deixar a câmera ali. Um marido ciumento, um funcionário ladino. Nada muito arriscado.
— Cês que pensam! Tem cachorro brabo, espinho. Tem vez que trepamos no muro pra instalar a câmera e chega a polícia pensando que somos ladrões. E pra piorar tem os detetives piratas, que sujam nosso cartaz com os clientes.
Ciro:
— Só não entendo como é que os detetives de verdade flagram tudo, conseguem pegar qualquer espertinho, como não conseguem pegar os detetives piratas?
— É... Sabe como é, né?: Casa de ferreiro espeto de pau.
Como um vendaval atingiu o local horas antes, a câmera girou um pouco, de modo que praticamente só focalizava uma pilastra. Apesar de equipada com infra-vermelho, só se tinha a imagem da pilastra. Gláuder:
— A única certeza é que o sujeito ficou atrás da pilastra algum instante que seja. Nem que a câmera tivesse raio-x daria pra ver...
— Eureca! — Ciro arregalou os olhos — O CSI Maiame deve ter tecnologia pra resolver isso. Lembram daquele episódio onde foi filmada, com celular, uma festa de adolescente e lá, longe, alguém levantou a mão. Então a equipe de Raquel focou no dedão, ampliou, ampliou no computador, até ver a impressão digital e identificar o sujeito? O CSI Maiame é o único lugar no mundo que tem essa tecnologia tão espantosa. E foi Raquel quem a desenvolveu.
— Mas Raquel não é nome de mulher?
— É Horácio mas o apelido Raquel pegou aqui porque pronunciam Oruêitchiou. E no sotaque atropelado americano parecia Ruêitchel, Raquel. Raquel sabe tudo, faz tudo, é tudo. É o melhor atirador, fala castelhano, tudo sabe e em tudo é o melhor, naquele estilo durão Humphrey Bogart. Acho que, como em Monk, é quem escreve o roteiro. Então a vaidade aflora. Só não puseram alguma personagem o chamar de bonitão porque ficaria ridículo com aquela cara de maracujá seco. Como é muito modesto pediu pra dizer que foi ele quem inventou a técnica mas prefere ficar anônimo. E o pessoal diz que seu treinador só pode ser Leonardo da Vinci.
— Caramba! Parece que tem setor de cabeleireiro ou de lavadeira no CSI. Tá bom! Mas não o chames de Raquel no imeio, senão não receberemos ajuda.
Num tessapirim baixou, no computador, o arquivo Movie rotator.rar e não perderam tempo.
— Não falei que Raquel resolveria a parada? A câmera só filmou a pilastra e precisamos ver quem está atrás. Raquel disse que se a câmera tivesse raio-x daria pra amplificar. Mas este programa faz o seguinte: Marco aqui, tchã, e clicando aqui a imagem gira lateralmente, assim! Podemos ver o bandido de costas e de perfil!
— Mas não adiantou porque está com capacete motociclístico.
2
O tereré é a isca
O pessoal ficou discutindo a estratégia a ser adotada. Mas tudo o que tinham era um maníaco fanático por tereré. Gláuder:
— Temos de agir logo. Uma hesitação e mais uma vítima. Além do que os produtores de erva-mate estão pressionando. Hoje recebi uma comissão do Mercadão, reclamando da queda na venda da erva.
— Lamentamos admitir, mas temos chamar Mário. — Disse Ciro.
— Putz! Toda vez temos de chama Mário, pra resolver algum pepino. — Desde aquela vez que ganhou a namorada de Ciro num jogo de pingue-pongue que não o vimos mais.
— Peraí! Ganhou de brincadeira.
— Vamos logo. Temos montar uma cilada que seja irresistível ao tererezeiro fanático.
Ciro e Natália foram encontrar Mário. O tereré foi servido na mesa do quintal, ao pé da amoreira. Natália:
— Qual é o sabor hoje?
— Amora de vez com folha de amora, jurubeba e quebra-pedra.
— Pra Mário o tereré faz o mesmo efeito do espinafre pra Popai. — Ciro, olhando de lado, como se procurando algo — Aposto que quando não estivermos olhando porá uma pitada de super-amendoim de Super-pateta.
— Tereré é bebida fina. Muito superior ao café. Se compara ao vinho na importância e na variedade de sabor que se pode obter. Esnobismo e bestice é que impedem de se reconhecer isso. É a síndrome do santo de casa não faz milagre. Além de ter anti-oxidante e diversas substâncias sumamente benéficas.
— Então tem jeito certo e errado de servir?
— Tem o que seria de mais bom-gosto. Como a erva é amarga o costume não se espalhou no resto do Brasil. Porque só tomavam com água fria. É questão de saber preparar. Afinal, se cozinhar só feijão e água, sem tempero, não fica ruim? Com o tereré é a mesma coisa. Mas se fizer, como este aqui, um refresco coado no pano, bem balanceado, agridoce, vira um petisco. Com a amora de vez nem precisa adoçante. Mas experimentemos este outro, com acerola fermentada, que fica bem achampanhada.
— Aquele último, com xarope de cajá, a gente não conseguia parar de tomar. — Natália rabiscou no suor de gelo da jarra, com o dedo.
— É isso mesmo que precisamos. — Ciro expôs o caso — Temos um maníaco que está atacando os que desvirtuam e ou desprestigiam o tereré. Precisamos preparar uma armadilha irresistível. Mas não é pura doidice do cara? Onde se viu tereré requintado, como se fosse chá inglês ou japonês?
— Tereré tem ritual específico, sim. Não o formalismo exagerado do chá inglês e japonês mas tem: É servido na guampa de chifre bovino, lixado cuma uma folha do cerrado, que parece lixa. Fica bem liso. Se põe a erva, se inclina 90º, tapando com a palma da mão, de modo que a erva se disponha ao longo da parede, se volta devagar, derramando o líquido na parte que ficou oca, até a metade, de modo que a erva desmorone aos poucos. Se tapa a boca da bomba com o dedo, pra barrar o ar enquanto se vai introduzindo no líquido. Ao chegar ao fundo se destapa. Toda vez que for revolver a erva com a bomba tem de a tapar com o dedo, pra evitar entupir. O líquido é servido devagar, procurando manter a erva superior o máximo de tempo sem absorver líquido. Em volta da mesa o seguinte a tomar é quem está na direita. E assim vai rodando. Se bem que meu pai conta que tinha um fazendeiro que tomava, servia ao seguinte, tomava, servia ao outro... Se disser Obrigado é porque não quer mais. Conta dum que disse assim e reclamou que não o serviram mais. Mas disseste Obrigado. Respondeu: Obrigado, pra agradecer!
Expuseram o caso do maníaco do tereré.
— Hummmmm. Não sei... mas tá parecendo algum despiste.
— Despiste?
— Sim. É que esse idealista não tá assim tão coerente. Parece mais um idealista de polichinelo. Mas, de qualquer forma, se é aficionado poderá morder a isca. Meu plano é fazer um evento, uma exposição. Agora que o tereré foi tombado como patrimônio cultural, cai bem um evento com muita publicidade. Um evento de degustação e palestra. Essa parte podeis deixar comigo. Colocarão câmeras em ângulos estratégicos pra analisar a reação facial dos suspeitos. Então entrará em cena um tererezeiro trapalhão. Os que fizerem cara-feia serão suspeitos. Então a SUATE Campo Grande se encarregará de seguir os suspeitos. E pra mim será ótimo pra divulgar o projeto de meu livro de ouro do tereré.
— Certo. Então vamos à sede, pra detalhar o plano.
Os melhores profissionais de segurança foram recrutados. Cada supermercado cedeu um experto em vigiar a monitoragem das câmeras, com agilidade em flagrar furto de mercadoria. Outros, de radinho em punho, se encarregavam de completar a observação dos não focalizados por câmera e mudar o foco se achar interessante.
Começou a palestra, com intervalos de degustação. A abertura foi um quadro de comédia, servindo desleixado, num copo de vidro. Logo um suspeito se destacou, arregalando os olhos, pondo as mãos na cabeça, dando um sopro de enfado e exclamando um indignado, embora baixo e discreto: Filho-da-puta!
Tudo transcorreu normalmente, até quase o final. Mas eis que, de repente, o suspeito deu um grito medonho e correu, desvairado, à rua.
Doutora Lígia não sabia explicar o que aconteceu ao suspeito, capturado logo após a desvairada corrida.
— Correu feito louco, em direção ao mato. Parece em choque, a mente vazia. Muito estranho! Tão estranho quanto o sujeito portar um vidrinho de sonífero, que nada tem a ver com seu estado. Impossível o sonífero causar esse efeito. Que mistério!
3
Zumbi tereré
Mário chamou Ciro e subiu na escada de alumínio pra retirar o livro A ilha da magia, de William B. Seabrook.
— Olhes aqui, Ciro. Disseste que o suspeito teve um chilique assim que um garção passou com uma bandeja com salgado. Comeu um e endoidou.
— Sim. E a perícia comprovou não haver salgado alterado nem o sujeito foi envenenado ou dopado. Como pode ter alteração tão repentina?
— Na verificação das imagens se constatou que o sujeito tinha um jeitão robótico, meio sonambúlico. Vejas aqui, no livro, cujo autor viajou muitos anos no Haiti. Diz que é sabido que não se deve dar alimento salgado a um zumbi, pois isso o faz tomar consciência de sua condição, o que causa uma crise de desespero. Duas referências, página 80 e 82, capítulo 2 da parte 3, A magia negra.
— Cumé-quié? Zumbi? Tá doido?
— Esqueças o estereótipo propalado por cinema, quadrinho e literatura barata. O zumbismo é um fenômeno real. Quando alguém queria aliciar escravo usava (ou usa, sei-lá) um narcótico catalético que destruía a área cerebral da consciência. A vítima era tomada como morta. Logo desenterrava clandestinamente esse ser, vivo mas em estranho estado comatoso, com comportamento robótico. É o zumbi, o morto-vivo. A ignorância popular, deturpava o fenômeno, criando uma superstição, um estereótipo, com ar sobrenatural, acreditando ser um morto que se levanta da tumba.
— Caramba! Isso existe mesmo!
— E quem teria interesse em aliciar zumbi aqui? Somente algum daqueles fazendeiros que utilizam mão-de-obra escrava.
— Então todo aquele papo de ativismo pró-tereré, anti-café, e tal, não passava de despiste!
Uma paciente investigação descobriu que numa fazenda no Pantanal trabalhava um exército de zumbi. Através da missão brasileira no Haiti veio o narcótico zumbístico. Um grupo especial zumbi foi treinado pra aplicar um sonífero comum numa vítima adequada. Rapidamente uma quadrilha nada zumbi roubava o adormecido e na fazenda era aplicado o sonífero catalético. Por causa da modernidade, pois hoje o cadáver vai ao iemeele, não dava pra fazer o tradicional enterro com subseqüente desenterro. Por isso era necessário forjar desaparição misteriosa.
A SUATE Campo Grande desbaratou a fazenda mas o fazendeiro conseguiu escapar, não se sabe se com o sonífero catalético, pois apenas alguns frascos foram encontrados numa caixa de sapato de papelão.

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