Sim. O autor é João
Salvador Pérez, Tonico da dupla sertaneja Tonico
& Tinoco.
Se alguém pensa que
esse dueto é uma dupla sertaneja qualquer, é bom se informar melhor. Tonico é
autor de centenas de composições, 25 peças teatrais e este maravilhoso volume
de conto sertanejo. É um genuíno resgatador de legado cultural que se perderia.
Longe da imitação e do humor estereotipado, é literatura com genuíno sabor
caipira.
Orelha
As forças telúricas, os
elementos da natureza, foram, são e sempre serão um fator decisivo na formação
do temperamento humano.
O mundo todo de Tonico &
Tinoco é arrancado do atávico silêncio. Um mundo nostálgico, às vezes alegre
e outras triste, muitas vezes satírico.
Do contato com a própria natureza surgiu um estilo todo seu, tanto na melodia e cadência das
músicas quanto na linguagem das peças teatrais e contos.
Tonico & Tinoco, a dupla coração do
Brasil, são expoentes legítimos do mais legítimo de nosso folclore. Sem dúvida,
merecedores do prestigio que gozam.
As composições se contam a centenas, o número de peças teatrais atingiu
o cifra de 25, e ultimamente alcançaram inaudito sucesso com os filmes: Lá em meu sertão e Obrigado a matar!.
Nesta coletânea de conto temos uma prova definitiva de seu talento, da
capacidade de apreensão do elemento vivo, nos dando uma transcrição fiel do
homem do campo, com seus modismos, costumes e a maneira simples de viver. Sem dúvida,
mil vezes mais autêntica que o cosmopolitismo da cidade grande.
A linguagem simples e expressiva traduz fielmente toda uma gama de
sensações e emoções onde sua singeleza transmitem em toda a grandeza o modo de
sentir do sertanejo. Esse homem calado, quieto, humilde, desconfiado, mas que
sabe amar, viver e morrer cum heroísmo sem limite.
Nossa história está cheia desses exemplos!
Tonico e Tinoco nasceram no campo, queimaram a pele sob o sol
causticante, formaram o espírito ao contato direto da natureza e forjaram um
temperamento de aço, ao sabor das intempéries. Dali a autenticidade de suas
narrativas.
Os campos brasileiros são muitos: Norte, sul, centro, leste, oeste, centro-este...
mas, há algo comum a todos. Disse o poeta: O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Nessa frase está tudo
definido, sintetizando, compreendido. Atinge a todos.
Tonico é o poeta, Tinoco o prático. Ambos se completam. Personalidades diferentes,
sem dúvida, porém uma sem a outra seria impossível imaginar.
Tonico escreveu esta seleção.
Quanto ao resto, creio que após ler este livro vossa opinião coincidirá
com a minha.
Eduardo Llorente
Numa nota de rodapé pus minha concepção e a de
Macedo Dantas, sobre o dialeto caipira:
Expressões como
Ó!, xente, Virxe! (Ó!, gente, Virgem!) são do vocabulário galego, língua mais aparentada ao
português que ao castelhano. Na Bahia é comum porque ali é forte reduto de
imigrante da Galiza. Já expressões muié,
meus fios, trabaiá, não são
produto de ignorância e desleixo mas influência do linguajar catalão, língua
aparentada ao castelhano, italiano e francês, onde se pronuncia o L como I,
como no francês Versailles
(Versalhes), se pronuncia Versaies. Segundo
Macedo Dantas, em Cornélio Pires : Criação e riso, foi um importante
etnógrafo da cultura caipira e do dialeto caipira, que surgiu no século 18,
quando a língua brasileira, o nheengatu, foi proibida pelo rei de Portugal e se
passou a falar português com sotaque nheengatu, como é o caso de muié, cuié, zóio, orêia, falá, dizê, comê, dado que a língua nheengatu
estranhava os infinitivos dos verbos e as consoantes duplas. A fala caipira não
é um erro de linguagem, é um dialeto, uma legítima variante da língua
portuguesa. Nota do digitalizador
Na primeira nota, sobre o vocábulo anhangüera, contestei o significado
consagrado, diabo velho:
Anhangüera não é diabo velho
Em dicionário e enciclopédia se encontra a explicação
clássica sobre o vocábulo. Por exemplo: http://www.dicionarioinformal.com.br/:
Anhangüera
foi o Apelido dado a Bartolomeu Bueno da Silva, um aventureiro português
nascido na capitania de São Paulo. Quando desbrava o interior brasileiro se
deparou com alguns índios e os obrigou a mostrar onde encontrar ouro. Como
negaram informar lançou fogo a uma botija com aguardente ameaçando incendiar da
mesma forma os rios e lagos se não mostrassem o ouro. Os índios, com muito
medo, levaram imediatamente ao local onde existia ouro em abundância.
Doravante Bartolomeu Bueno ficou conhecido pelos índios como Anhangüera, cuja tradução grosseira e
sumária é Diabo Velho.
Anhangá é uma assombração, saci, espírito maligno. Na
verdade o sufixo tupi güé e o guarani
qüé significam ex, o que foi, o que era. Anhangüé significa ex-diabo,
o que era um gênio, o que foi uma assombração mas agora está
personificado como homem. Se confunde o sufixo guarani qüé com qüera. Qüera significa os seus, sua turma,
correspondente ao tupi güé. Portanto Anhangüera significa o da turma do diabo, o que tem parte com a assombração, o que tem aliança com o espírito
maligno. Não diabo velho. Há uma
música paraguaia, Che novia cué mi (minha ex-noiva). Quando alguém diz, em
guarani (na verdade se fala jopará, onde o castelhano supre lacunas
vocabulares), Juan cuêra significa a turma de João, João e seus companheiros.
Portanto Anhangüera significa O que tem parte com o Diabo, O da turma do
Diabo, O diabólico ou O diabo.
Mesmo porque velho, em guarani, é tudjá. Caraí tudjá, homem velho, senhor velho, velho.
Mesmo porque velho, em guarani, é tudjá. Caraí tudjá, homem velho, senhor velho, velho.
À coleção Adeene neles!
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agiota de raridade:
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