domingo, 29 de dezembro de 2024

Era uma vez... 122, 05.1947

 

Era uma vez... 122, 05.1947 -escaneio original

Revista juvenil


Eis uma revista raríssima que vos apresento minuciosa e carinhosamente restaurada. Não tem capa sua na busca. Meu exemplar em papel está traceado na parte inferior. Recuperei tudo, exceto o número do endereço da empresa Souza, Pinto & Barata, numa propaganda, página 45, que pode aparecer noutro número da revista.

Na página 9 tiras de Piadas do Biluca. Plágio a Pinduca?

A palestra de vovô Felício. Página 13. Apresentando uma estatística sobre o baixo índice de aprovação da geração de então nos concursos em geral. A moda da época, via influência ianque, era demonizara estória-em-quadrinho. Mas não disse que a culpa é dos quadrinhos, e sim do excesso de leitura. Nisso podia estar certo. Há muito percebi que os indivíduos que só lêem quadrinho solem ser imaturos. Tal qual comentei cuma parente, na época adolescente, sobre o porquê não gosto de fazer as coisas ouvindo música. É que ouvir música o tempo todo emburrece porque não deixa pensar. Além do mais a música me distrai, e me perco no que estou fazendo. Pouco depois confirmou que eu tinha razão, que ouvir música o tempo todo emburrece mesmo. Mas é ouvir em excesso. Não é que não se pode ouvir uma musiquinha. Quando quero ouvir pauso o que faço, toco umas quantas, e chega. O artigo apresentou estatística lamentando o baixo índice de aprovação dos jovens contemporâneos, mas não apresentou estatística de como era antes dos quadrinhos virar moda. Para defender a tese anti-quadrinho teria de comparar as duas fases com densa estatística. Mas isso seria apenas evidência, não prova, da influência nefasta do quadrinho na educação formal. Mas macaco não vô o próprio rabo. A revista não é lá tão erudita. É o português-de-jornalista que vemos. Por exemplo: Na página 65, legenda sobre o eclipse: 9 hs. 28 ms. 42 segundos em vez de 9h 28min 42s, ou 9:28:42h, nove horas, 28 minutos e 42 segundos. Ou seja: Quem fez a legenda não sabe a diferença entre abreviatura e unidade métrica, e põe só a unidade segundo em-extenso.

Uma vida de rua. Página 32. Conto sem contextualização, sem descrever o protagonista, um tanto maniqueísta. O autor se refere ao protagonista como criança, mas as atitudes e liberdade evidenciam que é impossível, portanto se tratando dum rapaz. Não apresenta o quê são as tais crianças. Internato, prisão corretiva a menor, colônia-de-féria? O vilão, anônimo, apresentado apenas como o negro, inecessariamente sugerindo um racismo do autor, não apresenta a função do negro. Apresentar personagem como o negro, o índio, o japonês, o gordo, o careca, em caso de não se ter o nome, o diferenciando dos demais no contexto, seria normal. Mas este é seu funcionário. Conto medíocre.

Os três irmãos. Página 31. Pequeno conto sobre quem não estuda puxará carroça. Coisa que mamãe sempre dizia. Infelizmente não é verdade, mas é educativo e motivador. Me recordo duma ocasião, em 1998, quando fazíamos a mudança do arquivo externo de meu setor, o arquivo-geral, volte aonde estavam carregando caixas-de-processo a uma camionete estacionada na sarjeta. Os dois recém-contratados que estavam na camionete contaram, divertidos, que uma mulher passou cum filho pequeno e vendo os dois carregando caixa disse à criança Se você não estudar irá fazer trabalho pesado igual aqueles dois! Tiveram vontade de gritar a ela Senhora. Não contes mentira às crianças!

E ela se foi. Página 48. Crônica, que dá pra considerar conto, pois narrativa com início, meio e fim sem contexto, caracterização das personagens, data e local nem nome da protagonista. Por isso uma bela e tocante crônica saudosista sobre uma encantadora cadelinha ou um conto medíocre. Não caracteriza o local nem a época. Suponho que num vilarejo interiorano, pois com rua onde passa automóvel e com lago e campina banalmente acessíveis. Suponho que a cadelinha não tinha nome porque a família nunca adotara algum bicho e na redondeza também não era costume. O contexto o sugere. Uma família de doze, mas só cita a mãe e um tal Nenê, que pelo contexto seria uma criança pequena que pode andar e correr. Como quem escreveu já tem maturidade e o cenário é de quando criança, no mínimo dez anos antes se passou o enredo publicado nesta edição de maio de 1947. A autora é Elza Gomes. Seria a famosa atriz de telenovela? Tal atriz era onipresente nas telenovelas. Ao ver a foto reconheci imediatamente. Na verdade era Luísa dos Santos Gomes, em Portugal. O pai morreu quando Elza tinha 8 anos, então a mãe se mudou ao Brasil e mandou buscar as filhas (quantas?) três anos depois. [No relato sobre a cadelinha não cita o pai, e a autora era criança]. Se estabeleceram na cidade de Paraíba, atual João Pessoa [em João Pessoa há um lago], onde a mãe, Silvana Gomes, retomou a carreira. Em 1923 a família se mudou a Rio de Janeiro, pois a mãe fora contratada por uma companhia de teatro-de-revista que se apresentava no teatro Carlos Gomes. https://pt.wikipedia.org/wiki/Elza_Gomes Mas tal nome certamente tinha e tem muitos homônimos nos países de língua portuguesa. Se a autora não é a célebre atriz, não se tornou escritora ou  escreveu e deixou na gaveta, pois não achei referência a escritora com esse nome. Em https://cartaodevisita.com.br/conteudo/9811/eterna-memoria-elza-gomes-19-10-1910-17-05-1984-a-eterna-alegria-de-uma-comediante, sobre a atriz, apresenta fotos mas a primeira é da cantora Elza Soares, de nome-de-batismo Elza Gomes da Conceição! Quê trapalhada!

Sonho duma noite artificial de inverno. Página 80. A reportagem sobre o eclipse, mais preocupada em atacar a Rússia e louvar Eua. O artigo é sobre o eclipse, seu Nilo, não sobre a comparação qualitativa comunismo-capitalismo pra puxar o saco dos donos da revista, da máfia sionista-maçônica, chegando à infantilidade de debochar dos cigarros soviéticos. A revista jogando pesado pra doutrinar os jovens, e depois o pessoal fala em liberdade-de-expressão, livre arbítrio, estado-de-direito, etc.

O advogado improvisado. Página 70. Belo, interessante e criativo conto, apesar de enredo estapafúrdio. Ainda não havia defensor público? Por quê o juiz pediria defensor em plena audiência e não antes?

A gruta da velha suspiro. Página 80. O típico tipo detestável de conto infantil. Sofrível.

Fábio Borges Horta, o desenhista da capa e maioria das ilustrações na edição ●  Desenhou pra Era uma vez..., Alterosa, Diários associados, Manchete e O cruzeiro. Produziu vários desenhos-animados comerciais e um sonoro pra cinema de 35mm.

 Perguntas impertinentes e irreverentes

● Os humanos resolvem equação racional

Os gatos resolvem equação irracional?

● Por quê nos gibis de Mônica os moleques nunca estão lendo gibi?

● Por quê nos Gibis de Mônica só Chico Bento vai à escola?

● Por quê nas telenovelas da Globo nunca alguém está vendo Sílvio Santos?

● Quem foi a secretária de Maurício de Nassau?

Simone de Beauvoir

● Quem foi a esposa de Cabeza de Vaca?

Cabeça-de-boi

 Suspendas essa execução!

Charles Burgess

Esta espantosa história, crede ou não, aconteceu em Nova Orleãs na noite de sexta-feira, 12 de março de 1954. Detetive Wilbur Candebat e seu parceiro George Young, terminavam o plantão de 8 à meia-noite no departamento de homicídio quando a complicação começou.

O início foi o telefonema excitado dum interno do hospital da Caridade informando que uma paciente sua, uma mulher que acabara de recuperar a consciência pós-anestésica, murmurara algo sobre um homem que morreria na cadeira-elétrica por um crime que não cometeu. O interno insistiu:

—  É melhor agir rápido, pois pode ser questão de vida-ou-morte!

Os detetives correram ao hospital, onde lhes foram prontamente fornecidos aventais e máscaras anti-sépticas. Conduzidos ao leito da mulher, quem narrou:

—  Eu estava passando numa casa, em Lago Ponte Vagão-Cisterna, quando ouvi uma discussão. Olhei na janela e vi um homem pondo acha de lenha ao fogo. Apareceu uma mulher atrás e o golpeou na cabeça cum ferro, enfiou o corpo numa grande lata, a rolou na calçada, prà colocar no automóvel. Aquele homem, Daninho Lockwood, estava passando na ocasião e ela pediu ajudar a pôr o tambor ao carro. Depois que a mulher partiu, Daninho notou manchas de sangue na calçada. Quando a mulher voltou, ele disse que nada diria se o empregasse na casa. Mais tarde, quando Daninho tentou fazer chantagem com a mulher, ela o denunciou como quem assassinara o marido dela. Foi condenado e morrerá na cadeira-elétrica nesta noite. Por favor, o salvai, pois é inocente!

Os detetives a interrogaram meticulosamente, mas ela repetiu sempre o mesmo relato

Impressionados pela sinceridade da mulher, Wilbur e George voltaram ao gabinete médico. Wilbur perguntou:

— Tem consciência do que diz?

—  Acho que sim. — Afirmou o interno — Tomou uma pequena dose de escopolamina, ou soro-da-verdade. Talvez isso a fez falar.

Convencidos de que cada minuto que se passava era de importância vital, Wilbur e Young regressaram à chefatura pra consultar os registros. Não acharam notícia sobre um crime envolvendo o nome Daniel Lockwood. Se comunicaram com a prisão Parish, mas foram informados de que não foi programada a execução dalgum homem chamado Daninho Lockwood praquela noite.

Wilbur consultou o relógio e resmungou:

—  São quase 11 horas. Transmitamos a todas as penitenciárias. Se esse sujeito morrer será terrível!

A polícia estadual entrou em ação. Foram transmitidas mensagens às prisões dos estados vizinhos de Alabama, Mississipe e Texas:

— Se tiver um preso chamado Daninho Lockwood pra ser executado, imediatamente avisar a polícia de Nova Orleãs

Todas as respostas foram negativas.

Trabalhando febrilmente agiram além do horário regulamentar, em terrível e fracassado esforço pra localizar Daninho

Às 3h da madrugada foram até casa. Ao preparar a cama pro marido, a mulher de Wilbur notou que ele estava preocupado. Perguntou o quê havia. Então ouviu todo o relato. Wilbur disse sacudindo a cabeça:

—  Se esse homem morrer será um terrível erro judiciário!

—  Não te preocupes. — A esposa, afagando carinhosamente a cabeça dele — Daninho foi perdoado. A esposa do governador descobriu provas suficientes pra o perdoar, e tenta lhe arranjar um emprego. Também sei quem cometeu o crime.

Wilbur a encarou estupefato e indagou petrificado:

—  Cómo sabes?

—  Ligando o rádio toda tarde às 14:45h, pra ouvir o programa Buscando a felicidade, também saberás — Exclamou, rindo divertidíssima

Revista Detetive 14, 15.07.1957, ano 5, editora O cruzeiro, Rio de Janeiro

 

Coleção Adeene neles!

 

Onde anda aiatolá Comeíni

 

Metralha V-002 - Ramão - Kelly family - Nick Nolte - Seatco

 

Coleção Cartão-postal de Joanco

 







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