Era
uma vez... 122, 05.1947 -escaneio original
Revista
juvenil
Eis uma revista raríssima que vos apresento minuciosa e carinhosamente restaurada. Não tem capa sua na busca. Meu exemplar em papel está traceado na parte inferior. Recuperei tudo, exceto o número do endereço da empresa Souza, Pinto & Barata, numa propaganda, página 45, que pode aparecer noutro número da revista.
Na página 9 tiras
de Piadas do Biluca. Plágio a Pinduca?
A palestra de vovô Felício. Página
13. Apresentando uma estatística sobre o
baixo índice de aprovação da geração de então nos concursos em geral. A moda da
época, via influência ianque, era demonizara estória-em-quadrinho. Mas não
disse que a culpa é dos quadrinhos, e sim do excesso de leitura. Nisso podia
estar certo. Há muito percebi que os indivíduos que só lêem quadrinho solem ser
imaturos. Tal qual comentei cuma parente, na época adolescente, sobre o porquê
não gosto de fazer as coisas ouvindo música. É que ouvir música o tempo todo emburrece
porque não deixa pensar. Além do mais a música me distrai, e me perco no que
estou fazendo. Pouco depois confirmou que eu tinha razão, que ouvir música o
tempo todo emburrece mesmo. Mas é ouvir em excesso. Não é que não se pode ouvir
uma musiquinha. Quando quero ouvir pauso o que faço, toco umas quantas, e
chega. O artigo apresentou estatística lamentando o baixo índice de aprovação
dos jovens contemporâneos, mas não apresentou estatística de como era antes dos
quadrinhos virar moda. Para defender a tese anti-quadrinho teria de comparar as
duas fases com densa estatística. Mas isso seria apenas evidência, não prova,
da influência nefasta do quadrinho na educação formal. Mas macaco não vô o próprio
rabo. A revista não é lá tão erudita. É o português-de-jornalista que vemos. Por
exemplo: Na página 65, legenda sobre o eclipse: 9 hs. 28 ms. 42
segundos em vez de 9h 28min 42s, ou 9:28:42h, nove
horas, 28 minutos e 42 segundos. Ou seja: Quem fez a legenda não sabe a
diferença entre abreviatura e unidade métrica, e põe só a unidade segundo
em-extenso.
Uma vida de rua. Página 32. Conto
sem contextualização, sem descrever o protagonista, um tanto maniqueísta. O autor
se refere ao protagonista como criança, mas as atitudes e liberdade evidenciam
que é impossível, portanto se tratando dum rapaz. Não apresenta o quê são as
tais crianças. Internato, prisão corretiva a menor, colônia-de-féria? O vilão, anônimo,
apresentado apenas como o negro, inecessariamente sugerindo um racismo
do autor, não apresenta a função do negro. Apresentar personagem como o
negro, o índio, o japonês, o gordo, o careca, em
caso de não se ter o nome, o diferenciando dos demais no contexto, seria normal.
Mas este é seu funcionário. Conto medíocre.
Os três irmãos. Página 31. Pequeno
conto sobre quem não estuda puxará carroça. Coisa que mamãe sempre dizia. Infelizmente
não é verdade, mas é educativo e motivador. Me recordo duma ocasião, em 1998,
quando fazíamos a mudança do arquivo externo de meu setor, o arquivo-geral,
volte aonde estavam carregando caixas-de-processo a uma camionete estacionada
na sarjeta. Os dois recém-contratados que estavam na camionete contaram,
divertidos, que uma mulher passou cum filho pequeno e vendo os dois carregando
caixa disse à criança Se você não estudar irá fazer trabalho pesado igual aqueles
dois!
Tiveram vontade de gritar a ela Senhora. Não contes mentira às crianças!
E ela se foi. Página 48. Crônica,
que dá pra considerar conto, pois narrativa com início, meio e fim sem
contexto, caracterização das personagens, data e local nem nome da protagonista.
Por isso uma bela e tocante crônica saudosista sobre uma encantadora cadelinha
ou um conto medíocre. Não caracteriza o local nem a época. Suponho que num
vilarejo interiorano, pois com rua onde passa automóvel e com lago e campina banalmente
acessíveis. Suponho que a cadelinha não tinha nome porque a família nunca
adotara algum bicho e na redondeza também não era costume. O contexto o sugere.
Uma família de doze, mas só cita a mãe e um tal Nenê, que pelo contexto seria
uma criança pequena que pode andar e correr. Como quem escreveu já tem maturidade
e o cenário é de quando criança, no mínimo dez anos antes se passou o enredo
publicado nesta edição de maio de 1947. A autora é Elza Gomes. Seria a famosa
atriz de telenovela? Tal atriz era onipresente nas telenovelas. Ao ver a foto
reconheci imediatamente. Na verdade era Luísa dos Santos Gomes, em Portugal. O pai
morreu quando Elza tinha 8 anos, então a mãe se mudou ao Brasil e mandou buscar
as filhas (quantas?) três anos depois. [No relato sobre a cadelinha não cita o
pai, e a autora era criança]. Se estabeleceram na cidade de Paraíba, atual João
Pessoa [em João Pessoa há um lago], onde a mãe, Silvana Gomes, retomou a
carreira. Em 1923 a família se mudou a Rio de Janeiro, pois a mãe fora
contratada por uma companhia de teatro-de-revista que se apresentava no teatro Carlos
Gomes. https://pt.wikipedia.org/wiki/Elza_Gomes
Mas tal nome certamente tinha e tem muitos homônimos nos países de língua
portuguesa. Se a autora não é a célebre atriz, não se tornou escritora ou escreveu e deixou na gaveta, pois não achei
referência a escritora com esse nome. Em https://cartaodevisita.com.br/conteudo/9811/eterna-memoria-elza-gomes-19-10-1910-17-05-1984-a-eterna-alegria-de-uma-comediante,
sobre a atriz, apresenta fotos mas a primeira é da cantora Elza Soares, de nome-de-batismo
Elza Gomes da Conceição! Quê trapalhada!
Sonho duma noite artificial de inverno. Página
80. A reportagem sobre o eclipse, mais
preocupada em atacar a Rússia e louvar Eua. O artigo é sobre o eclipse, seu
Nilo, não sobre a comparação qualitativa comunismo-capitalismo pra puxar o saco
dos donos da revista, da máfia sionista-maçônica, chegando à infantilidade de
debochar dos cigarros soviéticos. A revista jogando pesado pra doutrinar os
jovens, e depois o pessoal fala em liberdade-de-expressão, livre arbítrio,
estado-de-direito, etc.
O advogado improvisado. Página 70. Belo,
interessante e criativo conto, apesar de enredo estapafúrdio. Ainda não havia defensor
público? Por quê o juiz pediria defensor em plena audiência e não antes?
A gruta da velha suspiro. Página 80. O típico
tipo detestável de conto infantil. Sofrível.
Fábio Borges Horta, o desenhista da capa e maioria das
ilustrações na edição ● Desenhou pra Era
uma vez..., Alterosa, Diários associados, Manchete e O
cruzeiro. Produziu vários desenhos-animados comerciais e um sonoro pra
cinema de 35mm.
● Os
humanos resolvem equação racional
Os
gatos resolvem equação irracional?
● Por
quê nos gibis de Mônica os moleques nunca estão lendo gibi?
● Por
quê nos Gibis de Mônica só Chico Bento vai à escola?
● Por
quê nas telenovelas da Globo nunca alguém está vendo Sílvio Santos?
● Quem
foi a secretária de Maurício de Nassau?
Simone
de Beauvoir
● Quem
foi a esposa de Cabeza de Vaca?
Cabeça-de-boi
Charles
Burgess
Esta espantosa história, crede ou não, aconteceu em Nova
Orleãs na noite de sexta-feira, 12 de março de 1954. Detetive Wilbur Candebat e
seu parceiro George Young, terminavam o plantão de 8 à meia-noite no
departamento de homicídio quando a complicação começou.
O início foi o telefonema excitado dum interno do hospital da
Caridade informando que uma paciente sua, uma mulher que acabara de
recuperar a consciência pós-anestésica, murmurara algo sobre um homem que
morreria na cadeira-elétrica por um crime que não cometeu. O interno insistiu:
— É melhor agir rápido,
pois pode ser questão de vida-ou-morte!
Os detetives correram ao hospital, onde lhes foram
prontamente fornecidos aventais e máscaras anti-sépticas. Conduzidos ao leito
da mulher, quem narrou:
— Eu estava passando numa
casa, em Lago Ponte Vagão-Cisterna, quando ouvi uma discussão. Olhei na janela
e vi um homem pondo acha de lenha ao fogo. Apareceu uma mulher atrás e o golpeou
na cabeça cum ferro, enfiou o corpo numa grande lata, a rolou na calçada, prà
colocar no automóvel. Aquele homem, Daninho Lockwood, estava passando na
ocasião e ela pediu ajudar a pôr o tambor ao carro. Depois que a mulher partiu,
Daninho notou manchas de sangue na calçada. Quando a mulher voltou, ele disse que
nada diria se o empregasse na casa. Mais tarde, quando Daninho tentou fazer
chantagem com a mulher, ela o denunciou como quem assassinara o marido dela.
Foi condenado e morrerá na cadeira-elétrica nesta noite. Por favor, o salvai,
pois é inocente!
Os detetives a interrogaram meticulosamente, mas ela repetiu
sempre o mesmo relato
Impressionados pela sinceridade da mulher, Wilbur e George
voltaram ao gabinete médico. Wilbur perguntou:
— Tem consciência do que diz?
— Acho que sim. — Afirmou
o interno — Tomou uma pequena dose de escopolamina, ou soro-da-verdade. Talvez isso
a fez falar.
Convencidos de que cada minuto que se passava era de
importância vital, Wilbur e Young regressaram à chefatura pra consultar os
registros. Não acharam notícia sobre um crime envolvendo o nome Daniel
Lockwood. Se comunicaram com a prisão Parish, mas foram informados
de que não foi programada a execução dalgum homem chamado Daninho Lockwood praquela
noite.
Wilbur consultou o relógio e resmungou:
— São quase 11 horas. Transmitamos
a todas as penitenciárias. Se esse sujeito morrer será terrível!
A polícia estadual entrou em ação. Foram transmitidas
mensagens às prisões dos estados vizinhos de Alabama, Mississipe e Texas:
— Se tiver um preso chamado Daninho Lockwood pra ser
executado, imediatamente avisar a polícia de Nova Orleãs
Todas as respostas foram negativas.
Trabalhando febrilmente agiram além do horário regulamentar,
em terrível e fracassado esforço pra localizar Daninho
Às 3h da madrugada foram até casa. Ao preparar a cama pro
marido, a mulher de Wilbur notou que ele estava preocupado. Perguntou o quê
havia. Então ouviu todo o relato. Wilbur disse sacudindo a cabeça:
— Se esse homem morrer
será um terrível erro judiciário!
— Não te preocupes. — A
esposa, afagando carinhosamente a cabeça dele — Daninho foi perdoado. A esposa
do governador descobriu provas suficientes pra o perdoar, e tenta lhe arranjar um
emprego. Também sei quem cometeu o crime.
Wilbur a encarou estupefato e indagou petrificado:
— Cómo sabes?
— Ligando o rádio toda
tarde às 14:45h, pra ouvir o programa Buscando a felicidade, também
saberás — Exclamou, rindo divertidíssima
Revista Detetive
14, 15.07.1957, ano 5, editora O cruzeiro, Rio de Janeiro
Coleção Adeene
neles!
Onde anda aiatolá Comeíni
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Coleção Cartão-postal de Joanco
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