Devedê militar, uso exclusivo pra general
● Na revista Super interessante de outubro de 2013 o
anúncio dum aparelho faz um microfuro na rolha da garrafa de vinho e o fecha
instantaneamente, evitando entrar ar. O que conservaria o vinho como se não
aberto. R$ 720. Contrariando as leis da física? É impossível retirar matéria
duma garrafa sem entrar ar. Retirar no vácuo duma garrafa pete a faz se encolher,
acompanhando o vácuo. Uma de vidro se quebraria. Um anúncio desse numa revista
que se apresenta tão científica!
● Não é só Seleções. Espantosa a
decadência da revista Mad. Desenhos e
roteiros ruins. Dos velho tempo só restou Spy
x Spy.
● Também a Planeta está bem descaracterizada. Da
excelente revista sobre realismo fantástico que era, virou uma espécie de Super interessante. Não que a super seja
ruim, mas é uma guinada de 180º, do realismo fantástico ao cientificismo
oficial.
● Costumo
passar nas bancas pra ver os lançamentos. Nada mau os Recruta Zero, Popeye, Luluzinha... Comprei Natal de Ouro disney 4. Desenhos toscos, histórias bobas.
● Acabei de
ler O grande livro de histórias de
fantasma (The virago book of ghost
stories), organizado por Richard Dalby, editora Objetiva, 2010. Não
justifica o título grandiloqüente. (Bem melhor o pequeno volume Fantasmas vitorianos (Victorian ghost stories), outro volume
só de autoras.) Não chega a ser ruim. Com raríssimas exceções, como Charlotte
Brontë e Edith Wharton, as autoras decepcionam. Muito longe, mas muito longe
mesmo, das obras-primas do gênero. É que se vê muitas histórias forçadas, não
de autêntica inspiração. Antologia bem medíocre.
Apesar de
anunciar estar na nova ortografia (pra quê?) escreve n vezes café da manhã,
cadeira de rodas, etc. Cadê o hífen?, minha gente. E os demais vícios de
linguagem que já cansei de apontar.
● O mesmo
posso dizer dos grossos volumes também afetadamente grandiloqüentes Os cem melhores contos de...,
organizados de Flávio Moreira da Costa. Decepcionante ver tanta crônica posta
ali como se fosse conto. Como pode um antologista não saber diferenciar conto
de crônica? É muito aborrecido pra quem gosta de conto levar gato por lebre.
● Li Névoa - contos sobrenaturais de suspense e
terror, editora Andross, São Paulo, 2013, organizado por Cristiana Gimenes.
Uma linda capa mas uma péssima antologia. Crônicas passando por conto e muitos
autores ruins e textos péssimos. Não se deveria lançar antologia tão ruim. É um
desserviço, pois quem se inicia na leitura em vez de se encantar tomará
ojeriza.
Tem gente que
tem pretensão mas não tem talento, vivência literária, maturidade, conhecimento
e idéia pra escrever, que quer escrever porque quer escrever.
Muitos
escrevem o que vêm à cabeça, como se estivesse rabiscando. Literatura não é
isso. Um conto parte duma idéia, tem um planejamento, se usa engenho e arte.
Fazer uma feijoada não é só jogar feijão e toucinho na água e ferver.
O verdadeiro
talento brota, se derrama, não se força. Quem força, por favor, desista, porque
a internete está lotada de textos péssimos, verdadeira poluição literária.
Editoras, por favor: Não publicai obra ruim.
Uns terrores
forçados, pueris, e contos sem desfecho, sem enredo. É péssimo escrever terror
pelo terror. Não me lembro quem escreveu que Poe nunca escreveu o terror pelo
terror porque era inteligente demais pra isso.
Os que
salvaram o livro:
● Moinho, de Clóvis de Moraes Fajardo. Um
belo conto
● O vampiro da rua São Francisco, de
Eliane Verica. Um conto curto, que poderia ser um episódio de Além da imaginação.
● Minha mente inquieta, de Mara S.
● A sombra na névoa, de William Wagner
Westphal
● O último apóstolo, de Gabriel Réquiem
● Maldito retorno, de André Cardoso
● Parasita, de Paulo R. Ongaro
● O legista, de K Melquíades
Há um fator
que diferencia o autor imortal, o grande autor, do comum ou medíocre. O
verdadeiro talento, que produz texto saboroso, escreve porque a inspiração vem
em onda, pra expressar e registrar essa inspiração que transborda e sente ser
um desperdício a deixar perder. As idéias o ficam apoquentando como pintos
tentando sair do ovo. Pro autor de talento escrever é como um alívio, como
fotografar um evento efêmero, como a vaca em amojo, que se alivia ao aleitar.
Inspiração é um estado de consciência, de humor, de sintonia cerebral, de
conexão neuronal. O autor que se senta a escrever porque é escritor e tem de
escrever algo é um autor de segunda ou terceira.
Cada obra dum
autor ruim é um leitor a menos no mundo.