(facsímile)
Grato a don Guillermo Guedes Ortaneda, director de la
casa museo Ricardo Palma, la donación del ejemplar en papel y autorización a lo
digitalizar y publicar
Interesante libreto contando la aventura del proyecto de
transformar en museo la casa donde moró el escritor Ricardo Palma. Es un
histórico breve, narrativa sencilla, de agradable e instructiva lectura. Aun
más con trechos de un rarísimo libro de la era colonial, al cual Ricardo tenía
mucha estima.
Tradução de Che Guavira
Grato
a dom Guillermo Guedes Ortaneda, diretor da casa-museu Ricardo Palma, a doação
do exemplar e autorização a o digitalizar, traduzir e publicar
Interessante
libreto contando a aventura do projeto de transformar em museu a casa onde
morou o escritor Ricardo Palma. É um histórico breve, narrativa enxuta, de
agradável e instrutiva leitura. Ainda mais com trechos dum raríssimo livro da
era colonial, ao qual Ricardo tinha muita estima.
Da autobiografia não autorizada de Che Guavira
A sumidade peruana ● O
patriota recompôs a Biblioteca Nacional saqueada ● Um livro raríssimo ● O filho
também é um grande autor ● Lima e Calhau são as cidades dos museus ● Uma tarde
aprazível● Livros recomendados ● Mas Deus não era brasileiro? ● Um mercado
editorial muito mais interessante
Bem perto do
hotel, rua General Suárez 189, Miraflores, fica o museu Ricardo Palma. A
entrada custa 5 sóis, cerca de 5 reais. É a casa onde morou, que após muita
peripécia contada no livro acima, foi transformada em museu em honra a quem foi
a maior sumidade literária peruana, autor da referência máxima em literatura
peruana, Tradições peruanas, cujo
exemplar que possuo foi comprado aqui, no sebo Hamurábi.
No museu fui
guiado por dom Guillermo, o diretor. Primeiro é exibido um vídeo sobre a vida
do escritor. Ali conta que na guerra do Pacífico os chilenos (mercenários, como
sole ocorrer nos conflitos) invadiram Lima, saquearam a Biblioteca Nacional e
incendiaram Miraflores. Então Ricardo Palma se empenhou em mendigar livro pra
recompor o acervo da entidade.
O único ruim é
que Ricardo Palma morou a uma rua hoje muito movimentada, de modo que de vez em
quando o ruído dos carros abafam o som do vídeo.
No Peru contam
que os chilenos atacaram por ser uma faixa estreita muito pobre, pra se apossar
das riquezas, especialmente o guano, esterco de ave e morcego, com alto teor de
nitrogênio.
Diferente do
chileno, o peruano não cultiva aquele ranço de rivalidade. Ao menos a nível
popular. Diz que a única vez que teve séria ameaça de retomada da guerra foi
nos anos 1970, durante governo militar, quando um general queria de qualquer
maneira atacar pra retomar as províncias perdidas. Conforme explicou o guia do
museu militar, a bandeira peruana ostenta um galho de louro. Duas folhas estão
com a ponta dobrada a baixo, como com a ponta quebrada. Isso representa as duas
províncias perdidas na guerra do Pacífico: Arica e Tacna. Daí já dá pra ter uma
idéia do luto no sentimento nacional.
Os chilenos
reconhecem que se o Peru tivesse atacado arrasaria o Chile. Por isso
espernearam a todo lado, pedindo até ajuda ianque pra garantir a paz.
Percorrendo os
aposentos da casa de Ricardo Palma vemos quase todos os móveis originais,
quadros, livros. Os livros preferidos estão ali, na estante. Tem até o
recipiente onde guardava a água, que era comprada, pois Lima fica num deserto
(Fico pensando: O que deu na cabeça pralguém ter a idéia de construir uma
cidade, ainda pior, capital, em lugares como Lima e Brasília?). Vitrinas com
livros, mapas, gravuras.
Dom Guillermo
contou que um brasileiro ficou tão encantado com Tradições peruanas, que resolveu traduzir. Que disse que em dois
anos terminará. Este, 2015, é o segundo ano.
Dom Guillermo e o tradutor de Tradiciones peruanas
No quadro acima, Ricardo Palma
Ali adquiri os
dois volumes da obra completa de Clemente Palma, filho de Ricardo Palma, que
enveredou na ficção do conto fantástico ao estilo de Poe, Lovecraft,
Maupassant, pois competir na área literária sulcada pelo pai seria inviável.
Foi uma bela descoberta, além do assombro de constatar que autor excelente
assim não aparecer nas antologias brasileiras e portuguesas.
No final
conversamos um tanto e me deu dicas sobre outros museus a visitar, tirou fotos
pra enviar ao imeio, já que eu não estava com minha máquina, e me levou ao
museu Raúl Porras, vizinho, uma quadra depois, que é entrada franca.
Lima, e também
Calhau, é repleta de museu. Há museu de todo tipo que se imagine. Fui num do
submarino, que contarei mais a diante. Também não são de jogar lixo na rua.
Raro alguém jogar papel de bala, sacola de supermercado, garrafa pete. E o
valor que dão a suas grandes personalidades é fora-de-série. Nesses dois pontos
estão muito mais civilizados que nós.
Aqui não. Os
intelectualóides daqui tentam é lançar modismo, denegrir a imagem, como fazem
contra o escritor maravilhoso que é Monteiro Lobato, enquanto continuam
cultuando falsas sumidades. É muito mais fácil e cômodo que lutar pra criar um
museu.
No museu Raúl
Porras dom Guillermo ficou um tempo junto com a administradora senhorita Rocío,
mostrando as seções da casa. Numa sala estava uma das personalidades da cidade,
Pedro Gjurinovic, pesquisava historiografia.
Senhorita Rocío mostrou cada aposento do museu
com abundante explicativo. Também uma casa-museu, onde morou o mestre,
historiador e diplomata peruano, é um centro de alto estudo e investigação,
onde se realizam encontros e palestras. Numa sala há retratos de família em
quadros gigantes, tamanho natural, e os móveis protegidos por cordões de
isolamento como os de aeroporto. E profusão de livros, álbuns de fotografia
pois como dom Pedro II, Raúl era aficionado a fotografia. Folheei um, fotos de
tamanho grande, tons de cinza.
Na noite
seguinte fui a uma daquelas palestras, mas me enganei. Não era naquele dia mas
no seguinte. Assim na correria dos passeios não deu tempo de ir.
Assim o que
seria uma rotineira visita a um museu ficou parecendo uma reunião de amigos num
nebuloso e agradável dia de junho.
Os dois
primeiros dias usei visitando os sebos de Lima. Preferi ser mais moderado na
compra pra não enfrentar o imprevisível e volúvel da política de excesso de
bagagem da aerolinha. Mesmo porque seria impossível visitar tudo, pois creio
que a quantidade de Lima parece ser muito maior que a de Bogotá, que já é coisa
formidável.
Segundo o
sexto item no dicionário da RAE, real academia espanhola, jirón (que também significa babado (de tecido)): 6. m Peru. Via urbana composta de
várias ruas ou segmentos entre esquinas.
No primeiro
dia fui ao jirão Quilca. No segundo iria ao jirão Amazonas, mas o taxista disse
que o Amazonas é menos seguro, com problemas de assalto. Claro que mais durante
a noite e anoitecer mas como acabo saindo no fim de tarde, e como o Quilca é
imenso, passeei de novo lá mesmo.
As zonas
livreiras de Lima são ainda mais impressionantes que as de Bogotá. Livrarias e
mais livrarias, uma ao lado da outra. Uma que é um cubículo, outra uma loja
inteira, noutros pontos uma galeria cheia de barracas de livro. Imagines um
rato-de-sebo como eu: Feliz como pinto no lixo.
Ali vi Protocolos
de los sabios de Sión, El hombre que
calculaba (de Malba Tahan), Dios es
peruano (de Daniel Titinger).
— Mas no Brasil
sempre se disse que Deus é brasileiro. Agora diz que é peruano…
Um, que
comecei a ler no hotel, antes de dormir, excelente obra também desconhecida por
nós, é Cuentos andinos, de Enrique
López Albújar. Outro é um libreto em forma de revista, uma curiosa publicação
espanhola sobre mistérios e enigmas do mundo, Historias del Más Allá (Histórias
do Além). Os preços de livro em Lima estão melhores que em Bogotá.
Uma livraria
muito barateira foi a que achei logo de cara, de J Luna Victoria, jirão Quilca
233 (fundo). Com todo tipo de livro, em bom ou mau estado, muitos a 1 sol.
Ali,
conversando com os vendedores, um disse que finalmente o Brasil resolveu
enxergar seus irmãos sul-americanos, já que até então se manteve de costas.
A frase deu
uma sensação de que se sentem desamparados. Eu disse que isso era porque até
então Estados-Unidos conseguia impedir, mas que agora, se sair mesmo a tal
ferrovia intercontinental (que não sei por que disseram interoceânica, se não atravessa o oceano) ligando Rio de Janeiro a
Lima, a coisa se acelerará. Falei sobre a Transamazônica, que não deu certo
porque foi feita em área meio movediça. Será que não sabiam? Foram fazendo sem
verificar se o solo tem sustentação? Eu, hem!
Evo Morales
está bravo porque a ferrovia não passará na Bolívia. Mas também, depois daquela
palhaçada contra a Petrobrás, quem teria coragem?
Falamos sobre
a guerra do Paraguai, pois veio com o chavão país pequenino atacado por três.
Eu disse que posso contrapor a essa visão outra oposta, pois minha mãe e tias
são paraguaias. Conheço, pois, os dois lados. Assim também comparamos as
versões de cada lado sobre a guerra do Pacífico, onde eu disse:
— Toda discussão
tem três pontos de vista: A minha, a tua e a verdade.
A região do
jirão Quilca se parece muito com a da Candelária de Bogotá: Ruas estreitas, a
arquitetura e a profusão de gente. Só não tem as acentuadas ladeiras de Bogotá,
não tem o problema da altitude, e as ruas têm nome em vez de número.
No anoitecer o
pessoal nem tinha olhos pro freguês. Estava todo mundo acompanhando o jogo do
Peru na copa América, torcendo praquela seleção cujo uniforme parece o do Vasco
da Gama. Claro que ali eu era peruano desde criancinha. Quando voltei à livraria
de dom Luna, pois armei ali meu quartel-general, só estava ele ali, já
fechando, pois o resto do pessoal saiu mais cedo pra ver o jogo. Me ajudou a
chamar um táxi. Não foi difícil quanto no dia seguinte, quando quase todos se
recusavam a ir a Miraflores por causa da distância e do trânsito em hora de
pico.
Não freqüento
livraria de livro novo, só sebo. Mas em Lima vi que é melhor eu reformar um
pouco esse costume. Nas longas esperas em Guarulhos, visitando as livrarias do
aeroporto, só encontro uma profusão de bestséler, quase tudo lixo. Nenhum livro
que eu diga que é imperdível ou interessante. Mas um passeio na livraria El virrey, Bolognesi 510, Miraflores, e
se acham muitos livros maravilhosos.
Achei Seres mágicos del Perú, de Javier Zapata
Innocenzi, editora Malabares, em volume grande, capa dura, praticamente uma
enciclopédia do tema, uma obra de arte onde o texto se mescla com ricas
ilustrações.
Também da
Malabares, coleta de Javier, os três volumes de Relatos mágicos del Peru, em pequeno formato, coletânea de relatos
fantasmagóricos vividos por pessoas comuns, vindos das mais diversas regiões do
Peru, bem ao estilo Incrível, fantástico,
Extraordinário!, de Almirante.
Alguns dos
temas que gosto muito são aqueles relatos anedóticos, muitas vezes causos,
coletados numa atividade profissional ou não, de eventos engraçados, gafes,
etc. Também relatos folclóricos sobre tipos populares, histórias de ruas ou
bairros. E também os tais relatos fantasmagóricos acontecidos a alguém e que os
racionalistas exaltados insistem em depreciar. Tudo isso não conseguia achar
nos sebos mas encontrei na El virrey.
Então posso
afirmar sem erro: No plano editorial o Peru está muito, muito, mas muito melhor
que o Brasil. Imagino que no cinema também devem estar muito melhor.
Parece que no
cinema também estão num momento cultural melhor que o nosso.
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