Suplemento-revista dominical de El espectador, Bogotá
Coleção
de cartão-postal de Joanco
Crônica buenairense de Ramão
Ramão e Emiliana estiveram em Buenos Aires e Montevidéu, via
Foz do Iguaçu, neste final de julho. Estarei lá em setembro. Vejamos as
impressões de Ramão.
Disse que a situação lá não está boa. Aqui está muito
melhor. A carne é sempre mal-passada, quase crua, sem sal nem outro tempero, que
a fama do churrasco de lá é só propaganda mesmo. Que lá a comida é muito ruim.
Dar um desconto, pois Ramão é muito delicado e restrito com
comida.
Mas disse que foi aos melhores restaurantes, os mais
indicados do pacote.
Buenos Aires não tem problema com violência urbana. Se pode
passear com tranqüilidade. Já Montevidéu, cidade muito menor, é bem pior quanto
a assalto e golpe.
Quando chegaram a Montevidéu o ônibus ficou na rua. O
pessoal foi avisado pra não deixar as coisas no ônibus mas sempre tem os
sabichões. As vidraças foram quebradas na madrugada e roubaram algumas coisas.
Toda a baía do rio da Prata está muito poluída. Diz que não
dá nem pra pôr o pé na água. Mas isso não é crime ambiental? Quando vaza
petróleo ou tomba um camião de carga química o mundo inteiro faz um escarcéu…
Mas os poderosos podem…
Em Buenos Aires táxi é muito barato. Diz que porque é a gás.
Mas tem de pegar os que vão passando. Diz que os que estão parados no ponto são
mafiosos.
O lojista argentino é muito grosseiro. Todo produto que tem
na loja não se pode tocar, pois já vem o vendeiro vociferando No no no no! Preferem ficar sem
cliente que ter cliente que toca nos produtos.
Espero que não seja assim nas livrarias. Como saber do quê
se trata um livro?
Se está atendendo um cliente, nem olha ao lado. Os outros
que chegam ainda não existem. Não adianta chamar, gesticular. És uma
alma-penada vagando ali.
A situação está tão ruim que nos hotéis o desjejum é
racionado. O café, torrada, suco, iogurte a vontade. Queijo, salame e croassã
(meia-lua) dois pra cada pessoa.
Se sabe que o turista argentino de maior renda vai ao
nordeste. Os de menor renda vão ao Brasil sul, pois é ali perto. Então o povo
de lá se esbalda ao desjejum dos hotéis brasileiros, com aquela famosa mesa de
quantidade e variedade, sem falar no famigerado esmorgasbor, que vem do sueco smörgåsbord, que pronuncia smêurgosbord, um café-da-manhã com 70
itens. Diz que os hoteleiros brasileiros procuram discretamente evitar que os
hóspedes argentinos acessem o desjejum com sacolas, bolsas, porque tentam levar
o possível.
Mas o pessoal é mais culto mesmo. Grosso mas culto. Os
cinemas formam filas enormes. Todo mundo comportado.
É engraçado como cada país tem certas aficções específicas.
O mexicano é fissurado em luta-livre. Até os super-heróis do cinema e do gibi
são lutadores, como o Santo, que não é o Santo dos contos policiais de Leslie
Charteris, mas um lutador mascarado sem-camisa, corpanzil, e outros similares.
Na Venezuela o concurso de misse é paixão nacional, como o futebol no Brasil,
tem até curso específico, não como no Brasil, onde a guria é bonita e leva
jeito, se inscreve e pronto. No Chile o Teleton é acontecimento nacional.
Os guias turísticos são bem linha-dura. Se é pra passar tal
hora, se o turista não estiver esperando fica a ver navio. Bom… Isso não é
linhadurismo… Diz que, por exemplo, a guia explicando:
— Este
rótulo é uma vinícola…
E a
turistarada brasileira no maior bate-papo. Então um conversador pergunta:
— Da
vinícola qual?
— Isso
já expliquei!
E
continua a ladainha.
Tá
errada? Claro que não. Acabam ficando assim por causa de turista mal-educado.
Brasileiro é muito folgado e reclamão. Ramão conta dessa e doutras viagens,
colegas de pacote que se comportam como se tivessem 8 anos de idade.
E como
desperdiçam. Uns só porque estão bem de vida. Por exemplo: Se tem vários tipos
de lingüiça. Cada uma que pegar pagará. Pega uma de cada, só pra experimentar
uma pontinha de cada, e deixa tudo no prato.
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