quarta-feira, 25 de abril de 2012

O conto da cota
Sátira à insensata e estapafúrdia política de cota
Seu Austragésilo chegou e viu sobre a mesa algo que chamou atenção. Pegou e arregalou os olhos.
— O que é isto?! Não acredito!
Foi ao barzinho da casa, serviu um drinque, com mão trêmula e começou a monologar.
— A gente cria um filho, com todo carinho pra dar nisto! Não posso acreditar! Não! É demais pra minha cabeça!
Foi abordar o filho, irado, que, faceiro, escancarava um cartaz da página central da revista Playboy.
— Ué! Olhando mulher pelada? Pensei que estivesse vendo homem pelado.
— Ã?! Homem pelado, eu? Pirou. Parece que papai caducou antes da hora. Só pode!
— Podes me explicar o que é isto!? Que vergonha!
— Calma, papai.
— Uma carteirinha de guei! Era só o que faltava! O que tua foto está fazendo nesta carteirinha cor-de-rosa?
— Calma, papai. Explicarei...
— Agora que ias te empenhar pra passar num concurso pra ter coragem de pedir a mão de Elisinha! O que aconteceu? Meu filho, meu único filho... Óóóóóóó...
— É que é o único jeito de passar no concurso, papai.
— O quê!? Acaso serás carnavalesco da parada guei? Um filho guei! Ó, que castigo!
— Mas quem disse que sou guei? É só uma carteirinha.
— Mas como? Se está aqui a carteirinha. Documentado!
— Nada a ver. Tens carteirinha do clube dos machistas mas manda mais aqui é mamãe.
— E como encararei meus amigos quando vierem jogar baralho?
— Á! Então estás preocupado com teus amigos, não comigo. E sabes que isso é genético: Se estás tão preocupado comigo é porque não te garantes.
— Não adianta ficar desviando o assunto! Guei de carteirinha! Essa não!
— Olha lá! Do jeito que a coisa vai, logo-logo quem não tiver uma carteirinha dessa nem emprego arrumará. Deixes que explicarei. Elisinha me deu ultimato. Não se casará comigo se eu não passar num concurso. E sabes como é. Não posso bobear, senão Robertão, há muito de olho nela, aproveita. Então tive de tomar a única atitude que me daria uma chance de passar.
— Mas, meu filho! Só por isso ficaste desiludido da vida e resolveste virar guei? Não dá pra entender. Tu, que dizes que sairias em primeiro lugar, que tens tudo na ponta da língua.
— Nada disso, papai. A culpa é da cota.
— Mas o que dona Cotinha tem com isso?
— Me deixes explicar. É simples. Tenho de passar num concurso público. Mas com esse negócio de cota danou tudo. Façamos a conta: Tem a cota de 10% ao negro. Olha só: Até tenho aqui, no bolso, a lista. Então o índio também exigiu 10%, 10% à grávida, 10% ao deficiente físico, 10% ao idoso. Então o judeu reivindicou 10%. O anão também conseguiu entrar na cota. Em seguida o deficiente mental. O menor de idade conseguiu esse direito e, agora, também o guei. Percebeste?, papai. São 10 itens: 100%! Como não me encaixo nalgum desses itens minha chance de ser aprovado é zero! Nunca serei chamado. Nem passando em primeiro lugar! Então minha única chance é arranjar uma carteirinha guei.
— Mas logo guei! Não poderia ser mulher, negro, aleijado?
— Não. Qualquer outra opção incorreria em falsidade ideológica. Raça, sexo aparecem no documento. Fingir aleijado também seria crime. Olhes só minha pele: Não posso me declarar negro nem índio. A única opção é bancar o guei.
— É...! Taí... Sabes que tens razão? Eta!, meu filho. Caboclo bão, que sabe se virar e não desiste diante dos obstáculos da vida! Mas... Tem uma coisa: Será que Elisinha não ficaria constrangida de sair contigo tendo de fingir ser guei?
— Que nada!, papai. Com as amigas também está treinando pra passar no concurso. Até comprei esta botina 44 de presente.
Toca a campainha. É um amigo que chega. O pai exclama, ao ver o marmanjo pintado, de brinco, salto alto, saia e bolsinha:
— Zecão! Até tu?, Brutus! Não acredito!
— Calma aí! É que minha noiva me pôs contra a parede. Se eu não passar no concurso...
— Á bom!
— Pois é, papai. Veio todo a caráter pra ensaiarmos. Temos de levar a sério nossa missão porque a concorrência não tá sopa. Temos de ser convincentes de que somos gueis desde criancinha. Agora dês licença pra ensaiarmos. Pelo que vejo este candidato tem bem mais talento que eu.
— Tava demorando! Tive de agüentar muita gozação na rua. Aqui dentro também? No próximo ensaio não virei a caráter.
O pai:
— Ai!, meu-deus! Sei que o mundo mudou muito com essa tal de internete. Mas, caramba!, nunca pensei que fosse tanto assim!
Zecão:
— Ai!, amiga. Eu passava na rua e me aconteceu algo muito desagradável.
— Ai! O que aconteceu? Conta-conta-conta!
— Levei uma cantada. Uma cantada duma... mulherrr!
— Ai, credo! De mulher? Esse bicho engravida!
O pai volta com mais uma gracinha:
— Aqui tá parecendo aquele filme. Como se chama? A gaiola das loucas.
— É mesmo, papai. Aquele velhote do filme até se parece contigo.
— Cara, tem que apagar essa tua pasta de foto de mulher pelada, senão podem descobrir e desconfiar.
— Putz! É mesmo! Mas primeiro salvar tudo neste devedê, pra deixar bem escondido.
O pai dá mais uma chegada.
— Tô pensando. Até eu poderia fazer concurso. Além da vaga de idoso posso reivindicar uma vaga de guei. Boa! Assim entro na reserva de 20%. Só espero que não tenha exame prático!
— Teria. Mas, então, a bicharada ativista rodou a baiana, levantou a poeira do chão, reclamou de preconceito, discriminação, homofobia, etc e tal, e ficou só na carteirinha.
— Deixes comigo. É soltar a franga!
— Podes ir com mamãe. Podereis dizer que és uma mulher travestida de homem e ela um travecão da Costa-e-Silva.
— Tenho alguma experiência. No trote da faculdade tive de imitar o Village People. Mas foi só porque me forçaram a tomar um pileque daqueles.
— Olha lá!, papai. Sei não! Dizem que bêbado não é dono de si.
— Vem não! Fiquei só ligeiramente alegre. Só isso!
Chegou outro amigo, tão travestido como o anterior:
— Aroldo! Até tu, cara de tatu!
— Peraí. É que minha mulher ameaçou separação se eu não passar no concurso.
E brandiu um recorte de jornal.
— Pessoal. Olha só que absurdo: Saiu a lei pra mais uma cota: 10% a filho de policial militar morto por bandido!
— Mas como!? Já deu 100%. Mais 10% impossível!
— Áaaaa! Sabe como é político, né? Não sei como o pessoal se virará. Diz que é lei e tem de ser cumprida.
El cuento de la cota
Sátira a la insensata y absurda política de cota
Señor Austragésilo llegó y vio sobre la mesa algo que llamó atención. La sacó y desencajó los ojos.
— ¡¿Qué pasa? En el creo!
Fue al barcito de la casa, sirvió un drinque, con mano temblorosa, y comenzó a monologar.
— ¡Criamos un hijo, con todo cariño para resultar en esto. En el puedo creer. En el. Es demasiado para mi cabeza!
Fue abordar el hijo, airado, que, orgulloso, desdoblaba un cartel de la página central de la revista Playboy.
— ¡Pero! ¿Mirando mujer desnuda? Pensé que estuviese vendo hombre desnudo.
— ¡¿Eh?! Hombre desnudo, ¿yo? Está loco. Parece que papá caducó antes de la hora. En el puede ser otra cosa!
— ¿¡Puedes me explicar qué es esto? Que vergüenza!
— Calma, papá.
— ¡Una carterita de guey. Nada más faltaba! ¿Qué tu foto hace en esta carterita rosada?
— Calma, papá. Explicaré...
— ¡Ahora que ibas te empeñar para pasar en un concurso y tener coraje de pedir la mano de Elisita. ¿Qué pasa? Mi hijo, mi único hijo... Óóóóóóó!
— Es que es la única manera de pasar en el concurso, papá.
— ¿¡Qué!? Acaso serás carnavalesco de la parada guey? Un hijo guey, Oh, que castigo!
— ¿Pero quien dijo que soy guey? Es sólo una carterita.
— ¿Pero como? Si está aquí la carterita. ¡Documentado!
— Nada a ver. Tienes carterita del clube de los machistas pero manda más aquí es mamá.
— ¿Y como encararé mis amigos cuando vinieren jugar baraja?
— ¡Á! Entonces estás preocupado con tus amigos, en el conmigo. Y sabes que eso es genético: Si estás tan preocupado conmigo es porque en el te garantes.
— ¡En el resulta quedar desviando el asunto! Guey de carterita! Eso en el!
— ¡Alto! De la manera que las cosas van, luego quien en el tenga una carterita de esa ni empleo conseguirá. Dejes que explicaré. Elisita me dio ultimatum. En el se casará conmigo si yo en el pasar en un concurso. Y sabes como es. En el puedo bobear, si en el Robertón, hace mucho de ojo en ella, aprovechará. Entonces tuve de tomar la única actitud que me daría una oportunidad de pasar.
— ¡Pero, mi hijo! ¿Sólo por eso quedaste desilusionado de la vida y resolviste se tornar guey? En el puedo entender. Tu, que dices que saldrías en primer lugar, que tienes todo en la punta de la lengua.
— En el es eso, papá. La culpa es de la cota.
— ¿Pero qué doña Cotita tiene con eso?
— Me dejes explicar. Es simples. Tengo de pasar en un concurso público. Pero eso de cota dañó todo. Hagamos la cuenta: Tiene la cota de 10% al negro. Mirad: Hasta tengo aquí, en el bolsillo, la lista. Entonces el indio también exigió 10%, 10% a la encinta, 10% al deficiente físico, 10% al anciano. Entonces el judío reivindicó 10%. El enano también consiguió entrar en la cota. En seguida el deficiente mental. El menor de edad consiguió ese derecho y, ahora, también el guey. ¿Percibiste?, papá. Son 10 itens: ¡100%. Como no me encajo en algún de esos itens mi chance de ser aprobado es cero! Nunca seré llamado. Ni pasando en primer lugar! Entonces mi única chance es conseguir una carterita guey.
— ¡Pero luego guey! ¿No podrías ser mujer, negro, alejado?
— No. Cualquiera otra opción incurriría en falsedad ideológica. Raza, sexo aparecen en el documento. Fingir alejado también sería crimen. Mires mi piel: No puedo me declarar negro ni indígena. La única opción es fingir ser guey.
— ¡Es... Sí...! Sabes que tienes razón? Eta!, mi hijo. Muchacho guapo, que sabe se desarrollar y no desiste delante de los obstáculos de la vida! Pero... Hay una cosa: Será que Elisita no quedaría embarazada de salir contigo teniendo de fingir ser guey?
— ¡Que nada!, papá. Con las amigas también está entrenando para pasar en el concurso. Hasta compré esta botina 44 de regalo.
Sonó la campanita. Es un amigo que llegó. El padre exclamó, al ver el barbado pintado, de pendiente, salto alto, saya y bolsita:
— ¡Zecán. ¿Hasta tú?, Brutus. No creo!
— ¡Calma! Es que mi novia me puso contra la pared. Si yo no pasar en el concurso...
— ¡Muy bien!
— Muy bien, papá. Vino todo a carácter para entrenar. Tenemos de llevar a serio nuestra misión porque la concurrencia no está sopa. Tenemos de ser convincentes de que somos gueis desde niñitos. Ahora des paso para entrenar. Por lo que veo este candidato tiene bien más talento que yo.
— ¡Estaba demorando! Tuve de aguantar mucha burla en la calle. Aquí dentro también? En el próximo entreno no viré a carácter.
El padre:
— Ay!, mi-dios! Sé que o mundo cambió mucho con esa tal de internete. Pero, ¡caramba!, nunca pensé que fuese tanto así!
Zecán:
— ¡Ay!, amiga. Yo pasaba en la calle y me aconteció algo mucho desagradable.
— ¡Ay! ¿Qué pasó? ¡Cuenta-cuenta-cuenta!
— Gané una cantada. Una cantada de una... ¡mujerrr!
— ¡Ay, credo! ¿De mujer? ¡Ese bicho embaraza!
El padre volvió con más una burla:
— Aquí parece aquella película. ¿Como se llama? La jaula de los pájaros.[1]
— Eso mismo, papá. ¿No es que aquel viejito de la película se parece contigo?
— Hombre, hay que borrar esa tu pasta de foto de mujer desnuda, pues pueden descubrir y desconfiar.
— ¡Putz. Verdad! Pero primero salvar todo en este devedé, para dejar bien escondido.
El padre de nuevo se acercó.
— Estoy pensando. Hasta yo podría hacer concurso. A más de la vaga de anciano poso reivindicar una vaga de guey. !Buena! Así entro en la reserva de 20%. Sólo espero que no haya examen práctico!
— Tendría. Pero, entonces, los activistas levantaron polvo del piso, reclamaron de preconcepto, discriminación, homofobia, etc y tal, y quedó sólo en la carterita.
— Dejes conmigo. Soltaré la polla!
— Puedes ir con mamá. Podréis decir que es una mujer travestida de hombre y ella un travestido de la calle Costa-y-Silva.
— Tengo alguna experiencia. En el trote de la facultad tuve de imitar el Village People. Pero fue sólo porque me forzaron a tomar una soberana borrachera.
— ¡Ojo vivo, papá.  No sé! Dicen que borracho no es dueño de si.
— ¡Qué eso! Quedé sólo ligeramente alegre. ¡Sólo eso!
Llegó otro amigo, tan travestido como el anterior:
— Aroldo! Hasta tú, cara de tatú!
— ¡Opa! Es que mi mujer amenazó separar si yo no pasar en el concurso.
Y blandió un recorte de periódico.
— Hombres. Mirad que absurdo: Salió la ley para más una cota: ¡10% a hijo de policial militar muerto por bandido!
— ¿¡Pero como!? Ya dio 100%. Más 10% es imposible!
— Áaaaa! Sabed como es político, ¿no? No sé como la gente se arreglará. Dice que es ley y tiene de ser cumplida.


[1] The birdcage, Eua, 1996

Um comentário:

  1. Mário meu amigo, tá ficando perigoso é bem provável que os políticos inventem uma cota em concursos e faculdades para seus filhos, isso sim.
    Parabéns, muito bem feita o conto da cota.

    ResponderExcluir