A língua esculhambada
Este é um artigo contestador
Não deve ser usado pra concurso, vestibular,
etc.
Aportuguesar é preciso, viver não é preciso
Não adaptar termos alienígenas de uso corrente ao idioma
(em nosso caso, aportuguesar) é um sintoma de decadência cultural. Os termos time, futebol, placar, blecaute, reveião, garção, e tantos
outros vêm de línguas estrangeiras e foram aportuguesados porque a imprensa da
época (até a década de 1960) tinha outra verve. Perdemos a personalidade e deixamos
o idioma poluir, macaqueando.
Não se trata de patriotismo e sim de coerência, estética,
praticidade e personalidade.
Creio que se estou falando num idioma tenho de usar
palavras daquele idioma. Se estou conversando em castelhano não tem sentido
entremear termos de inglês, português ou francês no vocabulário. Isso
descaracteriza e vilipendia o idioma usado.
Imagines se nunca
tivéssemos aportuguesado café, Vênus, alfazema. Como escreveríamos palavras de
origem árabe, grega ou chinesa? Usaríamos letras árabes pra escrever café?
Se imagina que são poucos barbarismos, mas são muitos. Não
se percebe que é uma enxurrada, o que acaba poluindo o idioma.
Sempre aportugueso
neologismos em meus textos. Escrevo imeio, Maiame, lêiser... mas minha
possibilidade de influenciar é nula. Pronuncio xeróx, pois xérox é pronúncia em
língua inglesa.
Acho positivo termos como deletar, atachar... Isso
enriquece o vocabulário. A barbárie está em pronunciar e escrever
macaqueando.
Outro cacoete é o plural de sigla, notação científica e
abreviação. Escrevem CDs, CD'S, MP3s, URVs (embora nunca R$s). Isso vem do
macaqueamento do inglês, pois sigla, notação científica e abreviação não têm
plural (tal como prefixos como extra e contra, por exemplo), pois se a intenção
é simplificação e rapidez é uma estupidez pluralizar.
Não pode existir plural em sigla, abreviatura e notação
científica. Seria um contra-senso.
Mesmo porque não é sempre que o plural é feito se
acrescentando um S. O plural de qualquer
é quaisquer, não qualqueres. Há vocábulos cujo plural é o mesmo, como lápis. Alguém escreve Tenho dois lápis’s?
Comumente vemos burrices como abreviar metro como MTS.
Incluindo o ponto! Não faz sentido abreviar quando o resultado é quase do
tamanho da palavra, ainda mais se tendo uma notação científica de apenas uma
letra.
O mais estapafúrdio da moda, mostra dessa sandice, é a
tal mudança de nome de países: outro macaqueamento do inglês. Que história é
essa de que Bengala virou Bangladesh, Birmânia virou Miyanmar, Ceilão virou Sri
Lanka? O nome do país insular ao sul da Índia, em língua portuguesa, é Ceilão.
Só é admissível mudar isso quando o país se dividir e o nome duma parte se
confundir com a outra. Mesmo assim a um termo em português. O país
cujo nome em português é Alemanha, em alemão é Deutschland. Suécia é Sverige,
Finlândia é Suomen Tasavalta, Albânia é Sqipni. Se chamamos Alto Volta de
Burkina Fasso, então devemos chamar Estados Unidos de United States, Áustria de
Oesterreich, Escócia de Scotland e Inglaterra de England. Então por que os
países de língua inglesa escrevem Brazil em vez de Brasil?
Na idade áurea de Portugal, do Portugal pujante da era da
navegação, até Lancaster era aportuguesado a Alencastro, Mainz virou
Mogúncia, Michigan é Michigão, Glasgow é Glásgua... Tratar o idioma como lata
de lixo, como espam de neologismo, é sintoma de baixa auto-estima, pouca
pujança, subserviência, apatia, imaturidade. Somos um povo imaturo, apático e
acomodado. Desculpe a sinceridade.
Hoje é chique pronunciar sempre proparoxítona.
Côssovo em vez de Cosovo. Acham esdrúxulo Chechênia, mas muito mais esdrúxulo é
Chicago ou Bóston, apenas que já acostumamos. Sempre que a palavra é
desconhecida o locutor pedante acha elegante pronunciar em proparoxítona
(influência do inglês), em vez de optar pela simplicidade. Assim os locutores
pedantes quando mostram os gols (gols?, que plural é esse?) do time inglês
Arsenal, pronunciam Ársenal. A maioria dos topônimos contemporâneos vindos de
idiomas exóticos é uma adaptação ao inglês. Por que temos de usar grafia
inglesa? Hong Kong é uma adaptação ao inglês. Por que não escrevemos Rongue
Congue? Se escrevemos Pequim, Nanquim, Xangai.
Cada povo denomina um lugar numa
palavra de seu próprio idioma. Assim a capital inglesa é chamada London em inglês, Londres em português e castelhano, Londra em italiano, por exemplo. O país que, em inglês, se chama England, em português e castelhano é
chamado Inglaterra.
Adaptar ao idioma palavra
estrangeira de uso corrente é característica de vitalidade, vigor, cultura,
pujança, personalidade. Em nosso caso, aportuguesar. Como acontecia na idade
áurea de Portugal. Macaquear, achar chique estrangeirismo,é sintoma de
decadência cultural, embasbacamento, subserviência, complexo de inferioridade. O
que ocorre hoje: Preguiça mental, minagem secreta, imaturidade, colonialismo, ignorância,
burrice?
Com a imprensa americanizada,
tomada por pessoas incultas, profissionais meia-sola, espécie de macdônal da
comunicação, vemos, dentre tantas barbaridades, uma tremenda esquisitice,
verdadeira burrice, com relação aos nomes de país.
(Como exemplo da incoerência
terminológica temos o vocábulo anglófilo workaholic,
designando o viciado em
trabalho. O termo work
(trabalho) + alcoholic (alcoôlmano) (o termo alcoólatra indica quem idolatra o
álcool, não necessariamente ser viciado nele. Assim uma religião que adora o
álcool não teria, necessariamente, fiéis viciados. Portanto o termo alcoólatra pra designar viciado é
impróprio). Teria de se juntar a raiz trabalho + uma raiz vício, mania. Alcoólico
não significa viciado em álcool e sim que contém álcool. Então um entregador de
garrafa de uísque ou degustador exerceria um trabalho alcoólico. Portanto o
termo workaholic, além de
estrangeirismo é um estrangeirismo burro já na própria língua de origem.
Podemos criar palavras muito mais interessantes e precisas pra designar o
viciado em trabalho, como labutômano,
não essa feia e estúpida workaholic.)
Um modismo capenga dos que acham
chique chamar Birmânia de Mianmar, Bengala de Bangladesh, Ceilão de Sri Lanka, Alto-Volta de Burkina Fasso, Rodésia de Zimbabwe,
etc.. Adotando, assim mesmo, grafia inglesa.
Dizem que tal país mudou de nome.
Um golpe de estado, um toque de vaidade, e só porque mudaram lá, no idioma do
tal país, macaqueamos aqui. No caso rodesiano, descobriram ruína de origem
desconhecida, anterior aos negros, nem se sabe que povo construiu aquilo, e o
novo regime resolve adotar aquele nome.
Não importa que nome tem, em sua
língua oficial, tal país. O nome, em português, é tal e só se criará outro
quando houver divisão ou desmembramento, de modo a se evitar confusão, como,
por exemplo, Checoslováquia, se dividindo em República Checa e
Eslováquia.
Afinal, quando Brazil passou a ser grafado Brasil, continuou a ser grafado com Z em
inglês.
O que chamamos Suécia é Sverige em
sueco. Alemanha é Deutschland e Áustria é Oesterreich ou Österreich em alemão. Albânia é Shqipni
ou Shqipri em albanês. Finlândia é Suomen
Tasavalta em
finlandês. Em dinamarquês Copenhague
é Kobehavn. Copenhagen é em
inglês. Moscou é Moscú
em castelhano, Moscovo em português
luso e Moscou no Brasil (influência
do inglês Moscow).
Então teremos de chamar França de France, tirar o acento de Itália,
trocar Inglaterra por England, Escócia por Scotland, Espanha por España. Estados Unidos
(País que não tem nome, só sigla, que nem é um país, é uma empresa) por United States. Qual idioma usaremos pra
renomear a Suíça?
Então teremos de usar o alfabeto
grego pra denominar a Grécia, o alfabeto cirílico pra denominar a Rússia e a
Bulgária, por exemplo, o alfabeto árabe pra denominar os países árabes. Pior
ficará a denominação da China, Japão, Coréia. E os planetas? Devemos esperar
contatar com os alienígenas pra saber como chamar Mercúrio, Vênus, Marte...?
Estamos tão decadentes que
esquecemos que Basra é Bássora, Bombai é Bombaim, Mainz é Mogúncia, Glasgow é Glásgua, Michigan é Michigão, Oregon é Oregão, Zmir é Esmirna, New
Orleans ou Nouvelle Orléans é Nova Orleãs, Canterbury é Cantuária, Newfoundland é Terranova, Northumberland
é Nortúmbria, Pearl Harbour é Porto Pérola,
E quando surge um nome novo, exótico, acham chique pronunciar
em proparoxítona: Côsovo. O time de
futebol inglês é pronunciado Ársenal pelos
narradores e comentaristas. Já vi caso de palavra francesa ser pronunciada em
proparoxítona, o que não existe em francês!
Como locutores ignorantes que
dizem Zúrique. Ora, Zurique é da
porção suíça de língua alemã e se pronuncia algo como zirrík. Donde sacou essa pérola
de zúrique?
Nova Iorque os preciosistas da imprensa Nova
York, de forma esdrúxula, híbrida: Metade numa língua, metade noutra. E a
última moda, o mais chique (eles diriam chic)
da imprensa aduladora do óscar: Pequim
acham chique dizer e escrever Beijing.
É muita frescura!
Achamos chique chamar vagalhão de tsuname, desfiladeiro de canyon, toucinho de bacon (Neste
caso originário do francês, adaptado ao inglês. Então nossa burrice é ao
quadrado), reveião de réveillon (só falta mudar carnaval a carnival).
Nossos antepassados imediatos
eram mais sóbrios e menos preguiçosos: Enriqueceram o vocabulário mas
aportuguesando: Stock virou estoque, placard virou placar, blackout virou blecaute, football virou futebol, volleyball virou voleibol
ou vôlei, team virou time, maillot virou maiô, bikini virou biquíni, bulldog virou buldogue, penalty virou pênalti, nylon virou náilon. É assim que fazem os franceses,
tão ciosos de seu idioma que quando Ed Motta chegou e foi falando inglês foi
vaiado. Aqui, terra de jeca, é vergonha defender o idioma nacional. Fazem
questão de usar a horrível palavra performance?
Então escrevam perfórmance, oras
bolas! Escrever site e pronunciar çaite ou online e dizer onláin.
Até o sublinhado ficam chamando de underline! É de dar dor-de-barriga, de
cabeça e de ouvido.
Mas até hoje, escrevemos show, pizza, diesel, software, performance, marketing, merchandising, internet... Preguiça mental, alienação?
Ou será que a enxurrada
neologística é tão grande que como diz o ditado: Se o estupro é inevitável
relaxes e aproveites. Mas quando o termo já existe só podemos taxar de crassa
ignorância abandonar o vagalhão e embarcar no tsunami, por exemplo. Em vez de
dizer que está no ar, ou que está conectado, dizer que está online [onláine,
arre!]. Em vez de dizer descarga dizer download. Mau gosto ainda é eufemismo
pra rotular quem faz isso. O povo chique não descarrega nem baixa, faz
download. Será que o monitor dessa gente é todo emoldurado com purpurina?
Termos já vigentes como garção, cupão, roteiro, lema, estafa, numa involução viraram garçon, cupon, script, slogan, stress.
O conto Língua portunglesa apenas demonstra que pensamos que são só umas
palavrinhas estrangeiras e não percebemos que é, na verdade, uma enxurrada,
constituindo uma verdadeira poluição idiomática. Logo falaremos um inglês com
uns e outros vocábulos portugueses.
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