À coleção Adeene neles!
A postagem
fica duplicada toda vez que é editada. Toda vez que esses trapa, quero dizer,
programadores mexem pra melhorar algo
pioram outralgo.
Tião
Macalé & Ciª
Sílvio Mause
Humberto
de Campos – Lampião
Cande
Tinelli – Wanessa
Camargo
Christopher
Walken – David Bowie
Ken
Levine – Murilo Rosa
Lovecraft,
06.1934 – Stückelberg, Londres, 1934
Nicolas
Cage – Eusebio Poncela
Ramão
Pontes –
Ramão rico?
Topônimos,
tropeçônimos e trapalhônimos
No tempo das entradas e bandeiras
a língua geral do Brasil era o tupi. O nheengatu, língua desenvolvida a partir
do tupinambá, falada ao longo de todo o vale amazônico brasileiro até a
fronteira com o Peru, na Colômbia e na Venezuela, a língua geral amazônica. O
tupinambá e dialetos tupis eram a língua geral do Brasil, que seria bilíngüe
como o Paraguai (que manteve o guarani, língua-irmã do tupi) se não fosse um
decreto lusitano impondo o português.
Avaliemos a extensão dessa perda.
Minha mãe e tias maternas são
paraguaias, de Belém, um vilarejo interiorano. Minha avó pouco falava
castelhano, quase só guarani. Meu pai, descendentes de gaúchos, natural de
Amambai, como funcionário da malária, a CEM (campanha de erradicação da
malária) viajava todo o velho Mato Grosso (que incluía o atual Mato Grosso do
Sul, então sul de Mato Grosso) e conhecia bem o guarani, disse que se usavam
duas formas pra verificar se o sujeito sabia guarani mesmo: Mandar dizer Guaíra e O galo cantou, em guarani. Guaíra tem de dizer guairá. O galo cantou tem de
dizer Sapucai tocoroó. Se
disser Gallo sapucai, é
jupará, hibridação castelhano-guarani.
Na verdade o que se ouve no
Paraguai, seja na rua ou emissão radiofônica, não é guarani propriamente mas
jupará, que é uma mistura. O linguajar guarani todo entremeado de vocábulos
castelhanos porque as palavras sem correspondente em guarani, especialmente os
neologismos, são expressos em castelhano, tal qual nossos afrescalhadíssimos
intelectuais (ou intelectualóides) que abusam de barbarismo, porque acham muito
chique grafias e pronúncias exóticas, mesmo quando o vocábulo próprio existe.
Minha mãe usava português como
língua do cotidiano. Quando ficava saudosa e lírica recitava poemas de Manuel
Ortiz Guerrero, seu poeta predileto, em castelhano. Quando, em suas freqüentes,
onipresentes e homéricas mudanças de humor, ficava brava, xingava em guarani.
Por isso nunca aprendi guarani. Me parecia feio, repugnante. Eu praticamente só
conhecia os vocábulos de xingamento, palavrão mesmo. Safadoreicôva, mitaí tepoti, anha meúme guaré, tererrô te
cacá iguapy riare, retovado Cleto poncho… De modo que ao ouvir uma
canção entendo uns e outros pedaços, uma palavra aqui, outra ali.
Mamãe dava uns foras fazendo comentário
jocoso diante dalguém, achando que não entenderia, como eu comprando guavira
das índias do Mercadão. Um comentário meio assim Esse
aí é exigente demais. No fim me despedi cum Porã etê ndê guavirá, che cunhá mi (Bonito demais tua
guavira, minha senhora).
O guarani é muito parecido ao
tupi, meio como português e castelhano ou sueco e norueguês. Diz que na
fronteira um sueco no alto da montanha em sueco e o outro responde, no outro
lado, em norueguês. Há muitos dialetos do tupi, o que seria de se esperar em
território tão grande e sem telecomunicação.
É preciso esclarecer que não
existe língua tupi-guarani. Tupi é uma língua, guarani é outra, embora tão
parecidas. Assim como não existe língua servo-croata. Se falava em cultura
servo-croata, comunidade servo-croata, mas língua não. Se fala em cultura tupi-guarani
porque são afins, mas língua tupi-guarani não existe. Assim aquela canção Paraguaia do grupo Os atuais , Em
português direi te amo e responderás em tupi-guarani…
De modo que em nossa família os
topônimos tupis soavam muito familiares. Onde aparece ita pode saber que tem pedra, porque itá em tupi e em guarani é pedra
(Itá, Itajá, Itajaí, Itaguaí, Itamaracá, Itamarati, Itaguaçu…). Onde
aparece pira tem peixe, porque pirá é peixe (Piracicaba, Piraí, Pirapora…). Onde tem tuba (tyba, que virou tuba ora tiba, a
famigerada confulência y→u) é o
sufixo português al. Caraguatatuba, mata de caraguatá; Ubatuba,
mata de ubá, ubarizal; Curitiba, mata de pinheiro, pinheiral.
Em 1995 fui com meu pai a Porto
Seguro. Os guias explicando que Taperapuã
significa casa do caranguejo.
— Peraí! Minha mãe e tias são paraguaias, temos muitos
amigos paraguaios, meu pai aqui conhece guarani muito bem. Esses topônimos são
muito familiares pra nós. Portanto percebi que estais inventando. Não tem
caranguejo nessa história. Tapera é tapera mesmo, casa rústica, casebre,
mas puã é ereto, levantado ou levantando (já que em tupi e guarani não
há tempo verbal). É tapera construída, erigida. Em Mato Grosso do Sul tem uma
cidade chamada Camapuã. Tem um morro que originou o nome, que parece um seio
apontado ao alto. Dali o nome camá puã.
Se com turismo globalizado dão esses foras. Na internete
então…
Cerca da mesma época vi no jornal Hoje mostrando a praia de Itapuã, dizendo que significa pedra que soa! Nitidamente se viam
paralelepípedos de pedra, em pé, como gigantescas peças de dominó. Pedra que soa é Itamaracá.
Como numa revista turística onde uma receita de sopa
paraguaia levava farinha de trigo. Ou quando comi uma chipa-guaçu na festa das
nações aqui. Aquilo não se parecia muito com chipa guaçu. Abortei logo a idéia
de experimentar paelha, etc.
Aqui na vila Palmira, meu terreno de esquina abarca a rua se
chama Guiratinga. O nome meio deformado. Güirá
é pássaro, tinga é branco, claro. Os
reformistas do idioma chutaram o trema como os astrô-momos fizeram a Plutão. No
futuro não se saberá se pronuncia anhangüéra,
anhangüêra, anhanghéra ou anhanghêra.
Confusão igual de quando tiraram o circunflexo: Abrôlho, que é um espinho, virou abrólho, de abre-olhos, mais um topônimo inventado. O circunflexo
que se cuide. Logo tentarão acabar consigo.
Güirá (em guarani) é uirá em tupi, pássaro. Uirapuru é algo pássaro.
Mas puru virou uma confusão. Basta
pesquisar pra constatar que cada um diz uma coisa. Apesar de hesitante, a
melhor é http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=168%3Auirapuru&catid=55%3Aletra-u&Itemid=1,
e a pior é http://www.dicionariotupiguarani.com.br/.
Aqui perto tem a rua Abiurena. Mas o quê é isso?! Eta
corruptela! Rana é um sufixo tupi e
guarani que corresponde ao prefixo grego pseudo.
Abiurana, falso abiu (pseudoabiu), canarana,
falsa cana (pseudocana), cajarana, falso cajá (pseudocajá), caferana, (falso café, que é um arbusto com doce fruto vermelho, mas tem a
erva que também chamam caferana)… O famoso romance Sagarana ganhou esse nome porque seria uma pseudo-saga.
A corruptela capital é itamarati.
Moroti é branco. Itamoroti é pedra
branca. Como Fernando de Noronha que originariamente era Fernão de Loronha. É só
pesquisar pra constatar que nalguns lugares se diz outra coisa.
Mas moroti é pra
denominar o homem branco, pois a palavra pra branco é tinga. Assim como cambá
denomina o homem negro, e a palavra pra negro é um (que vira uma confusão com a transliteração y→u).
A confusão recrudesceu por causa da característica tonal do
guarani. Além do i tem o i gutural, parecido ao u do francês buffet, grafado y. Só que
em buffet se faz biquinho pra
pronunciar, em poty é entrelábios. I significa pequeno, y é água. Poti (pronuncia potí) é merda, poty é flor. Alguém
definiu poty pronunciando pot com a sílaba tônica no T.
Na telenovela Irmãos
coragem tinha a índia Potira. Jamais um índio chamaria sua filha de Potira.
Iguaçu vem de y guaçu, água grande. Se
fosse i guaçu seria pequeno grande.
Ipanema vem de y panema, água ruim, pois
é local sem peixe. Na Amazônia, quando alguém fica azarado demais, tudo lhe sai
errado, se diz que ficou panema.
Esse som gutural do i,
grafado y, não existe em português,
de modo que ora é aportuguesado a i
ora a u (transliteração y →i,u). É aí que mora a confusão. Como
a palavra francesa buffet,
aportuguesada como bufê, bifê ou bufete. Maquillage, que
virou maquilagem e depois maquiagem. O inglês backup, que virou becape.
Consultando topônimos na
internete não é raro achar significado suposto, dúbio, desconhecido ou errado.
É comum uma fonte dizer algo e outra afirmar outra. Mas isso acontece no resto
do mundo.
Itaú pode ser originariamente itaí
(pedra pequena) ou itay (pedra na água). A transliteração y→u. É mais provável que seja pedra
na água, porque se fosse itaí
ficaria itaí mesmo.
Dos muitos topônimos duvidosos,
enigmáticos ou controversos, itaú é
um exemplo de equívoco após equívoco.
Vejamos o que diz http://www.cidadefmitauense.xpg.com.br/origem.html:
A origem do nome Itaú causa controvérsia, dúvida e
incerteza. Pra melhor esclarecimento vejamos o que disseram o historiador Luís
da Câmara Cascudo e o escritor maranhense Antônio Gonçalves Dias.
Em seu livro História do Rio Grande do Norte, capítulo
14, página 353, Luís da Câmara Cascudo disse que Itaú é uma palavra originada dum índio assim chamado, que era chefe
de tribo Paiacu, [Vede abaixo a origem da Itagüi colombiana como dum suposto cacique
chamado Bitagüi] no século 18, cuja aldeia, ficava na beira dum riacho
denominado Gitirana, onde havia um poço sombreado por frondosos e altos angicos
que ali abundavam, recanto convidativo pros indígenas descansarem. Sobre o nome
itaú, Câmara Cascudo ainda disse que a
tradução da palavra itaú, que é
verbete tupi, significa pedra preta.
Já o maranhense
Antônio Gonçalves Dias, em seu famoso Dicionário
da língua tupi-guarani [Já se vê donde vem o erro. O certo seria Dicionário das línguas tupi e guarani], disse
o seguinte: Itaú é uma palavra tupi-guarani,
que significa: Ita = pedra e o u = currais: Currais de pedra.
[Mais confusão. Uns
dizem que u é preto, e agora é currais]
Mas conforme
depoimento dalguns idosos, antigos habitantes do lugar, existia na direção sul,
a 1 km da fazenda Angicos, uma porção de pedras que formavam espécies de
currais no formato da letra U alargada e de ferraduras abertas.
Comparando o ponto
de vista dos antigos moradores do lugar com o dos autores citados, chegaremos à
conclusão de que a tradução do notável maranhense é mais afirmativa. Assim, se
nos fosse dado o direito de opinar, não hesitaríamos em optar: Itaú = Currais de pedra.
Em http://tupieguarani.blogspot.com.br/p/observacao-as-corruptelas-sao.html Camapuã significa seio
redondo, bico-de-seio (teta). Itaiú, itaju, itaú, ita yú: Pedra amarela, ouro.
Em http://www.dicionariotupiguarani.com.br/dicionario/itapua/#comment-1755 donde deve ter saído a definição
errada pra Itapuã. Uma barafunda infernal, confundindo pua, puã e puá, e mais um ronco extra:
Itapuã (em grafia
arcaica itapoan) é uma palavra de
origem tupi-guarani que designa um tipo de arpão curto, com ponta metálica
(originalmente de pedra, ita, nessa língua), que era usado pra
pescar tartaruga e peixe grande. A palavra significa pedra que ronca, do tupi-guarani (ita = pedra, puã = ronco). Nome duma praia em Salvador, Bahia. Na canção Tarde em Itapuã, parceria de Vinícius de
Morais e Toquinho.
Fonte: Wikipedia
Outra confusão é puá
(redondo) e puã (ereto). Então a
abelha irapuá acabou virando irapuã…
Já dá pra ter idéia da confusão reinante. Mas tem mais.
Na tevê vi documentário onde alguém dizia que Iracema, uma espécie de pocahontas nacional, não é nome
indígena, apenas anagrama da palavra América.
Na internete achei um que disse que Iracema significa virgem dos lábios de mel! Aí já virou esculhambação. Outros
dizem: (Eira, ira = mel + sema = sair): Donde sai mel.
Em Folklore del
Paraguay, de Dionisio M Gonzalez Torres, capítulo 5, Formas literárias em prosa, página 70:
Yrasema (murmullo del agua),
de voz melodiosa, que hechizaba y tocaba maravillosamente el mbaraká (el
porongo con piedrecillas), es la diosa de la música y del canto. Murió joven y
virgen, envenenada por su hermano Japeusá. Fue la primera muerte que presenció
la tribu.
Irassema
(murmúrio da água), de voz melodiosa, que enfeitiçava e tocava maracá maravilhosamente
(a cabaça com pedrinhas), é a deusa da música e do canto. Morreu jovem e
virgem, envenenada por seu irmão Japeussá. Foi a primeira morte que a tribo
presenciou.
Na página 83, capítulo 5:
Porá es el alma en pena que
vaga en la Tierra, en los lugares donde en vida habitara, que puede se materializar
o manifestar de diversas maneras, como sombra, bulto, algo que se mueve, ruido,
luces errantes, etc.
[…]
Del Porá se ocuparon Natalicio
González, Fariña Núñez y Alfonso Demaría.
— En lugares donde en la guerra contra la triple alianza
se desarrolló batalla, la gente oye o cree oír en las noches tormentosas ruidos
de lucha, tronar de cañón, chocar de arma y hasta ayes y lamentos, y creen ver
luces, sombras y bultos que se mueven.
Porá é a alma penada que vaga na
Terra, nos lugares onde habitara em vida, que pode se materializar ou
manifestar de diversas maneiras, como sombra, vulto, algo que se move, ruído,
luzes errantes, etc.
[…]
Natalicio González, Fariña Núñez
e Alfonso Demaría estudaram o porá.
—
Nos campos-de-batalha na guerra contra a tríplice aliança o povo ouve ou crê
ouvir nas noites tormentosas ruídos de luta, troar de canhão, chocar de arma e
até lamentos e ais, e acreditam ver luzes, sombras e vultos que se movem.
Porá em guarani, pora em tupi, é a origem do Caapora (Caá, mato. Pora do mato), derivando a caipora
e em seguida a caipira.
Na página 411, capítulo 25, Alimentação:
Pamoñá (pamonhá) – Massa de farinha de
mandioca com queijo ou carne (conservada pra levar em viagem). Sugestiva
semelhança com nossa pamonha.
Na página 414:
Arakajé – Uma fritada de poroto (feijão
rústico) cozido e transformado em massa, com pimenta e outros condimentos, e frito
em azeite.
Sugestiva semelhança com nosso acarajé. Quem influenciou
quem?
Anhangüera não é
diabo velho
Primeira postagem sobre o tema em http://cheguavira.blogspot.com.br/2013/08/tonico-vila-do-riacho-contos-sertanejos.html
Em dicionário e enciclopédia se encontra a explicação
clássica sobre o vocábulo. Por exemplo: http://www.dicionarioinformal.com.br/:
Anhangüera foi o Apelido
dado a Bartolomeu Bueno da Silva, um aventureiro português nascido na capitania
de São Paulo. Quando desbrava o interior brasileiro se deparou com alguns
índios e os obrigou a mostrar onde encontrar ouro. Como negaram informar incendiou
uma botija com aguardente ameaçando incendiar da mesma forma os rios e lagos se
não mostrassem o ouro. Os índios, com muito medo, levaram imediatamente ao
local onde existia ouro em abundância. Doravante Bartolomeu Bueno ficou
conhecido pelos índios como Anhangüera,
cuja tradução grosseira e sumária é diabo
velho.
Anhangá é uma assombração, saci, espírito maligno. Na
verdade o sufixo tupi güé e o guarani
qüé significam ex, o que foi, o que era. Anhangüé significa ex-diabo, o que era um gênio, o que foi uma assombração mas agora
está personificado como homem. Se confunde o sufixo guarani qüé com qüera. Qüera significa os seus, sua turma, correspondente ao tupi güé. Portanto Anhangüera significa
o da turma do Diabo, o que tem parte com assombração, o que tem aliança cum espírito maligno.
Não diabo velho. Há uma música
paraguaia, Che novia cué mi (minha
ex-namorada). Quando alguém diz, em guarani (na verdade se fala jupará, onde o
castelhano supre lacunas vocabulares), Juan
cuêra significa a turma de João, João e seus companheiros. Portanto Anhangüera significa O que tem parte com o Diabo, O da turma do Diabo, O diabólico ou Um diabo.
Mesmo porque velho, em guarani, é tudjá. Caraí tudjá, homem velho, senhor velho, velho.
No vocabulário gaúcho tem o vocábulo cuera:
1. Cuera
Significado de
Cuera Por LC Vicente (PR) em 11-08-2010
Pessoa experimentada,
que sabe bem seu ofício
Indivíduo apresenta
destemor, valentia, corajoso
Que foi e já não
existe (Cuéra) [confundindo com qüê]
origem tupi
(qüera)
No dicionário mais uma vez a
confusão cué com cuera. Lamentável. Seria como confundir porá com porã (bonito). Nada a ver.
Outra definição:
Cuera
sf Brasil. Rio
Grande do Sul. Lesão, ferimento e ou cicatriz situados na região lombar de
certos animais (cavalgadura), decorrente do uso incorreto de lombilho. Unheira.
sm Brasil. Pessoa
valente. Indivíduo destemido e corajoso.
adj Que contém
valentia, destemor.
(Etmologia de
origem questionável)
Outro significado de cuera,
agora vocábulo castelhano. Mas nesta vez a palavra derivou de couro. Portanto não tem a mesma raiz
(Seria como em português chamar coura
uma jaqueta de couro):
Antigamente se chamava
cuera uma espécie de jaqueta que se
colocava sobre o gibão.
A acepção de cuera
como valente é uma deformação
vocabular através do tempo, provavelmente se transformando o da turma, o do bando a bandoleiro e enfim a valente.
O anhangá tupi ou anhá guarani está em muitos topônimos
além de Anhangüera, que é
universidade, rodovia e lenda nacional. Em Campo Grande tem o bairro Itanhangá
(pedra do Diabo). Em São Paulo tem o bairro Anhangabaú, anhangá ba y, água de
malefício do Diabo, bebedouro dos
demônios, enfim, água venenosa. Mas
um exemplo da transliteração y→ú.
Vejamos o verbete Caruara,
caroara em Dicionário do folclore
brasileiro, de Câmara Cascudo:
Caruara, caroara - Duende
invisível, bicho fantástico amazônico. Um bicho que inspira muito medo, é o que
descrevem, à semelhança do bicho-de-pau que aparece nos quintais e capoeiras.
Chamam de caroara. Como os outros, também tem mãe. É extremamente perigoso pràs
mulheres menstruadas, que nessa condição evitam andar no quintal ou atravessar
as trilhas que chegam às roças ou nos caminhos pra recolher água. O cheiro da
mulher nesse estado, se afirma, atrai a caroara ou a mãe da caroara, que flecha
a vítima. Os efeitos dessas flechadas são semelhantes aos do reumatismo.
Aparece dor, inchação dos membros e dificuldade articular. Em Itá existem
muitas mulheres com esses sintomas, cuja doença é atribuída a flechada de
caroara. Parece que esses bichos não fazem mal aos homens. (Eduardo Galvão, Santos e visagens. Um estudo sobre a
vida religiosa de Itá, Amazonas, 106-107, São Paulo, 1955). Reumatismo.
Teodoro Sampaio, O tupi na geografia nacional, 184,
Bahia, 1928, registrou: Caruara sc carú-uara, o que come ou corrói. A comichão, o prurido, a sarna, a
bouba. No norte do Brasil é uma moléstia que ataca o gado, causando inchação e
paralisia nas pernas e corrimento. Com o mesmo nome se conhece uma espécie de
formiga que dá nas árvores, cuja picadura coça como sarna, e também uma
qualidade de abelha, cujo mel é nocivo. A cidade de Caruaru, em Pernambuco, significa caruar-ú [Notar bem a causa de confusão, a transliteração y→ú], aguada das caruaras, água que adoecia o
gado.
Em abril de 1996 uma tragédia foi amplamente coberta pela
imprensa. Num hospital particular (que foi fechado) de Caruaru, Pernambuco,
morreram misteriosamente 50 pacientes submetidos a hemodiálise. Se constatou
hepatite tóxica causada por água contaminada.
O uso de significados supostos e forçados pra não deixar em
branco uma definição só leva a mais confusão. É como deduzir que Cheiquespir
era árabe, pois o nome vem de xeque
ou xeique Spir, ou que Colombo era
negro, pois vem de Cristóvão Quilombo.
Quando estive em Medelim, em 2014,
visitando a família de Carlos Molina, no caminho falamos sobre os topônimos
tupis. Logo vimos um ônibus ostentando o letreiro Itagüí, uma cidade próxima. Eu disse:
— Mas esse nome é nitidamente
tupi!
Itagüi é topônimo tupi
Muitos nomes resultaram de suposição:
Bororo (idioma orari) Pátio. Nos estados brasileiros de Goiás
e Mato Grosso vivia grande população aborígine, os boe ou orari, mais
conhecidos como bororo, que não é o nome verdadeiro dessas tribos. É um apelido
dado erroneamente, talvez pelos primeiros brancos que contataram esses
selvagens. Bororo significa praça, pátio, largo de aldeia e,
segundo o testemunho de velhos silvícolas, os primeiros civilizados que
chegaram ao aldeamento dos orari tentaram penetrar nas malocas. Pra os impedir
os índios se postaram à porta e, indicando o terreiro, gritaram Ka ba boe ba? Bororo! Bororo!: O que desejai? Ao pátio! Ao pátio!
Devido à repetição da palavra bororo
os brancos acharam ser esse o nome da tribo.
Canguru – Quando os ingleses avistaram em primeira vez, na
Austrália, os cangurus, perguntaram aos nativos o nome do animal. A resposta
foi: Can guru (Não entendemos). Os ingleses
interpretaram isso como resposta.
Esquimó –
Comedor de carne crua. Se autodenominam inuíte, humanos.
Lhama – Quando os espanhóis avistaram em primeira vez, na
região andina, as lhamas, perguntaram aos nativos: Como se llama? Os nativos, obviamente, nada
entenderam e ficaram repetindo: Lhama?
Os espanhóis interpretaram isso como resposta.
Semelhanças tupi, guarani, grego, etc.
Kilãino - Kelainos
Ceuci - Circe
Panamá - Zeus Panamaros
Pitiapo - Priapo
Solimões - Salomão. A mítica
Ofir, donde Salomão trazia outro, seria o alto Amazonas.
Tupa (Tupã?), do panteão
polinésio (Francis Mazière, Fantástica
ilha de Páscoa, página 107)
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