Cambate
(Deve ser a refarma artográfica)
+ cancer
e o ponto final
Crônica
buenairense-montevideana, 2016
Capítulo 1
Bons
Ares ● O
quê é argentina ● O
carrinho do cansa-mão ●
Susto na chegada ●
98%∞
Buenos Aires e Montevidéu ficam pertinho. Então deu pra
matar dois coelhos duma cajadada. Uma semana em Bons Ares e um fim-de-semana em
Montevidéu. Nada mau.
Sobre a etimologia buenairense parece que os nativos não
sabem. Só se supõe o óbvio: Que é por causa dalgum vento fresco.
Vejamos a definição de argentina,
segundo o Dicionário de mineralogia com ênfase em gemologia, https://books.google.com.br/books?id=WhGi97Ey61cC&pg=PT52&lpg=PT52&dq=argentina+sulfeto+de+prata&source=bl&ots=TQKgQZ2drV&sig=SA3ZlC187rd1uBcCWWkrvjdKj2Y&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjsy_fQkLDPAhXFfZAKHagRC2AQ6AEINzAC#v=onepage&q=argentina%20sulfeto%20de%20prata&f=false:
Argentina: Variedade de calcita branca, nacarada, formando lamelas onduladas. Do
latim argentinus, prateado, pela cor e brilho. Não
confundir com argentita.
Argentita: Sulfeto de prata, Ag2S, com 87,1% de prata, importante
fonte desse metal. Dimorfo cúbico da acantita, tem cor cinzenta, brilho
metálico, é séctil e maleável. Dureza 2,0–2,5. D 7,30. Do latim argentum,
prata. Não confundir com argentina.
Ramão brincará um
pouco pra que a gata Christie não sinta muito minha falta, e uma dose extra de
ração, pois agora aparece um amigo, um gato preto, que aparece pra filar ração,
sempre ronronando triste. Chora mais que dueto de Leonardo com Morris Albert.
Do aeroporto de Buracópolis, antiga Campo Grande, na
madrugada de 6 de setembro, a Guarulhos, pra passar um dia inteiro. Cum livro
de sudoco difícil o dia passou célere. No mais os mesmos golpistas de sempre,
assediando quem passa perto do balcão, pra fingir brindar uma maleta e angariar
assinatura pra Veja, etc. Não se pode
passar perto do balcão desse pessoal, que fica mosqueando igual os vendedores
de fruta do mercadão paulistano.
Além da feiúra, desconforto e desumanidade do ambiente, com
tanto espaço mas sem bagageiro nem pousada, tem os carrinhos novos. Um novo
sistema, que só destrava a roda quando se aperta o guidão. Mas o problema é que
tem de apertar pra valer. Como brasileiro não gosta de manutenção, virou o
carrinho cansa-mão. Só trocou a tortura de segurar mala pesada pela de apertar
forte o guidão pràs rodinhas deslizarem. Trocou 6 por meia-dúzia. Na próxima
viagem terei de levar uma morsa na bagagem-de-mão. Quero achar o engenheiro
autor dessa idéia, pra dar uns cascudos. Merece o troféu Burro.
Esse engenheiro deveria trabalhar na Microsoft, já que é bom
em melhorar uma coisa mas estragar outra. No Windows 10 a busca, que era super
eficiente, não funciona mais. Ficou misturada com a busca internética, uma
barafunda infernal onde nada mais se acha.
Um carrinho que só anda com o peso da mão dalguém segurando,
pra não desembestar numa ladeira. Parece uma idéia boa, mas não aqui, onde
ninguém quer inovar nem fazer manutenção. Os primeiros que vi, em Santiago,
eram novos, suaves, bem lubrificados, liberando as rodas sob o natural peso das
mãos. Mas esses nossos, verdadeiras mulas empacadas, devem ser refugo importado
de lá, muito piores que os de supermercado.
Nos horríveis telões o lema Vás ao cinema. Deixa óbvio que o público dos cinemas está caindo.
Espero que continue caindo, pois só gente alienada vai ver tanto lixo.
Como nas outras vezes, vez-e-outra soava o aviso, uma voz
feminina avisando em português e castelhano, pra não comprar de ambulante no
âmbito do aeroporto. Assim se colabora evitando produtos irregulares e
exploração infantil. Na verdade é só pra proteger os comerciantes dali, com
produtos caríssimos, explorando o viajante. Todo mundo sabe que em xópim e
aeroporto é tudo muito caro e muito ruim.
Aquilo é uma gravação. Não é alguém falando ao vivo, de
improviso. Não seria difícil colocar uma moça que fale um castelhano natural em
vez do sotaque forte duma óbvia brasileira que nunca falou castelhano. Na
descida na vinda o comandante anunciou a chegada num português quase sem
sotaque, e não era gravação.
Outra coisa esquisita é que quando se faz o chequim e se
recebe ali a passagem com número de portão, quando se vai ao embarque se tem de
ficar sempre conferindo esse portão no telão, pois raramente ele não muda!
Algumas vezes se tem de ir longe, correndo, ao novo portão!
Se não cápsula pra dormir, ao menos pra guardar bagagem. Seria
um filão rendoso, pois muita gente fica muitas horas presa ali por causa da
bagagem, quando poderia ter mais mobilidade ou mesmo ir passear na cidade. Como
nossos políticos e empresários são cegos!
Nessa viagem muita aventura. Na comunidade Taringa uma
postagem sobre as aerolinhas dizia que a Aerolíneas
argentinas é a pior de todas. Deve ser, porque uma atendente do chequim consultou
meu papel no sistema e me direcionou à Gol,
dizendo que é a Gol quem opera aquele
trecho, de Guarulhos a Buenos Aires. E a Gol
disse que não. Que nalguns casos é, noutros casos não. Não era.
O caso era que minha passagem foi comprada na Edestinos. Se perdesse o vôo teria de
comprar tudo de novo, pois o sistema derruba toda a passagem restante. Ainda compensa, pois a Edestinos encontra promoções que nem a própria aerolinha tem. É como
um investimento: Se pode ganhar num período e nalguns momentos perder. Se não
ficar perdendo vôo, compensa.
Agora, rumo a Bons Ares. Deve ser o primeiro lugar sem
alguém dizer que não gosta de argentino.
A chegada, na madrugada, foi uma aventura. Quando já
despontavam as luzes da cidade e a roda já tocava o chão, o avião arremeteu. O pessoal
gritou de susto e começou a rezar. Logo soou um aviso de que tudo foi por causa
dum vendaval. Suspiros de alívio. O avião ficou meia hora dando volta. Claro que
também o fato de que o piloto tem de esperar nova autorização de pouso, pois
nesse intervalo pode estar chegando outro avião. Quando corriam gotas na janela
dava pra pensar que estava descendo, pois nuvem fica baixo, mas logo subia de
novo. Era uma espessa camada de nuvem cinzenta, como conferi ao chegar, com insistente
garoa fina, que ofuscava as luzes da cidade, mas sem raio. A cada volta
aparecia uma grande bola de luz fosca.
— Aiaiai!
Só faltava ser caçado por um ufo! Gosto de ler e assistir esses casos de
mistério e enigma mas não quero ser personagem.
Era só
um ponto onde estava a cidade ao longe, ofuscada pelas nuvens.
Quando finalmente pousou foi um aplauso geral.
Se sabe que os momentos mais vulneráveis num vôo são a
partida e o pouso.
Dali entramos numa jardineira (deve ser o nome daquele
ônibus que mais parece bonde, pra transportar passageiros dentro do aeroporto),
em direção à esteira de bagagem. Ali um grupo de brasileiros rumo a Uxuaia não
queria continuar viagem imediatamente, assustado. Dizia que as aeromoças
estavam brancas de susto, que decerto aquele susto foi o primeiro.
No salão das esteiras nada de telão indicando o número de
vôo e o número de esteira correspondente, de modo que eu corria duma a outra. Numa
o grupo de brasileiros: É aqui,
não é aqui…
Os carrinhos estavam longe mas estavam lá. Felizmente não
são do tipo cansa-mão. Até agora Bogotá é o único com a esquisitice do carrinho
ser pago.
Foi outra meia hora até a esteira funcionar. Deu até pra
pensar que na verdade morremos e que passaríamos a eternidade ao redor da
esteira. Enquanto isso um funcionário de casacão, que era sósia de Murilo Rosa
naquela minissérie onde representava um tenente que caçava Lampião, orientava o
pessoal, com voz estentórea, perguntando quem é da conexão tal, da outra tal… A
todo momento subia à esteira pra explicar os procedimentos e responder às
perguntas.
Fiquei pensando como seria se a esteira começasse a
funcionar de repente…
E o grupo de brasileiros… A moça contando que uma pista tal
dava muito acidente. Estudaram o caso e descobriram que a pista tinha muito
defeito porque foi feita apressada, pra cumprir prazo. Que já passou susto
assim, que o pai não deixou mãe e irmãs voarem juntas, porque se a nave caísse
ficaria sozinho. Que se perdesse a família preferiria ir junto, porque não
queria ficar sozinha no mundo…
Fiquei pensando na bobeira que é pensar assim. Já passei
isso… Mas isso é outra história.
O primeiro dia na cidade foi de céu cinzento, garoa e frio.
Fim do primeiro capítulo
Agora liberarei espaço no gemeio, porque prometem espaço
infinito mas aparece a mensagem 98%
cheio. Liberar espaço ou comprar espaço adicional.
98% de infinito é infinito, mas decerto os gemeeiros fugiam
da aula de matemática.
Não é só político que promete mas não cumpre.
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