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Crônica
assuncena
Capítulo 1
Música
maravilhosa e lembrança de infância ● Macaco não olha o próprio
rabo ● Voarias
de latão? ●
As duas Nhuguaçu ●
O castelhano macarrônico das aeromoças ● Dom Quixote e seu
escudeiro Chancho Pancho ●
O ocaso do lago azul de Ipacaraí ● No país da sopa dura ● Como
fiquei milionário no Paraguai ●
Um sebo dusbão ● O
mercado-de-pulga ●
Guarani ou não guarani. Eis a questão!
Visitar Assunção tem um sabor especial não só por ser
descendente e porque lá estive quando muito criança mas também porque o
Paraguai é sui generis no continente.
O país que tem o mapa em forma de pênis é a cultura mais original porque se
formou com as reduções jesuíticas, integrando os índios, assim formando uma
cultura única, muito diferente dos outros hispano-americanos, que a grosso modo
não passam de divisão política artificial.
Tem o guarani como idioma também oficial (na verdade o jupará,
uma mescla), rejeitando séculos de preconceito.
Paraguai, México e Brasil são os únicos ibero-americanos com
música maravilhosa. Já pesquisei e recebi canções colombianas, peruanas,
centro-americanas… Não tem. Me corrijam se eu estiver errado, mas não achei
música tão bela e empolgante como as desses três. Na Argentina tem aquela coisa
enjoativa que é o bolero, com letras bonitas mas mediano como o fado. Os índios
flautistas peruanos, bonitinhas mas é só. As canções colombianas, sem-graça. No
Chile tem umas harpas muito boas também, mas entre as cantadas também nada vi
de tirar o chapéu. Não existe. Música empolgante, de beleza ímpar, só nesses
três.
O guarani dá à canção um romantismo intenso, impossível de
conseguir em português ou castelhano. Isso resulta numa beleza ímpar, inefável pra
quem não conhece o guarani.
O Paraguai é muito estereotipado na visão do brasileiro, que
imagina esse país vizinho só pelas duas zonas francas fronteiriças: Pedro João
Cavalheiro e Cidade do Leste. É como um estrangeiro concebendo o Brasil
conhecendo só Macapá, Porto Seguro ou Santa Vitória do Palmar.
A influência paraguaia em Mato Grosso do Sul é imensa: O
delicioso tereré, a chipa, a sopa paraguaia e outras comidas típicas, o
cancioneiro regional e as canções paraguaias, influência mais marcante na toponímia,
mais guarani que tupi, como Ponta Porã (ponta
bonita), Camapuã, (seio levantado)
Caarapó (raiz de erva), Bataguassu
(Corruptela de Bataguaçu, grande (guaçu) batá (uma espécie de árvore)), Bataiporã (rio dos batás bonitos. (batá + i = rio, água
+ porã = bonito. Erroneamente tido como Bata
(nome do fundador) + água + bonita)
Maracaju (água de maracá, barulhenta),
Aquidauana (Segundo uns, no idioma guaicuru, rio estreito. Talvez corruptela de Aquidabã, que em tupi e guarani significa entre rios, terras férteis e aguadas. É nome dum rio paraguaio e duma
cidade sergipana. http://www.emdec.com.br/hotsites/nossa_cidade/aquidaban.html)…
Aqui também a bola-de-gude se chama bolita, e o que se chama impropriamente pipa ou papagaio aqui também é pandorga
(castelhano volantín, também
impropriamente cometa).
O brasileiro é muito ignorante e deveria ter vergonha na
cara. Macaco não olha o próprio rabo, e não fazer piada de português quando
aqui tem mais político ladrão, imprensa muito mais vagabunda e povo mais
alienado que lá, e não associar tanto falsificação ao Paraguai, pois é no
Brasil que os produtos são os piores, onde no supermercado tem muita comida-lixo
e falsificação.
Quando estive em Assunção eu tinha quatro ou cinco anos, por
isso pouco me lembro além de dormir ao relento sob calor infernal cum lençol.
Me cobria e o calor apertava. Descobria e os mosquitos atacavam… Me lembro de
ter ganho um casquinha sorvete de chocolate, que caiu ao chão e ganhei outro,
dum guindaste de brinquedo numa vitrina, que eu queria e fiquei querendo, das
perfeccionistas miniaturas de veículo Matchbox,
que me encantavam, de meu chapéu-de-palha que voou na janela do ônibus rumo a
Caacupé, onde mamãe foi pagar a promessa quando me salvei duma desidratação que
me fez chorar 12 horas sem parar com seis meses de idade, de correr atrás das
galinhas da casa da hospedeira.
Mas o deslumbre pra meus olhos de criança era ver, na estrada
ou na cidade, os carros de modelos muito variados, pois como o Paraguai não
fabrica, importa, e os ônibus, muito caracaxás, montados, com frente de camião,
não a frente lisa como combe mas com capô.
Saí de nossa desmazelada Nhuguaçu, nossa famigerada
Buracópolis em 24 de novembro.
Como se diz Buracópolis
em guarani?
O parque Ñu Guazú (Campo Grande, em guarani) é uma área
verde de 25ha, em Luque, cidade do departamento Central do Paraguai, próximo ao
aeroporto internacional Silvio Pettirossi.
Fazer o quê? Mais um lugar com nome gente.
No vôo de volta o comandante anunciou estar chegando à
belíssima Campo Grande. Bom, seu comandante, precisa muita imaginação pra chamar
Campo Grande de belíssima. Bonitinha ainda vá lá, pois tem gosto pra tudo. Mas
belíssima já e forçar demais.
Vôo da Latam, pois fundiram e a Lan com a Tam e chamaram
Latam. Quem escolheu o nome devia levar uns cascudos. Vai ver que foi aquele
comandante, achou o nome belíssimo. Eu, hem? Latão! Tudo a ver, pois nunca vi
sacolejar tanto ao levantar vôo saindo de Nhuguaçu. Depois do caso da
Chapecoense disseram que os aviões da latão estão muito sucateados.
Mas não é só por isso que experimentarei ir de ônibus na
próxima, Cometa Amambay, pois o avião
é cerca de 10 vezes mais caro, dando aquele desvio enorme pra fazer conexão em
Sampa, além de ter mudança de aeroporto Congonhas–Guarulhos, com horário apertado, arriscando perder vôo. Na
volta fui correndo, pois o embarque já andava. Não compensa, pois
Assunção é perto de Nhuguaçu.
Já falei sobre as mensagens gravadas, que soam no aeroporto.
A nota pitoresca é gravação avisando que no verão é quando o mosquito se prolifera mais. Proliferar é se
reproduzir muito. Então se proliferar é se se reproduzir.
No embarque as mensagem de aviso, não gravadas, fazem ainda
mais feio. Anunciam nos três idiomas. Quando em castelhano, um castelhano
macarrônico, resultando um idioma híbrido. Diz seguranza em vez de seguridad.
Existe, mas é vocábulo desusado. Uma vez eu disse seguranza e minha correspondente não entendeu. O ouvinte castelhano
deve entender nada. Ainda mais que não sei por quê-diabos falam o mais rápido
possível, como se fosse reza de criança. Ou seja, destinada a algum santo, não
ao viajante. Além do quê, o sistema de som é muito ruim. Nalguns pontos é tão
rouco que não dá pra entender mesmo com português claro. Teve uma que
pronunciou montevídeo! Será que acha
que a capital uruguaia se originou como zona franca de videocassete?
Na sala-de-embarque uma senhora se sentou ao lado, decerto
vinda de Montevídeo, cum enorme coelho de pelúcia. Ligou à filha, avisando que
chegaria depois das 22h. Vede só a barafunda que fez com Sancho Pança, escudeiro de dom Quixote:
—
Filha, tô levando o Chancho Pancho. O
nome tirei aquele do livro, Dom Quixote.
Chancho Poncho, Pancho. É um urso-de-pelúcia enorme. Mas é um coelho…
Pobre
Sancho Pança! Se reviraria no túmulo se não fosse personagem fictícia.
Muito
educativo. A criança aprendeu muito… Deveria ser um porquinho, porque chancho é leitão em castelhano.
Existe um restaurante mexicano chamado Chancho Panza, que é um trocadilho, assim como em Florianópolis tem
o Chico Toucinho, trocadilho com Roger Bacon. E outros trocadilhos como Torre de Pizza, Chopping Center…
Algo que diferencia andar no meio duma multidão antigamente
e hoje é que o pessoal de hoje anda feito zumbi, ao celular, sem sair da
frente. O tanto de gente que poderia encostar na parede pra fuçar seu
aparelhinho sem incomodar os que passam, mas não: Ficam no caminho, feito
aqueles caipiras nos filmes de Mazarope, abobados no meio da rua. E no
trânsito, idem, engarrafando tudo.
O primeiro hotel foi pesquisado no Decolar. Tive de cancela porque a hoteleira mandou recado dizendo
que como eu chegaria às 23h e a casa fecha às 18h, não teria como me receber,
que ali não é um hotel. Mas como? Se na busca do Decolar estava listando claramente com o título Hotéis!
Outra coisa que não quero mais é pousada. Tem de ser hotel
hotel mesmo, senão a gente fica igual hospedado em casa de conhecido, só que
pagando. Diz que é comum hoteleiro fingindo te tratar como alguém da família,
tentando vender coisas, te mudar a quarto cheio de tranqueira, fazer passeio
sem combinar preço antes, te mudar a um quarto entulhado e servir chipa
amanhecida no desjejum. E muito mosquito.
No banheiro o cartaz de aviso em português é bem
atrapalhado. Colocaram em castelhano, inglês e português um aviso pra não jogar
papel, fralda, etc, no vaso sanitário. Em português puseram banheiro em vez de vaso, o que dá a entender que não é pra jogar essas coisas no chão.
Mas nos outros dois idiomas fica claro que não é isso.
Quem não conhece aquela canção entoada até por Ângela Maria
e Cauby Peixoto, Recuerdo de Ypacaraí
(Lembrança de Ipacaraí)?
En una noche tibia nos conocimos
Junto al lago azul de Ypacaraí
Cantabas triste nel camino
Viejas melodías en guaraní
O lago e Ipacaraí está poluído. O lago mais famoso do
Paraguai, mais famoso que o belo Danúbio, que também não é azul, tema dessa
canção que é um clássico mundial, aonde os assuncenos iam se banhar, poluído.
Quê tristeza!
Barracas de artesanato, um dono de barco quase implorando
aos poucos turistas dar um passeio no lago. Ali perto um gigantesco hotel, que
já hospedou muitas celebridades, abandonado e em ruína porque a poluição do
lago quase acabou com o turismo cuja principal atração é o banho lacustre.
Também o parque nacional Ypacaraí, criado pelo decreto
5686/1990, está abandonado e em ruína. As trilhas, principalmente as que levam
aos alagadiços ou ao espelho dágua, estão intransitáveis. A proteção é nula e
os guardas florestais não têm recurso. http://www.abc.com.py/edicion-impresa/interior/parque-nacional-ypacarai-esta-abandonado-y-en-ruinas-1028982.html
O restaurante do hotel Los
Alpes, em São Bernardino, é excelente. É de alemães. A colônia alemã ali é
expressiva. Um bufê de almoço e sobremesa muito variados, e aceita em real. O
preço é médio, cerca de R$40 por pessoa. Ali provei a sopa paraguaia, que é tão
boa quanto a de Ramão.
Emiliana faz uma sopa paraguaia muito boa mas Ramão faz uma
que até dona Mercedes, nossa vizinha paraguaia, a mais simpática do bairro,
disse que nem no Paraguai é tão boa. Ramão contou que uma vez fez serviu esse
prato a convidados, que se muniram de colher-de-sopa, pensando que era sopa
mesmo. Recentemente experimentou a fazer recheada. Ficou sublime.
A sopa paraguaia vendida nas padarias e supermercados em
Campo Grande são bem ruins em geral.
Diz que, segundo os critérios científicos, o vidro não é um
sólido mas um líquido de alta viscosidade. Deve ser esse o caso da sopa
paraguaia.
Pra quem não sabe, a sopa paraguaia não é sopa mas um bolo
salgado. Só que um bolo muito especial. É como uma polenta, só que muito, muito
melhor. Não é com fubá, que deixa muito seco, mas com farinha de milho ou
milho-verde. Numa livraria vi um livro intitulado No país da sopa dura.
Eis a lenda da origem desse prato maravilhoso:
Os historiadores contam que dom Carlos Antonio López, presidente
do Paraguai entre 1841 e 1862, gostava muito do tykuetï, sopa branca, elaborada com leite, queijo, ovo e farinha de
milho, prato que era cotidianamente indispensável em sua mesa.
Um dia, por descuido, a machu,
cozinheira, pôs na sopa mais farinha de milho que de costume, o que criou dois
problemas: O tykuetï já não era líquido mas pastoso. E não dava tempo de
reiniciar a tarefa ou substituir o prato favorito.
Então, entre temor e engenho, decidiu pôr o preparado a um
recipiente de ferro e o cozinhou no tatakua,
buraco de fogo, com o qual obteve una sopa sólida. Quando chegou o momento de
servir ao presidente, mui temerosa, explicou o sucedido e apresentou a fonte.
Ao degustar, dom Carlos a achou tão saborosa, que imediatamente, a batizou como
sopa paraguaia. Una variante dessa
versão relata que nesse dia dom Carlos convidara embaixadores doutros países pra
jantar. Como acontecera o relatado, apresentou o prato como sopa paraguaia.
Outra versão que alude à origem da sopa paraguaia diz que
quando os espanhóis chegaram às terras guaranis os nativos os receberam com honra
e ofereceram sua melhor comida para os acolher: Carne de caça. Quando acabou a
provisão de carne, e verificando que os hóspedes continuavam com fome, os
guaranis serviram a comida que habitualmente comiam, feita com farinha de milho
ou de mandioca envolta em folha de bananeira, cozida em cinza quente, e dizendo
A carne acabou, em guarani: Soô opá. Dali o
vocábulo sopa.
Nessa página uma receita que leva ovo. A de Ramão não.
Sopa paraguaia de Ramão
● 5 espigas de milho-verde
● ½ copo de óleo
● 3 colheres (sopa) de manteiga
● 1 colher de fermento químico
● ½ litro de leite
● 1 polentina, milharina ou outro fubá
pré-cozido (não usar fubá seco)
● 400g queijo muçarela ralado
● cebola a gosto
Misturar
milho, óleo, leite, manteiga. Bater no liqüidificador. Acrescentar a polentina
e o fermento.
Dourar
a cebola com óleo.
Em
fôrma média colocar uma camada da mistura, uma camada de cebola, uma camada de
queijo, e a última camada queijo.
Assar a
180ºC durante cerca de 40 minutos.
Assunção se parece mais com Campo Grande ou com Campinas.
Uma campo grande com asfalto melhor e uma campinas com gente muito mais
simpática. Ramão disse que o asfalto rodoviário é um tapete liso. O ônibus nem
chacoalha. Melhor que qualquer asfalto brasileiro. Mas o melhor que tem no
país, mesmo na capital, é a segurança. Em Assunção se pode passear sossegado.
Basta dizer que o Paraguai é o terceiro país com menor índice de violência na
América Latina.
Nas livrarias de livro novo muitos livros interessantes em
todos os gêneros, contrastando com as brasileiras, que só têm bestséler. Os
sebos é que não são barateiros, pois encontrei muitos que tinham também nas de
novo, com o mesmo preço. A La plaza,
Antequera com Marechal Estigarribia, é um pequeno sebo e papelaria. Não aceita
real nem dólar. Fui trocar na casa de câmbio. Ali fiquei milionário: 1 milhão
de guaranis.
Já a San Cayetano,
Herrera com Estados-Unidos, é um sebo pra valer, com mesas de promoção a 10.000
guaranis (R$ 6). Muita poeira e traça, livros em todos os estágios de
conservação. Faz tempo que não entrava num desse. Daqueles sebos onde se passa
o dia inteiro, pondo tudo a baixo e se fica sujo feito limpador de chaminé.
Muitos livros sobre a guerra do Paraguai e contestando a
usina de Itaipu. Na próxima ida me centrarei nesses aspectos históricos, pra
ter a visão do outro lado. Além de perguntar o quê se pode comprar com 1
guarani. Hehehehe.
O mercado-de-pulga, na rua Eusebio Lillo Robles, domingo, é
uma pequena feira na calçada, com livro, objetos de antigüidade, brinquedos,
moedas e cédulas antigas e muitas coisas curiosas. No chão uma caixa cheia de
bolas pretas. Pensei nas tradicionais bolitas, bolas-de-gude, mas eram balas de
chumbo ou ferro usadas na guerra do Paraguai.
Um bom restaurante, indicado pelo hoteleiro e pelo sebista
do La plaza é o bar San Roque, Eligio Ayala 796 com Tacuarí.
Mas não te assustes com o aspecto de restaurante grã-fino. O preço é bom e o
cardápio também.
A pitsaria Romana,
Tenente Vera com Capitão Denis Roa 2737, vila Aurelia, é ótima. Brinquei com a
atendente:
— Primeiro
tenho de experimentar todos os sabores, pra escolher um.
O cardápio é vasto.
Bolsi, Estrella
399, com Alberdi, é outro bom restaurante. Com dois ambientes, um restaurante e
outro lanchonete. É muito concorrido mas chegando cedo tem lugar. Boas opções
de cerveja. Boa sobremesa. Recomendo a torta do czar.
Tem vários grandes supermercados. Quando teve uma chuva
persistente teve um, que fica numa parte baixa, fechou no meio da tarde porque
teve área inundada. Muitos bairros inundados, ruas que viraram riacho. Muitas
ruas são calçadas com pedra, não paralelepípedo mas pedaços menores e irregulares,
por isso mais permeáveis e inundação não tão severa. Muitas árvores caídas e
muros desabados.
O hoteleiro faz um tur às cataratas do Iguaçu. A viagem dura
5 horas. Contou que chega turista de toda parte, no momento uma turma do
Panamá. Dizem que não tem atração como as cataratas. Contou que um hóspede
romano disse que as melhores pitsas são as de São Paulo, que são muito melhores
que as de Roma.
A maioria dos hóspedes é argentina. Muitos vão de carro. É
comum ver carro com placa argentina. Não vi placa brasileira. A mãe do
hoteleiro disse que não gosta de atender argentinos, Son malos!, prefere os brasileiros. Que os
paraguaios têm mais afinidade com os brasileiros porque quando acabou a guerra
o Paraguai ficou quase sem homem. Só sobrou criança pequena porque até os
maiorzinhos morreram. Então a ordem era procriar. Crescei e vos multiplicai! Mesmo porque um forte
contingente ficou pra garantir a segurança e evitar a Argentina anexar o país. Falando
com o hoteleiro, de como são bonitas as assuncenas. Parecem as bogotanas. Muito
mais bonitas que as buenairenses y montevideanas. Disse que as argentinas são
secas de corpo. Que a mulher argentina é muito malvada. Sempre tenta dominar o
homem. Falando isso a um casal argentino, ela disse que não é bem assim. Depois
eu disse:
— Se
não é bem assim, é porque é. Confessou!
Cheguei
à conclusão que a grande diferença entre o argentino e o chileno é que ninguém
gosta de argentino e chileno gosta de ninguém.
A canção
de Luis Alberto del Paraná & Los Paraguayos, Flor de Pilar, canta a beleza
da mulher de cada região paraguaia, pondo acima a pilarense, espécie de
fora-de-concurso, como Wilza Carla e Clóvis Bornay. É a garota-de-ipanema
deles. Uma estrofe fala da pele branquinha das assuncenas: Linda asuncena, blanca azucena
parecerá.
Estava
divertida essa reunião. A mãe do hoteleiro contava anedotas sobre a
ex-presidente argentina Cristina Kirchner, la
Barbie, a boneca Barbie, como a
apelidaram. Mas enfim o argentino esclareceu o fato de não haver supermercado
no centro. É que fizeram uma lei que só permite abrir supermercado e outras
lojas grandes na periferia de Buenos Aires.
Diz que o Paraguai é bilingüe mas não é bem assim. Na
verdade não é bem o guarani a segunda língua do Paraguai mas o jupará (jopará em castelhano). Tinha noite que
meu pai dizia que fará um jupará. Pegava o resto do almoço e fazia uma
miscelânea pra jantar. Isso é jupará. Em lingüística é mistura de idiomas. Como
disse um erudito num livro que folheei lá: O espanhol chegou e, misturando com
a língua nativa, que não dominava direito estropiou o castelhano. O índio,
assimilando o castelhano, estropiou a sua.
Disse o lingüista hispano-paraguaio Bartomeu Meliá: No Paraguai não há bilingüismo mas
diglossia, porque há duas línguas que não se entendem e vivem em eterno
conflito que se nota em seus falantes.
Domingo Aguilera, investigador da cultura popular e narrador
bilingüe, arriscou afirmar em seus artículos publicados: Estamos ante una eventual terceira língua
no futuro do Paraguai, se continuarem assim as coisas entre ambos idiomas. O guarani
já não morrerá a curto nem a médio prazo, apesar de que como todas as línguas e
a coisas da vida, como o latim, um dia morrerá. No futuro a estrutura do
guarani mudará, tomará outro rumo, convergindo a outra língua. É uma hipótese das tantas que se
planteariam em torno da lingüística no Paraguai.
http://ea.com.py/v2/guarani-castellano-jopara-mbae-piko-naneeee/
Guarani, Castelhano, jupará: ¡Mbaê picô
nhanheê! (O quê realmente falamos!)
Considero o Paraguai bilingüe uma idéia muito romântica.
Como expus noutro texto, o guarani materno ajudou a descortinar, esclarecer,
muito dos topônimos brasileiros, dada a semelhança com o tupi. Mas a realidade
do idioma no Paraguai é uma maçaroça, resultando num híbrido que parece se
manter só por afeição. Como aconteceu no Vaticano, o papa publicar uma lista de
adaptação de neologismos, especialmente informáticos, ao latim, o guarani
entremeia termos castelhanos pra preencher lacunas nesses e noutros
neologismos.
A postura cultural-educacional pode estar equivocada, como a
reforma ortográfica do português, sem intercâmbio de publicação. O resultado é
um idioma híbrido que é uma esquisitice muito grande, com ortografia tão complicada
que nem o Tradukka e o Google tradutor teve coragem de encarar.
E olha que naqueles tradutores tem cada idioma da
arca-da-velha!
A paródia da frase cheiquespiriana To be or not to be, ser ou
não ser, carnavalizada, virando Tupi
ou não tupi:
Guarani ou
não guarani. Eis a questão!
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