quinta-feira, 5 de janeiro de 2017



Crônica assuncena
Capítulo 1
Música maravilhosa e lembrança de infância Macaco não olha o próprio rabo Voarias de latão? As duas Nhuguaçu O castelhano macarrônico das aeromoças Dom Quixote e seu escudeiro Chancho Pancho O ocaso do lago azul de Ipacaraí No país da sopa dura Como fiquei milionário no Paraguai Um sebo dusbão O mercado-de-pulga Guarani ou não guarani. Eis a questão!
Visitar Assunção tem um sabor especial não só por ser descendente e porque lá estive quando muito criança mas também porque o Paraguai é sui generis no continente. O país que tem o mapa em forma de pênis é a cultura mais original porque se formou com as reduções jesuíticas, integrando os índios, assim formando uma cultura única, muito diferente dos outros hispano-americanos, que a grosso modo não passam de divisão política artificial.
Tem o guarani como idioma também oficial (na verdade o jupará, uma mescla), rejeitando séculos de preconceito.
Paraguai, México e Brasil são os únicos ibero-americanos com música maravilhosa. Já pesquisei e recebi canções colombianas, peruanas, centro-americanas… Não tem. Me corrijam se eu estiver errado, mas não achei música tão bela e empolgante como as desses três. Na Argentina tem aquela coisa enjoativa que é o bolero, com letras bonitas mas mediano como o fado. Os índios flautistas peruanos, bonitinhas mas é só. As canções colombianas, sem-graça. No Chile tem umas harpas muito boas também, mas entre as cantadas também nada vi de tirar o chapéu. Não existe. Música empolgante, de beleza ímpar, só nesses três.
O guarani dá à canção um romantismo intenso, impossível de conseguir em português ou castelhano. Isso resulta numa beleza ímpar, inefável pra quem não conhece o guarani.
O Paraguai é muito estereotipado na visão do brasileiro, que imagina esse país vizinho só pelas duas zonas francas fronteiriças: Pedro João Cavalheiro e Cidade do Leste. É como um estrangeiro concebendo o Brasil conhecendo só Macapá, Porto Seguro ou Santa Vitória do Palmar.
A influência paraguaia em Mato Grosso do Sul é imensa: O delicioso tereré, a chipa, a sopa paraguaia e outras comidas típicas, o cancioneiro regional e as canções paraguaias, influência mais marcante na toponímia, mais guarani que tupi, como Ponta Porã (ponta bonita), Camapuã, (seio levantado) Caarapó (raiz de erva), Bataguassu (Corruptela de Bataguaçu, grande (guaçu) batá (uma espécie de árvore)), Bataiporã (rio dos batás bonitos. (batá + i = rio, água + porã = bonito. Erroneamente tido como Bata (nome do fundador) + água + bonita) Maracaju (água de maracá, barulhenta), Aquidauana (Segundo uns, no idioma guaicuru, rio estreito. Talvez corruptela de Aquidabã, que em tupi e guarani significa entre rios, terras férteis e aguadas. É nome dum rio paraguaio e duma cidade sergipana. http://www.emdec.com.br/hotsites/nossa_cidade/aquidaban.html)… Aqui também a bola-de-gude se chama bolita, e o que se chama impropriamente pipa ou papagaio aqui também é pandorga (castelhano volantín, também impropriamente cometa).
O brasileiro é muito ignorante e deveria ter vergonha na cara. Macaco não olha o próprio rabo, e não fazer piada de português quando aqui tem mais político ladrão, imprensa muito mais vagabunda e povo mais alienado que lá, e não associar tanto falsificação ao Paraguai, pois é no Brasil que os produtos são os piores, onde no supermercado tem muita comida-lixo e falsificação.
Quando estive em Assunção eu tinha quatro ou cinco anos, por isso pouco me lembro além de dormir ao relento sob calor infernal cum lençol. Me cobria e o calor apertava. Descobria e os mosquitos atacavam… Me lembro de ter ganho um casquinha sorvete de chocolate, que caiu ao chão e ganhei outro, dum guindaste de brinquedo numa vitrina, que eu queria e fiquei querendo, das perfeccionistas miniaturas de veículo Matchbox, que me encantavam, de meu chapéu-de-palha que voou na janela do ônibus rumo a Caacupé, onde mamãe foi pagar a promessa quando me salvei duma desidratação que me fez chorar 12 horas sem parar com seis meses de idade, de correr atrás das galinhas da casa da hospedeira.
Mas o deslumbre pra meus olhos de criança era ver, na estrada ou na cidade, os carros de modelos muito variados, pois como o Paraguai não fabrica, importa, e os ônibus, muito caracaxás, montados, com frente de camião, não a frente lisa como combe mas com capô.
Saí de nossa desmazelada Nhuguaçu, nossa famigerada Buracópolis em 24 de novembro.
Como se diz Buracópolis em guarani?
O parque Ñu Guazú (Campo Grande, em guarani) é uma área verde de 25ha, em Luque, cidade do departamento Central do Paraguai, próximo ao aeroporto internacional Silvio Pettirossi.
Fazer o quê? Mais um lugar com nome gente.
No vôo de volta o comandante anunciou estar chegando à belíssima Campo Grande. Bom, seu comandante, precisa muita imaginação pra chamar Campo Grande de belíssima. Bonitinha ainda vá lá, pois tem gosto pra tudo. Mas belíssima já e forçar demais.
Vôo da Latam, pois fundiram e a Lan com a Tam e chamaram Latam. Quem escolheu o nome devia levar uns cascudos. Vai ver que foi aquele comandante, achou o nome belíssimo. Eu, hem? Latão! Tudo a ver, pois nunca vi sacolejar tanto ao levantar vôo saindo de Nhuguaçu. Depois do caso da Chapecoense disseram que os aviões da latão estão muito sucateados.
Mas não é só por isso que experimentarei ir de ônibus na próxima, Cometa Amambay, pois o avião é cerca de 10 vezes mais caro, dando aquele desvio enorme pra fazer conexão em Sampa, além de ter mudança de aeroporto Congonhas–Guarulhos, com horário apertado, arriscando perder vôo. Na volta fui correndo, pois o embarque já andava. Não compensa, pois Assunção é perto de Nhuguaçu.
Já falei sobre as mensagens gravadas, que soam no aeroporto. A nota pitoresca é gravação avisando que no verão é quando o mosquito se prolifera mais. Proliferar é se reproduzir muito. Então se proliferar é se se reproduzir.
No embarque as mensagem de aviso, não gravadas, fazem ainda mais feio. Anunciam nos três idiomas. Quando em castelhano, um castelhano macarrônico, resultando um idioma híbrido. Diz seguranza em vez de seguridad. Existe, mas é vocábulo desusado. Uma vez eu disse seguranza e minha correspondente não entendeu. O ouvinte castelhano deve entender nada. Ainda mais que não sei por quê-diabos falam o mais rápido possível, como se fosse reza de criança. Ou seja, destinada a algum santo, não ao viajante. Além do quê, o sistema de som é muito ruim. Nalguns pontos é tão rouco que não dá pra entender mesmo com português claro. Teve uma que pronunciou montevídeo! Será que acha que a capital uruguaia se originou como zona franca de videocassete?
Na sala-de-embarque uma senhora se sentou ao lado, decerto vinda de Montevídeo, cum enorme coelho de pelúcia. Ligou à filha, avisando que chegaria depois das 22h. Vede só a barafunda que fez com Sancho Pança, escudeiro de dom Quixote:
— Filha, tô levando o Chancho Pancho. O nome tirei aquele do livro, Dom Quixote. Chancho Poncho, Pancho. É um urso-de-pelúcia enorme. Mas é um coelho…
Pobre Sancho Pança! Se reviraria no túmulo se não fosse personagem fictícia.
Muito educativo. A criança aprendeu muito… Deveria ser um porquinho, porque chancho é leitão em castelhano.
Existe um restaurante mexicano chamado Chancho Panza, que é um trocadilho, assim como em Florianópolis tem o Chico Toucinho, trocadilho com Roger Bacon. E outros trocadilhos como Torre de Pizza, Chopping Center
Algo que diferencia andar no meio duma multidão antigamente e hoje é que o pessoal de hoje anda feito zumbi, ao celular, sem sair da frente. O tanto de gente que poderia encostar na parede pra fuçar seu aparelhinho sem incomodar os que passam, mas não: Ficam no caminho, feito aqueles caipiras nos filmes de Mazarope, abobados no meio da rua. E no trânsito, idem, engarrafando tudo.
O primeiro hotel foi pesquisado no Decolar. Tive de cancela porque a hoteleira mandou recado dizendo que como eu chegaria às 23h e a casa fecha às 18h, não teria como me receber, que ali não é um hotel. Mas como? Se na busca do Decolar estava listando claramente com o título Hotéis!
Outra coisa que não quero mais é pousada. Tem de ser hotel hotel mesmo, senão a gente fica igual hospedado em casa de conhecido, só que pagando. Diz que é comum hoteleiro fingindo te tratar como alguém da família, tentando vender coisas, te mudar a quarto cheio de tranqueira, fazer passeio sem combinar preço antes, te mudar a um quarto entulhado e servir chipa amanhecida no desjejum. E muito mosquito.
No banheiro o cartaz de aviso em português é bem atrapalhado. Colocaram em castelhano, inglês e português um aviso pra não jogar papel, fralda, etc, no vaso sanitário. Em português puseram banheiro em vez de vaso, o que dá a entender que não é pra jogar essas coisas no chão. Mas nos outros dois idiomas fica claro que não é isso.
Quem não conhece aquela canção entoada até por Ângela Maria e Cauby Peixoto, Recuerdo de Ypacaraí (Lembrança de Ipacaraí)?
En una noche tibia nos conocimos
Junto al lago azul de Ypacaraí
Cantabas triste nel camino
Viejas melodías en guaraní
O lago e Ipacaraí está poluído. O lago mais famoso do Paraguai, mais famoso que o belo Danúbio, que também não é azul, tema dessa canção que é um clássico mundial, aonde os assuncenos iam se banhar, poluído. Quê tristeza!
Barracas de artesanato, um dono de barco quase implorando aos poucos turistas dar um passeio no lago. Ali perto um gigantesco hotel, que já hospedou muitas celebridades, abandonado e em ruína porque a poluição do lago quase acabou com o turismo cuja principal atração é o banho lacustre.
Também o parque nacional Ypacaraí, criado pelo decreto 5686/1990, está abandonado e em ruína. As trilhas, principalmente as que levam aos alagadiços ou ao espelho dágua, estão intransitáveis. A proteção é nula e os guardas florestais não têm recurso. http://www.abc.com.py/edicion-impresa/interior/parque-nacional-ypacarai-esta-abandonado-y-en-ruinas-1028982.html
O restaurante do hotel Los Alpes, em São Bernardino, é excelente. É de alemães. A colônia alemã ali é expressiva. Um bufê de almoço e sobremesa muito variados, e aceita em real. O preço é médio, cerca de R$40 por pessoa. Ali provei a sopa paraguaia, que é tão boa quanto a de Ramão.
Emiliana faz uma sopa paraguaia muito boa mas Ramão faz uma que até dona Mercedes, nossa vizinha paraguaia, a mais simpática do bairro, disse que nem no Paraguai é tão boa. Ramão contou que uma vez fez serviu esse prato a convidados, que se muniram de colher-de-sopa, pensando que era sopa mesmo. Recentemente experimentou a fazer recheada. Ficou sublime.
A sopa paraguaia vendida nas padarias e supermercados em Campo Grande são bem ruins em geral.
Diz que, segundo os critérios científicos, o vidro não é um sólido mas um líquido de alta viscosidade. Deve ser esse o caso da sopa paraguaia.
Pra quem não sabe, a sopa paraguaia não é sopa mas um bolo salgado. Só que um bolo muito especial. É como uma polenta, só que muito, muito melhor. Não é com fubá, que deixa muito seco, mas com farinha de milho ou milho-verde. Numa livraria vi um livro intitulado No país da sopa dura.
Eis a lenda da origem desse prato maravilhoso:
Os historiadores contam que dom Carlos Antonio López, presidente do Paraguai entre 1841 e 1862, gostava muito do tykuetï, sopa branca, elaborada com leite, queijo, ovo e farinha de milho, prato que era cotidianamente indispensável em sua mesa.
Um dia, por descuido, a machu, cozinheira, pôs na sopa mais farinha de milho que de costume, o que criou dois problemas: O  tykuetï já não era líquido mas pastoso. E não dava tempo de reiniciar a tarefa ou substituir o prato favorito.
Então, entre temor e engenho, decidiu pôr o preparado a um recipiente de ferro e o cozinhou no tatakua, buraco de fogo, com o qual obteve una sopa sólida. Quando chegou o momento de servir ao presidente, mui temerosa, explicou o sucedido e apresentou a fonte. Ao degustar, dom Carlos a achou tão saborosa, que imediatamente, a batizou como sopa paraguaia. Una variante dessa versão relata que nesse dia dom Carlos convidara embaixadores doutros países pra jantar. Como acontecera o relatado, apresentou o prato como sopa paraguaia.
Outra versão que alude à origem da sopa paraguaia diz que quando os espanhóis chegaram às terras guaranis os nativos os receberam com honra e ofereceram sua melhor comida para os acolher: Carne de caça. Quando acabou a provisão de carne, e verificando que os hóspedes continuavam com fome, os guaranis serviram a comida que habitualmente comiam, feita com farinha de milho ou de mandioca envolta em folha de bananeira, cozida em cinza quente, e dizendo A carne acabou, em guarani: Soô opá. Dali o vocábulo sopa.
Nessa página uma receita que leva ovo. A de Ramão não.
Sopa paraguaia de Ramão
● 5 espigas de milho-verde
● ½ copo de óleo
● 3 colheres (sopa) de manteiga
● 1 colher de fermento químico
● ½ litro de leite
● 1 polentina, milharina ou outro fubá pré-cozido (não usar fubá seco)
● 400g queijo muçarela ralado
● cebola a gosto
Misturar milho, óleo, leite, manteiga. Bater no liqüidificador. Acrescentar a polentina e o fermento.
Dourar a cebola com óleo.
Em fôrma média colocar uma camada da mistura, uma camada de cebola, uma camada de queijo, e a última camada queijo.
Assar a 180ºC durante cerca de 40 minutos.
Assunção se parece mais com Campo Grande ou com Campinas. Uma campo grande com asfalto melhor e uma campinas com gente muito mais simpática. Ramão disse que o asfalto rodoviário é um tapete liso. O ônibus nem chacoalha. Melhor que qualquer asfalto brasileiro. Mas o melhor que tem no país, mesmo na capital, é a segurança. Em Assunção se pode passear sossegado. Basta dizer que o Paraguai é o terceiro país com menor índice de violência na América Latina.
Nas livrarias de livro novo muitos livros interessantes em todos os gêneros, contrastando com as brasileiras, que só têm bestséler. Os sebos é que não são barateiros, pois encontrei muitos que tinham também nas de novo, com o mesmo preço. A La plaza, Antequera com Marechal Estigarribia, é um pequeno sebo e papelaria. Não aceita real nem dólar. Fui trocar na casa de câmbio. Ali fiquei milionário: 1 milhão de guaranis.
Já a San Cayetano, Herrera com Estados-Unidos, é um sebo pra valer, com mesas de promoção a 10.000 guaranis (R$ 6). Muita poeira e traça, livros em todos os estágios de conservação. Faz tempo que não entrava num desse. Daqueles sebos onde se passa o dia inteiro, pondo tudo a baixo e se fica sujo feito limpador de chaminé.
Muitos livros sobre a guerra do Paraguai e contestando a usina de Itaipu. Na próxima ida me centrarei nesses aspectos históricos, pra ter a visão do outro lado. Além de perguntar o quê se pode comprar com 1 guarani. Hehehehe.
O mercado-de-pulga, na rua Eusebio Lillo Robles, domingo, é uma pequena feira na calçada, com livro, objetos de antigüidade, brinquedos, moedas e cédulas antigas e muitas coisas curiosas. No chão uma caixa cheia de bolas pretas. Pensei nas tradicionais bolitas, bolas-de-gude, mas eram balas de chumbo ou ferro usadas na guerra do Paraguai.
Um bom restaurante, indicado pelo hoteleiro e pelo sebista do La plaza é o bar San Roque, Eligio Ayala 796 com Tacuarí. Mas não te assustes com o aspecto de restaurante grã-fino. O preço é bom e o cardápio também.
A pitsaria Romana, Tenente Vera com Capitão Denis Roa 2737, vila Aurelia, é ótima. Brinquei com a atendente:
— Primeiro tenho de experimentar todos os sabores, pra escolher um.
O cardápio é vasto.
Bolsi, Estrella 399, com Alberdi, é outro bom restaurante. Com dois ambientes, um restaurante e outro lanchonete. É muito concorrido mas chegando cedo tem lugar. Boas opções de cerveja. Boa sobremesa. Recomendo a torta do czar.
Tem vários grandes supermercados. Quando teve uma chuva persistente teve um, que fica numa parte baixa, fechou no meio da tarde porque teve área inundada. Muitos bairros inundados, ruas que viraram riacho. Muitas ruas são calçadas com pedra, não paralelepípedo mas pedaços menores e irregulares, por isso mais permeáveis e inundação não tão severa. Muitas árvores caídas e muros desabados.
O hoteleiro faz um tur às cataratas do Iguaçu. A viagem dura 5 horas. Contou que chega turista de toda parte, no momento uma turma do Panamá. Dizem que não tem atração como as cataratas. Contou que um hóspede romano disse que as melhores pitsas são as de São Paulo, que são muito melhores que as de Roma.
A maioria dos hóspedes é argentina. Muitos vão de carro. É comum ver carro com placa argentina. Não vi placa brasileira. A mãe do hoteleiro disse que não gosta de atender argentinos, Son malos!, prefere os brasileiros. Que os paraguaios têm mais afinidade com os brasileiros porque quando acabou a guerra o Paraguai ficou quase sem homem. Só sobrou criança pequena porque até os maiorzinhos morreram. Então a ordem era procriar. Crescei e vos multiplicai! Mesmo porque um forte contingente ficou pra garantir a segurança e evitar a Argentina anexar o país. Falando com o hoteleiro, de como são bonitas as assuncenas. Parecem as bogotanas. Muito mais bonitas que as buenairenses y montevideanas. Disse que as argentinas são secas de corpo. Que a mulher argentina é muito malvada. Sempre tenta dominar o homem. Falando isso a um casal argentino, ela disse que não é bem assim. Depois eu disse:
— Se não é bem assim, é porque é. Confessou!
Cheguei à conclusão que a grande diferença entre o argentino e o chileno é que ninguém gosta de argentino e chileno gosta de ninguém.
A canção de Luis Alberto del Paraná & Los Paraguayos, Flor de Pilar, canta a beleza da mulher de cada região paraguaia, pondo acima a pilarense, espécie de fora-de-concurso, como Wilza Carla e Clóvis Bornay. É a garota-de-ipanema deles. Uma estrofe fala da pele branquinha das assuncenas: Linda asuncena, blanca azucena parecerá.
Estava divertida essa reunião. A mãe do hoteleiro contava anedotas sobre a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, la Barbie, a boneca Barbie, como a apelidaram. Mas enfim o argentino esclareceu o fato de não haver supermercado no centro. É que fizeram uma lei que só permite abrir supermercado e outras lojas grandes na periferia de Buenos Aires.
Diz que o Paraguai é bilingüe mas não é bem assim. Na verdade não é bem o guarani a segunda língua do Paraguai mas o jupará (jopará em castelhano). Tinha noite que meu pai dizia que fará um jupará. Pegava o resto do almoço e fazia uma miscelânea pra jantar. Isso é jupará. Em lingüística é mistura de idiomas. Como disse um erudito num livro que folheei lá: O espanhol chegou e, misturando com a língua nativa, que não dominava direito estropiou o castelhano. O índio, assimilando o castelhano, estropiou a sua.
Disse o lingüista hispano-paraguaio Bartomeu Meliá: No Paraguai não há bilingüismo mas diglossia, porque há duas línguas que não se entendem e vivem em eterno conflito que se nota em seus falantes.
Domingo Aguilera, investigador da cultura popular e narrador bilingüe, arriscou afirmar em seus artículos publicados: Estamos ante una eventual terceira língua no futuro do Paraguai, se continuarem assim as coisas entre ambos idiomas. O guarani já não morrerá a curto nem a médio prazo, apesar de que como todas as línguas e a coisas da vida, como o latim, um dia morrerá.  No futuro a estrutura do guarani mudará, tomará outro rumo, convergindo a outra língua. É uma hipótese das tantas que se planteariam em torno da lingüística no Paraguai.
http://ea.com.py/v2/guarani-castellano-jopara-mbae-piko-naneeee/ Guarani, Castelhano, jupará: ¡Mbaê picô nhanheê! (O quê realmente falamos!)
Considero o Paraguai bilingüe uma idéia muito romântica. Como expus noutro texto, o guarani materno ajudou a descortinar, esclarecer, muito dos topônimos brasileiros, dada a semelhança com o tupi. Mas a realidade do idioma no Paraguai é uma maçaroça, resultando num híbrido que parece se manter só por afeição. Como aconteceu no Vaticano, o papa publicar uma lista de adaptação de neologismos, especialmente informáticos, ao latim, o guarani entremeia termos castelhanos pra preencher lacunas nesses e noutros neologismos.
A postura cultural-educacional pode estar equivocada, como a reforma ortográfica do português, sem intercâmbio de publicação. O resultado é um idioma híbrido que é uma esquisitice muito grande, com ortografia tão complicada que nem o Tradukka e o Google tradutor teve coragem de encarar.
E olha que naqueles tradutores tem cada idioma da arca-da-velha!
A paródia da frase cheiquespiriana To be or not to be, ser ou não ser, carnavalizada, virando Tupi ou não tupi:
Guarani ou não guarani. Eis a questão!


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