sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Crônica cartageneira

Um quadro rente ao elevador, no 10º andar do Stil Cartagena
Turista, é assim que Cartagena te vê
Uma imagem vale por mil palavras
Crônica cartageneira
Os piratas continuam lá
De volta ao país do cata-vento O samba do crioulo doido, o mariache louco e a aeromáfia Uma aventura horripilante A aprazível Monteria Pavor a teco-teco Caribe esquisito A balconista com português macarrônico A terra do assédio comercial Isso é lá com a Quatro rodas! O pior almoço do mundo O almoço do recruta Zero e a turismáfia Cervejas assombradas Um restaurante sem cardápio Açúcar-mascavo não é açúcar? Implicância, complicância e replicância na reta final ou Aeronauta se não complica na entrada implica na saída Colômbia assombrada
Quando fui a Bogotá, Joanco perguntou sobre Cartagena das Índias, onde dona Sueli sonha conhecer. O de Joanco era o faroeste norte-americano, ver o cenário real dos cenários de Hopalong Cassidy e tantos outros ases do bangue-bangue, percorrendo a famosa rota leste-oeste. Então ficou pendente conhecer esses pontos mais exóticos, especialmente o caribe colombiano. Ficou pro final de 2017, ressabiado com dólar acaba-não-acaba e inseguranças mil quanto à situação mundial.
Pra final de novembro a cotação da passagem aérea direta a Cartagena já estava o olho-da-cara, e doravante só pioraria. Então pesquisei cidades próximas, pra dali fazer viagem aérea local rumo a Cartagena. A única que deu resultado econômico foi a obscura Monteria. Carlos Molina, de Medelim, perguntou o quê eu faria em Monteria. Passear ali um dia na ida e outro na volta.
Havia pouco a Colômbia passou a exigir certificado de vacinação contra a febre-amarela. Como tenho um comprovante de vacinação anti-febre-amarela de 1992, rapidinho a Anvisa do aeroporto fez uma carteirinha de validade perpétua, uma semana antes da viagem. Disse que é a única vacina exigida por algum país.
A saída foi enrolada, pois a tinta de minha carteira de identidade apodreceu e vazou, deixando a foto meio borrada. Sem tempo de fazer outra, tinha de ir assim mesmo, com a de motorista como auxiliar. Dava pra ver que era eu, mas os caras da Avionça consultaram aqui e ali até confirmar se daria pra ir. E cobraram uns 250 só porque as malas eram três objetos. Eu já estava na área de embarque e um funcionário foi me buscar, avisando que o valor estava errado, que não foi cobrado como vôo internacional. Tive de passar na turma do raio-x de novo. Na volta fiquei esperto e pus o máximo como bagagem-de-mão.
Por falar em carteira, há pouco fiz a biometria da carteira-de-eleitor. Não sei pra quê inventaram isso agora. Como se já não bastasse jogar ao lixo rios de dinheiro nessa farsa que é a democracia. Puseram soldados do exército pra atender. Como já está perto de sair a carteira-de-identidade com chipe, por quê não unificam tudo, identidade, cepeefe, eleitor, etc, numa carteira?
E como rouba descaradamente essa máfia do transporte aéreo! Está sempre inventando modo de cobrar mais, faz gato-e-sapato do viajante, pinta-e-borda no regulamento, as regras sobre bagagem e vistoria do raio-x mais parecem a casa da mãe Joana ao som do samba do crioulo doido e do mariache louco e na dança-de-são-vito, e a ninguém tem de prestar conta. Foi pra isso que sucatearam a ferrovia.
Como é ruim o sistema de som dos aeroportos. Tem vez que soa um aviso nas portas-de-embarque, mas como rádio mal sintonizado, que não dá pra entender. Se for aviso crucial, cruz-credo! Já-era! E depois ouvir as instruções de emergência, que ninguém liga nem se lembra. E reouvir tudo em inglês, warl werl wirl worl wurl! Ô língua irritante e feia. Só podia mesmo ser língua de pirata. E quanto tem vídeo na traseira da poltrona da frente, na opção mapa-de-vôo. Antes se seleciona o idioma. Mas os dados de vôo, velocidade, altura, tempo, hora… são apresentados alternados em castelhano, português e inglês. Então pra quê mandou escolher o idioma antes? Mais um programador que devia levar uns cascudos.
Toda vez ter de ver e ouvir todas aquelas tediosas instruções. Deveria ter uma forma de quem já viu, ser dispensado de ver. O que se deveria fazer é a cada vôo os aeronautas, e até os donos da empresa, ter de ver um vídeo completo sobre como não transgredir os direitos do consumidor, sobre como atender aos passageiros em caso de emergência como vôo cancelado ou atrasado, por exemplo.
Na chegada a Bogotá, pleno domingo, o cartão de débito internacional não funcionou. Não era esquecer a senha, como já aconteceu por causa de regime muito drástico pra viajar magro e leve.
O quê farias ao chegar ao estrangeiro e não conseguir sacar? Voltar imediatamente? Como? Se nem dá pra pegar táxi! Disseram que o real não é trocado lá, e que o dólar acabará a qualquer momento. Disseram que o dólar acabaria em 18.10 e acreditaste. E a bagagem foi direto, apesar do velho critério de que vôo no dia seguinte bagagem na esteira. Recorrendo ao balcão-de-informação, ver se havia outro caixa, mas a má-vontade é implacável. Também na loja da Avianca, perguntando se alguém informaria como sair da sinuca, nem pensar! Não era ali, e ponto-final. Cada um só quer cumprir sua função, e nada de pensar. Pensar é só pra intelectual.
Um pesadelo cafquiano num cenário dantesco resultando numa encrenca rabelaisiana, quase fortiana. Me sentia uma espécie de homem de Taurede. Um enredo de deixar Poe, Lovecraft e Hitchcock no chinelo. Tudo isso requereria uma cherloquiana solução. Nem dá pra vender a roupa da mala porque foi direto. Se ao menos eu fosse extrovertido (Dizem que o vocábulo correto é extravertido). Virar mendigo, lavar prato, virar artista-de-rua, quero dizer, -de-aeroporto, e arrecadar moeda, rodar bolsinha, ir a um posto policial pedir socorro à embaixada? E a paranóia de ser atendido com a indiferença absoluta do balcão informativo e da loja da Avionça, no estilo da fria indiferença psicopata dos plantões noturnos de pronto-socorro!
Terei coragem de visitar a China? Ai!…
Mas como as armas ocultas de 007 ou do agente 86, a bolsa de Esquálidus, o cinturão de Batman ou o manual dos escoteiros-mirins, em reviravolta espetacular, tirei uma carta da manga, ou melhor, um cartão do bolso. A salvação! Saquei o e com o cartão-de-crédito e corri ao hotel San Simon, só pra passar a noite. O certo é só pagar o taxista após entrar ao hotel e confirmar no balcão se a corrida cobrada é justa. Esse hotel recomendo muito. Quê sorte que é um hotel bom e com tripulação super atenciosa, pois com a internete do balconista imediatamente fiz o aviso de viagem no sítio Bradesco cartão, que esqueci de fazer antes de embarcar, senão ao constatar movimento no estrangeiro o cartão seria bloqueado. Por sorte o balconista teve boa-vontade em instalar o programinha de segurança requerido, e assim pude acessar.
Sem trocar de roupa mas sem o peso da bagagem, passei uma repousante noite. Lá o tempo parece passar mais lento. Pensando quase amanhecer, uma olhada no relógio, 1h da madrugada. No final da madrugada segui ao aeroporto, no táxi do hotel, a Monteria. Bom assim, o hotel com transporte próprio. Menos chance de taxista careiro.
A sala da esteira do pequeno aeroporto de Monteria tem um sofá no centro e táxi diante da porta.
Pensei que o nome se devia a morros, montes, mas a cidade é toda plana. Monteria, a pérola do [rio] Sinu, é a capital pecuária da Colômbia. Segundo a Uiquipédia, quanto à origem do nome da cidade existe documentação sobre um lugar denominado paragem das Monterias, que chamam de Boavista em memória ao primeiro povoado levantado no lugar das Monterias, chamado assim por ser o ponto de reunião dos monteiros que caçavam no arredor. A palavra é de origem espanhola, porque o vocábulo montería era usado genericamente pelos espanhóis pra apontar os pontos de caça.
Pacata e agradável cidade de calor abrasador. No pequeno hotel River city situado no centro, perto de tudo, parece se estar hospedado em casa de amigos. O desjejum a cozinheira prepara na hora com ovo mexido, pão-de-fôrma, uma fatia de banana-da-terra frita, outra de mandioca frita e outra de queijo-coalho, ao lado um potinho de coalhada, que não sei por quê chamam de suero, soro, e um copo de suco de tomate-arbóreo, que pensei que fosse de melão.
Uma quadra à direita uma praça com bancas de livro e artesanato. Na volta, um sábado, muitas bancas sendo montadas prum espetáculo noturno. Os vendedores ali são normais. Nada a ver com o espantoso assédio que é a marca-registrada de Cartagena. As ruas não são esburacadas e remendadas como nossa capital pecuária. Talvez algum dia encontre uma cidade com as ruas como as de Campo Grande. Nas bancas muito mosquito mas o pessoal parece que nem liga. Estranho, já que a Colômbia passou a exigir vacina anti-febre-amarela pra entrar no país. Casa de ferreiro, espeto de pau. Na praça vi várias iguanas em roda da comida que o pessoal jogou.
Ali terminava a viagem de ida na Avionça. No dia seguinte segui a Cartagena das Índias num vôo da Easyfly, que atrasou muito. Tive receio de viajar naquela avioneta, quase um teco-teco.
Me fez lembrar de meu primeiro cunhado, que era gerente regional da Cheque-cardápio, cuja sede regional é em Campo Grande e não em Brasília. Foi nos anos 1990. Preste a embarcar a Brasília cismou e disse:
— Eu é que não embarcarei nesse teco-teco. Esses trecos vivem caindo.
O colega que o acompanhava disse:
— Mas quê bobeira. Nada a ver. Então irei sozinho.
Mas pra não o desacompanhar, acabou não indo. No dia seguinte souberam que o teco-teco no qual quase embarcaram caiu e morreu todo mundo.
Na sala da esteira-de-bagagem do aeroporto de Cartagena uma prévia do assédio comercial típico da cultura local: Os carrinhos não ficam disponíveis pra pegar, como em geral, nem custam 2 dólares, como em Bogotá, mas tem um motorista de prontidão. Basta sacar a mala e o sujeito chega pra levar ao táxi. Então é só dar uma gorjeta.
Quando pesquisei na internete os comentários sobre os hotéis, tive de me contentar com o com queixas mais leves, em evitar os com queixa de vazamento que ninguém consertava, etc. Não tem hotel sem queixa. Mas o mais estranho é a precariedade de livraria, principalmente de sebo, em Cartagena, Barranquilha e Santa Marta. Barranquilha, que é a segunda maior cidade da Colômbia, praticamente só tem livrarias cristãs! O caribe colombiano é uma região muito esquisita, mesmo.
O taxista achou que eu deveria ficar em Bocagrande, que é a região chique, com praia, que os que conhecem Maiame dizem que é muito parecida. Maiame, Nova Iorque são nomes me repugnam em vez de atrair. Como vi depois, fiquei no melhor lugar.
A balconista do hotel Stil Cartagena (Mas o quê, diabos!, é stil? Decerto falam inglês macarrônico) falava um castelhano estranho. Imaginei que fosse jamaicana ou doutro país de língua inglesa, afinal ali é Caribe, quem ainda não falava castelhano direito. Mas no final, quando respondi, disse Pero hablas! Então entendi. Em sua imaginação falava português, mas um português macarrônico.
Deixei as malas no porque ainda não dava a hora do chequim, e com o mesmo taxista, que também é guia turístico, fui percorrer a cidade, um tur, como se diz. Fiquei meio ressabiado em passear assim de cara com o táxi de vinda do aeroporto, mas acertei na mosca. Enquanto os passeios do hotel é que são duvidosos, como veremos.
Sol abrasador, calor tropical, mormaço dos diabos, canícula infernal. Começando com visita a um forte na muralha. Na entrada os vendedores de chapéu e água assediando, que é preciso comprar água, que tem de comprar chapéu. Uma subida muito íngreme. Fiquei imaginando a dura vida dos soldados no forte. Subir aquilo já é um sufoco, imagines carregando peso! Não é de admirar que viviam pouco. Eu, hem!? Esse negócio de visitar Macho-Picho e outros passeios atléticos não é comigo, não! Dei uma olhada aqui e ali, na paisagem, e caí fora.
As vielas do centro histórico são mesmo estreitas. Só cabe um carro. Sorte que poucos passam. Na rua muitos carrinhos com fruta, o típico queijo coalho, salgadinho e água-de-coco, que lá é muito caro, 4000 pesos o coco, cerca de R$4. Mas é coco pequeno e maduro. Em Campo Grande o coco na rua está a R$5, no nordeste de R$0,5 a R$3, mas são cocos grandes e verdes, com muita água, a encher a barriga. A castanha é formada pela água, quando madura, por isso coco maduro tem menos água. O coco de lá, chupa um pouquinho, e já acabou. Caríssimo o coco lá. E não compres o que vendem num saquinho plástico, daqueles de fazer chupa-chupa. É um sufoco sugar aquilo, e no fim fica o gosto de plástico.
Um ponto turístico principal é visitar o convento da Popa. Do alto se vê toda a cidade. Mas não pegues o guia, porque fala sem parar, não te deixa nem dar uma olhada, ler os escritos nas fachadas e monumentos, te guia, patati-patatá, pumpumpum, blablablá, e pronto, já estás na saída.
Toda a área do centro histórico é apinhada de gente, um formigueiro. Mas é diferente. Em São Paulo, Buenos Aires, Bogotá, quando se anda no meio da multidão, parece gente, o pessoal interage, desvia, pára. Ali não. Parecem bicho. Andam como zumbis. Ninguém desvia nem sai da frente. E se parar pra alguém passar, parece que ficam estupefatos.
No final me levou ao restaurante Casa de socorro, que disse ser o melhor, e que um turista nos dias seguintes não queria mais comer noutro lugar. Esse restaurante é estupendo, comida deliciosa. Lagosta num pote de barro com molho espetacular. Depois entendi por quê o tal turista não quis mais comer noutro lugar. É que no geral a comida local é uma droga. Quase tudo sem sal nem outro tempero. A qualidade não é uma marca local. Num restaurante ao ar livre, na praça Santo Domingo, um sortido de fruto-do-mar que não diria ruim, mas quase insosso. Estava mais pra bucho sem tempero que pra fruto-do-mar. E os vendedores assediando o tempo todo, enfiando na cara chapéu, desenho, penduricalho e bijuteria, etc. Quem não suporta assédio de vendedor, não vá a Cartagena das Índias. Talvez haja mais restaurante bom, mas perdi a gana de experimentar. Eis uma tarefa pro pessoal da Quatro rodas!
No caixa duma papelaria um cartaz dizendo que o ambiente é monitorado com câmeras diretamente ligadas à polícia. Claro que o diretamente ligado à polícia é tão mentiroso quanto nosso famigerado estacionamento, pra cliente, sujeito a guincho. O que me fez lembrar de nossa cerca elétrica, que dispara alarme quando tocada. Uma vez um eletricista contou que esse tal alarme que aciona imediatamente a equipe de segurança da firma instaladora não é bem assim. Como esses vigilantes não podem usar arma, vão bem devagar, dando tempo pro ladrão fugir.
O assédio comercial é uma marca-registrada da cultura local no Caribe colombiano. Não é assim em Bogotá, Medelim nem Monteria. Coisa desagradável assim só conhecia dos meninos vendedores de pequenos objetos utilitários no lado paraguaio da fronteira, Pedro João, atravessando a rua de Ponta Porã, os vendedores de fruta do mercadão de São Paulo e os funcionários dos restaurantes de Maceió na crise de 1999. Só que muito pior. Somar tudo e elevar ao quadrado! O vendedor de chapéu se aproxima e soca um em tua cabeça! E insistem até a quem está de chapéu!
Dando a volta atrás do hotel tem uma praça em cuja lateral se enfileiram muitas bancas-de-livro. Não se consegue olhar com tranqüilidade. Só de passar na frente o vendedor já te aborda. Teve um que largou o almoço pra me assediar. Tento olhar em geral, e o vendedor fica mostrando um e outro em minha cara. Me põe pra olhar na lateral da banca, e logo me puxa à outra lateral. E dá-lhe sugerir livro sem parar. A coisa é compulsiva. E isso em todas as bancas! Até parece que tem escola pra isso lá. Aquilo me deu tanta ojeriza, que já não queria mais voltar àli.
Outra estranheza é que nenhuma banca tem gibi. Só numas bem minúsculas, mas só Condorito, que também encontrei no supermercado Éxito.
No cartão do taxista:
Yesid Montt Aguilar
Conductor profesional
Servicio de taxi turístico con aire condicionado
Viaje a cualquier lugar
Asociación de taxi aeropuerto
Cel.: 301 5808717
Cartagena de Indias, Colombia
Numa manhã fui a Bocagrande, a tal a maiame local. Não sei o quê tem de chique ali. Talvez só os hotéis. Só se for um chique de ouropel. A água já não é lá flor-que-se-cheire. Deve ser turismo pseudochique pra novorrico ignorante freqüentador de xópim e comedor de macdônal. Mas pra quê se hospedar na frente da praia? Se fôssemos imunes a insolação, tudo bem. Mal dá pra tomar dois banhos marinhos numa semana, ainda mais eu sendo mais branco que pão integral de supermercado. Mal comecei a passear na areia e já despontaram dois sujeitos se oferecendo pra guardar a sacola. Eu guardar minhas coisas com esses sujeitos!? Nem pensar! Consegui me desvencilhar dos tipos, e apareceu uma negra jovem oferecendo massagem. Foi forçando, forçando, pegou minha mão e passou um líquido dum tubo, e foi forçando a tal massagem, com clichês de que estou estressado, tenso, aquela conversa toda. A colega estendeu uma cadeira dobrável e queria me fazer sentar ali a todo custo. Não me sentei. Uma mulher passou dizendo que aquilo custa depois o olho-da-cara. Dei uma moedas, atravessei a rua e vi que só havia pequenos xópins. Olhei um, que era uma droga. Da rua via a torre do Relógio, o ponto de referência-mor da cidade. Me mantive naquele lado da rua, porque no outro não dava pra passear sem ser importunado. Andando voltei ao centro histórico.
Outro assédio foi quando parei pra ver uns livros expostos na calçada. Comprei um. Então entrou de raspão uma mulata nova, magra, de camiseta azul parecendo do instituto mirim, dizendo, festiva como se encontrando antigo conhecido. Arrepiei. Como teria alguém conhecido naquele fim-de-mundo? Caramba! A coisa ali é barra-pesada mesmo! A guria pegou o livro, disse que escrevia também. O vendedor foi buscar troco. Guardei o livro. Pediu de volta, pois não olhara tudo. Olhou mais. Perguntou se podíamos ir a um canto pra conversar. Pensei em dizer que estou num simpósio da polícia internacional, se não quer ir ver como é. Mas melhor não. Vai que, como aqui, onde os bandidos gostam de matar policial. Eu disse que tinha de ir, pois já estava atrasado. Fui.
O hotel tem dez andares. Freqüentemente um dos dois elevadores ficava abrindo e fechando a porta, como se recusando a se mover. Vai ver que não gosta de carregar pobre. Tem uma grande sala de desjejum, que não digo que seja má, mas que pra hotel daquele porte em local tão famoso, é sofrível. Só num dia teve fila, mas bem que poderiam pôr o talher de servir em ambos lados da mesa, em vez dum. Mamão, abacaxi e melancia em pedaço, pães e bolachas, queijo coalho, salame, um míni-embalado (aqueles de avião) de manteiga e outro de geléia, leite, cereal, dois tipos de lingüiça alternados nos dias, às vezes ovo cozido (com casca!). O que tinha todo dia era um panelão com ovo mexido sem sal. Um jarro com suco de fruta e outro do mesmo mas sem açúcar. Mas não existe adoçante. Uma chopeira com água quente (pros envelopes de chá) e outra com café, mas um café-carvão, deste brasileiro de sétima qualidade, muito ruim.
A única fruta diferente que encontrei lá foi o pomelo, mas diferente do que tenho no quintal e que é comum no Paraguai, onde é chamado greifo (corruptela de grapefruit) e que se confunde com a toranja. O pomelo de lá tem a forma de cabaça, como uma gota dágua ou certos abacates. É tão grande quanto o outro. O daqui é cheio de semente, polpa verde-água, levemente azedo e levemente amargo. O de lá não tem semente, é doce, quase lima, e amarelado levemente esverdeado. O abacaxi é a mesma variedade havaí daqui. Tive de comprar uma faquinha descascadora porque quando pedi um prato, um copo, uma faca, um garfo e uma colher, a balconista disse que não tem. Recebi só um copo descartável. Imagines! Não tem cabimento um hotel daquele porte dar tal resposta.
Na rua também muito vendedor de limonada e laranjada. São carrinhos levando um aquário quadrado, de vidro, com o suco e muito gelo. Seria uma boa naquele calor, se não fosse açucarado. E panelões com arroz bem amarelo decorado com lagosta. Uma coisa inacreditável é na calçada enormes bueiros quadrados abertos, faltando a laje.
A única coisa que lá é melhor é que em Bogotá muitos lugares, inclusive restaurantes sempre lotados, só aceitam dinheiro, enquanto em Cartagena nenhum recusou cartão.
Todo prato vem acompanhado de mandioca frita e banana-da-terra amassada em forma de disco e frita. Só que parece ser banana de supermercado, madurada forçado, porque não tem gosto. E como em nada põem sal. E de arroz-de-coco, que é o mais típico dali, um arroz cozido com coco, que fica da cor de arroz-carreteiro mas que ressalta bem o sabor de coco. Diz que é uma tradição muito contestada por causa da polêmica em torno do uso de azeite de coco pra cozinhar.
Mas a pior comida de minha vida foi numa esticadinha a Santa Marta, outra cidade turística que não merece a fama. Camarão em pote de barro numa sopa amarela insossa. Se põe sal mas não conserta. O camarão parece que foi cozido dez vezes em água pura, sem sal nem outro tempero. E um copo com chá, com certeza artificial, que só provei. No fim a incômoda sensação de ter comido algo que não é comida, de modo que não tive vontade de almoçar no dia seguinte.
Um dos passeios vendidos pelo hotel é às ilhas do Rosário, ilhas particulares. Escolhi o que seria o melhor segundo a balconista, mais indicado pra quem viaja só: A ilha do Encanto. Na manhã apareceu o guia, um tal não-sei-quê Valêncio, que se diz especialista em mergulho, com atraso de meia hora. Já não gostei do jeito do cara. Moreninho magrela, óculo escuro, tipo homem-de-negro de disco voador, parece irmão gêmeo dum porteiro da saída do Mercadão de Buracópolis, que briga com todo mundo, que eu e Ramão apelidamos Rambinho. Já começou errado porque não foi avisado que o valor do imposto seria na hora e em dinheiro. Numa van, recolhendo mais alguns, a partida da lancha, que batia muito feito jipe correndo em terreno esburacado. Como já estou acostumado à buraqueira de Campo Grande não deveria estranhar, mas é que não sou fitipáldi como os malucos daqui. Vez e outra um borrifo dava um banho no pessoal. Felizmente não era esse o anunciado banho marinho do pacote. O guia que na lancha se anunciou ao pessoal é um tal William. Na hora de atracar a água estava agitada, balançando muito a lancha, por isso decidiram atracar no outro lado da ilha, onde tem uma enseada tranqüila. Dali faríamos uma caminhada ecológica. Não creio que se possa chamar ecológica uma caminhada atravessando trechos alagados de água suja e muito lixo. Os tais donos particulares se esqueceram de que em caso de muita ondulação o pessoal atracaria no cais reserva, por isso seria melhor não limpar só a entrada principal.
Pensas que formamos uma turma unida sob os olhos do guia? Nada disso! O guia sumiu. Fiquei ali como se apenas comprasse passagem. Ali tem um oceanário. Na lancha foi avisado que o almoço começa 11h e que uma sirena tocaria pra avisar que o oceanário abriu. Não me interessei, apenas fiquei tomando banho marinho, que larguei só pra almoçar. Não ouvi sirena. O restaurante formava fila. Não era grande mas muito lenta porque o sistema é de quartel. O prato numa bandeja. Cada funcionário segura uma colherona e serve ao prato. Idêntico ao do gibi do recruta Zero. E a qualidade da comida também como a do cozinheiro Cuca. Primeiro uma série de saladas num prato menor, optando ou um pouco de todas. Depois uma colherada de posta de peixe, fatia de bife, macarrão, a inevitável dupla banana frita e arroz com coco. O tal típico fica só por conta do arroz com coco e banana frita. Muito restrito e muito pobre. Em último a mesa onde se tem direito a optar: Um refrigerante ou água. Sem cerveja, suco, água-de-coco ou mais água. Não tem garção. Se quiser cerveja tem de ir ao bar, noutro lado.
E sou soldado pra comer racionado!?
Depois dessa tremenda desilusão voltei ao banho marinho e só não fiquei abandonado na água porque no fim da tarde desconfiei do movimento no cais e fui verificar. Tive de perguntar o nome do guia pra saber que a lancha já estava quase saindo.
Na volta não era van mas um ônibus. Estava ali o tal Valêncio. O pessoal foi descendo em cada hotel. Mas só entregam nos hotéis de Bocagrande, que é onde o pessoal cismou que é bairro chique. Não sei o quê tem de chique ali. Só porque fica diante duma praia que não é muito confiável pra se banhar? Ou porque os hotéis são luxuosos? Quê mente pervertida acha o hóspede dali mais gente que o do centro histórico?
Se aproximando ao hotel Cartagena Plaza o tal Valêncio quis me induzir a descer ali. Eu disse que não era esse, e sim Stil Cartagena. Se fez de bobo. Quando parou continuou se fazendo de desentendido e tentou me induzir a descer ali. Olhei em firme na cara de Rambinho II e repeti: Não é Cartagena Plaza. É Stil Cartagena! Então disse que só entregam em Bocagrande. Que eu teria de tomar um táxi.
Ou seja: Antes de pagar buscam. Quem já pagou, que se vire!
Isso me fez lembrar quando fui a Natal, em 1997, via Time tour. Pago a vista. O pacote previa uma espera de dia inteiro em Guarulhos. Fiquei em vão aguardando aparecer uma vaga com menor espera. Num passeio uma família do interior contou que estava nessa longa espera mas que apareceu uma mais curta. Perguntei como pagou o pacote. A prazo. A primeira parcela na volta. Nunca mais viajei na Time tour nem paguei antecipado.
No dia seguinte fui ao posto policial responsável por reclamação turística. Era evidente a má-vontade, apesar do simpático atendimento. Pra registrar contra o passeio, só se não foi cumprido. Insisti pra registrar a denúncia, mesmo sem ação, pra constar. Passou no alto, ouvidos moucos. Fomos ver a moça responsável pelo passeio à ilha. Jogaram a culpa na balconista do hotel, quem vendeu o passeio, por não avisar que na volta o cliente não será entregue a hotel fora de Bocagrande. Que teria de falar com a administradora do hotel.
Pra quem não nasceu ontem, deu pra perceber que é uma máfia. O policial pobre-diabo, nada podia fazer, pois estava nas mãos deles. Não adiantaria argumentar. Um taxista disse que nos contratos de passeio não aparece o nome ilha do Encanto. Se escondem sob outros nomes.
Também não adiantaria falar com o hotel, mas a indignação ficou alfinetando. No hotel a administradora nunca estava. Um dia chegaria às 9h, noutro dia 10h. Noutro chamariam no quarto quando terminasse de atender quem entrou à sala. Nada.
Com tudo isso, nada de passeio de pacote mais. E Caribe colombiano, nunca mais. Cartagena é estritamente indicada aos amantes de prédios históricos.
Cartagena é cheia de brasileiro. Almoçando na praça Santo Domingo, no elevador, na rua, tagarelice brasileira. Será por isso a falta de qualidade em tudo? Não creio, pois mesmo nos piores lugares no Brasil a comida ao menos tem gosto, e os passeios não são tão descaradamente picaretas… Acho…
Nas lojas, como a The beer lovers, a livraria Abacus, as de artesanato e restaurantes, não tem assédio.
Numa esquina rente à praça Santo Domingo fica a The beer lovers, uma loja de cerveja importada e artesanal colombiana. Carlos Molina, de Medelim, indicou a Club Colombia, sua cerveja preferida. Um atendente no supermercado Éxito (Éx!to) e a dona de bar que não sabe o quê é chope, em Monteria, indicou a Corona, mexicana, como uma das melhores. Outras sempre presentes ali são Águila e Poker. Tem uma esquisita, que parece refrigerante, a Reds. Na The beer lovers tem cervejas artesanais colombianas com nome de assombração do folclore colombiano, como La llorona, Mohan y Patasola, que decerto tem de tomar com três gotas dágua-benta, três ave-marias e três pai-nossos. A 3 cordilleras tem os sabores negra, mulata, mestiça, branca e rosa.
Aqui se vê a loja dentro:
Algumas diferenças. A estante à esquerda do balcão não tem mais. Virou extensão do balcão.
Na loja tem dez opções de chope. A atendente da manhã, María Paz, disse:
— Quê diferente teu sotaque. Se entende bem mas soa diferente!
Pra mim seu sotaque parece o mesmo dos outros. Deve ser certas nuances que só se sente quando se está muito acostumado.
Minha dedução sobre o estado-de-coisa em Cartagena é que como é uma cidade turística famosa demais, todo vendedor fica lá. Por isso virou um formigueiro. E isso gerou a corrupção turística e o relaxismo geral. Coisa que já acontece em Barcelona.
É necessário uma vasta campanha educacional, pra mudar a mentalidade e eliminar o assédio e a picaretagem. Improvável!
Tudo isso tirou minha vontade de excursionar, visitar museu, etc, de modo que o final dos dez dias foi um arrastar tedioso. Teria abortado a viagem uma semana antes. As noites são ainda mais barulhentas que os dias. No alto ouvia o som das boates perto, até tarde da noite. Se ao menos fosse música boa, mas é pior que axé baiano. Nem isso tem qualidade naquela cidade de loucos. Em duas manhãs a praça foi palco dum interminável e gritado sermão evangélico. E o ar-condicionado eu desligava quando esfriava muito, e religava quando esquentava, pois em todo hotel que tem desses digitais a temperatura é só pra inglês ver, pois 17ºC e 27ºC dão na mesma.
Era muito fácil ir a todo lugar mas difícil voltar ao hotel. Sempre dava muitas voltas até chegar. E o engraçado é que mesmo tentando caminhar em direção oposta à costumeira, sempre acabava desembocando na torre do Relógio.
Uma estrada nova a Barranquilha, ótima mas cheia de pedágio, é particular. Ali não pode trafegar camião. Na beira da estrada, e também rumo a Santa Marta, há trechos alagados tomados por favela, com muito lixo. Muita gente se instala ali, esperando ajuda do governo. É comum encontrar triciclo com cabina, qual pequeno carro. É um novo tipo de táxi. Não há grande coisa de paisagem pra ver. Nos pedágios enormes cartazes avisando ser proibido a presença de vendedor, mas estão ali pra assediar os motoristas. Passando diante de Barranquilha alguns trechos com barreira, pra evitar o povo cruzar a rodovia, mas no geral estão ali. Lotação de todo tipo, como em Cartagena, ônibus lotado até gente pendurada na porta no lado de fora, camionetes com carroceria cheia de gente, sendo veículos de transporte mesmo, como táxi, gente com a perna pendente no capô traseiro, até a baixo do pára-choque. Imagines a mutilação numa batida…
O taxista Abel, irmão de Yesid, morou 20 anos na Venezuela. Disse que Chávez deturpou muito a proposta inicial, que Maduro é muito pior, que o grande erro que cometeram foi dar pensão (como as cestas de Dilma, que acabaram com os prestadores de pequeno serviço), pois o venezuelano é muito folgado, só gosta de se vestir bem, se perfumar, e nada de trabalhar.
Que o grosso do turismo sexual em Cartagena são os italianos, quem já chegam perguntando onde conseguir uma droga e uma garota. Falou sobre os espetáculos de música eletrônica, onde os jovens se drogam com êxtasis. Tem taxista que cobra o que quer quando o passageiro está grogue. Uma vez transportou duas garotas que foram se prostituir em Barranquilha. Queriam fumar maconha no carro. Então disse que pararia na estrada, elas iriam até a árvore a diante. Mesmo assim ficou um odor pestilento. Começaram a se beijar e levaram uma bronca, que ali no carro, não!
Chegando a Santa Marta, na beira da estrada é geral cartaz anunciando venda de fruto-do-mar, que é só o que se vende ali.
É linda a vista da baía chegando a Santa Marta. Vista do alto muito parecida com a da serra do Mar paulista e catarinense. A cidade parece Florianópolis, uma florianópolis feia. Os únicos atrativos de Santa Marta são o banho marinho, ver a baía do alto e a serra nevada, que se via ao longe mas não estava nevada. Carlos contou que na serra Nevada só se pode ir até certo ponto. A partir dali os indígenas não permitem. Fiquei contente com isso, que há indígenas que se preservam da maliciosa e daninha pseudocivilização.
Na volta um engarrafamento gigante, de duas horas, por causa duma batida. Abel já se inquietava, pois no escurecer seria alto o risco de assalto. Um camião conseguiu manobrar e voltar. Imaginávamos um acidente horroroso, de frente, com carros tombados atravessando a estrada. Nada disso. Era só uma camionete que lascou a lateral dum ônibus. Agora vede o absurdo que é o poder das seguradoras, causando todo esse transtorno só pra preservar a cena-do-crime pra facilitar o trabalho dos peritos.
Com alívio abandonei aquele hospício turístico e voltei à linda Monteria. Na volta a bagagem-de-mão em toda esteira de raio-x pediam pra abrir decerto porque os livros pareciam pacote.
A balconista do hotel indicou um lugar com comida típica, El bocachico elegante, onde telhado imita um telhado de palha. Não tem cardápio. O garção recita as cinco opções. Pedi bagre, pois foi o que melhor deu pra entender. Veio um bagre frito cum pedaço de mandioca, outro de banana, limões em metade junto cum espremedor, e um copo descartável, cum canudo, com aguapanela, no caso limonada com canela muito adoçada com panela (tanto rapadura quanto açúcar-mascavo). Achei doce demais e perguntei a uma garçonete, se tinha aquilo não tão açucarado. Disse que não é açúcar, é panela. Hehehe. Tá bom. Faz de conta que açúcar-mascavo não é açúcar. Deveriam deixar o açúcar-mascavo separado pra cada um adoçar como quiser. E deveria ter cardápio impresso, porque não é todo mundo que consegue entender o cardápio verbal. Mas se a superturística Cartagena tá nem aí com qualidade, imagines a obscura Monteria. Não tem outra bebida. Nem adianta pedir cerveja, mas a aguapanela é inclusa no pedido e à vontade. O atendimento é cordial mas muito expresso. https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g609136-d2709031-i132219463-El_Bocachico_Elegante-Monteria_Cordoba_Department.html
Na beira do rio Sinu está o parque Ronda do rio Sinu margem direita. É um parque longo, muito arborizado e cheio de vida. Com ciclovia e calçada litorânea como as de beira-mar. Na noite fica todo iluminado. Uma linda imagem foi quando soprou um vento repentino que fez cair sobre as motocicletas passando na rua uma chuva de miúdas folhas amarelas como se a mão dum gigante jogando confete carnavalesco.
Na alfândega de Bogotá, rumo a São Paulo, a policial bogotana resolveu implicar com minha identidade, cuja tinta apodreceu e vazou, deixando a foto um pouco borrada. Ia e vinha e não parava de repetir que tem de providenciar outra. Eu já dissera que já providenciei e não deu tempo de pegar, que estou saindo e não entrando. Bem na saída encontra uma abestada dessa, mas dos males o menor.
Idem. Fui e voltei sem problema com a bagagem, mas justamente a balconista da Avionça, no trajeto São Paulo–Campo Grande, resolveu implicar com o carrinho-de-feira e fez fazer um rearranjo passando coisas duma mala a outra até dar o peso que julgava certo. Cada funcionário um critério. Nesse caso procurava evitar eu pagar mais peso extra. Mas é no mínimo bizarro eu ir e voltar e só ali na reta final aparece um funcionário cricri. Disse que a aeronave é menor que as outras, o carrinho não cabe no bagageiro. Então junto o carrinho a uma mala na base da fita adesiva, uma fita vermelha que manchou tudo. Quando entrei na aeronave vi que era o mesmo que as outras. Caberia muito bem. O bizarro é que tanto na ida quanto na volta na Easyfly, à entrada da nave pedira pra eu deixar guardar o carrinho, e na chegada o deixaram no caminho pra eu pegar. Tão simples! Mas na Avionça é mais complicado.
Já contei o que acontece quando o funcionário força esses rearranjos, quando por isso minha caixa com livro deixou um oco, amassou, virou uma bola, envolveram em plástico-bolha, e por isso eu não a reconhecia e tiveram de a entregar a domicílio. Não em domicílio, como cismaram certos gramáticos, ou melhor, gramáfagos.
Terei de achar uma solução porque o carrinho não tem o guidão retrátil, enquanto as malas assim têm rodas muito pequenas, porque as aerolinhas não param de inventar moda e os funcionários são mais volúveis que mulher de bêbado.
Por sorte não notou que a sacola de papel estava pesada. É que na longa espera em Bogotá achei vários livros irresistíveis na livraria do aeroporto. Como as funcionárias são muito simpáticas eu no vaivém, mostrando e comentando meus livros preferidos que encontrava na estante. Comecei contando que Leyendas, de Gustavo Adolfo Bécquer, foi o livro com o qual aprendi castelhano sozinho, com 16 anos, só lendo, cum dicionário ao lado, que pouco a pouco esparsava a consulta até ficar fluente. Outra maravilha é O homem que confundiu sua mulher cum chapéu, ali El hombre que confundió su mujer con un sombrero, do neurologista Oliver Sacks. Contei que aquele filme do cara que tinha de conquistar a mulher todo dia, pois ela se esquecia, foi tirado do livro, o caso dum marinheiro. Mas que a mais interessante foi duma clínica pra surdo, o pessoal gargalhando ante o discurso do presidente na tevê. A balconista disse que esse livro é o que mais vende. Outra maravilha ali, O homem que calculava, El hombre que calculaba, de Malba Tahan. Expliquei como pude a maravilha que é aquele livro, um dos melhores que já li, tentando expressar o quanto é rico em enredo, matemática e sabedoria. Nisso uma funcionária se tornou minha aluna remota de português, pois disse que há tempo tentava aprender mas não deu.

 
Esta é uma coleção capa dura de Condorito, faltando apenas os volumes 1 e 2
Condorito é um gibi gozado, já que não existe uma condorópolis, como a Patópolis da Disney, sendo si e seu sobrinho os únicos não-humanos. E em vez de namorar uma condor namora uma humana!, Yayita.

Encontrei o volume 1 de Colombia sobrenatural
Os volumes 1 e 2 são muito interessantes, duma pesquisadora espanhola Mado Martínez, que visita os lugares e entrevista pessoas. Os fantasmas do museu naval e demais assombros de Cartagena, o fantasmagórico restaurante La bruja, de Bogotá, o fantasma que presenteava manga. Uma contribuição e tanto ao folclore e ao estudo parapsicológico.

Coleção de cartão-postal de Joanco
O próximo calendário coincidente é o de 2021





Excelente página com o mapa do avanço sírio, atualizada a miúdo



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