Um
quadro rente ao elevador, no 10º andar do Stil
Cartagena
Turista, é
assim que Cartagena te vê
Uma imagem vale
por mil palavras
Crônica
cartageneira
Os piratas continuam lá
De volta ao país do cata-vento
● O samba do crioulo doido,
o mariache louco e a aeromáfia ● Uma aventura horripilante ● A aprazível Monteria ● Pavor a teco-teco ● Caribe esquisito ● A balconista com português macarrônico ● A terra do assédio comercial ● Isso é lá com a Quatro rodas! ● O pior almoço do mundo ● O almoço do recruta Zero e a turismáfia ● Cervejas assombradas ● Um restaurante sem cardápio ● Açúcar-mascavo não é açúcar? ● Implicância, complicância e replicância na reta
final ou Aeronauta se não complica na entrada implica na saída ● Colômbia assombrada
Quando
fui a Bogotá, Joanco perguntou sobre Cartagena das Índias, onde dona Sueli
sonha conhecer. O de Joanco era o faroeste norte-americano, ver o cenário real
dos cenários de Hopalong Cassidy e tantos outros ases do bangue-bangue, percorrendo
a famosa rota leste-oeste. Então ficou pendente conhecer esses pontos mais
exóticos, especialmente o caribe colombiano. Ficou pro final de 2017,
ressabiado com dólar acaba-não-acaba e inseguranças mil quanto à situação
mundial.
Pra
final de novembro a cotação da passagem aérea direta a Cartagena já estava o
olho-da-cara, e doravante só pioraria. Então pesquisei cidades próximas, pra
dali fazer viagem aérea local rumo a Cartagena. A única que deu resultado
econômico foi a obscura Monteria. Carlos Molina, de Medelim, perguntou o quê eu
faria em Monteria. Passear ali um dia na ida e outro na volta.
Havia
pouco a Colômbia passou a exigir certificado de vacinação contra a
febre-amarela. Como tenho um comprovante de vacinação anti-febre-amarela de
1992, rapidinho a Anvisa do aeroporto fez uma carteirinha de validade perpétua,
uma semana antes da viagem. Disse que é a única vacina exigida por algum país.
A saída foi enrolada, pois a tinta de minha carteira de
identidade apodreceu e vazou, deixando a foto meio borrada. Sem tempo de fazer
outra, tinha de ir assim mesmo, com a de motorista como auxiliar. Dava pra ver
que era eu, mas os caras da Avionça
consultaram aqui e ali até confirmar se daria pra ir. E cobraram uns 250 só
porque as malas eram três objetos. Eu já estava na área de embarque e um
funcionário foi me buscar, avisando que o valor estava errado, que não foi
cobrado como vôo internacional. Tive de passar na turma do raio-x de novo. Na
volta fiquei esperto e pus o máximo como bagagem-de-mão.
Por falar em carteira, há pouco fiz a biometria da carteira-de-eleitor.
Não sei pra quê inventaram isso agora. Como se já não bastasse jogar ao lixo
rios de dinheiro nessa farsa que é a democracia. Puseram soldados do exército
pra atender. Como já está perto de sair a carteira-de-identidade com chipe, por
quê não unificam tudo, identidade, cepeefe, eleitor, etc, numa carteira?
E como rouba descaradamente essa máfia do transporte aéreo!
Está sempre inventando modo de cobrar mais, faz gato-e-sapato do viajante,
pinta-e-borda no regulamento, as regras sobre bagagem e vistoria do raio-x mais
parecem a casa da mãe Joana ao som do samba
do crioulo doido e do mariache louco
e na dança-de-são-vito, e a ninguém
tem de prestar conta. Foi pra isso que sucatearam a ferrovia.
Como é ruim o sistema de som dos aeroportos. Tem vez que soa
um aviso nas portas-de-embarque, mas como rádio mal sintonizado, que não dá pra
entender. Se for aviso crucial, cruz-credo! Já-era! E depois ouvir as
instruções de emergência, que ninguém liga nem se lembra. E reouvir tudo em
inglês, warl werl wirl worl wurl!
Ô língua irritante e feia. Só podia mesmo ser língua de pirata. E quanto tem
vídeo na traseira da poltrona da frente, na opção mapa-de-vôo. Antes se
seleciona o idioma. Mas os dados de vôo, velocidade, altura, tempo, hora… são
apresentados alternados em castelhano, português e inglês. Então pra quê mandou
escolher o idioma antes? Mais um programador que devia levar uns cascudos.
Toda vez ter de ver e ouvir todas aquelas tediosas
instruções. Deveria ter uma forma de quem já viu, ser dispensado de ver. O que
se deveria fazer é a cada vôo os aeronautas, e até os donos da empresa, ter de
ver um vídeo completo sobre como não transgredir os direitos do consumidor,
sobre como atender aos passageiros em caso de emergência como vôo cancelado ou
atrasado, por exemplo.
Na chegada a Bogotá, pleno domingo, o cartão de débito
internacional não funcionou. Não era esquecer a senha, como já aconteceu por
causa de regime muito drástico pra viajar magro e leve.
O quê farias ao chegar ao estrangeiro e não conseguir sacar?
Voltar imediatamente? Como? Se nem dá pra pegar táxi! Disseram que o real não é
trocado lá, e que o dólar acabará a qualquer momento. Disseram que o dólar
acabaria em 18.10 e acreditaste. E a bagagem foi direto, apesar do velho
critério de que vôo no dia seguinte bagagem na esteira. Recorrendo ao balcão-de-informação,
ver se havia outro caixa, mas a má-vontade é implacável. Também na loja da Avianca, perguntando se alguém
informaria como sair da sinuca, nem pensar! Não era ali, e ponto-final. Cada um
só quer cumprir sua função, e nada de pensar. Pensar é só pra intelectual.
Um pesadelo cafquiano num cenário dantesco resultando numa
encrenca rabelaisiana, quase fortiana. Me sentia uma espécie de homem de
Taurede. Um enredo de deixar Poe, Lovecraft e Hitchcock no chinelo. Tudo isso
requereria uma cherloquiana solução. Nem dá pra vender a roupa da mala porque
foi direto. Se ao menos eu fosse extrovertido (Dizem que o vocábulo correto é extravertido). Virar mendigo, lavar prato,
virar artista-de-rua, quero dizer, -de-aeroporto, e arrecadar moeda, rodar
bolsinha, ir a um posto policial pedir socorro à embaixada? E a paranóia de ser
atendido com a indiferença absoluta do balcão informativo e da loja da Avionça, no estilo da fria indiferença
psicopata dos plantões noturnos de pronto-socorro!
Terei coragem de visitar a China? Ai!…
Mas como as armas ocultas de 007 ou do agente 86, a bolsa de
Esquálidus, o cinturão de Batman ou o manual dos escoteiros-mirins, em
reviravolta espetacular, tirei uma carta da manga, ou melhor, um cartão do
bolso. A salvação! Saquei o e com o cartão-de-crédito e corri ao hotel San Simon, só pra passar a noite. O
certo é só pagar o taxista após entrar ao hotel e confirmar no balcão se a
corrida cobrada é justa. Esse hotel recomendo muito. Quê sorte que é um hotel
bom e com tripulação super atenciosa, pois com a internete do balconista imediatamente
fiz o aviso de viagem no sítio Bradesco
cartão, que esqueci de fazer antes de embarcar, senão ao constatar movimento
no estrangeiro o cartão seria bloqueado. Por sorte o balconista teve boa-vontade
em instalar o programinha de segurança requerido, e assim pude acessar.
Sem trocar de roupa mas sem o peso da bagagem, passei uma
repousante noite. Lá o tempo parece passar mais lento. Pensando quase
amanhecer, uma olhada no relógio, 1h da madrugada. No final da madrugada segui
ao aeroporto, no táxi do hotel, a Monteria. Bom assim, o hotel com transporte
próprio. Menos chance de taxista careiro.
A sala da esteira do pequeno aeroporto de Monteria tem um
sofá no centro e táxi diante da porta.
Pensei que o nome se devia a morros, montes, mas a cidade é
toda plana. Monteria, a pérola do [rio] Sinu, é a capital pecuária da Colômbia.
Segundo a Uiquipédia, quanto à origem do nome da cidade existe documentação
sobre um lugar denominado paragem das Monterias, que chamam de Boavista em memória
ao primeiro povoado levantado no lugar das Monterias, chamado assim por ser o
ponto de reunião dos monteiros que caçavam no arredor. A palavra é de origem
espanhola, porque o vocábulo montería
era usado genericamente pelos espanhóis pra apontar os pontos de caça.
Pacata e agradável cidade de calor abrasador. No pequeno
hotel River city situado no centro,
perto de tudo, parece se estar hospedado em casa de amigos. O desjejum a
cozinheira prepara na hora com ovo mexido, pão-de-fôrma, uma fatia de
banana-da-terra frita, outra de mandioca frita e outra de queijo-coalho, ao
lado um potinho de coalhada, que não sei por quê chamam de suero, soro, e um copo de
suco de tomate-arbóreo, que pensei que fosse de melão.
Uma quadra à direita uma praça com bancas de livro e
artesanato. Na volta, um sábado, muitas bancas sendo montadas prum espetáculo noturno.
Os vendedores ali são normais. Nada a ver com o espantoso assédio que é a
marca-registrada de Cartagena. As ruas não são esburacadas e remendadas como
nossa capital pecuária. Talvez algum dia encontre uma cidade com as ruas como
as de Campo Grande. Nas bancas muito mosquito mas o pessoal parece que nem liga.
Estranho, já que a Colômbia passou a exigir vacina anti-febre-amarela pra
entrar no país. Casa de ferreiro, espeto de pau. Na praça vi várias iguanas em
roda da comida que o pessoal jogou.
Ali terminava a viagem de ida na Avionça. No dia seguinte segui a Cartagena das Índias num vôo da Easyfly, que atrasou muito. Tive receio
de viajar naquela avioneta, quase um teco-teco.
Me fez lembrar de meu primeiro cunhado, que era gerente
regional da Cheque-cardápio, cuja
sede regional é em Campo Grande e não em Brasília. Foi nos anos 1990. Preste a
embarcar a Brasília cismou e disse:
— Eu é
que não embarcarei nesse teco-teco. Esses trecos vivem caindo.
O
colega que o acompanhava disse:
— Mas
quê bobeira. Nada a ver. Então irei sozinho.
Mas pra
não o desacompanhar, acabou não indo. No dia seguinte souberam que o teco-teco
no qual quase embarcaram caiu e morreu todo mundo.
Na sala da esteira-de-bagagem do aeroporto de Cartagena uma
prévia do assédio comercial típico da cultura local: Os carrinhos não ficam
disponíveis pra pegar, como em geral, nem custam 2 dólares, como em Bogotá, mas
tem um motorista de prontidão. Basta
sacar a mala e o sujeito chega pra levar ao táxi. Então é só dar uma gorjeta.
Quando pesquisei na internete os comentários sobre os hotéis,
tive de me contentar com o com queixas mais leves, em evitar os com queixa de
vazamento que ninguém consertava, etc. Não tem hotel sem queixa. Mas o mais
estranho é a precariedade de livraria, principalmente de sebo, em Cartagena,
Barranquilha e Santa Marta. Barranquilha, que é a segunda maior cidade da
Colômbia, praticamente só tem livrarias cristãs! O caribe colombiano é uma
região muito esquisita, mesmo.
O taxista achou que eu deveria ficar em Bocagrande, que é a
região chique, com praia, que os que conhecem Maiame dizem que é muito
parecida. Maiame, Nova Iorque são nomes me repugnam em vez de atrair. Como vi
depois, fiquei no melhor lugar.
A balconista do hotel Stil
Cartagena (Mas o quê, diabos!, é stil?
Decerto falam inglês macarrônico) falava um castelhano estranho. Imaginei que
fosse jamaicana ou doutro país de língua inglesa, afinal ali é Caribe, quem
ainda não falava castelhano direito. Mas no final, quando respondi, disse Pero
hablas! Então entendi. Em sua imaginação falava português, mas um
português macarrônico.
Deixei as malas no porque ainda não dava a hora do chequim,
e com o mesmo taxista, que também é guia turístico, fui percorrer a cidade, um
tur, como se diz. Fiquei meio ressabiado em passear assim de cara com o táxi de
vinda do aeroporto, mas acertei na mosca. Enquanto os passeios do hotel é que
são duvidosos, como veremos.
Sol abrasador, calor tropical, mormaço dos diabos, canícula
infernal. Começando com visita a um forte na muralha. Na entrada os vendedores
de chapéu e água assediando, que é preciso comprar água, que tem de comprar
chapéu. Uma subida muito íngreme. Fiquei imaginando a dura vida dos soldados no
forte. Subir aquilo já é um sufoco, imagines carregando peso! Não é de admirar
que viviam pouco. Eu, hem!? Esse negócio de visitar Macho-Picho e outros
passeios atléticos não é comigo, não! Dei uma olhada aqui e ali, na paisagem, e
caí fora.
As vielas do centro histórico são mesmo estreitas. Só cabe
um carro. Sorte que poucos passam. Na rua muitos carrinhos com fruta, o típico
queijo coalho, salgadinho e água-de-coco, que lá é muito caro, 4000 pesos o
coco, cerca de R$4. Mas é coco pequeno e maduro. Em Campo Grande o coco na rua
está a R$5, no nordeste de R$0,5 a R$3, mas são cocos grandes e verdes, com
muita água, a encher a barriga. A castanha é formada pela água, quando madura,
por isso coco maduro tem menos água. O coco de lá, chupa um pouquinho, e já
acabou. Caríssimo o coco lá. E não compres o que vendem num saquinho plástico,
daqueles de fazer chupa-chupa. É um sufoco sugar aquilo, e no fim fica o gosto
de plástico.
Um ponto turístico principal é visitar o convento da Popa.
Do alto se vê toda a cidade. Mas não pegues o guia, porque fala sem parar, não
te deixa nem dar uma olhada, ler os escritos nas fachadas e monumentos, te guia,
patati-patatá, pumpumpum, blablablá, e pronto, já estás na saída.
Toda a área do centro histórico é apinhada de gente, um
formigueiro. Mas é diferente. Em São Paulo, Buenos Aires, Bogotá, quando se
anda no meio da multidão, parece gente, o pessoal interage, desvia, pára. Ali
não. Parecem bicho. Andam como zumbis. Ninguém desvia nem sai da frente. E se
parar pra alguém passar, parece que ficam estupefatos.
No final me levou ao restaurante Casa de socorro, que disse ser o melhor, e que um turista nos dias
seguintes não queria mais comer noutro lugar. Esse restaurante é estupendo,
comida deliciosa. Lagosta num pote de barro com molho espetacular. Depois
entendi por quê o tal turista não quis mais comer noutro lugar. É que no geral
a comida local é uma droga. Quase tudo sem sal nem outro tempero. A qualidade
não é uma marca local. Num restaurante ao ar livre, na praça Santo Domingo, um sortido de
fruto-do-mar que não diria ruim, mas quase insosso. Estava mais pra bucho sem
tempero que pra fruto-do-mar. E os vendedores assediando o tempo todo, enfiando
na cara chapéu, desenho, penduricalho e bijuteria, etc. Quem não suporta
assédio de vendedor, não vá a Cartagena das Índias. Talvez haja mais
restaurante bom, mas perdi a gana de experimentar. Eis uma tarefa pro pessoal da
Quatro rodas!
No caixa duma papelaria um cartaz dizendo que o ambiente é
monitorado com câmeras diretamente ligadas à polícia. Claro que o diretamente
ligado à polícia é tão mentiroso quanto nosso famigerado estacionamento, pra
cliente, sujeito a guincho. O que me
fez lembrar de nossa cerca elétrica, que dispara alarme quando tocada. Uma vez
um eletricista contou que esse tal alarme que aciona imediatamente a equipe de
segurança da firma instaladora não é bem assim. Como esses vigilantes não podem
usar arma, vão bem devagar, dando tempo pro ladrão fugir.
O assédio comercial é uma marca-registrada da cultura local
no Caribe colombiano. Não é assim em Bogotá, Medelim nem Monteria. Coisa
desagradável assim só conhecia dos meninos vendedores de pequenos objetos utilitários
no lado paraguaio da fronteira, Pedro João, atravessando a rua de Ponta Porã,
os vendedores de fruta do mercadão de São Paulo e os funcionários dos
restaurantes de Maceió na crise de 1999. Só que muito pior. Somar tudo e elevar
ao quadrado! O vendedor de chapéu se aproxima e soca um em tua cabeça! E
insistem até a quem está de chapéu!
Dando a volta atrás do hotel tem uma praça em cuja lateral
se enfileiram muitas bancas-de-livro. Não se consegue olhar com tranqüilidade.
Só de passar na frente o vendedor já te aborda. Teve um que largou o almoço pra
me assediar. Tento olhar em geral, e o vendedor fica mostrando um e outro em
minha cara. Me põe pra olhar na lateral da banca, e logo me puxa à outra
lateral. E dá-lhe sugerir livro sem parar. A coisa é compulsiva. E isso em
todas as bancas! Até parece que tem escola pra isso lá. Aquilo me deu tanta
ojeriza, que já não queria mais voltar àli.
Outra estranheza é que nenhuma banca tem gibi. Só numas bem
minúsculas, mas só Condorito, que também encontrei no supermercado Éxito.
No cartão do taxista:
Yesid Montt
Aguilar
Conductor
profesional
Servicio
de taxi turístico con aire condicionado
Viaje a
cualquier lugar
Asociación
de taxi aeropuerto
Cel.: 301 5808717
Cartagena de
Indias, Colombia
Numa manhã fui a Bocagrande, a tal a maiame local. Não sei o
quê tem de chique ali. Talvez só os hotéis. Só se for um chique de ouropel. A
água já não é lá flor-que-se-cheire. Deve ser turismo pseudochique pra
novorrico ignorante freqüentador de xópim e comedor de macdônal. Mas pra quê se
hospedar na frente da praia? Se fôssemos imunes a insolação, tudo bem. Mal dá
pra tomar dois banhos marinhos numa semana, ainda mais eu sendo mais branco que
pão integral de supermercado. Mal comecei a passear na areia e já despontaram
dois sujeitos se oferecendo pra guardar a sacola. Eu guardar minhas coisas com
esses sujeitos!? Nem pensar! Consegui me desvencilhar dos tipos, e apareceu uma
negra jovem oferecendo massagem. Foi forçando, forçando, pegou minha mão e
passou um líquido dum tubo, e foi forçando a tal massagem, com clichês de que
estou estressado, tenso, aquela conversa toda. A colega estendeu uma cadeira
dobrável e queria me fazer sentar ali a todo custo. Não me sentei. Uma mulher
passou dizendo que aquilo custa depois o olho-da-cara. Dei uma moedas,
atravessei a rua e vi que só havia pequenos xópins. Olhei um, que era uma
droga. Da rua via a torre do Relógio, o ponto de referência-mor da cidade. Me
mantive naquele lado da rua, porque no outro não dava pra passear sem ser
importunado. Andando voltei ao centro histórico.
Outro assédio foi quando parei pra ver uns livros expostos
na calçada. Comprei um. Então entrou de raspão uma mulata nova, magra, de
camiseta azul parecendo do instituto mirim, dizendo, festiva como se
encontrando antigo conhecido. Arrepiei. Como teria alguém conhecido naquele
fim-de-mundo? Caramba! A coisa ali é barra-pesada mesmo! A guria pegou o livro,
disse que escrevia também. O vendedor foi buscar troco. Guardei o livro. Pediu
de volta, pois não olhara tudo. Olhou mais. Perguntou se podíamos ir a um canto
pra conversar. Pensei em dizer que estou num simpósio da polícia internacional,
se não quer ir ver como é. Mas melhor não. Vai que, como aqui, onde os bandidos
gostam de matar policial. Eu disse que tinha de ir, pois já estava atrasado.
Fui.
O hotel tem dez andares. Freqüentemente um dos dois
elevadores ficava abrindo e fechando a porta, como se recusando a se mover. Vai
ver que não gosta de carregar pobre. Tem uma grande sala de desjejum, que não
digo que seja má, mas que pra hotel daquele porte em local tão famoso, é
sofrível. Só num dia teve fila, mas bem que poderiam pôr o talher de servir em
ambos lados da mesa, em vez dum. Mamão, abacaxi e melancia em pedaço, pães e
bolachas, queijo coalho, salame, um míni-embalado (aqueles de avião) de
manteiga e outro de geléia, leite, cereal, dois tipos de lingüiça alternados
nos dias, às vezes ovo cozido (com casca!). O que tinha todo dia era um panelão
com ovo mexido sem sal. Um jarro com suco de fruta e outro do mesmo mas sem
açúcar. Mas não existe adoçante. Uma chopeira com água quente (pros envelopes
de chá) e outra com café, mas um café-carvão, deste brasileiro de sétima
qualidade, muito ruim.
A única fruta diferente que encontrei lá foi o pomelo, mas
diferente do que tenho no quintal e que é comum no Paraguai, onde é chamado greifo (corruptela de grapefruit) e que se confunde com a
toranja. O pomelo de lá tem a forma de cabaça, como uma gota dágua ou certos
abacates. É tão grande quanto o outro. O daqui é cheio de semente, polpa
verde-água, levemente azedo e levemente amargo. O de lá não tem semente, é
doce, quase lima, e amarelado levemente esverdeado. O abacaxi é a mesma
variedade havaí daqui. Tive de comprar uma faquinha descascadora porque quando
pedi um prato, um copo, uma faca, um garfo e uma colher, a balconista disse que
não tem. Recebi só um copo descartável. Imagines! Não tem cabimento um hotel
daquele porte dar tal resposta.
Na rua também muito vendedor de limonada e laranjada. São
carrinhos levando um aquário quadrado, de vidro, com o suco e muito gelo. Seria
uma boa naquele calor, se não fosse açucarado. E panelões com arroz bem amarelo
decorado com lagosta. Uma coisa inacreditável é na calçada enormes bueiros
quadrados abertos, faltando a laje.
A única coisa que lá é melhor é que em Bogotá muitos lugares,
inclusive restaurantes sempre lotados, só aceitam dinheiro, enquanto em
Cartagena nenhum recusou cartão.
Todo prato vem acompanhado de mandioca frita e
banana-da-terra amassada em forma de disco e frita. Só que parece ser banana de
supermercado, madurada forçado, porque não tem gosto. E como em nada põem sal.
E de arroz-de-coco, que é o mais típico dali, um arroz cozido com coco, que
fica da cor de arroz-carreteiro mas que ressalta bem o sabor de coco. Diz que é
uma tradição muito contestada por causa da polêmica em torno do uso de azeite
de coco pra cozinhar.
Mas a pior comida de minha vida foi numa esticadinha a Santa
Marta, outra cidade turística que não merece a fama. Camarão em pote de barro
numa sopa amarela insossa. Se põe sal mas não conserta. O camarão parece que
foi cozido dez vezes em água pura, sem sal nem outro tempero. E um copo com
chá, com certeza artificial, que só provei. No fim a incômoda sensação de ter
comido algo que não é comida, de modo que não tive vontade de almoçar no dia
seguinte.
Um dos passeios vendidos pelo hotel é às ilhas do Rosário,
ilhas particulares. Escolhi o que seria o melhor segundo a balconista, mais
indicado pra quem viaja só: A ilha do Encanto. Na manhã apareceu o guia, um tal
não-sei-quê Valêncio, que se diz especialista em mergulho, com atraso de meia
hora. Já não gostei do jeito do cara. Moreninho magrela, óculo escuro, tipo
homem-de-negro de disco voador, parece irmão gêmeo dum porteiro da saída do
Mercadão de Buracópolis, que briga com todo mundo, que eu e Ramão apelidamos
Rambinho. Já começou errado porque não foi avisado que o valor do imposto seria
na hora e em dinheiro. Numa van, recolhendo mais alguns, a partida da lancha,
que batia muito feito jipe correndo em terreno esburacado. Como já estou
acostumado à buraqueira de Campo Grande não deveria estranhar, mas é que não
sou fitipáldi como os malucos daqui. Vez e outra um borrifo dava um banho no
pessoal. Felizmente não era esse o anunciado banho marinho do pacote. O guia
que na lancha se anunciou ao pessoal é um tal William. Na hora de atracar a
água estava agitada, balançando muito a lancha, por isso decidiram atracar no
outro lado da ilha, onde tem uma enseada tranqüila. Dali faríamos uma caminhada
ecológica. Não creio que se possa
chamar ecológica uma caminhada atravessando trechos alagados de água suja e
muito lixo. Os tais donos particulares se esqueceram de que em caso de muita
ondulação o pessoal atracaria no cais reserva, por isso seria melhor não limpar
só a entrada principal.
E sou soldado pra comer racionado!?
Depois dessa tremenda desilusão voltei ao banho marinho e só
não fiquei abandonado na água porque no fim da tarde desconfiei do movimento no
cais e fui verificar. Tive de perguntar o nome do guia pra saber que a lancha
já estava quase saindo.
Na volta não era van mas um ônibus. Estava ali o tal
Valêncio. O pessoal foi descendo em cada hotel. Mas só entregam nos hotéis de
Bocagrande, que é onde o pessoal cismou que é bairro chique. Não sei o quê tem
de chique ali. Só porque fica diante duma praia que não é muito confiável pra
se banhar? Ou porque os hotéis são luxuosos? Quê mente pervertida acha o
hóspede dali mais gente que o do centro histórico?
Se aproximando ao hotel Cartagena
Plaza o tal Valêncio quis me induzir a descer ali. Eu disse que não era
esse, e sim Stil Cartagena. Se fez de
bobo. Quando parou continuou se fazendo de desentendido e tentou me induzir a
descer ali. Olhei em firme na cara de Rambinho II e repeti: Não é Cartagena Plaza. É Stil Cartagena! Então disse que só entregam em Bocagrande. Que eu
teria de tomar um táxi.
Ou seja: Antes de pagar buscam. Quem já pagou, que se vire!
Isso me fez lembrar quando fui a Natal, em 1997, via Time tour. Pago a vista. O pacote previa
uma espera de dia inteiro em Guarulhos. Fiquei em vão aguardando aparecer uma
vaga com menor espera. Num passeio uma família do interior contou que estava
nessa longa espera mas que apareceu uma mais curta. Perguntei como pagou o
pacote. A prazo. A primeira parcela na volta. Nunca mais viajei na Time tour nem paguei antecipado.
No dia seguinte fui ao posto policial responsável por
reclamação turística. Era evidente a má-vontade, apesar do simpático
atendimento. Pra registrar contra o passeio, só se não foi cumprido. Insisti
pra registrar a denúncia, mesmo sem ação, pra constar. Passou no alto, ouvidos
moucos. Fomos ver a moça responsável pelo passeio à ilha. Jogaram a culpa na
balconista do hotel, quem vendeu o passeio, por não avisar que na volta o
cliente não será entregue a hotel fora de Bocagrande. Que teria de falar com a
administradora do hotel.
Pra quem não nasceu ontem, deu pra perceber que é uma máfia.
O policial pobre-diabo, nada podia fazer, pois estava nas mãos deles. Não
adiantaria argumentar. Um taxista disse que nos contratos de passeio não
aparece o nome ilha do Encanto. Se
escondem sob outros nomes.
Também não adiantaria falar com o hotel, mas a indignação
ficou alfinetando. No hotel a administradora nunca estava. Um dia chegaria às
9h, noutro dia 10h. Noutro chamariam no quarto quando terminasse de atender
quem entrou à sala. Nada.
Com tudo isso, nada de passeio de pacote mais. E Caribe
colombiano, nunca mais. Cartagena é estritamente indicada aos amantes de
prédios históricos.
Cartagena é cheia de brasileiro. Almoçando na praça Santo Domingo, no elevador, na rua,
tagarelice brasileira. Será por isso a falta de qualidade em tudo? Não creio,
pois mesmo nos piores lugares no Brasil a comida ao menos tem gosto, e os
passeios não são tão descaradamente picaretas… Acho…
Nas lojas, como a The beer lovers, a livraria Abacus, as de artesanato e restaurantes, não tem assédio.
Nas lojas, como a The beer lovers, a livraria Abacus, as de artesanato e restaurantes, não tem assédio.
Numa esquina rente à praça Santo Domingo fica a The beer
lovers, uma loja de cerveja importada e artesanal colombiana. Carlos
Molina, de Medelim, indicou a Club
Colombia, sua cerveja preferida. Um atendente no supermercado Éxito (Éx!to) e a dona de bar que não sabe o quê é chope, em Monteria,
indicou a Corona, mexicana, como uma
das melhores. Outras sempre presentes ali são Águila e Poker. Tem uma
esquisita, que parece refrigerante, a Reds.
Na The beer lovers tem cervejas artesanais
colombianas com nome de assombração do folclore colombiano, como La llorona, Mohan y Patasola, que decerto
tem de tomar com três gotas dágua-benta, três ave-marias e três pai-nossos. A 3 cordilleras tem os sabores negra, mulata, mestiça, branca e rosa.
Aqui se vê a loja dentro:
Algumas diferenças. A estante à esquerda do balcão não tem
mais. Virou extensão do balcão.
Na loja tem dez opções de chope. A atendente da manhã, María
Paz, disse:
— Quê
diferente teu sotaque. Se entende bem mas soa diferente!
Pra mim
seu sotaque parece o mesmo dos outros. Deve ser certas nuances que só se sente
quando se está muito acostumado.
Minha dedução sobre o estado-de-coisa em Cartagena é que
como é uma cidade turística famosa demais, todo vendedor fica lá. Por isso
virou um formigueiro. E isso gerou a corrupção turística e o relaxismo geral.
Coisa que já acontece em Barcelona.
É necessário uma vasta campanha educacional, pra mudar a
mentalidade e eliminar o assédio e a picaretagem. Improvável!
Tudo isso tirou minha vontade de excursionar, visitar museu,
etc, de modo que o final dos dez dias foi um arrastar tedioso. Teria abortado a
viagem uma semana antes. As noites são ainda mais barulhentas que os dias. No
alto ouvia o som das boates perto, até tarde da noite. Se ao menos fosse música
boa, mas é pior que axé baiano. Nem isso tem qualidade naquela cidade de
loucos. Em duas manhãs a praça foi palco dum interminável e gritado sermão
evangélico. E o ar-condicionado eu desligava quando esfriava muito, e religava
quando esquentava, pois em todo hotel que tem desses digitais a temperatura é
só pra inglês ver, pois 17ºC e 27ºC dão na mesma.
Era muito fácil ir a todo lugar mas difícil voltar ao hotel.
Sempre dava muitas voltas até chegar. E o engraçado é que mesmo tentando
caminhar em direção oposta à costumeira, sempre acabava desembocando na torre
do Relógio.
Uma estrada nova a Barranquilha, ótima mas cheia de pedágio,
é particular. Ali não pode trafegar camião. Na beira da estrada, e também rumo
a Santa Marta, há trechos alagados tomados por favela, com muito lixo. Muita
gente se instala ali, esperando ajuda do governo. É comum encontrar triciclo
com cabina, qual pequeno carro. É um novo tipo de táxi. Não há grande coisa de
paisagem pra ver. Nos pedágios enormes cartazes avisando ser proibido a
presença de vendedor, mas estão ali pra assediar os motoristas. Passando diante
de Barranquilha alguns trechos com barreira, pra evitar o povo cruzar a
rodovia, mas no geral estão ali. Lotação de todo tipo, como em Cartagena,
ônibus lotado até gente pendurada na porta no lado de fora, camionetes com
carroceria cheia de gente, sendo veículos de transporte mesmo, como táxi, gente
com a perna pendente no capô traseiro, até a baixo do pára-choque. Imagines a
mutilação numa batida…
O taxista Abel, irmão de Yesid, morou 20 anos na Venezuela.
Disse que Chávez deturpou muito a proposta inicial, que Maduro é muito pior,
que o grande erro que cometeram foi dar pensão (como as cestas de Dilma, que
acabaram com os prestadores de pequeno serviço), pois o venezuelano é muito
folgado, só gosta de se vestir bem, se perfumar, e nada de trabalhar.
Que o grosso do turismo sexual em Cartagena são os
italianos, quem já chegam perguntando onde conseguir uma droga e uma garota.
Falou sobre os espetáculos de música eletrônica, onde os jovens se drogam com
êxtasis. Tem taxista que cobra o que quer quando o passageiro está grogue. Uma
vez transportou duas garotas que foram se prostituir em Barranquilha. Queriam
fumar maconha no carro. Então disse que pararia na estrada, elas iriam até a
árvore a diante. Mesmo assim ficou um odor pestilento. Começaram a se beijar e
levaram uma bronca, que ali no carro, não!
Chegando a Santa Marta, na beira da estrada é geral cartaz
anunciando venda de fruto-do-mar, que é só o que se vende ali.
É linda a vista da baía chegando a Santa Marta. Vista do
alto muito parecida com a da serra do Mar paulista e catarinense. A cidade
parece Florianópolis, uma florianópolis feia. Os únicos atrativos de Santa
Marta são o banho marinho, ver a baía do alto e a serra nevada, que se via ao
longe mas não estava nevada. Carlos contou que na serra Nevada só se pode ir
até certo ponto. A partir dali os indígenas não permitem. Fiquei contente com
isso, que há indígenas que se preservam da maliciosa e daninha
pseudocivilização.
Na volta um engarrafamento gigante, de duas horas, por causa
duma batida. Abel já se inquietava, pois no escurecer seria alto o risco de
assalto. Um camião conseguiu manobrar e voltar. Imaginávamos um acidente
horroroso, de frente, com carros tombados atravessando a estrada. Nada disso.
Era só uma camionete que lascou a lateral dum ônibus. Agora vede o absurdo que
é o poder das seguradoras, causando todo esse transtorno só pra preservar a
cena-do-crime pra facilitar o trabalho dos peritos.
Com alívio abandonei aquele hospício turístico e voltei à
linda Monteria. Na volta a bagagem-de-mão em toda esteira de raio-x pediam pra
abrir decerto porque os livros pareciam pacote.
A balconista do hotel indicou um lugar com comida típica, El bocachico elegante, onde telhado
imita um telhado de palha. Não tem cardápio. O garção recita as cinco opções.
Pedi bagre, pois foi o que melhor deu pra entender. Veio um bagre frito cum
pedaço de mandioca, outro de banana, limões em metade junto cum espremedor, e
um copo descartável, cum canudo, com aguapanela, no caso limonada com canela muito
adoçada com panela (tanto rapadura
quanto açúcar-mascavo). Achei doce demais e perguntei a uma garçonete, se tinha
aquilo não tão açucarado. Disse que não é açúcar, é panela. Hehehe. Tá bom. Faz de conta que açúcar-mascavo não é
açúcar. Deveriam deixar o açúcar-mascavo separado pra cada um adoçar como
quiser. E deveria ter cardápio impresso, porque não é todo mundo que consegue
entender o cardápio verbal. Mas se a superturística Cartagena tá nem aí com
qualidade, imagines a obscura Monteria. Não tem outra bebida. Nem adianta pedir
cerveja, mas a aguapanela é inclusa no pedido e à vontade. O atendimento é
cordial mas muito expresso. https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g609136-d2709031-i132219463-El_Bocachico_Elegante-Monteria_Cordoba_Department.html
Na beira do rio Sinu está o parque Ronda do rio Sinu margem direita. É um parque longo, muito
arborizado e cheio de vida. Com ciclovia e calçada litorânea como as de
beira-mar. Na noite fica todo iluminado. Uma linda imagem foi quando soprou um
vento repentino que fez cair sobre as motocicletas passando na rua uma chuva de
miúdas folhas amarelas como se a mão dum gigante jogando confete carnavalesco.
Na alfândega de Bogotá, rumo a São Paulo, a policial
bogotana resolveu implicar com minha identidade, cuja tinta apodreceu e vazou,
deixando a foto um pouco borrada. Ia e vinha e não parava de repetir que tem de
providenciar outra. Eu já dissera que já providenciei e não deu tempo de pegar,
que estou saindo e não entrando. Bem na saída encontra uma abestada dessa, mas
dos males o menor.
Idem. Fui e voltei sem problema com a bagagem, mas
justamente a balconista da Avionça, no
trajeto São Paulo–Campo
Grande, resolveu implicar com o carrinho-de-feira e fez fazer um rearranjo
passando coisas duma mala a outra até dar o peso que julgava certo. Cada
funcionário um critério. Nesse caso procurava evitar eu pagar mais peso extra.
Mas é no mínimo bizarro eu ir e voltar e só ali na reta final aparece um
funcionário cricri. Disse que a aeronave é menor que as outras, o carrinho não
cabe no bagageiro. Então junto o carrinho a uma mala na base da fita adesiva,
uma fita vermelha que manchou tudo. Quando entrei na aeronave vi que era o
mesmo que as outras. Caberia muito bem. O bizarro é que tanto na ida quanto na
volta na Easyfly, à entrada da nave
pedira pra eu deixar guardar o carrinho, e na chegada o deixaram no caminho pra
eu pegar. Tão simples! Mas na Avionça
é mais complicado.
Já
contei o que acontece quando o funcionário força esses rearranjos, quando por
isso minha caixa com livro deixou um oco, amassou, virou uma bola, envolveram
em plástico-bolha, e por isso eu não a reconhecia e tiveram de a entregar a
domicílio. Não em domicílio, como
cismaram certos gramáticos, ou melhor, gramáfagos.
Terei de achar uma solução porque o carrinho não tem o
guidão retrátil, enquanto as malas assim têm rodas muito pequenas, porque as
aerolinhas não param de inventar moda e os funcionários são mais volúveis que
mulher de bêbado.
Por sorte não notou que a sacola de papel estava pesada. É
que na longa espera em Bogotá achei vários livros irresistíveis na livraria do
aeroporto. Como as funcionárias são muito simpáticas eu no vaivém, mostrando e
comentando meus livros preferidos que encontrava na estante. Comecei contando
que Leyendas, de Gustavo Adolfo
Bécquer, foi o livro com o qual aprendi castelhano sozinho, com 16 anos, só
lendo, cum dicionário ao lado, que pouco a pouco esparsava a consulta até ficar
fluente. Outra maravilha é O homem que
confundiu sua mulher cum chapéu, ali El
hombre que confundió su mujer con un sombrero, do neurologista Oliver
Sacks. Contei que aquele filme do cara que tinha de conquistar a mulher todo
dia, pois ela se esquecia, foi tirado do livro, o caso dum marinheiro. Mas que
a mais interessante foi duma clínica pra surdo, o pessoal gargalhando ante o
discurso do presidente na tevê. A balconista disse que esse livro é o que mais
vende. Outra maravilha ali, O homem que
calculava, El hombre que calculaba,
de Malba Tahan. Expliquei como pude a maravilha que é aquele livro, um dos
melhores que já li, tentando expressar o quanto é rico em enredo, matemática e
sabedoria. Nisso uma funcionária se tornou minha aluna remota de português,
pois disse que há tempo tentava aprender mas não deu.
Esta
é uma coleção capa dura de Condorito,
faltando apenas os volumes 1 e 2
Condorito
é um gibi gozado, já que não existe uma condorópolis, como a Patópolis da Disney, sendo si e seu sobrinho os
únicos não-humanos. E em vez de namorar uma condor namora uma humana!, Yayita.
Os volumes 1 e 2 são muito interessantes, duma pesquisadora
espanhola Mado Martínez, que visita os lugares e entrevista pessoas. Os fantasmas do museu naval e demais assombros de Cartagena,
o fantasmagórico restaurante La bruja,
de Bogotá, o fantasma que presenteava manga. Uma contribuição e tanto ao
folclore e ao estudo parapsicológico.
Coleção
de cartão-postal de Joanco
O próximo calendário
coincidente é o de 2021
Excelente página com
o mapa do avanço sírio, atualizada a miúdo
poderia postar depois o livro e os gibis?
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