quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Márcio Bontempo - Relatório Órion

Repostando de 16.05.2013

À coleção Adeene neles!



                                    Síria                          Coréia

Coleção cartão-postal de Joanco







Do álbum de Pelezinho (Parte 2, final)


















 
 


 

 


 
 
 


Este artigo foi publicado antes de existir o blogue Che Guavira, no extinto sítio Usina de palavras. Agora cuma atualizaçãozinha. Algumas idéias estão superadas, outras se reforçaram, pois, gostemos ou não, somos uma metamorfose ambulante, sempre aprendendo e, infelizmente, também desaprendendo. O tom mais agressivo é duma época crítica, já passada. O intuito não é ensinar mas sugerir, fazer pensar, dar um cutucão no colega que embarca numa idéia e adormece como o motorista num estirão deserto ou quem lê um livro na cama. Como uma frase de Frida Kahlo ostentada no excelente canal iutubeiro El espejo: Não quero que penses como eu. Só quero que penses.
Sou o maior pensador do mundo, QI de 1 milhão, até o outro apontar uma falha em minha idéia. Então a reformulo, e continuamos o debate, como os mísseis contra os antimísseis.
Deitado eternamente
em berço esplêndido
(Apatia brasiliensis)
Despertes Brasil, bela-adormecida com sangue de barata
Proibida a leitura por portugueses
Guy Tarade, em As veias do dragão (Les veines du dragon, ou La magie de la Terre), defende a tese de que o homem busca instintivamente erigir civilização em área de vulcanismo ativo, pois estimula o psiquismo. Em vez das grandes civilizações nascerem na Amazônia, com fartura de água, peixe, caça e fruto, e clima tropical, o homem se instala em desertos como Egito, Suméria. Em vez de procurar o calor tropical, como na linha equatorial, onde é impossível haver furacão, povoa o Japão, Califórnia, círculo ártico, Nova Zelândia.
O Brasil jaz sob a região mais estável da Terra.
Sempre se gabando de não ter vulcão, terremoto, furacão, deserto de areia ou de gelo. Assim se julgando o paraíso. Visão demasiado ingênua. Os humoristas rebatem: É… mas esperes pra ver o povo…
A criação do crianção
O pessoal tanto ficou falando que Deus não fez coisa melhor que mulher, que o senhor se escabreou e decidiu se superar. Nesse empenho acabou criando o Brasil.
São Pedro passou chacoalhando aquele molhão no cordão da cintura e o viu embevecido contemplando o mapa e achou bom puxar o saco:
— Senhor, fui conhecer tua nova criação. Devo dizer que nunca te vi tão inspirado desde a criação da mulher. Mas por falar em mulher, por quê a fizeste tão burra?
— Ora! Bem se vê que não entendes de biologia, filosofia, nada! Se a mulher fosse inteligente e tivesse bom-gosto não iria querer saber de homem!
— Ó! É mesmo! Ó!, senhor. Em tua infinita sabedoria não esquecerias que é preciso preservar a espécie.
— Pois é. Agora vejas o Brasil. Não é elegante e cheio de curvas também?
— E um paraíso, quase todo tropical. Todinho habitável, de modo que se somar todas as áreas habitáveis, é o maior país do mundo. Não tem deserto, vulcão, furacão, geleira, maremoto nem terremoto. No máximo voçoroca umas pororoquinhas. Não tem anecúmeno!
— Até os estados são bonitos. Não aqueles tudo quadrado do valentão lá de cima, nem províncias recortadas como em geral se vê. Eu estava mesmo muito inspirado. Não é? Também, com este vinho que meu amigo Baco trouxe!
E saiu saltitando e cantarolando. Então são Pedro viu meio atrás da árvore a serpente.
— Ai, ai ai!, seu Diabo. Olha que te conheço. Viu?! És famoso por estragar paraíso em tudo quanto é planeta. Não vás esculhambar o novo paraíso!
O Diabo fez cara de gozador, deu uma risota debochada e disse:
— Esperes só pra ver o povinho que levarei pra povoar o país!
Em cada época esteve na moda uma explicação simplista e estapafúrdia pra explicar essa apatia brasiliensis: Umas bobas como clima, o fato de ter sido colonizado por Portugal, língua, miscigenação, divisão territorial em estados grandes, religião, excesso de féria e ou de feriado… Outras mais verossímeis, como maçonaria, flúor na água, comida e bebida artificial, oligarquia…
Aos que lamentam não ter sido colonização inglesa ou holandesa, foi respondido que poderíamos ser como a Guiana, Suriname, Gana. Se o Japão praticamente não dá féria aos trabalhadores, o trabalhador alemão tem o dobro de féria do brasileiro. Se aqui tem muito feriado, na Austrália tem ainda mais.
É demagogia dizer que feriado atrasa a economia. Apenas a desloca. As lojas não abrem mas os ambulantes têm o melhor momento.
Quando eu era criança a professora de história ensinou explicitamente que o Brasil é assim ou assão porque àqui eram mandados, como castigo, criminosos, foragidos, etc. Quando, na verdade vinham perseguidos pela inquisição, ativistas políticos, artistas e todo tipo de gente. Isso é sofisma. É assim em toda parte em toda leva de povoação. O grosso dos que primeiro vão é de desajustados na origem, o que é um fenômeno lógico.
Essa idéia da professora é ingênua demais, pois a colonização (alemães, lituanos, italianos, árabes, japoneses…) e outros fatores posterior sobrepõem essa condição original. Essas idéias tolas, sutilmente inculcada em professores, é a raiz da manipulação pra inculcar o complexo de vira-lata.
Se tal sofisma fosse veraz a Austrália, que era, de fato, um presídio, a ilha-do-diabo inglesa, não deveria estar tão atrasada quanto o Haiti?
Mas cuidado com a imagem que temos de Canadá, Austrália, Europa ocidental, Japão, etc, mais estereótipo da mídia que realidade.
Se sofismas como estados pequenos ou falar inglês tivessem fundamento, então todo país que teve escravo negro teria escola de samba.
Meu contou pai que quando do golpe militar de 1964 um paraguaio, seu conhecido, funcionário da ferrovia Noroeste do Brasil, muito se admirou da passividade com que os brasileiros contemplaram o golpe:
— Bracilêro náum briga. Fosse no Parauai i djá saía tudo mundo pra rua de matchête [facão] na máum.
No que um sujeito ao lado respondeu:
— Enquanto tiver carnaval, futebol e política, brasileiro não tá, nem aí!
No Equador, na Bolívia, vemos a população indígena derrubar presidente. No México a revolta de Chiapas. Na Colômbia a guerrilha foi o resultado duma reforma agrária desastrada.
Claro que há outros fatores, ocultos. No Brasil tivemos a balaiada, farroupilha, sabinada e outras tantas revoltas. O nordeste é cheio de estados minúsculos porque dom João VI, grande estrategista, transformou Pernambuco em vários estados pequenos e assim dividir e enfraquecer as revoltas. Foi por isso que nas independências hispano-americanas os manipuladores trataram de criar várias republiquetas em vez dum brasil hispânico.
Analisando bem, vemos que brasileiro é um povo imaturo, acomodado, alienado e com síndrome de vira-lata. O quê o brasileiro fez de inovador? O quê revolucionou? Nada! Tudo o que conquistamos vem de fora. Quando se quer mudar algo se diz:
— Em Eua é assim. Na Europa isso já foi feito. São leis internacionais…
Mas até onde a raiz dessa passividade é a manipulação televisiva, tóxicos alimentares ou condição geográfica? Eis a questão!
A Bolívia fez da Petrobrás gato-e-sapato. Reação? Nenhuma. O país se converteu num inferno fiscal, bem o oposto aos paraísos fiscais, onde o único setor que funciona é o de arrecadação. Segurança, educação e saúde sucateadas, mas o fisco é duma eficiência admirável.
Recentemente vimos, estupefatos, a única modalidade desportiva na qual o país é largamente superior a todos os outros se vender duas vezes seguidas ao mesmo adversário!
Já notaste que mesmo sendo imensamente superior aos outros no futebol o Brasil nunca goleia? Sempre que tem uma sobra de vantagem o brasileiro começa a se poupar, relaxar, brincar. Tem hora que quase vira a lebre na corrida contra a tartaruga. Prestes atenção. Essa observação nunca falha. Eu dizia que a seleção brasileira sempre sai mal porque quando o adversário é forte fica nervosa e quando é fraco entra de sapato alto.
Nunca se viu povo mais inerte. E isso não é circunstancial, é da natureza mesmo. O povo brasileiro é historicamente submisso. Traz a escravidão no sangue e tudo o que obteve de liberdade foi conquista alheia. A escravidão aqui foi das últimas a acabar e só acabou porque os ingleses patrulhavam os mares e a escravidão era uma ameaça à revolução industrial, e a extinguindo de vez enfraquecia economias rivais. Patrocínio, Castro Alves, Zumbi? Pura idealização da história oficial.
A independência foi um jogo de gabinete. Pedro I pretendia fazer o Brasil voltar ao domínio lusitano. Foi surpreendido pela abdicação.
Esse mesmo povo indolente assistiu, apático, a proclamação da república (não assistiu à proclamação, porque não deu assistência, apenas presenciou). Expulsão dos holandeses de Recife? Nem eram brasileiros mas portugueses. Se mataram pra tomar Pernambuco dum colonizador pra entregar a outro. Foram os primeiros puxa-saco. Na guerra do Paraguai (guerra grande ou guerra de 70, como é chamada no outro lado) os escravos é que foram mandados à luta. E, pasmem!, lutaram mesmo mas continuaram escravos! Quando Napoleão invadiu Portugal os brasileiros invadiram a Guiana francesa. A corte de Haia determinou que a devolvessem. E assim fizeram. Fosse Estados-Unidos…
A democracia moderna, as liberdades civis, a separação entre igreja e estado… Tudo obra da revolução francesa e da independência ianque. Aqui tudo é importado, tudo vem de mão-beijada. A ditadura do golpe de 1964 ficou 21 anos no poder e acabou de pachucha. A depender do povo nunca acabaria. Quando o presidente Collor bloqueou as contas de cadernetas de poupança a partir de 50 cruzeiros, o que se fez? Nada! Os cara-pintada? Manifestantes de opereta que em nada influíram na derrubada dum presidente que todos os setores já estavam derrubando, que a mídia que o elegeu queria reverter o processo. Esses estudantes cara-pintada o quê fazem quando a escola os explora com taxa e mensalidade abusiva e coisas mais? Nada! O quê os funcionários públicos fizeram contra a política imperial e entreguista de FHC?, esse neopseudocomunista (no pejorativo do termo) que visa solapar todos os grupos organizados? Nada! Tanto na inconfidência mineira quanto nas guerrilhas contra a ditadura militar uns poucos idealistas se perderam enquanto a maioria se deixou apavorar e acomodar. Somos o Homo pusilanimis, gnus em vez de javalis.
E hoje? Nossa juventude americanizada, sem cultura, culturalmente órfã, se desmancha em admiração pela nação mais belicosa e mal-humorada e corrupta da história.
Quando o presidente (ditador) Geisel decretou a criação do estado de Mato Grosso do Sul (na ocasião estado de Campo Grande) os divisionistas foram pegos de surpresa. Tanto a população do norte de Mato Grosso quanto do sul (atual Mato Grosso do Sul) assistiu apática o processo. A imprensa só deu manchete, não se ocupando do assunto tratado:
[...] A campanha pró desmembramento ressurgiu no início de 1975 na assembléia legislativa em Cuiabá. Dois deputados oposicionistas: Sérgio Cruz e Válter Pereira (MDB) e dois governistas: Rubem Figueiró e Édson Pires (Arena) passaram a defender publicamente o desmembramento do estado, combatida pelo cuiabano Mílton Figueiredo (Arena). O movimento teve pouca repercussão. Em Cuiabá o desmembramento era visto com desprezo e em Campo Grande com desinteresse.
Os jornais da capital (o estado de Mato Grosso e o diário de Cuiabá) se limitavam a pequenas notas, tratando o debate separatista como algo distante da realidade. O principal argumento contrário era o de que os deputados sulistas deveriam se preocupar com questões mais urgentes como saúde, educação e transporte[1].
Os três jornais de Campo Grande (Correio do estado, Diário da serra e Jornal da manhã) não deixavam de publicar ações dos deputados em Cuiabá mas não chegaram a estimular o debate sobre o desmembramento. A população acompanhava tudo com grande ceticismo e sem solidariedade aos deputados que defendiam a idéia.
[...] A partir de 1976 o debate ganhou outro foro, muito mais discreto: A Adesg (Associação dos diplomados da escola superior de guerra), sessões de Campo Grande e Corumbá, autora de inúmeros estudos políticos e econômicos sobre a importância do desmembramento.
O trabalho da Adesg seria encaminhado ao ministério do interior, responsável pelo projeto de desmembramento. O grande público não teve acesso por discrição da imprensa, que se limitou a noticiar as reuniões sem se ocupar do conteúdo.
[...] O anúncio sobre o estado de Campo Grande chegou ao povo via jornal Nacional. A liga sul-mato-grossense, desativada desde a década de 1930, foi reaberta só quando se teve certeza de que o estado seria mesmo dividido (mais precisamente, desmembrado).
[...] A notícia de que o dia 11 de outubro de 1977, data da assinatura da lei que criou o estado de Mato Grosso do Sul, foi festejado em Campo Grande e demais cidades do estado não corresponde à verdade. O povo não foi à rua, não houve concentração popular nem foguetório. Foi um dia corriqueiro aquela terça-feira ensolarada.[2]
Apenas um pequeno grupo de políticos e autoridades convidados teve acesso ao ato de sanção da lei no palácio do Planalto, em Brasília, não transmitido via estação radiofônica de Campo Grande. Muito menos via televisão.
[...] a decisão de emancipar o sul de Mato Grosso foi unilateral e atendeu preliminarmente a compromissos imediatos do regime militar que precisava dum estado pra compensar a fusão do Rio de Janeiro com a Guanabara. Naquele tempo um dos três senadores de cada estado era biônico e garantia a hegemonia da bancada governista no senado. [...]
Correio do estado

Campo Grande MS

11.10.2000
O topilés livre no Canadá se deu graças a uma garota que saiu à rua de peito aberto, foi presa e lutou pelo direito de andar de mamas de fora. Não foi um filósofo ou intelectual que lutou por esse direito. Nem políticos egrégios e respeitáveis, de alta cultura e discernimento, que perceberam que havia uma grave discriminação contra a mulher e decidiram abolir tal tabu absurdo.
A imprensa, defensora de gueis e todas as demais formas de perversão sexual, sempre se manteve puritana como uma freirinha de caridade, (não tão) sutilmente reforçando o preconceito.
Esquecemos que a luta pra liberdade é perpétua. Não podemos nos dar ao luxo de baixar a guarda e só dizer amém como fazemos há 500 anos. Quando um império baixa a guarda, deixa de vigiar as fronteiras e de espionar os vizinhos, é invadido, arrasado e desaparece ou vira escravo do invasor. Foi assim durante toda a história conhecida.
As autoridades chamam a todos nós de bandidos (com o apoio da imprensa) e que devemos todos entregar nossas armas em campanhas de desarmamento. E nós, raciocinando como criancinhas, obedecemos. Não fosse a internete e teríamos sido totalmente desarmado naquelas vergonhosas e piegas campanhas.
Na antiga Grécia sempre que se instaurava a democracia os nobres davam uma reviravolta. Vira-e-mexe, e o tirano era derrubado e a nobreza estava novamente no poder. Nunca houve uma democracia definitiva como no século 20 (definitiva até agora).
Há povos assim, passivos, dormentes, pusilânimes. São como ratazanas que voltam a agressividade contra os companheiros em vez de mirar os que os escravizam. Bismarque, o realizador da unificação alemã, sempre procurou isolar a Áustria, nunca tentou a anexar. Ludendorfe, em sua autobiografia, falou sobre os austríacos como maus combatentes. Rítler, quem anexou a Áustria, era austríaco.
Walter B Pitkin em seu livro Breve introdução à história da estupidez humana, 1932, no capítulo Psique ● submissão ● derrotados, fala sobre os austríacos. Levar em conta que foi escrito em 1932, a edição brasileira, editora Prometeu, é de 1943. Medites e vejas as semelhanças com o Brasil, se não tem semelhança com o desprezo que os ianques têm pelos brasileiros, embora eles não sejam tão diferentes (o ianque é individualista competitivo mas é um povo coeso. O brasileiro é individualista a raias do solipsismo). O golpe militar de 1964 nos deixou de joelhos como um cristão fanático ante o papa. Mas aos cubanos nunca puderam submeter.
A Áustria apresenta um quadro mais fascinante dos problemas humanos. Em parte porque pertence a nosso mundo e em parte porque as causas de sua submissão são mais obscuras. Os fatos, entretanto, se tornam evidentes, exceto aos que os vêem através das lentes do preconceito. Durante gerações esse país se classificou quase no fim da lista de produção de personalidades poderosas, de reconhecida superioridade. Nada o prova melhor que as extraordinárias comparações estabelecidas por Ellsworth Huntington em seu recente estudo sobre as características raciais e regionais (The character of races, Nova Iorque, 1924, páginas 231 e 354).
Utilizando como fonte de dados a Encyclopædia Britannica, Huntington investigou toda a lista de homens eminentes na Europa desde 1600. Notei que em cada 10.000 habitantes a Itália produziu mais de três vezes grandes homens que a Áustria. A Escócia, com cerca de um décimo da população da Áustria, pôde apresentar 648 personalidades de primeira-linha contra 125 da Áustria. Ou seja, cerca de 50 vezes esse número, proporcionalmente. O mesmo acontece com a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha. Mais chocante, entretanto, é a comparação com a Suíça, que se limita com a Áustria, que contém muitas pessoas do mesmo tronco racial geral e que, entretanto, produziu proporcionalmente quase dez vezes tantos homens notáveis quanto a Áustria.
Tudo isso se torna duplamente significativo quando observamos que, entre os 125 grandes homens da Áustria em três séculos, o número de soldados e de políticos é desproporcionalmente grande. Deve ocorrer a todos, imediatamente, o pensamento de que isso é precisamente o que deveríamos esperar num país onde as massas incluem um número elevadíssimo de homens e de mulheres submissos, pois, obviamente, à proporção que eles aumentam também aumentam as oportunidades das poucas personalidades agressivas e dominadoras, que encontram melhor campo pra agir na guerra e na política. Assim, num país onde há poucas figuras marcantes de qualquer espécie, os militares e os estadistas de valor se destacam.
Dissemos bastante sobre os grandes. Passemos aos pequenos. A grande e manifesta percentagem de austríacos parece ter sido submissa a ponto de causar o desprezo dos observadores poderosos. Entre os suíços das montanhas e os alemães do norte esse fato já se tornou comum, há muitos anos, e os povos do Balcãs, também há muito tempo, consideram os austríacos como vermes que mal servem pra isca de pesca. Provavelmente vos lembrareis da famosa frase de Bismarque: O bávaro é uma forma intermediária entre o austríaco e o homem. Isso se pode encontrar, duma forma ou doutra, no folclore local de todos os povos que entravam em contato com os camponeses austríacos e com as classes baixas de Viena.
Dois acontecimentos políticos provaram a verdade dessa opinião. O primeiro é a terrível carreira do imperador Francisco José, cujo impiedoso despotismo e supremo desprezo aos súditos, no sentido mais extenso, só encontraram paralelo na incrível docilidade desses súditos em relação a esse senhor medieval. O segundo acontecimento é a política cuidadosamente calculada de Lênin em relação às massas austríacas durante sua brilhante campanha de propaganda. Esse astuto gênio político mandou agitadores a todos os outros países a fim de conseguir adeptos pro bolchevismo, mas não perdeu tempo com os austríacos. De sua experiência pessoal com eles, Lênin sabia que era inútil arengar esse rebanho. No momento em que seus agentes parassem de falar, qualquer policial poderia fazer o rebanho voltar à linha. Antes da guerra mundial era, como sempre foi, desde então. Qualquer funcionário insignificante sempre pôde os levar a diante. Até mesmo os condutores de bonde os amaldiçoam e maltratam de maneira que seria ressentida pelos rebanhos do metrô novaiorquino. O austríaco agüenta imundície, pulga, doença, pobreza, despotismo e injustiça com a mesma apatia. Durante a guerra mundial isso espantou nossos observadores. Consideremos, por exemplo, os vienenses durante e depois da guerra. Vejamos o testemunho de Alonzo E Taylor.
A complacência e a paciência sem queixume com que dois milhões de indivíduos durante o último inverno em Viena agüentaram o frio, a escuridão a fome foram motivo de contínuo deslumbre pros americanos que viviam na cidade. Um famoso médico vienense me declarou que não era complacência mas estupidez… Uma interpretação mais natural e mais generosa é a predominância da natureza artística sobre a natureza prática. Os vienenses não parecem compreender sua posição. Pensam apenas no glorioso passado de sua cidade e não compreendem que as discussões de Paris se interessam, apenas, se elas estão dupla ou triplamente em bancarrota.
Saturday evening post
03.01.1920
A caridosa interpretação de Taylor não absolve os austríacos de estupidez. Simplesmente diz a mesma coisa que Bismarque dissera com palavras menos doces. Os indivíduos incapazes de apreender a situação em que acontecem estar são mais ou menos ininteligentes. Isto é, se tivessem tido tempo bastante prà apreender. E os indivíduos que vivem das glórias de seu passado podem ser excelentes estetas e mesmo artistas de segunda classe regulares (nenhum grande artista vive do passado) mas não podem ser classificados como seres pensantes. E se aceitam a fome, o frio e o despotismo sem ressentimento, nem mesmo são animais superiores.
Toda essa submissão pode ser patológica. Ouvi médicos competentes avançarem a teoria de que a predominância das moléstias venéreas e das pragas no vale do Danúbio é responsável pela inércia. Mas isso mal me convence, visto que muitos outros povos do Danúbio, igualmente infectados, não demonstram tal atitude. Considerai, por exemplo, os magiares e os sérvios. Não. As origens do mal se afundam na escuridão e já não podemos as encontrar.
Não nego a grande influência do clima na Áustria. Mas, a despeito das notáveis correlações de Huntington entre realizações regionais e clima, continuo na dúvida quanto à soma de fatos assim explicados. O clima da Áustria parece diferir muito pouco do das cidades suíças e do de muitas zonas da Alemanha pra ser a causa dessa inferioridade.
Não se conclua de tudo isso que todos os submissos sejam fracassados da natureza. Esse é o erro de muitos observadores. Muitos austríacos passivos levam boa vida. O austríaco mora na superfície das coisas. Gosta de sua cerveja, de seu jornal incrivelmente estúpido, de seus patins, do veraneio no Tirol, de seu verein (clube) e da música nos jardins. Em torno desses prazeres primitivos organiza sua vida. Se retira do mundo, não no sentido de fuga, como o fariam as pessoas dominadoras, mas simplesmente no sentido de o ignorar já que estou usando, agora, os termos êxito e fracasso, milhares desses austríacos são êxitos. É só quando os olhamos objetivamente, contra o vasto painel da vida na Terra e da luta pra existência, que sobre eles podemos falar como o fez Bismarque. A raça pode ser um completo fracasso mas suas personalidades podem ainda conseguir serenidade e felicidade. O caráter pode apodrecer enquanto o homem floresce não tocado pelo desprezo dos rebanhos estrangeiros.
Até agora a América foi, em geral, um pobre habitáculo pros submissos (Ignoro, naturalmente, a era de escravidão no sul durante a qual os dóceis negros floresceram como nunca) [...].
De quê adianta ser um país tão gigantesco e tropical mas com um povo com sangue de barata? Melhor seria se fôssemos como Cuba, Paraguai, Iêmen, Síria, Vietnã ou Afeganistão, países pequenos mas com um povo com identidade na cabeça e sangue nas veias.
Na noite de domingo, 31 de agosto de 1997, vi nesse gracioso programa do SBT, Topa tudo por dinheiro, um quadro engraçadíssimo que bem ilustra o que estou dizendo.
Numa academia de capoeira moças e rapazes se exercitavam. O professor interrompeu pra anunciar a visita dum mestre. Chegou o ator todo caracterizado e se apresentando como o criador duma inovação, em Belém do Pará, que consiste em movimentos baseados na natureza. O pessoal olhou, espantado. Ele começou, então, a executar uma série de movimentos patéticos, burlescos, afrescalhados, uma verdadeira palhaçada. E todos o imitam fielmente. No final perguntou o quê acharam daquilo tudo. Cada um respondeu que achou muito interessante, que os trejeitos são importantes pra se adquirir leveza… também perguntou, ironicamente, se aqueles movimentos acrescentam alguma coisa à capoeira. Todos acharam que sim. Foi então que revelou que era tudo uma palhaçada, que estavam participando do programa Topa tudo por dinheiro, e, esticando o braço, apontando a diante, que olhassem ali à câmera escondida, como era praxe encerrar a pegadinha.
Fazia tempo que eu não ria tanto. Ele os fazendo de bobos, e os panacas, insistindo em o levar a sério. São bem povo brasileiro mesmo: Acredita em tudo, engole tudo. São como aquele velho quadro humorístico do Balança mas não cai, onde o picolezeiro foi burlado a dar de graça um picolé ao moleque, quem voltou logo a seguir, pediu e levou o troco! É como nesses programas de auditório na tevê onde aparecem os cantores mais abomináveis e o público canta e dança com eles quando deveriam os expulsar sob chuva de ovo e tomate podres.
Um povo que perdeu o senso crítico e o senso-de-humor ao mesmo tempo. Não reage contra, nem entra no jogo burlando o burlador. Um povo apalermado.
Assim também acreditam nas autoridades, nos políticos, na Igreja, na imprensa, nos cientistas…
Veja o caso da genial matemática mirim de domingo, 31 de agosto de 1997.
O programa Fantástico, rede Globo, mostrou em reportagem a menina de doze anos que é o mais jovem calouro da história dessa universidade inglesa. A menina, como os irmãos, são todos intensamente aficionados a matemática. A menina espantou os examinadores com a rapidez. Então vemos um exemplo gritante de incrível ingenuidade e espantosa burrice simplória, o que mostra como a imprensa comete tolices ridículas mesmo sem querer: O repórter demonstrou a rapidez dela. Segundo ele, ela é mais rápida que a calculadora. Ela vai calcular no quadro negro e ele numa calculadora (vai somando tecla a tecla, não é calculadora programável) o somatório de um a cem: 1+2+3+4...+100. Ela rabisca
100×(100+1)/2
O repórter mostra espanto: Enquanto ele chegava ao décimo quinto termo ela apresentou o resultado.
O quê dizer dessa infantil tolice? Ela simplesmente usou a fórmula de somarial, progressão aritmética, conhecidíssima de qualquer colegial de primeiro científico:
 n? = 1+2+3+4...+n = n(n+1)/2
Qualquer pessoa de intelecto mediano pode fazer a conta de cabeça em poucos segundos, e ela o fez no quadro negro [100(100+1)/2 = 50×101 = 10×505 = 5050]. Não era preciso usar de distorção pra demonstrar o evidente alto intelecto dessa menina. Mas a imprensa parece viciada em distorcer, nem que seja um pouquinho, tem a síndrome de Pedro Malazartes. É só pra não perder a prática.
27 de março de 1999. Após o assassínio do vice-presidente do Paraguai, o presidente Raúl Cubas foi acusado de ser o mandante. Será votado o impedimento do presidente. Multidões saíram às ruas há dias. Hoje, carros queimados, calçadas destruídas. Um monumento improvisado aos jovens mortos: ¡Gracias, juventud valiente! Imagine isso no Brasil. Impensável. Meia dúzia de gatos pingados protestaria. O brasileiro recebe as notícias de modo sonolento.
De quê adianta ser um país tão gigantesco e tropical mas com um povo com sangue de barata? Melhor seria se fôssemos como Cuba ou Paraguai, Vietnã ou Afeganistão, Síria, Iêmen. Países pequenos mas com um povo com identidade na cabeça e sangue nas veias.
Em março de 1999 um pacote econômico do governo equatoriano causou protestos generalizados, com quebra-quebra, durando dias. Conseguiu-se fazer o governo voltar atrás nalguns itens. No Brasil protestos desse tipo sempre se restringem a pequenos grupos.
Em fevereiro de 2000 o político declaradamente pró-nazista Joerg Haider venceu a eleição na Áustria. A comunidade européia, Israel e Eua retiraram seus embaixadores de Viena e ameaçaram impor sanções econômicas. Aumentam os protestos de massa. O presidente austríaco empossou Joerg a contragosto. Os austríacos votaram em Joerg.
Em 1999 li um editorial sobre a timidez da política externa brasileira. O texto dizia que o Brasil não cumpre o papel que os estrangeiros esperam dele. Um país de dimensões continentais, que pleiteia uma vaga permanente no conselho de segurança da ONU, não procura participar e saber os acontecimentos internacionais. O Brasil age como se o mundo exterior não existisse ou não tivesse importância. Um país, como cantado no hino nacional: Deitado eternamente em berço esplêndido.
Em abril de 2000 os ianques protestaram ante as evidências de fraude nas eleições peruanas. Os fraudadores recuaram e houve um segundo turno. O Brasil ignorou tudo isso como se fossem eventos doutro planeta.
No final de 1999 o Brasil só reforçou as fronteiras com a Colômbia, ameaçada de invasão da guerrilha colombiana, após as ameaças de intervenção militar ianque.
Em 1999 Xanana Gusmão, líder da resistência timorense, na ocasião da tropa internacional de paz da ONU liderada pela Austrália pra defender os timorenses do massacre pelas milícias antindependentistas que arrasaram o país quando da vitória do plebiscito pra independência conta a Indonésia, diante da minguada participação do contingente brasileiro (50 indivíduos!) declarou que a participação insignificante do Brasil foi decepcionante, pois se esperava mais dum país de dimensões continentais e importância estratégica, sem falar em ser o maior e com maior população de língua portuguesa.
No documentário Além-mar, exibido pela TVE-RJ em abril de 2000, um cabo-verdiano discorria sobre a influência brasileira nos territórios ultramarinos de língua portuguesa (Macau, Goa…). O Brasil exerce através do Carnaval, da música, das telenovelas, etc, uma influência sobre a comunidade lusófona comparável à dos ianques no mundo. Mas o Brasil permanece fechado a seus irmãos de língua portuguesa. O Brasil, é uma cultura fechada a todos, exceto aos ianques, que deitam e rolam no Brasil.
O líder da resistência timorense e prêmio Nobel, José Ramos Horta, declarou no citado documentário:
— Houve sempre uma grande ignorância em Portugal nos anos 1970 e 1980 sobre Timor Leste. Mas a ignorância maior tem sido no Brasil. Os países africanos de língua portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau Moçambique, São Tomé-e-Príncipe, sempre tiveram grande sensibilidade e conhecimento sobre o problema de Timor Leste. Desde o início de nossa luta. Foram quem nos apoiaram sempre, quando a Indonésia invadiu Timor Leste.
O Brasil jamais se solidarizou, nem verbalmente, com o drama timorense. Não o governo nem o povo.
O Brasil parece não entender que ONU é só fachada e que a única coisa que pode fazer recuar uma agressão ianque é ter arma nuclear e anti-satélite, e eficiente serviço de espionagem.
Quando Eua a roubou dos mexicanos, que expulsaram os espanhóis, Las Vegas era habitada, principalmente, por índios paiúte despidos, que passavam longas horas arremessando ossos e varetas coloridos na areia, oferecendo suas mulheres e cavalos como garantia de aposta.
Naquela época e lugar os mórmons gozavam fama de ter boa mão pra plantar e excelentes dedos sanguinários pra puxar o gatilho, mas nem mesmo eles agüentaram o sol escaldante e a febre de jogo dos nativos.
Mário Puzo, Las Vegas
2011, a notícia de que a Nasa liberava dados da seca na Amazônia. Conversando com Glauder, disse:
— Não é espionagem, imperialismo. É que os brasileiros ficam com os dados e não divulgam.
Então falamos sobre como os brasileiros entraram tarde como escaneadores. Brasileiro, como europeu, é avarento. Já o ianque é generoso. Tudo o que tem quer que os outros tenham. Brasileiro se tem uma raridade não escaneia, tenta vender o mais caro possível.
Basta uma olhada nos preços de raridades e pseudorraridades no Mercado livre e na Estante virtual, pra confirmar.
Então me lembrei do que disse tio Benedito, que o povo lá é muito legal, nada tendo a ver com o governo.
Mas o Brasil não foi sempre assim. Basta conhecer o período de dom Pedro II pra ver o Brasil 4ª economia e 5ª potências mundiais.
Eis o único fato que contraria a tese.




[1] Velho clichê moralista
[2] Via tevê uma notícia de que nessa data em Cuiabá foram apedrejados muitos carros com placa de Campo Grande. Mas isso pode ser falso, como tantas notícias falsas há na internete.


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