domingo, 7 de fevereiro de 2021

Ichabode Seriema

Historietas 026 - Ichabode Seriema -Melhoramentos, 1943

O nome original da personagem é Ichabod Crane. Boa época, quando não se tinha preguiça de aportuguesar os nomes.

https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/crane

Crane: Guindaste, maçarico, grou, seriema. No dicionário inglês-português Barsa 1973: Grou (com maiúscula também astronomia. Ornitologia, por extensão, árdea, garça. Guindaste, braço móvel de suporte. Verbo transitivo e intransitivo: Guindar, esticar o pescoço.

Estranho traduzir Crane e não aportuguesar Ichabod a Ichabode

Mais exato e melhor soante Ichabode Garça

O nome Ichabod significa glória passada

Em analogia com o nome Glória, em minha tradução Ichabod Crane ficaria Inglório Grou ou Inglório Garça

O nome da localidade, Sleep hollow, tradicionalmente traduzido a vale Sonolento ou vale Adormecido, está Cidadezinha Sonolenta. Meio capenga. Melhor vila Sonolenta ou aldeia Adormecida e vice-versa. Hollow significa oco, buraco, depressão. Ficaria melhor buraco Sonolento, mas eu, balanceando sonoridade, exatidão e tradição, manteria o consagrado vale Adormecido.

 

Recordo que está em andamento mais lance do Almanaque do Globo juvenil 1944. Não é cansativo e tão trabalhoso. A questão é meus leitores esperando muito. Mas… bola-pra-frente.

 

Já vi muito minhas idéias circulando tempos depois. Até certo ponto é natural, pois também assimilo boas idéias alheias. Como alguém lançando a tese de que o universo nasceu dum buraco-negro num universo maior. Ou meu pequeno conto satírico de 1990, Memórias dum cartorário caipira, que virou as lembranças dum porteiro do fórum. Eis um texto, retrabalhado, que divulguei antes de existir este blogue:

Por quê o jovem não lê

Em 2007 minha sobrinha pediu uns livros da lista que o colégio fez: Meu tio matou um cara, O homem que virou suco… Comentei cuma professora da Ulbra, do porquê adotam modismo, esse tipo de literatura-lixo, em vez de livros de verdade.

Me lembrando dos livros que eu era obrigado a ler nos anos 1970, e ainda, pasmai!, fazer resumo: Dom Casmurro, Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, Clarissa, Música ao longe, Olhai os lírios do campo, Um lugar ao sol, Caminhos cruzados, de Érico Veríssimo, Memórias dum sargento de milícia, de Manoel Antônio de Almeida, Capitães da areia (Sim! Pasmai!), de Jorge Amado, por exemplo.

Imagines uma criança de 11, 12 anos ser obrigada a ler essas obras impróprias pra sua idade. Digo impróprias não no puritano, tolo, arbitrário e pseudocientífico conceito moralista das classificações etárias em livro, revista, cinema e televisão, mas enredos que criança nessa idade, com o cérebro ainda em formação, não consegue entender.

Era um pesadelo ter de resumir essas obras, de modo que o jeito era encher lingüiça pra preencher o caderno, pois felizmente a professora não leria mesmo. Enredos que eram uma tristeza infindável onde aparecia enterro com muito luto, dramas e tragédias dos mais tristes que se possa imaginar. Obras que não são ruins mas impróprias à idade. Mais chato que locutor vendedor no som de supermercado e sempre com clima muito pesado.

Isso me deu ojeriza a autor nacional. Durante muitos anos nem chegava perto de livro de autor nacional, pois estava impregnada em minha mente os associar a chatice, tristeza, obrigação maçante. Durante muitos anos ficou em minha estante o livro de conto O enfermeiro, de Machado de Assis. O via com desdém e nunca pegava, como se fosse um tratado de legislação comercial medieval em latim. Foi só com 20 e tantos nos de idade que finalmente o tirei da estante pra dar uma olhada. Então, ó!, quê beleza! Eu não sabia o que estava perdendo!

O melhor de Machado de Assis são os contos, um mopassã brasileiro, pois os contos de Machado são deliciosos como os de Guy de Maupassant.

Fico pensando no que os professores de então e de hoje têm na cabeça? O mesmo que o camarão. Quê tragédia intelectual nossa humanidade!

Me lembro que em 1971, com 7 anos, passando na tevê um daqueles clássicos filmes em tom-de-cinza dos anos 1940–1960, uma prima comentou detalhes do enredo do filme, que era de espionagem. Fiquei surpreso porque não percebia isso. Pra mim era apenas uma seqüência de ações.

É por isso que a criança vê e revê suas séries favoritas vezes e vezes seguidas, porque não entende o contexto, ficando só no lúdico. Eu via Perdidos no espaço vezes e vezes seguidas sem perder o interesse. Revejo com senso crítico, noto os defeitos e qualidades e o quão heterogênea é a qualidade dos episódios.

E o extremo oposto. Adotaram um livro cujo enredo era tão infantil, que eu rejeitava por ser muito bobo. Um tal Tancredo num castelo

Isso tudo é proposital. A política maçônica de degenerar a sociedade. Em Protocolos dos sábios do Sião diz: Criaremos uma literatura abominável. Norman Mailer é um dos exemplos mais flagrantes, mas já fugindo do tema. Dali toda a crescente desvalorização do ofício pedagógico e o fato, agora compreensível, do fenômeno de que o grosso dos ícones da literatura adotada no ensino ser constituído por obras e autores menores, e preferentemente chatos.

Um desses autores consagrados, monstro-sagrado da literatura adotada no ensino, é Guimarães Rosa, um dos representantes máximos da chatice literária, que pode ser interessante apenas no ponto-de-vista documental. Os sertões é sua obra mais famosa. Li sua insossa coletânea Primeiras estórias, e não pretendo reencarar o autor. Nesse livro só duas dessas estórias é interessante, mas suspeito que essas lhe foram contadas.

Com começos assim tão traumáticos alguém se espanta de que as pessoas não gostem de ler? Os que gostam são exceções, acidentes. É sorte que ainda existam depois de tanta incompetência, descaso, despreparo e burrice. Me lembro do curso gratuito de russo promovido por uma igreja mórmon em minha cidade, Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Mal começou a alfabetizar e já deu gramática. O resultado foi debandada geral até só restar duas alunas. Porque toda a truculência e incoerências mil só agüentávamos porque éramos crianças.

Mas eis que fui salvo. Como um deus ex machina adotaram O homem que calculava, de Malba Tahan. Me apaixonei. Graças a esse romance maravilhoso me tornei ávido leitor. Depois, com Contos de terror, mistério e morte, de Edgar Allan Poe, direcionei de vez minha vocação literária ao conto. Mas essa é outra história.

Outro fator que poderosamente me incrustou o gosto de ler foi uma biblioteca itinerante que passou em meu colégio. Escolhi Viagem ao céu, de Monteiro Lobato e passei o dia lendo ali ao lado. Um atendente disse que eu era o único quietinho lendo um livro, enquanto as outras crianças pegavam um e outro em algazarra.

Se eu tivesse de me refugiar noutro planeta e só pudesse levar três livros, seriam O despertar dos magos, de Louis Pauwels & Jacques Bergier, O homem que calculava, de Malba Tahan, e Contos de terror, mistério e morte, de Edgar Allan Poe.

 

Coleção cartão-postal de Joanco

 




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