O nome original da personagem é Ichabod Crane. Boa época, quando não se
tinha preguiça de aportuguesar os nomes.
https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/crane
Crane: Guindaste,
maçarico, grou, seriema. No dicionário inglês-português
Barsa 1973: Grou (com maiúscula também astronomia. Ornitologia, por
extensão, árdea, garça. Guindaste, braço móvel de suporte. Verbo transitivo e
intransitivo: Guindar, esticar o pescoço.
Estranho traduzir Crane e não aportuguesar Ichabod a Ichabode
Mais exato e melhor soante Ichabode
Garça
O nome Ichabod significa glória
passada
Em analogia com o nome Glória, em minha tradução Ichabod Crane ficaria
Inglório Grou ou Inglório Garça
O nome da localidade, Sleep hollow, tradicionalmente traduzido
a vale Sonolento ou vale Adormecido, está Cidadezinha Sonolenta. Meio capenga.
Melhor vila Sonolenta ou aldeia Adormecida e vice-versa. Hollow significa oco, buraco, depressão. Ficaria melhor buraco Sonolento, mas eu, balanceando
sonoridade, exatidão e tradição, manteria o consagrado vale Adormecido.
Recordo que está em andamento mais
lance do Almanaque do Globo juvenil
1944. Não é cansativo e tão trabalhoso. A questão é meus leitores esperando
muito. Mas… bola-pra-frente.
Já vi muito minhas idéias
circulando tempos depois. Até certo ponto é natural, pois também assimilo boas
idéias alheias. Como alguém lançando a tese de que o universo nasceu dum
buraco-negro num universo maior. Ou meu pequeno conto satírico de 1990,
Memórias dum cartorário caipira, que virou as lembranças dum porteiro do fórum.
Eis um texto, retrabalhado, que divulguei antes de existir este blogue:
Por quê o jovem não lê
Em 2007 minha sobrinha pediu uns livros da lista que o
colégio fez: Meu tio matou um cara, O homem que virou suco… Comentei cuma professora da
Ulbra, do porquê adotam modismo, esse tipo de literatura-lixo, em vez de livros
de verdade.
Me
lembrando dos livros que eu era obrigado a ler nos anos 1970, e ainda, pasmai!,
fazer resumo: Dom Casmurro, Memórias póstumas de Brás Cubas, de
Machado de Assis, Clarissa, Música ao longe, Olhai os lírios do campo, Um
lugar ao sol, Caminhos cruzados,
de Érico Veríssimo, Memórias dum sargento
de milícia, de Manoel Antônio de Almeida, Capitães da areia (Sim! Pasmai!), de Jorge Amado, por exemplo.
Imagines
uma criança de 11, 12 anos ser obrigada a ler essas obras impróprias pra sua
idade. Digo impróprias não no puritano, tolo, arbitrário e pseudocientífico
conceito moralista das classificações etárias em livro, revista, cinema e
televisão, mas enredos que criança nessa idade, com o cérebro ainda em
formação, não consegue entender.
Era um
pesadelo ter de resumir essas obras, de modo que o jeito era encher lingüiça
pra preencher o caderno, pois felizmente a professora não leria mesmo. Enredos
que eram uma tristeza infindável onde aparecia enterro com muito luto, dramas e
tragédias dos mais tristes que se possa imaginar. Obras que não são ruins mas
impróprias à idade. Mais chato que locutor vendedor no som de supermercado e
sempre com clima muito pesado.
Isso me
deu ojeriza a autor nacional. Durante muitos anos nem chegava perto de livro de
autor nacional, pois estava impregnada em minha mente os associar a chatice,
tristeza, obrigação maçante. Durante muitos anos ficou em minha estante o livro
de conto O enfermeiro, de Machado de
Assis. O via com desdém e nunca pegava, como se fosse um tratado de legislação
comercial medieval em latim. Foi só com 20 e tantos nos de idade que finalmente
o tirei da estante pra dar uma olhada. Então, ó!, quê beleza! Eu não sabia o
que estava perdendo!
O
melhor de Machado de Assis são os contos, um mopassã brasileiro, pois os contos
de Machado são deliciosos como os de Guy de Maupassant.
Fico
pensando no que os professores de então e de hoje têm na cabeça? O mesmo que o
camarão. Quê tragédia intelectual nossa humanidade!
Me
lembro que em 1971, com 7 anos, passando na tevê um daqueles clássicos filmes
em tom-de-cinza dos anos 1940–1960, uma prima comentou detalhes do enredo do
filme, que era de espionagem. Fiquei surpreso porque não percebia isso. Pra mim
era apenas uma seqüência de ações.
É por
isso que a criança vê e revê suas séries favoritas vezes e vezes seguidas,
porque não entende o contexto, ficando só no lúdico. Eu via Perdidos no espaço vezes e vezes
seguidas sem perder o interesse. Revejo com senso crítico, noto os defeitos e
qualidades e o quão heterogênea é a qualidade dos episódios.
E o extremo oposto. Adotaram um livro cujo enredo era tão
infantil, que eu rejeitava por ser muito bobo. Um tal Tancredo num castelo…
Isso
tudo é proposital. A política maçônica de degenerar a sociedade. Em Protocolos
dos sábios do Sião diz: Criaremos
uma literatura abominável.
Norman Mailer é um dos exemplos mais flagrantes, mas já fugindo do tema. Dali
toda a crescente desvalorização do ofício pedagógico e o fato, agora
compreensível, do fenômeno de que o grosso dos ícones da literatura adotada no
ensino ser constituído por obras e autores menores, e preferentemente chatos.
Um
desses autores consagrados, monstro-sagrado da literatura adotada no ensino, é
Guimarães Rosa, um dos representantes máximos da chatice literária, que pode
ser interessante apenas no ponto-de-vista documental. Os sertões é sua obra mais famosa. Li sua insossa coletânea Primeiras estórias, e não pretendo
reencarar o autor. Nesse livro só duas dessas estórias é interessante, mas
suspeito que essas lhe foram contadas.
Com
começos assim tão traumáticos alguém se espanta de que as pessoas não gostem de
ler? Os que gostam são exceções, acidentes. É sorte que ainda existam depois de
tanta incompetência, descaso, despreparo e burrice. Me lembro do curso gratuito
de russo promovido por uma igreja mórmon em minha cidade, Campo Grande, Mato
Grosso do Sul. Mal começou a alfabetizar e já deu gramática. O resultado foi
debandada geral até só restar duas alunas. Porque toda a truculência e
incoerências mil só agüentávamos porque éramos crianças.
Mas eis
que fui salvo. Como um deus ex machina
adotaram O homem que calculava, de
Malba Tahan. Me apaixonei. Graças a esse romance maravilhoso me tornei ávido
leitor. Depois, com Contos de terror,
mistério e morte, de Edgar Allan Poe, direcionei de vez minha vocação
literária ao conto. Mas essa é outra história.
Outro
fator que poderosamente me incrustou o gosto de ler foi uma biblioteca
itinerante que passou em meu colégio. Escolhi
Viagem ao céu, de Monteiro Lobato e passei o dia lendo ali ao lado. Um atendente
disse que eu era o único quietinho lendo um livro, enquanto as outras crianças
pegavam um e outro em algazarra.
Se eu
tivesse de me refugiar noutro planeta e só pudesse levar três livros, seriam O
despertar dos magos, de Louis Pauwels & Jacques Bergier, O homem que calculava, de Malba Tahan, e
Contos de terror, mistério e morte,
de Edgar Allan Poe.
Coleção cartão-postal de Joanco
Show de bola parceiro!!👏👏
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