Editorial
Um cafquiano estado-policial
No imaginário
popular solteiro vive na farra e aposentado está sempre curtindo. Mas basta
chegar até lá pra ver que muitas crenças são fantasiosas, como a aposentadoria
por saúde ser 100% do salário, por exemplo.
Mas agora abordarei
o tema da recadastromania. Além da absurda necessidade de me apresentar todo
ano pra prova-de-vida, tem recadastro dum órgão, doutro e mais doutro…
Em 2019 recebi um telefonema pra me apresentar num órgão
tal. Só isso. Sem papel, assinatura nem saber do quê se trata. Agendando a
hora, fiquei 1 hora esperando. Finalmente chamado, um casal brandindo meu
processo e tentando puxar minha língua, tentando achar irregularidade de
qualquer jeito. Não sou obrigado a fazer prova contra mim.
— Quem sois e o quê quereis?
Como depor sem saber quem são nem o quê querem? Desprezei o
pedido, e a coisa ficou ali.
E acham que o aposentado está ligado nas notícias como
quando estava ativo.
Há muitos anos não vejo tevê. Vivo enfurnado com meu
computador, meus livros e meus gatos. Vou ao banco e vejo tudo deserto.
Estranhando o movimento vou perguntar, e me é revelado ser feriado. Quase perdi
a eleição 2018. Por sorte Valdinei passou aqui e comentou.
Num re de 2000 e pouco só fiquei sabendo porque um amigo avisou
No fim de junho uma funcionária de meu antigo órgão ligou
pra avisar sobre a recadastragem do MSprev. Bem no finalzinho, últimos dias. A
tentativa de o fazer via internete não deu certo. Uma semana depois ligou
novamente pra avisar que quem não fiz, e que foi prorrogado durante 5 dias. O
problema é que além dos documentos triviais havia dois sobre os quais nunca
ouvi falar e mui difíceis obter. Fui ao atendimento presencial na esperança de
os obter ali. Mas não.
Então tive de apelar a meu advogado. Pedi socorro. Pararam tudo
pra me atender.
É por isso que não gosto de ler Kafka. Parece que estou
lendo as notícias nacionais.
2 horas de trabalho pesquisando, procurando, preenchendo
modelos e muita tentativa de foto celulárica seguida de reconhecimento facial.
Mesmo assim ficou de levar minha assinatura. Mas então é presencial de qualquer
maneira.
O preço do serviço: 1 salário-mínimo, 1320R$
Então a hora é de 1320/2R$/h = (1000+300+20)/2R$/h =
(500+150+10) = 660R$/h
Em jornada diária de
8 horas, o rendimento mensal é de 660×8×30 = 158.400R$
Não estás vendo o
total de grãos de trigo no tabuleiro na lenda do xadrez
É isso mesmo: Meu
trabalho de escanear, restaurar, traduzir, revisar, etc, que faço como
voluntariado, devia me renderiam cento e cinqüenta e oito mil e quatrocentos reais por mês
Mas além de nada
receber pago a conta do provedor internético, comprei espaço no Mega porque já
tive arquivo apagado lá na conta grátis, comprei o OCR Omnipage 18. Se fosse pagar tudo que uso na rede, internetar seria
inviável. Sem esquecer o altíssimo preço dos livros raros, típico dum país
capitalista selvagem, inferno fiscal e de cultura avarenta.
No Mercado livre
não consigo comprar. Uma invasão a meu cartão-de-crédito lá, troca do cartão.
Tinha de trocar a senha. Enviar o RG pra validar, como solicitado, não funcionou.
O sistema truncado. Não posso entrar pra trocar a senha. Não posso criar nova
conta porque já tem uma em meu imeio. Então, pra comprar, meu colaborador
Daniel pede ao vendedor enviar àqui um boleto. E tudo bem.
Quando estive no setor central
de mandado, 2004, li num processo um pedido dum sujeito indignado porque o
oficial-de-justiça não conseguiu intimar um devedor de pensão alimentícia. Protestou
contra a coisa ficar como está. O juiz respondeu que não pode caçar o devedor
porque não estamos num estado-policial. Perguntei à chefe do setor:
— Mas o devedor da pensão não é procurado até ser achado?
— Não. O oficial-de-justiça tenta três vezes. Se não o achar
desiste.
(Por falar nisso, passei quase a totalidade do tempo no
arquivo geral. Nunca vi alguém pedir pra visualizar
um processo. Sempre se pede vista, pra ver, pra ler. Essa deturpação do
significado do vocábulo visualizar é
um produto da era internética)
Se for devedor de imposto prendem o cara até em arquibancada
de olimpíada no estrangeiro
Mas o aposentado estar sempre sob a suspeita de ser
fraudador, a todo momento tem de se apresentar e apresentar documento de todo
tipo, tendo de provar que não é fraudador pra não ter o salário bloqueado. Isso
não é estado-policial?
É uma perversão satânica do princípio de cidadania:
Ministério
do direito humano e da cidadania
Artigo
11º: Todos são inocentes até que se
prove o contrário
Publicado
em 30.11.2018, 08:05h
Também viola o princípio Ninguém é obrigado a fazer prova contra si
Por quê não vem o oficial três vezes, não me acha e me esquecem,
e fica tudo nisso-mesmo?
Rende mais dever pensão alimentícia que ser aposentado
Tudo é porque é mais cômodo e barato reprimir o aposentado,
que fazer investigação policial. Como é mais cômodo e barato fazer barreira na
estrada e tomar tudo de quem compra um vinho a mais no Paraguai, que investigar
se quem comprou está comercializando (não é consumo próprio nem presente). Ou
seja, métodos dum estado-policial depravado que é bonzinho com o cafajeste que
não paga pensão alimentícia mas é rigoroso com o aposentado que passou um
processo longo e complicado com situações vexatórias. Aos nossos
todas as facilidades, aos adversários todas as dificuldades. Aos demais a lei.
Ambos casos são abusos contra os direitos individuais
Tem 3 anos que contrato contador pra declarar meu
imposto-de-renda. Antes o fazia em-linha. Mas foi ficando cada vez mais
complicado, que não mais consegui fazer. Na mais recente paguei 200R$ o serviço,
além da multa por não declarar.
Ter de declarar é o cúmulo da bur(r)ocracia. Esse regime não
é estado-policial?
Voto obrigatório não é coisa de estado-policial?
Voto nulo enquanto o voto for obrigatório
Oxalá o fiscal tributário e o fiscal eleitoral me procurassem
três vezes e desistissem, e ficasse tudo nisso-mesmo
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