sábado, 8 de julho de 2023

Um cafquiano estado-policial


 Editorial

Um cafquiano estado-policial

No imaginário popular solteiro vive na farra e aposentado está sempre curtindo. Mas basta chegar até lá pra ver que muitas crenças são fantasiosas, como a aposentadoria por saúde ser 100% do salário, por exemplo.

Mas agora abordarei o tema da recadastromania. Além da absurda necessidade de me apresentar todo ano pra prova-de-vida, tem recadastro dum órgão, doutro e mais doutro

Em 2019 recebi um telefonema pra me apresentar num órgão tal. Só isso. Sem papel, assinatura nem saber do quê se trata. Agendando a hora, fiquei 1 hora esperando. Finalmente chamado, um casal brandindo meu processo e tentando puxar minha língua, tentando achar irregularidade de qualquer jeito. Não sou obrigado a fazer prova contra mim.

— Quem sois e o quê quereis?

Como depor sem saber quem são nem o quê querem? Desprezei o pedido, e a coisa ficou ali.

E acham que o aposentado está ligado nas notícias como quando estava ativo.

Há muitos anos não vejo tevê. Vivo enfurnado com meu computador, meus livros e meus gatos. Vou ao banco e vejo tudo deserto. Estranhando o movimento vou perguntar, e me é revelado ser feriado. Quase perdi a eleição 2018. Por sorte Valdinei passou aqui e comentou.

Num re de 2000 e pouco só fiquei sabendo porque um amigo avisou

No fim de junho uma funcionária de meu antigo órgão ligou pra avisar sobre a recadastragem do MSprev. Bem no finalzinho, últimos dias. A tentativa de o fazer via internete não deu certo. Uma semana depois ligou novamente pra avisar que quem não fiz, e que foi prorrogado durante 5 dias. O problema é que além dos documentos triviais havia dois sobre os quais nunca ouvi falar e mui difíceis obter. Fui ao atendimento presencial na esperança de os obter ali. Mas não.

Então tive de apelar a meu advogado. Pedi socorro. Pararam tudo pra me atender.

É por isso que não gosto de ler Kafka. Parece que estou lendo as notícias nacionais.

2 horas de trabalho pesquisando, procurando, preenchendo modelos e muita tentativa de foto celulárica seguida de reconhecimento facial. Mesmo assim ficou de levar minha assinatura. Mas então é presencial de qualquer maneira.

O preço do serviço: 1 salário-mínimo, 1320R$

Então a hora é de 1320/2R$/h = (1000+300+20)/2R$/h = (500+150+10) = 660R$/h

Em jornada diária de 8 horas, o rendimento mensal é de 660×8×30 = 158.400R$

Não estás vendo o total de grãos de trigo no tabuleiro na lenda do xadrez

É isso mesmo: Meu trabalho de escanear, restaurar, traduzir, revisar, etc, que faço como voluntariado, devia me renderiam cento e cinqüenta e oito mil e quatrocentos reais por mês

Mas além de nada receber pago a conta do provedor internético, comprei espaço no Mega porque já tive arquivo apagado lá na conta grátis, comprei o OCR Omnipage 18. Se fosse pagar tudo que uso na rede, internetar seria inviável. Sem esquecer o altíssimo preço dos livros raros, típico dum país capitalista selvagem, inferno fiscal e de cultura avarenta.

No Mercado livre não consigo comprar. Uma invasão a meu cartão-de-crédito lá, troca do cartão. Tinha de trocar a senha. Enviar o RG pra validar, como solicitado, não funcionou. O sistema truncado. Não posso entrar pra trocar a senha. Não posso criar nova conta porque já tem uma em meu imeio. Então, pra comprar, meu colaborador Daniel pede ao vendedor enviar àqui um boleto. E tudo bem.

Quando estive no setor central de mandado, 2004, li num processo um pedido dum sujeito indignado porque o oficial-de-justiça não conseguiu intimar um devedor de pensão alimentícia. Protestou contra a coisa ficar como está. O juiz respondeu que não pode caçar o devedor porque não estamos num estado-policial. Perguntei à chefe do setor:

— Mas o devedor da pensão não é procurado até ser achado?

— Não. O oficial-de-justiça tenta três vezes. Se não o achar desiste.

(Por falar nisso, passei quase a totalidade do tempo no arquivo geral. Nunca vi alguém pedir pra visualizar um processo. Sempre se pede vista, pra ver, pra ler. Essa deturpação do significado do vocábulo visualizar é um produto da era internética)

Se for devedor de imposto prendem o cara até em arquibancada de olimpíada no estrangeiro

Mas o aposentado estar sempre sob a suspeita de ser fraudador, a todo momento tem de se apresentar e apresentar documento de todo tipo, tendo de provar que não é fraudador pra não ter o salário bloqueado. Isso não é estado-policial?

É uma perversão satânica do princípio de cidadania:

Ministério do direito humano e da cidadania

Artigo 11º: Todos são inocentes até que se prove o contrário

Publicado em 30.11.2018, 08:05h

Também viola o princípio Ninguém é obrigado a fazer prova contra si

Por quê não vem o oficial três vezes, não me acha e me esquecem, e fica tudo nisso-mesmo?

Rende mais dever pensão alimentícia que ser aposentado

Tudo é porque é mais cômodo e barato reprimir o aposentado, que fazer investigação policial. Como é mais cômodo e barato fazer barreira na estrada e tomar tudo de quem compra um vinho a mais no Paraguai, que investigar se quem comprou está comercializando (não é consumo próprio nem presente). Ou seja, métodos dum estado-policial depravado que é bonzinho com o cafajeste que não paga pensão alimentícia mas é rigoroso com o aposentado que passou um processo longo e complicado com situações vexatórias. Aos nossos todas as facilidades, aos adversários todas as dificuldades. Aos demais a lei.

Ambos casos são abusos contra os direitos individuais

Tem 3 anos que contrato contador pra declarar meu imposto-de-renda. Antes o fazia em-linha. Mas foi ficando cada vez mais complicado, que não mais consegui fazer. Na mais recente paguei 200R$ o serviço, além da multa por não declarar.

Ter de declarar é o cúmulo da bur(r)ocracia. Esse regime não é estado-policial?

Voto obrigatório não é coisa de estado-policial?

Voto nulo enquanto o voto for obrigatório

Oxalá o fiscal tributário e o fiscal eleitoral me procurassem três vezes e desistissem, e ficasse tudo nisso-mesmo

Nenhum comentário:

Postar um comentário