Mais um
número deste maravilhoso gibi
Amigos,
a editora
Clock Tower está com a impressão concluída de O ciclo de Yig, livro com contos inéditos de Lovecraft.
Também
temos disponíveis A terra da noite,
de William Hope Hodgson que teve ótima repercussão.
Fora
isso ainda, estamos relançando a versão capa dura da antologia O mundo fantástico de HP Lovecraft.
Peço
ajuda em divulgação. Somos pequenos. Por mais que eu faça, nosso feis (conexão
abaixo), não passa de 3000 seguidores.
Abaixo
a conexão da loja e também foto dos livros:
Um
grande abraço,
Denílson
● O correio inovou na
entrega. Agora em vez de assinar numa folha a respectiva entrega, assina no
pacote, e o carteiro tira foto da rubrica. Então por quê não tira foto da cara
de quem recebe?
● Império do Brasil,
termo impróprio. O quê é império?
Império é uma reunião de reinos ou um reino com colônias. Quando um reino se
torna muito poderoso e anexa os reinos ao redor, os tornando reinos vassalos,
temos um império. Portugal formou um império com suas colônias. O reino unido
de Brasil, Portugal e Algarves era um império mas o império do Brasil era um
reino.
● A república brasileira é ilegítima, pois nasceu dum
golpe-de-estado. Todos os governos republicanos são ilegítimos, mesmo o
recentemente eleito, produto de manipulação publicitária e fantoche de
Estados-Unidos.
● Quem não conhece a estória do porteiro do puteiro? Tem
hora produzir obras-primas, pois não faltam imitadores e plagiadores. Circula
na internete um conto de êxito atribuído ao dono da Tramontina. E também a
outras empresas, mas em muito menor grau. Num sítio de língua castelhana
constatei nos comentários o quão espalhada está essa farsa. Desci nos
comentários até o fim, mais de hora. É impressionante a quantidade de
castelhanófonos que crêem piamente que é a história-de-vida do dono da
Tramontina.
Alguém pegou o conto clássico de William Somerset Maugam, O sacristão da igreja (The verger) (Não sei de sacristão que
não seja de igreja. Me corrigir se estiver enganado).
O bispo descobriu que o sacristão é analfabeto, então o
demitiu. Tendo de se virar, virou comerciante de tabaco e ficou rico. Um
fornecedor percebeu ser analfabeto e se admirou, dizendo que se não fosse o quê
seria então. O comerciante respondeu que sabia, que se não fosse analfabeto
seria sacristão da igreja tal.
Um farsante adaptou o conto e pôs o sacristão como o dono da
Tramontina, trocando a profissão de sacristão por porteiro do puteiro e o
negócio de tabaco por uma casa-de-ferragem. O enredo ficou muito remendão, pois
onde se viu um lugar sem uma ferraria pequena que fosse? Além do que a
profissão original ser marginal, de pessoa mais bruta e primitiva, não
coadunando com quem roda a baiana e levanta a poeira do chão dando a volta por
cima com tanta competência. E por aí vai…
● É comum na imprensa-ralé ouvir o dizer algo como agora fulano está solteiro. Isso é
licença poética, pois solteiro só se é uma vez na vida. O casamento não é
indissolúvel mas é irreversível. Doravante o sujeito pode ser desquitado,
separado, divorciado, etc, mas nunca mais solteiro.
● Na segunda-feira, 3 de dezembro, ao entrar ao
Pão-de-Açúcar de Campo Grande, o intenso assédio dos vendedores de assinatura
de revista fingindo dar de brinde uma sacola, pra quem tem cartão tal, e no fim
teria de pagar o apenas frete. O
mesmo golpe da mala de brinde nos aeroportos. Se fosse um país sério a polícia
chamaria esses golpistas a depor e resultaria em ao menos dois meses de prisão.
O Extra já há muito decadente, com cara de mercadão, o Walmart tão decadente
que a quem for ver ar-condicionado o vendedor avisa que é usado e que tem de
mandar consertar antes de usar. Já não se pode mais nem entrar em mercado
supostamente de elite, sem ser assediado ao estilo Cartagena das Índias ou
fruteiros do mercadão paulistano! Só falta ter ambulante dentro da loja e
mendigo assediando!
● No sebo vi o livro de Demis Roussos, Emagrecer comendo. Me lembrou o de Chico Anísio, Como conservar teu casamento.
● Basta um fiapo de pêlo felino pra desorientar o mause
ótico
● Até Jacques Bergier embarcou fundo na roubada da Vinci
gênio. Em Os mestres secretos do tempo
chegou a aventar ser um crononauta.
● Todos temos a imagem do detetive Sherlock Holmes, de
Arthur Conan Doyle, como o rei da lógica, da dedução, dos princípios
científicos. Obra ficcional mas pé-no-chão, adulta, sóbria… Mas vejamos o conto
Um caso de identidade (A case of identity). Uma jovem procurou
o detetive pra achar seu namorado desaparecido. O detetive descobriu que o
padrasto dela dava sumiço nos pretendentes porque se ela se casasse deixaria de
receber uma pensão. Então se disfarçou e a conquistou, a deixando apaixonada,
pra logo sumir e ela ficar na esperança de o reencontrar, não querendo outro. Ora!
Francamente! Isso caberia numa série mais à fantasia ou satírica!
● Uma ianque que aprendeu português, falando sobre as
diferenças culturais em seu canal iutúbico explicou que em Eua o riso hihihihi (hehehehe em inglês) é feminino. Aqui não tem esse conceito. Temos o
riso de alegria de palhaço ou piada hahahaha,
de satisfação hehehehe, escarninho
hihihihi, de cumprimento que é o hohohoho
de Papai Noel, de susto huhuhuhu.
● O estereótipo da guerra do Paraguai. No canal iutúbico castelhano
de Jorge Guerra, ao citar a guerra do Paraguai falou em genocídio. Então comentei
que o Paraguai sabe que foi o agressor e nunca se vitimizou. Quem o faz é quem
não o conhece. Que genocídio implica em ato intencional. Quem se esfalfou todo,
quase uma vitória-de-pirro, pra vencer um agressor fanatizado que não aceitava
se render não é genocida. E que não comento com intuito patriota mas procurando
a verdade. Que uma vez, no Taringa, comentei que a participação platina no
conflito foi só logística, basicamente fornecimento de gado. Alguém apresentou
uma estatística sobre os mortos argentinos e uruguaios, e então reconheci que
minha informação estava errada. Que escaneei e está postado o livro dum general
francês presente no conflito, e de pesquisadores de fonte primária, não um
simples bacharel que foi pesquisar pra apresentar tese de mestrado, por
exemplo. Jorge respondeu que ficou
balançado com o comentário e sugeriu uma resenha. Então estou passando trechos
significativos do que vou lendo.
Acyr Vaz Guimarães
Editora
UCDB, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil, 2001
Senhor Acyr Vaz Guimarães é membro efetivo do instituto
histórico e geográfico de Mato Grosso do Sul e sócio correspondente do instituto
histórico de Mato Grosso e da academia de história militar terrestre do Brasil.
Tem os seguintes livros publicados: 600 léguas
a pé (republicado pela Biblioteca do Exército); História de Mato Grosso do Sul, em parceria com Hildebrando
Campestrini, Mato Grosso do Sul, sua
evolução histórica, Guerra do
Paraguai, volume 1: Verdades e mentiras, 500 Léguas em canoa, de Araraitaguaba às minas do Cuiabá, História dos municípios, volume 1. A
publicar: Notas históricas (relativas
a Mato Grosso do Sul), História dos municípios,
volume 2, A saga bandeirante, A guerra que Solano López fez, y Rios, lagos e canais navegáveis do mundo.
É membro da academia sul-mato-grossense de letra e da academia
ponta-poranense de letra.
Nesta obra retoma de forma inédita os prelúdios da guerra da
tríplice aliança, notadamente aqueles fatos que representavam o pensamento
expansionista de Francisco Solano López. De forma simples e direta esclarece as
causas da guerra do Paraguai contra o Brasil, Argentina e Uruguai.
Nasceu em 1919, no município de Ponta Porã, na proximidade
da antiga colônia militar de Dourados, hoje importante marco histórico da
região.
Homem do campo, se formou em agronomia e se dedicou ao
cultivo da terra, exercendo profissão também como funcionário do ministério da
agricultura no estado. Após se aposentar se dedicou ao estudo da história de
seu estado natal, o antigo Mato Grosso, pesquisando o contexto social na época
da guerra do Paraguai e os fatos que a provocaram.
É considerado um historiador de extrema dedicação em relação
ao levantamento de dados históricos, via-de-regra diretamente de fontes
primárias. Isso lhe valeu elogio e reconhecimento.
Pra bem aquilatar as causas da guerra do Paraguai, as
relações diplomáticas entre o império do Brasil e a república do Paraguai devem
ser sempre estudadas. Essa é a razão deste livro, que as percorre durante um
período de 40 anos, de 1824 a 1864. Nesse intervalo, devidamente analisado,
está toda a razão da guerra. Basta ser lido com atenção e ligados os fatos, um
a um, pra se chegar à eclosão da guerra.
Fatos não estudados pela história mas existentes podem ao
longo do tempo reformular extraordinariamente o contexto que levou Francisco
Solano López a fazer a guerra do Paraguai. Neste livro se cita a fundação do
império do rio da Prata (ou outro nome) que López instituiria no começo de
1864. A guerra, segundo raciocínio lógico, foi antecipada diante dos
acontecimentos no Uruguai, a partir de 1863. Isso o impediu de proclamar seu
império, precipitando a guerra antevista havia muitos anos (1856). Se quebrou
assim a estrutura que López armara pra enfrentar Argentina e Brasil, dois
fortes inimigos, tal fora a ajuda do imperador Napoleão III da França, feita
então ao México, que repetiria ao Paraguai, outro império a ser tutelado. Em
guerra contra a Prússia, a ajuda francesa não aconteceu, ficando López sozinho
pra enfrentar os dois inimigos. São fatos a ser esclarecidos, que não
obscurecem os contidos neste livro. Aqueles como conseqüência destes.
Se a história
não cumpre sua missão exemplar de informar, não merece a devoção dos
estudiosos, e menos se ela se prostitui com fins políticos disfarçados de
patriotismo.
Efraim Cardozo, historiador
paraguaio
Prefácio
A função social do historiador avulta, em sua insofismável
relevância, na medida em que se identifica como fiel depositário da tradição e
da verdade histórica. A árdua, longa e complexa senda da pesquisa do evento
histórico, quando palmilhada com prudência, isenção, honestidade e, sobretudo,
fidelidade aos atos e fatos que compõem a tessitura do período considerado,
conduz ao objetivo maior de revelar a verdade histórica.
A guerra da tríplice aliança representa marcante episódio na
escalada do secular antagonismo ibérico, transplantado ao novo mundo via
colonizadores, de que a bacia do Prata se tornou permanente foco de tensão e
enfrentamento.
Sua magnitude histórica e os desdobramentos resultantes que,
durante largo período, permearam as relações entre os países envolvidos, vêm
gerando alentada e diversificada bibliografia. A par das interpretações sérias,
competentes e honestas, como esta obra, nos últimos tempos medraram, à sombra dum
revisionismo histórico sectário baseado na miopia ideológica, versões que se
insurgem contra nosso passado, muitas vezes sob as luzes deslumbrantes dos pontos
da mídia engajada.
Se o ato primeiro de hostilidade da guerra se configurou no
insólito apresamento al Marquês de Olinda,
as raízes primárias remontam às décadas antecedentes, como o autor com justeza,
erudição e conhecimento, reconstitui no primoroso trabalho que hoje vem a lume.
Ressalta, por oportuno e significativo, o corolário, como acentua o autor, eficaz
resposta à desinformação proposital e à manipulação tendenciosa do fato
histórico, desserviço da incompetência e da omissão do autor.
Acyr Vaz Guimarães, emérito e reconhecido historiador
mato-grossense, se escusam apresentação, apreciação e juízos de valor, mercê o
vasto e laureado acervo bibliográfico com o qual desde muito enriquece a
historiografia nacional.
Resta agradecer a deferência do convite pra compor esta
mensagem de apresentação, mero preâmbulo da relevante obra que, em mãos do
pesquisador, do estudante e do grande público receberá o destaque merecido,
como fonte de inquestionável valor pra melhor conhecimento de nossa história.
José Maria de Souza Nunes
Coronel R/1 do exército brasileiro
Ex-diretor do colégio militar de Campo Grande, MS
Do instituto histórico e geográfico de Mato Grosso do
Sul
Da academia de história militar
terrestre do Brasil
Sumário
Capítulo 1
As relações diplomáticas do império com a república do
Paraguai 15
A missão Corrêa da Câmara no Paraguai 16
Os guaicurus 21
A missão Leverger em Assunção 22
Caxias pede uma legação brasileira em Assunção 30
A missão Pimenta Bueno pra reconhecimento da independência
do Paraguai 32
O quê era o Paraguai? 38
A sagração dos bispos paraguaios em Cuiabá 42
Armas pra López 44
A missão Gelly no Rio de Janeiro 45
A missão Bellegarde em Assunção 50
O conflito de Fecho dos Morros 53
O tratado de 1850 63
Cai Rosas. A missão paraguaia Moreira de Castro no Rio de
Janeiro 67
A missão Pereira Leal em Assunção 70
A missão Pedro Ferreira em Assunção 74
A missão Berges no Rio de Janeiro. O tratado de 1856 76
A missão Amaral em Assunção 95
A missão Rio Branco em Assunção. A convenção de 1858 97
Capítulo 2
O ministro da guerra Francisco Solano López se prepara prà
guerra 101
Capítulo 3
Vésperas da guerra
O Paraguai em retrospectiva 113
A rebelião de general Flores no Uruguai 115
Os primeiros contatos do governo uruguaio com o paraguaio
116
O acordo de 20 de outubro e o pedido de explicação a López
127
O barão de Mauá. López insiste no pedido de explicação 132
López organiza suas forças armadas 137
A última carta de López a Mitre 140
O impasse do Paraguari
141
O diplomata uruguaio Sagastume em Assunção. A missão Saraiva
no Uruguai 142
López se propõe mediador 145
A reunião de Puntas del Rosario prà paz 147
O diplomata uruguaio Antonio de las Carreras em Assunção. O ultimato.
As represálias brasileiras 153
López ameaça o império 158
A guerra 171
Literatura consultada 179
Do quê trata este livro
Este livro, num primeiro plano, trata das relações
diplomáticas do império do Brasil com a república do Paraguai, a partir de
1823.
Trata das missões diplomáticas Corrêa da Câmara, em 1823 e
1825; de Leverger em 1839, 1841, 1842, 1843 e 1846, contando a vida do povo
paraguaio e de seu governo, com elementos por eles coligidos pra mostrar o que
era o país no correr daqueles anos. Como fato histórico interessante conta sobre
a atividade de Caxias ao pedir uma legação diplomática brasileira em Assunção
com vista relacionada à guerra dos farrapos no Rio Grande do Sul, cuja
província presidia.
Outras e importantes missões diplomáticas foram estudadas,
como a de Pimenta Bueno, que fez o reconhecimento da independência paraguaia, e
a de Bellegarde, em cuja gestão ocorreu o conflito de Fecho dos Morros.
Conta sobre a missão paraguaia Gelly no Rio de Janeiro,
buscando aliança e estudo aos limites territoriais, propondo a neutralização do
território entre os rios Apa e Branco e a divisão das terras argentinas de
Missões entre o império e o Paraguai. Conta que três anos depois foi firmado o
tratado de 1850 pra defender o Paraguai e o Uruguai contra Rosas, da Argentina.
Esclarece os fatos com a missão brasileira do diplomata
Pereira Leal, junto a Assunção, de passaportes devolvidos por López, e da
missão Pedro Ferreira, que foi recebida em Assunção em pé-de-guerra, contra
Humaitá fortificada.
Estuda as bases do tratado de 1856 firmado no Rio de Janeiro
com missão paraguaia Gelly e sobre os limites territoriais entre os dois
países.
Trata da missão Rio Branco e das atividades do diplomata
Amaral em Assunção.
Num segundo plano...
Com a assunção de general Francisco Solano López, em 1862, à
presidência da república, fala sobre os contatos dos diplomatas uruguaios com o
governo paraguaio lhe pedindo ajuda pra combater o revolucionário Flores e à
Argentina.
Enfatiza, transcrevendo parcialmente excerto de uma
entrevista que general López, em 1856, concedeu ao jornal argentino La Tribuna, de Buenos Aires, comentada
em 1928 pelo periódico La Nación,
prevendo fazer guerra à Argentina, Brasil e Uruguai.
Conta das querelas entre Uruguai e Argentina por motivo da
rebelião de Flores em território uruguaio gerando mal-entendidos que quase se
transformaram em guerra, fato que levou general López a pedir explicação a
Mitre, de vez que, instigado pelo governo uruguaio, pretendia tutelar o que ele
chamava de equilíbrio do Prata.
Fala do acordo de 20 de outubro entre Uruguai e Argentina
gerando paz entre ambos, nomeado o imperador do Brasil como seu juiz, fato que
levou o governo uruguaio a o exigir pra general López, não aceito.
Fala dos entendimentos do barão de Mauá junto aos governos
uruguaio e argentino propondo paz, e da visita que fez a Urquiza.
Conta que general López punha seus exército e marinha em
ordem de combate sem fazer alarde, a partir de janeiro de 1864.
Fala da reunião de Puntas del Rosario pra pacificar o
Uruguai, não aceita por seu presidente, quem preferia receber a ajuda paraguaia
pra debelar a revolução de Flores e enfrentar a Argentina e o Brasil.
Conta que em princípio de 1864 o general gaúcho Sousa Neto
viajou à corte a fim de a notificar que 40.000 brasileiros residentes no
Uruguai, perseguidos pelo governo, precisavam da proteção do imperador. Ao
diplomata José Saraiva foi dada missão de se entender com o governo uruguaio e,
não atendido, apresentasse um ultimato seguido de represália.
López, com seu exército em preparo, apresentou um protesto
em 30 de agosto, ameaçando o império. Em novembro apresou o navio brasileiro Marquês de Olinda, fazendo cessar relação
diplomática com o império. Em dezembro invadiu Mato Grosso.
Faz, no final, um libelo a López, esclarecendo sua posição
como general derrotado, demonstrando que nunca quis a paz porque esperava ajuda
da França e de Estados-Unidos, estribado no que Napoleão III, da França, fizera
com o México, impondo um imperador seu.
Trata, também, duma opção que López parece ter pretendido
dela se valer pra invadir a Argentina pra tomar Buenos Aires!
No final, o autor, como corolário, responde a alguns
escritores que deturpam a história da guerra do Paraguai, quem se valem de
sofismas pra ganhar espaço junto ao grande público leitor inapto pra entender
tão distante acontecimento que enlutou quatro países da América do Sul por obra
dum homem.
A literatura consultada, tanto a paraguaia quanto a
brasileira, se fundamenta em documentos constantes nos arquivos públicos, salvo
uma ou outra.
[Fim do livro:]
No extenso relatório da comissão encarregada de estudar a
declaração de guerra, os congressistas sempre se manifestaram com ênfase ao
equilíbrio do Prata, como o decreto o fizera. Nunca invalidariam o raciocínio
do marechal porque ainda estavam no cárcere alguns colegas que, dois anos
antes, levantaram a voz num congresso extraordinário como aquele. Entre eles se
destacava padre Maiz, quem não teve o azar do honrado juiz Lescano, morto na
masmorra, sem antever que daqueles congressistas muitos pagariam a desdita
inocentemente a seguir em plena guerra, com seu sumário fuzilamento, tal qual
aconteceu com o redator do relatório, Carlos Rivero e outros! Quem ousasse
levantar a voz num congresso paraguaio naquele tempo estaria decretando o
próprio fuzilamento!
Pelo artigo 1° se usava a lei de 13.03.1844, ano glorioso
pro Paraguai porque seu país vizinho e amigo que lhe dera segurança pra
sobreviver como país e não como província de Rosas, naquele ano, ano glorioso
prà república do Paraguai, em 14 de setembro, reconhecia sua independência,
levando todo o Paraguai a grande festividade durante dias inteiros. Doravante o
mundo não duvidaria mais da existência na América do Sul duma república chamada
Paraguai, livre, independente, que fez aportar em Assunção diplomatas europeus
e americanos (menos da Argentina, de Rosas), pro livre intercâmbio, como faziam
entre si os países civilizados, se inserindo o Paraguai, doravante, entre eles.
E, pasme! Finda a guerra o Brasil quase entrou em conflito contra sua ex-aliada
Argentina defendendo o velho amigo Paraguai por causa das terras do Chaco que
ela queria fossem todas suas! Provava o império que quando se é amigo, sempre
será!
Eclodiu a guerra. O Paraguai, triste e desgraçadamente, teve
que se recolher a seu pequeno território pra resistir Brasil, Argentina e
Uruguai.
Se acabava o sonho de 1856, transformado em profundo
pesadelo, 14 anos depois, em Cerro Corá! Sonho de menino endiabrado que não
obedeceu ao pai, brincando de marechal, ou um napoleão ao avesso!
Teve Pedro II razão bastante pra levar seu exército aonde
foi, em Cerro Corá, ao encalço de López, vivo ou morto.
O escritor inglês, Pelham Horton Box, em sua tese publicada Orígenes de la guerra del Paraguay contra la
triple alianza, 1927, tradução, El
Lector, Assunção, 1996, disse:
Por isso
provavelmente falamos tão a miúdo que a guerra do Paraguai, 1864–1870, aquela grande explosão política da história
latino-americana, é contemplada à luz da personalidade e das aberrações dum
homem. Se descreve Francisco Solano López como desafiando de morte ao Brasil,
Argentina e Uruguai, que se uniram em legítima defesa contra o demente que, à
semelhança do velho da montanha, Hasan-i-Sabah, quem fazia do assassínio sua
arma pra reinar, aterrorizava o próprio povo até o reduzir a abjeta submissão.
Dizer mais?
[Começo do livro:]
Capítulo 1
A relação diplomática do império do Brasil com a
república do Paraguai
O Paraguai independente, no início da república, não tinha
interesse em relação diplomática com os vizinhos. Como os argentinos não as
convinha por serem tachados de anarquistas, e com os brasileiros por
desconfiança.
O Paraguai, como país amigo representaria segurança pro
império, de fronteiras com as províncias de Mato Grosso e Rio Grande do Sul
livres das avançadas dalgum caudilho do Prata, na iminência de acontecer com
Rosas no pós-1829. Assim a amizade Brasil-Paraguai seria, como foi, de grande
valia pràs duas partes, de vez que Rosas, governando a Argentina até 1852,
jamais tentou pôr os pés em terra paraguaia ou brasileira. O império do Brasil
foi um escudo que protegeu a república do Paraguai.
A missão Correa
da Câmara no Paraguai
Só após sua independência, em 1822, o Brasil tomou
iniciativa de melhor se avizinhar ao Paraguai. Pra isso foi nomeado o militar
diplomata Antônio Manuel Corrêa da Câmara que já estivera em Buenos Aires pouco
antes pra sentir de perto a animosidade que o governo argentino mantinha contra
o império por causa das terras uruguaias, nas mãos do Brasil, constituindo a
província Cisplatina.
Extra-oficialmente, o primeiro contato com o governo do ditador
Francia ocorreu com carta de um comandante brasileiro de Missões, de nome José
Pedro Chaves, datada de 1º de fevereiro de 1823, pedindo franquear os portos
paraguaios ao comércio com o Brasil. Na realidade o comandante brasileiro via
como porto apenas o de Itapua, onde o Paraguai se ligava ao Brasil, através do
Rio Grande do Sul, embora passando em território argentino ocupado pelos
paraguaios. Nesse tempo o território paraguaio vivia isolado, e é de admirar
Francia concordar com o pedido de franquia, estabelecida por si num só porto
pra facilitar a direta fiscalização.
O comércio passou a existir muito precariamente, e assim
permaneceu até desaparecer. Nada convidativo, se impunham aos brasileiros
exigências descabidas, acabrunhadoras, vistas como menosprezo aos mercadores
brasileiros. Os brasileiros as viam assim. Afinal, era o regime!
O comerciante brasileiro, saído de São Borja, Rio Grande do
Sul, atravessava o espaço entre os rios Uruguai e Paraná, com suas carretas
levando a mercadoria pra venda ou troca. Em Candelária, território argentino,
que naquele tempo era mais paraguaio que argentino, povoado que ficava em
frente ao de Itapua (mais tarde Encarnação), o comerciante estacionava e pedia
autorização pra entrar ao Paraguai. Ficavam no vilarejo as carretas e os bois
que as tracionavam. Ao entrar a território paraguaio passava o comerciante a
obedecer a um ritual, obrigatoriamente. Entrava a pé, de chapéu na mão e sem
espora! Era revistado da cabeça aos pés, desde os sapatos até a roupa que
trazia pra se vestir. Por quê? Pra não entrar jornal, livro ou carta que viesse
de Buenos Aires!
Se comerciante de tecido, era totalmente desdobrado, peça a
peça, tirado um retalho pra ser enviado ao ditador que, em pessoa,
inspecionava, dando o preço de venda. De retorno, o comerciante passava a saber
o preço e quais as mercadorias de interesse pro comércio paraguaio.
O comerciante que levasse mulher e filhos precisava de ordem
especial pra entrar ao país. Mas ele recomendava um bom tratamento ao
comerciante, determinando que não lhes
faltasse cozinheira ou lavadeira.
No comércio, de início, circulava dinheiro. Depois de 1825
foi proibida a circulação da moeda, se processando apenas a troca de produto.
Isto é: O brasileiro levava o seu e trazia o paraguaio. Essa medida às vezes se
revezava, de acordo com a vontade do ditador: Ora troca, ora moeda. Na troca o
mate e o fumo eram os principais produtos recebidos pelos brasileiros, cabendo
ao produtor paraguaio vender ou os trocar em quantidade e preço fixados por
Francia. Era terminantemente proibido o comércio intermediário.
Disse Corrêa da Câmara: Os
mercadores brasileiros receberam ordem de não vender mais mercadoria a
dinheiro. Pouco depois, disse o diplomata: A permissão dada aos mercadores ditos brasileiros de vender
algumas de suas mercadorias a dinheiro acabou de ser revogada pelo ditador.
O ditador fazia a compra que era entregue a um armazém na
capital, onde um funcionário, conhecido por alguazil-mor, bizarramente vestido,
procedia à venda ao povo ali reunido em dias certos, a preço elevado, até 150%
sobre o custo.
Desaparecido doutor Francia, presidente Carlos López,
seguindo suas pegadas, mudou um pouco o sistema de comércio, mas era o governo
que comprava, estocava em grandes armazéns e distribuía ao varejo.
Corrêa da Câmara sabia não ser fácil uma gestão junto a
Francia, em face do modo de governar autoritário, onde as mínimas decisões eram
tomada por ele.
[…]
O general correntino Paz, Corrientes, província argentina
ligada ao Paraguai no sul, estava rebelado contra o ditador Rosas e seu general
Urquiza, da província de Entre-Rios. Urquiza, em luta, nos primeiros confrontos
armados, aprisionara o irmão do governante correntino Madariaga, a quem Carlos
López se aliara na luta contra Rosas, enviando seu general Francisco Solano López,
jovem de 18 anos apenas, com 5000 soldados, pra dar cobertura aos amigos
correntinos. Seria, como se vê, uma oportunidade pra o jovem general paraguaio
se projetar.
A luta cessou inesperadamente. O irmão de Madariaga seria
fuzilado se ela continuasse. O jovem general Francisco Solano López, sem dar
tiro, retornou ao país.
Nessa ocasião estava no acampamento do general, filho do
presidente, o escritor chileno Federico de la Barra, que ouviu do
general-menino (18 anos), em tom convicto: Da
arte militar não há segredo pra mim. General Paz nada pode ensinar a mim, nem
posso aprender algo de sua ciência. Mariano Olleros citou, a respeito: Quem assim falava era um menino que
nunca vira um combate. E o manco general Paz era considerado em sua época um
dos melhores táticos e organizadores militares da América latina (em Alberdi a la luz de sus escritos en quanto
se refieren al Paraguay, Assunção, 1905).
Daí porque o império do Brasil se postar incontinenti em
alerta através de sua província de Mato Grosso com aquelas duas canhoneiras pra
defender o território paraguaio. Também, felizmente, voltaram sem dar tiro.
Coleção cartão-postal de Joanco
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