sábado, 15 de dezembro de 2018

Papai Noel 048 - Tom & Jerry, 03.1956


Mais um número deste maravilhoso gibi

Amigos,
a editora Clock Tower está com a impressão concluída de O ciclo de Yig, livro com contos inéditos de Lovecraft.
Também temos disponíveis A terra da noite, de William Hope Hodgson que teve ótima repercussão.
Fora isso ainda, estamos relançando a versão capa dura da antologia O mundo fantástico de HP Lovecraft.
Peço ajuda em divulgação. Somos pequenos. Por mais que eu faça, nosso feis (conexão abaixo), não passa de 3000 seguidores.
Abaixo a conexão da loja e também foto dos livros:
Um grande abraço,
Denílson

  O correio inovou na entrega. Agora em vez de assinar numa folha a respectiva entrega, assina no pacote, e o carteiro tira foto da rubrica. Então por quê não tira foto da cara de quem recebe?
Império do Brasil, termo impróprio. O quê é império? Império é uma reunião de reinos ou um reino com colônias. Quando um reino se torna muito poderoso e anexa os reinos ao redor, os tornando reinos vassalos, temos um império. Portugal formou um império com suas colônias. O reino unido de Brasil, Portugal e Algarves era um império mas o império do Brasil era um reino.
● A república brasileira é ilegítima, pois nasceu dum golpe-de-estado. Todos os governos republicanos são ilegítimos, mesmo o recentemente eleito, produto de manipulação publicitária e fantoche de Estados-Unidos.
● Quem não conhece a estória do porteiro do puteiro? Tem hora produzir obras-primas, pois não faltam imitadores e plagiadores. Circula na internete um conto de êxito atribuído ao dono da Tramontina. E também a outras empresas, mas em muito menor grau. Num sítio de língua castelhana constatei nos comentários o quão espalhada está essa farsa. Desci nos comentários até o fim, mais de hora. É impressionante a quantidade de castelhanófonos que crêem piamente que é a história-de-vida do dono da Tramontina.
Alguém pegou o conto clássico de William Somerset Maugam, O sacristão da igreja (The verger) (Não sei de sacristão que não seja de igreja. Me corrigir se estiver enganado).
O bispo descobriu que o sacristão é analfabeto, então o demitiu. Tendo de se virar, virou comerciante de tabaco e ficou rico. Um fornecedor percebeu ser analfabeto e se admirou, dizendo que se não fosse o quê seria então. O comerciante respondeu que sabia, que se não fosse analfabeto seria sacristão da igreja tal.
Um farsante adaptou o conto e pôs o sacristão como o dono da Tramontina, trocando a profissão de sacristão por porteiro do puteiro e o negócio de tabaco por uma casa-de-ferragem. O enredo ficou muito remendão, pois onde se viu um lugar sem uma ferraria pequena que fosse? Além do que a profissão original ser marginal, de pessoa mais bruta e primitiva, não coadunando com quem roda a baiana e levanta a poeira do chão dando a volta por cima com tanta competência. E por aí vai…
● É comum na imprensa-ralé ouvir o dizer algo como agora fulano está solteiro. Isso é licença poética, pois solteiro só se é uma vez na vida. O casamento não é indissolúvel mas é irreversível. Doravante o sujeito pode ser desquitado, separado, divorciado, etc, mas nunca mais solteiro.
● Na segunda-feira, 3 de dezembro, ao entrar ao Pão-de-Açúcar de Campo Grande, o intenso assédio dos vendedores de assinatura de revista fingindo dar de brinde uma sacola, pra quem tem cartão tal, e no fim teria de pagar o apenas frete. O mesmo golpe da mala de brinde nos aeroportos. Se fosse um país sério a polícia chamaria esses golpistas a depor e resultaria em ao menos dois meses de prisão. O Extra já há muito decadente, com cara de mercadão, o Walmart tão decadente que a quem for ver ar-condicionado o vendedor avisa que é usado e que tem de mandar consertar antes de usar. Já não se pode mais nem entrar em mercado supostamente de elite, sem ser assediado ao estilo Cartagena das Índias ou fruteiros do mercadão paulistano! Só falta ter ambulante dentro da loja e mendigo assediando!
● No sebo vi o livro de Demis Roussos, Emagrecer comendo. Me lembrou o de Chico Anísio, Como conservar teu casamento.
● Basta um fiapo de pêlo felino pra desorientar o mause ótico
● Até Jacques Bergier embarcou fundo na roubada da Vinci gênio. Em Os mestres secretos do tempo chegou a aventar ser um crononauta.
● Todos temos a imagem do detetive Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle, como o rei da lógica, da dedução, dos princípios científicos. Obra ficcional mas pé-no-chão, adulta, sóbria… Mas vejamos o conto Um caso de identidade (A case of identity). Uma jovem procurou o detetive pra achar seu namorado desaparecido. O detetive descobriu que o padrasto dela dava sumiço nos pretendentes porque se ela se casasse deixaria de receber uma pensão. Então se disfarçou e a conquistou, a deixando apaixonada, pra logo sumir e ela ficar na esperança de o reencontrar, não querendo outro. Ora! Francamente! Isso caberia numa série mais à fantasia ou satírica!
● Uma ianque que aprendeu português, falando sobre as diferenças culturais em seu canal iutúbico explicou que em Eua o riso hihihihi (hehehehe em inglês) é feminino. Aqui não tem esse conceito. Temos o riso de alegria de palhaço ou piada hahahaha, de satisfação hehehehe, escarninho hihihihi, de cumprimento que é o hohohoho de Papai Noel, de susto huhuhuhu.
● O estereótipo da guerra do Paraguai. No canal iutúbico castelhano de Jorge Guerra, ao citar a guerra do Paraguai falou em genocídio. Então comentei que o Paraguai sabe que foi o agressor e nunca se vitimizou. Quem o faz é quem não o conhece. Que genocídio implica em ato intencional. Quem se esfalfou todo, quase uma vitória-de-pirro, pra vencer um agressor fanatizado que não aceitava se render não é genocida. E que não comento com intuito patriota mas procurando a verdade. Que uma vez, no Taringa, comentei que a participação platina no conflito foi só logística, basicamente fornecimento de gado. Alguém apresentou uma estatística sobre os mortos argentinos e uruguaios, e então reconheci que minha informação estava errada. Que escaneei e está postado o livro dum general francês presente no conflito, e de pesquisadores de fonte primária, não um simples bacharel que foi pesquisar pra apresentar tese de mestrado, por exemplo. Jorge  respondeu que ficou balançado com o comentário e sugeriu uma resenha. Então estou passando trechos significativos do que vou lendo.
 A guerra do Paraguai, volume 1: Suas causas (1823–1864)

Acyr Vaz Guimarães
Editora UCDB, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil, 2001
Senhor Acyr Vaz Guimarães é membro efetivo do instituto histórico e geográfico de Mato Grosso do Sul e sócio correspondente do instituto histórico de Mato Grosso e da academia de história militar terrestre do Brasil. Tem os seguintes livros publicados: 600 léguas a pé (republicado pela Biblioteca do Exército); História de Mato Grosso do Sul, em parceria com Hildebrando Campestrini, Mato Grosso do Sul, sua evolução histórica, Guerra do Paraguai, volume 1: Verdades e mentiras, 500 Léguas em canoa, de Araraitaguaba às minas do Cuiabá, História dos municípios, volume 1. A publicar: Notas históricas (relativas a Mato Grosso do Sul), História dos municípios, volume 2, A saga bandeirante, A guerra que Solano López fez, y Rios, lagos e canais navegáveis do mundo.
É membro da academia sul-mato-grossense de letra e da academia ponta-poranense de letra.
Nesta obra retoma de forma inédita os prelúdios da guerra da tríplice aliança, notadamente aqueles fatos que representavam o pensamento expansionista de Francisco Solano López. De forma simples e direta esclarece as causas da guerra do Paraguai contra o Brasil, Argentina e Uruguai.
Nasceu em 1919, no município de Ponta Porã, na proximidade da antiga colônia militar de Dourados, hoje importante marco histórico da região.
Homem do campo, se formou em agronomia e se dedicou ao cultivo da terra, exercendo profissão também como funcionário do ministério da agricultura no estado. Após se aposentar se dedicou ao estudo da história de seu estado natal, o antigo Mato Grosso, pesquisando o contexto social na época da guerra do Paraguai e os fatos que a provocaram.
É considerado um historiador de extrema dedicação em relação ao levantamento de dados históricos, via-de-regra diretamente de fontes primárias. Isso lhe valeu elogio e reconhecimento.
Pra bem aquilatar as causas da guerra do Paraguai, as relações diplomáticas entre o império do Brasil e a república do Paraguai devem ser sempre estudadas. Essa é a razão deste livro, que as percorre durante um período de 40 anos, de 1824 a 1864. Nesse intervalo, devidamente analisado, está toda a razão da guerra. Basta ser lido com atenção e ligados os fatos, um a um, pra se chegar à eclosão da guerra.
Fatos não estudados pela história mas existentes podem ao longo do tempo reformular extraordinariamente o contexto que levou Francisco Solano López a fazer a guerra do Paraguai. Neste livro se cita a fundação do império do rio da Prata (ou outro nome) que López instituiria no começo de 1864. A guerra, segundo raciocínio lógico, foi antecipada diante dos acontecimentos no Uruguai, a partir de 1863. Isso o impediu de proclamar seu império, precipitando a guerra antevista havia muitos anos (1856). Se quebrou assim a estrutura que López armara pra enfrentar Argentina e Brasil, dois fortes inimigos, tal fora a ajuda do imperador Napoleão III da França, feita então ao México, que repetiria ao Paraguai, outro império a ser tutelado. Em guerra contra a Prússia, a ajuda francesa não aconteceu, ficando López sozinho pra enfrentar os dois inimigos. São fatos a ser esclarecidos, que não obscurecem os contidos neste livro. Aqueles como conseqüência destes.
Se a história não cumpre sua missão exemplar de informar, não merece a devoção dos estudiosos, e menos se ela se prostitui com fins políticos disfarçados de patriotismo.
Efraim Cardozo, historiador paraguaio
Prefácio
A função social do historiador avulta, em sua insofismável relevância, na medida em que se identifica como fiel depositário da tradição e da verdade histórica. A árdua, longa e complexa senda da pesquisa do evento histórico, quando palmilhada com prudência, isenção, honestidade e, sobretudo, fidelidade aos atos e fatos que compõem a tessitura do período considerado, conduz ao objetivo maior de revelar a verdade histórica.
A guerra da tríplice aliança representa marcante episódio na escalada do secular antagonismo ibérico, transplantado ao novo mundo via colonizadores, de que a bacia do Prata se tornou permanente foco de tensão e enfrentamento.
Sua magnitude histórica e os desdobramentos resultantes que, durante largo período, permearam as relações entre os países envolvidos, vêm gerando alentada e diversificada bibliografia. A par das interpretações sérias, competentes e honestas, como esta obra, nos últimos tempos medraram, à sombra dum revisionismo histórico sectário baseado na miopia ideológica, versões que se insurgem contra nosso passado, muitas vezes sob as luzes deslumbrantes dos pontos da mídia engajada.
Se o ato primeiro de hostilidade da guerra se configurou no insólito apresamento al Marquês de Olinda, as raízes primárias remontam às décadas antecedentes, como o autor com justeza, erudição e conhecimento, reconstitui no primoroso trabalho que hoje vem a lume.
Ressalta, por oportuno e significativo, o corolário, como acentua o autor, eficaz resposta à desinformação proposital e à manipulação tendenciosa do fato histórico, desserviço da incompetência e da omissão do autor.
Acyr Vaz Guimarães, emérito e reconhecido historiador mato-grossense, se escusam apresentação, apreciação e juízos de valor, mercê o vasto e laureado acervo bibliográfico com o qual desde muito enriquece a historiografia nacional.
Resta agradecer a deferência do convite pra compor esta mensagem de apresentação, mero preâmbulo da relevante obra que, em mãos do pesquisador, do estudante e do grande público receberá o destaque merecido, como fonte de inquestionável valor pra melhor conhecimento de nossa história.
José Maria de Souza Nunes
Coronel R/1 do exército brasileiro
Ex-diretor do colégio militar de Campo Grande, MS
Do instituto histórico e geográfico de Mato Grosso do Sul
Da academia de história militar terrestre do Brasil
Sumário
Capítulo 1
As relações diplomáticas do império com a república do Paraguai 15
A missão Corrêa da Câmara no Paraguai 16
Os guaicurus 21
A missão Leverger em Assunção 22
Caxias pede uma legação brasileira em Assunção 30
A missão Pimenta Bueno pra reconhecimento da independência do Paraguai 32
O quê era o Paraguai? 38
A sagração dos bispos paraguaios em Cuiabá 42
Armas pra López 44
A missão Gelly no Rio de Janeiro 45
A missão Bellegarde em Assunção 50
O conflito de Fecho dos Morros 53
O tratado de 1850 63
Cai Rosas. A missão paraguaia Moreira de Castro no Rio de Janeiro 67
A missão Pereira Leal em Assunção 70
A missão Pedro Ferreira em Assunção 74
A missão Berges no Rio de Janeiro. O tratado de 1856 76
A missão Amaral em Assunção 95
A missão Rio Branco em Assunção. A convenção de 1858 97
Capítulo 2
O ministro da guerra Francisco Solano López se prepara prà guerra 101
Capítulo 3
Vésperas da guerra
O Paraguai em retrospectiva 113
A rebelião de general Flores no Uruguai 115
Os primeiros contatos do governo uruguaio com o paraguaio 116
O acordo de 20 de outubro e o pedido de explicação a López 127
O barão de Mauá. López insiste no pedido de explicação 132
López organiza suas forças armadas 137
A última carta de López a Mitre 140
O impasse do Paraguari 141
O diplomata uruguaio Sagastume em Assunção. A missão Saraiva no Uruguai 142
López se propõe mediador 145
A reunião de Puntas del Rosario prà paz 147
O diplomata uruguaio Antonio de las Carreras em Assunção. O ultimato. As represálias brasileiras 153
López ameaça o império 158
A guerra 171
Literatura consultada 179
Do quê trata este livro
Este livro, num primeiro plano, trata das relações diplomáticas do império do Brasil com a república do Paraguai, a partir de 1823.
Trata das missões diplomáticas Corrêa da Câmara, em 1823 e 1825; de Leverger em 1839, 1841, 1842, 1843 e 1846, contando a vida do povo paraguaio e de seu governo, com elementos por eles coligidos pra mostrar o que era o país no correr daqueles anos. Como fato histórico interessante conta sobre a atividade de Caxias ao pedir uma legação diplomática brasileira em Assunção com vista relacionada à guerra dos farrapos no Rio Grande do Sul, cuja província presidia.
Outras e importantes missões diplomáticas foram estudadas, como a de Pimenta Bueno, que fez o reconhecimento da independência paraguaia, e a de Bellegarde, em cuja gestão ocorreu o conflito de Fecho dos Morros.
Conta sobre a missão paraguaia Gelly no Rio de Janeiro, buscando aliança e estudo aos limites territoriais, propondo a neutralização do território entre os rios Apa e Branco e a divisão das terras argentinas de Missões entre o império e o Paraguai. Conta que três anos depois foi firmado o tratado de 1850 pra defender o Paraguai e o Uruguai contra Rosas, da Argentina.
Esclarece os fatos com a missão brasileira do diplomata Pereira Leal, junto a Assunção, de passaportes devolvidos por López, e da missão Pedro Ferreira, que foi recebida em Assunção em pé-de-guerra, contra Humaitá fortificada.
Estuda as bases do tratado de 1856 firmado no Rio de Janeiro com missão paraguaia Gelly e sobre os limites territoriais entre os dois países.
Trata da missão Rio Branco e das atividades do diplomata Amaral em Assunção.
Num segundo plano...
Com a assunção de general Francisco Solano López, em 1862, à presidência da república, fala sobre os contatos dos diplomatas uruguaios com o governo paraguaio lhe pedindo ajuda pra combater o revolucionário Flores e à Argentina.
Enfatiza, transcrevendo parcialmente excerto de uma entrevista que general López, em 1856, concedeu ao jornal argentino La Tribuna, de Buenos Aires, comentada em 1928 pelo periódico La Nación, prevendo fazer guerra à Argentina, Brasil e Uruguai.
Conta das querelas entre Uruguai e Argentina por motivo da rebelião de Flores em território uruguaio gerando mal-entendidos que quase se transformaram em guerra, fato que levou general López a pedir explicação a Mitre, de vez que, instigado pelo governo uruguaio, pretendia tutelar o que ele chamava de equilíbrio do Prata.
Fala do acordo de 20 de outubro entre Uruguai e Argentina gerando paz entre ambos, nomeado o imperador do Brasil como seu juiz, fato que levou o governo uruguaio a o exigir pra general López, não aceito.
Fala dos entendimentos do barão de Mauá junto aos governos uruguaio e argentino propondo paz, e da visita que fez a Urquiza.
Conta que general López punha seus exército e marinha em ordem de combate sem fazer alarde, a partir de janeiro de 1864.
Fala da reunião de Puntas del Rosario pra pacificar o Uruguai, não aceita por seu presidente, quem preferia receber a ajuda paraguaia pra debelar a revolução de Flores e enfrentar a Argentina e o Brasil.
Conta que em princípio de 1864 o general gaúcho Sousa Neto viajou à corte a fim de a notificar que 40.000 brasileiros residentes no Uruguai, perseguidos pelo governo, precisavam da proteção do imperador. Ao diplomata José Saraiva foi dada missão de se entender com o governo uruguaio e, não atendido, apresentasse um ultimato seguido de represália.
López, com seu exército em preparo, apresentou um protesto em 30 de agosto, ameaçando o império. Em novembro apresou o navio brasileiro Marquês de Olinda, fazendo cessar relação diplomática com o império. Em dezembro invadiu Mato Grosso.
Faz, no final, um libelo a López, esclarecendo sua posição como general derrotado, demonstrando que nunca quis a paz porque esperava ajuda da França e de Estados-Unidos, estribado no que Napoleão III, da França, fizera com o México, impondo um imperador seu.
Trata, também, duma opção que López parece ter pretendido dela se valer pra invadir a Argentina pra tomar Buenos Aires!
No final, o autor, como corolário, responde a alguns escritores que deturpam a história da guerra do Paraguai, quem se valem de sofismas pra ganhar espaço junto ao grande público leitor inapto pra entender tão distante acontecimento que enlutou quatro países da América do Sul por obra dum homem.
A literatura consultada, tanto a paraguaia quanto a brasileira, se fundamenta em documentos constantes nos arquivos públicos, salvo uma ou outra.

[Fim do livro:]
No extenso relatório da comissão encarregada de estudar a declaração de guerra, os congressistas sempre se manifestaram com ênfase ao equilíbrio do Prata, como o decreto o fizera. Nunca invalidariam o raciocínio do marechal porque ainda estavam no cárcere alguns colegas que, dois anos antes, levantaram a voz num congresso extraordinário como aquele. Entre eles se destacava padre Maiz, quem não teve o azar do honrado juiz Lescano, morto na masmorra, sem antever que daqueles congressistas muitos pagariam a desdita inocentemente a seguir em plena guerra, com seu sumário fuzilamento, tal qual aconteceu com o redator do relatório, Carlos Rivero e outros! Quem ousasse levantar a voz num congresso paraguaio naquele tempo estaria decretando o próprio fuzilamento!
Pelo artigo 1° se usava a lei de 13.03.1844, ano glorioso pro Paraguai porque seu país vizinho e amigo que lhe dera segurança pra sobreviver como país e não como província de Rosas, naquele ano, ano glorioso prà república do Paraguai, em 14 de setembro, reconhecia sua independência, levando todo o Paraguai a grande festividade durante dias inteiros. Doravante o mundo não duvidaria mais da existência na América do Sul duma república chamada Paraguai, livre, independente, que fez aportar em Assunção diplomatas europeus e americanos (menos da Argentina, de Rosas), pro livre intercâmbio, como faziam entre si os países civilizados, se inserindo o Paraguai, doravante, entre eles. E, pasme! Finda a guerra o Brasil quase entrou em conflito contra sua ex-aliada Argentina defendendo o velho amigo Paraguai por causa das terras do Chaco que ela queria fossem todas suas! Provava o império que quando se é amigo, sempre será!
Eclodiu a guerra. O Paraguai, triste e desgraçadamente, teve que se recolher a seu pequeno território pra resistir Brasil, Argentina e Uruguai.
Se acabava o sonho de 1856, transformado em profundo pesadelo, 14 anos depois, em Cerro Corá! Sonho de menino endiabrado que não obedeceu ao pai, brincando de marechal, ou um napoleão ao avesso!
Teve Pedro II razão bastante pra levar seu exército aonde foi, em Cerro Corá, ao encalço de López, vivo ou morto.
O escritor inglês, Pelham Horton Box, em sua tese publicada Orígenes de la guerra del Paraguay contra la triple alianza, 1927, tradução, El Lector, Assunção, 1996, disse:
Por isso provavelmente falamos tão a miúdo que a guerra do Paraguai, 18641870, aquela grande explosão política da história latino-americana, é contemplada à luz da personalidade e das aberrações dum homem. Se descreve Francisco Solano López como desafiando de morte ao Brasil, Argentina e Uruguai, que se uniram em legítima defesa contra o demente que, à semelhança do velho da montanha, Hasan-i-Sabah, quem fazia do assassínio sua arma pra reinar, aterrorizava o próprio povo até o reduzir a abjeta submissão.
Dizer mais?
[Começo do livro:]
Capítulo 1
A relação diplomática do império do Brasil com a república do Paraguai
O Paraguai independente, no início da república, não tinha interesse em relação diplomática com os vizinhos. Como os argentinos não as convinha por serem tachados de anarquistas, e com os brasileiros por desconfiança.
O Paraguai, como país amigo representaria segurança pro império, de fronteiras com as províncias de Mato Grosso e Rio Grande do Sul livres das avançadas dalgum caudilho do Prata, na iminência de acontecer com Rosas no pós-1829. Assim a amizade Brasil-Paraguai seria, como foi, de grande valia pràs duas partes, de vez que Rosas, governando a Argentina até 1852, jamais tentou pôr os pés em terra paraguaia ou brasileira. O império do Brasil foi um escudo que protegeu a república do Paraguai.
 A missão Correa da Câmara no Paraguai
Só após sua independência, em 1822, o Brasil tomou iniciativa de melhor se avizinhar ao Paraguai. Pra isso foi nomeado o militar diplomata Antônio Manuel Corrêa da Câmara que já estivera em Buenos Aires pouco antes pra sentir de perto a animosidade que o governo argentino mantinha contra o império por causa das terras uruguaias, nas mãos do Brasil, constituindo a província Cisplatina.
Extra-oficialmente, o primeiro contato com o governo do ditador Francia ocorreu com carta de um comandante brasileiro de Missões, de nome José Pedro Chaves, datada de 1º de fevereiro de 1823, pedindo franquear os portos paraguaios ao comércio com o Brasil. Na realidade o comandante brasileiro via como porto apenas o de Itapua, onde o Paraguai se ligava ao Brasil, através do Rio Grande do Sul, embora passando em território argentino ocupado pelos paraguaios. Nesse tempo o território paraguaio vivia isolado, e é de admirar Francia concordar com o pedido de franquia, estabelecida por si num só porto pra facilitar a direta fiscalização.
O comércio passou a existir muito precariamente, e assim permaneceu até desaparecer. Nada convidativo, se impunham aos brasileiros exigências descabidas, acabrunhadoras, vistas como menosprezo aos mercadores brasileiros. Os brasileiros as viam assim. Afinal, era o regime!
O comerciante brasileiro, saído de São Borja, Rio Grande do Sul, atravessava o espaço entre os rios Uruguai e Paraná, com suas carretas levando a mercadoria pra venda ou troca. Em Candelária, território argentino, que naquele tempo era mais paraguaio que argentino, povoado que ficava em frente ao de Itapua (mais tarde Encarnação), o comerciante estacionava e pedia autorização pra entrar ao Paraguai. Ficavam no vilarejo as carretas e os bois que as tracionavam. Ao entrar a território paraguaio passava o comerciante a obedecer a um ritual, obrigatoriamente. Entrava a pé, de chapéu na mão e sem espora! Era revistado da cabeça aos pés, desde os sapatos até a roupa que trazia pra se vestir. Por quê? Pra não entrar jornal, livro ou carta que viesse de Buenos Aires!
Se comerciante de tecido, era totalmente desdobrado, peça a peça, tirado um retalho pra ser enviado ao ditador que, em pessoa, inspecionava, dando o preço de venda. De retorno, o comerciante passava a saber o preço e quais as mercadorias de interesse pro comércio paraguaio.
O comerciante que levasse mulher e filhos precisava de ordem especial pra entrar ao país. Mas ele recomendava um bom tratamento ao comerciante, determinando que não lhes faltasse cozinheira ou lavadeira.
No comércio, de início, circulava dinheiro. Depois de 1825 foi proibida a circulação da moeda, se processando apenas a troca de produto. Isto é: O brasileiro levava o seu e trazia o paraguaio. Essa medida às vezes se revezava, de acordo com a vontade do ditador: Ora troca, ora moeda. Na troca o mate e o fumo eram os principais produtos recebidos pelos brasileiros, cabendo ao produtor paraguaio vender ou os trocar em quantidade e preço fixados por Francia. Era terminantemente proibido o comércio intermediário.
Disse Corrêa da Câmara: Os mercadores brasileiros receberam ordem de não vender mais mercadoria a dinheiro. Pouco depois, disse o diplomata: A permissão dada aos mercadores ditos brasileiros de vender algumas de suas mercadorias a dinheiro acabou de ser revogada pelo ditador.
O ditador fazia a compra que era entregue a um armazém na capital, onde um funcionário, conhecido por alguazil-mor, bizarramente vestido, procedia à venda ao povo ali reunido em dias certos, a preço elevado, até 150% sobre o custo.
Desaparecido doutor Francia, presidente Carlos López, seguindo suas pegadas, mudou um pouco o sistema de comércio, mas era o governo que comprava, estocava em grandes armazéns e distribuía ao varejo.
Corrêa da Câmara sabia não ser fácil uma gestão junto a Francia, em face do modo de governar autoritário, onde as mínimas decisões eram tomada por ele.
[…]
O general correntino Paz, Corrientes, província argentina ligada ao Paraguai no sul, estava rebelado contra o ditador Rosas e seu general Urquiza, da província de Entre-Rios. Urquiza, em luta, nos primeiros confrontos armados, aprisionara o irmão do governante correntino Madariaga, a quem Carlos López se aliara na luta contra Rosas, enviando seu general Francisco Solano López, jovem de 18 anos apenas, com 5000 soldados, pra dar cobertura aos amigos correntinos. Seria, como se vê, uma oportunidade pra o jovem general paraguaio se projetar.
A luta cessou inesperadamente. O irmão de Madariaga seria fuzilado se ela continuasse. O jovem general Francisco Solano López, sem dar tiro, retornou ao país.
Nessa ocasião estava no acampamento do general, filho do presidente, o escritor chileno Federico de la Barra, que ouviu do general-menino (18 anos), em tom convicto: Da arte militar não há segredo pra mim. General Paz nada pode ensinar a mim, nem posso aprender algo de sua ciência. Mariano Olleros citou, a respeito: Quem assim falava era um menino que nunca vira um combate. E o manco general Paz era considerado em sua época um dos melhores táticos e organizadores militares da América latina (em Alberdi a la luz de sus escritos en quanto se refieren al Paraguay, Assunção, 1905).
Daí porque o império do Brasil se postar incontinenti em alerta através de sua província de Mato Grosso com aquelas duas canhoneiras pra defender o território paraguaio. Também, felizmente, voltaram sem dar tiro.


Coleção cartão-postal de Joanco
 






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