São Pedro-e-São Paulo
Um punhado de rochedos pontiagudos forma o arquipélago São
Pedro-e-São Paulo a 1000km do continente. É o pedaço do Brasil mais perto da
África, chacoalhado freqüentemente por terremoto, menor que dois campos de
futebol, sem vegetação nem água doce. Mas brasileiros moram ali desde 1998.
A principal ilha é Belmonte.
Um aventureiro italiano decidiu cruzar o oceano Atlântico
num caiaque em 2006.
A morte estava próxima pro italiano Alex Bellini. Perdido
havia cinco dias, sem comer, num caiaque no meio do Atlântico. Com 28 anos,
parecia ser o fim da aventura de travessia solitária no Atlântico num pequeno
barco partindo de Gênova rumo ao Ceará, pois em duas ocasiões uma grande onda virou
o barco. Assim se perdeu a maior parte da comida e equipamento.
Havia um fio de esperança. Tinha um telefone via satélite,
no qual recebia instrução de sua equipe na Itália sobre um arquipélago
brasileiro na região. Mas o território não constava nas cartas náuticas de
Alex. Pior: A ondulação marinha escondia o baixo relevo das ilhotas. Nada acharia.
Só um milagre o salvaria.
Mas a sorte estava consigo. No barco de apoio à pesquisa no
arquipélago São Pedro-e-São Paulo um pescador percebeu algo alaranjado
flutuando no horizonte do imenso mar azul. Era o barco do italiano exausto e
faminto.
Em 2016, morando em Londres, Alex contou a aventura de 2006:
— Tento
imaginar a cena. Eles me vendo chegar num barquinho sem motor, só com o remo,
magro como um prego, barbudo, ressaqueado por dormir pouco, assustado. A idéia
de ver alguém em carne-e-osso após sete meses era como ver os santos, nossa
senhora e Jesus. Situação muito dramática porque arrisquei a vida. Um pequeno
arquipélago muito feio e rochoso, cheio de guano e sem lugar pra se sentar. Mas
era oportunidade de sobrevivência.
Enfim
perguntei sobre uma estranha coincidência em seu resgate, em torno dos nomes
dos santos que batizam os rochedos. Explicou que assim que chegou à ilha
Belmonte conseguiu ligar a um amigo pra informar estar a salvo. Quando contatei
meu amigo, em Valtelina, pra contar que cheguei a São Pedro-e-São Paulo, lhe
gelou o sangue. Disse Não
acreditarás. Há alguns dias mamãe sonhou contigo preso ao campanário da igreja
de nossa paróquia de Aprica. A igreja de Aprica é consagrada a são Pedro e a
são Paulo, seus santos protetores! Muito misterioso. Bela coincidência. Era o que eu fazia.
Estava agarrado à esperança de chegar a São Pedro-e-São Paulo pra escapar da
fome.
Após se
recuperar partiu do arquipélago e chegou a Fortaleza, totalizando 226 dias de navegação
atravessando o Atlântico.
Em 2008
atravessou o Pacífico.
Élcio Braga
A ilha brasileira mais perto da
África
Os raios e as cavernas
[…]
Mas nossa relação e colaboração com senhor Dauzère não
acabaram aqui.
Depois de ser atraído por si aos cumes e me familiarizar com
os fenômenos meteorológicos, seria eu agora quem o guiaria às grutas e àlguns mistérios
delas.
O físico Camille Dauzère seguia desde havia tempo um estudo
sobre a formação das tormentas e do granizo. Isso o levou, associado a um
naturalista autodidata, a realizar uma vasta pesquisa sobre a distribuição dos pontos
onde caíam os raios na região de Bagnères de Bigorre.
Joseph Bouget, um observador genial, notara e determinara
que essa distribuição dos lugares estava condicionada pela natureza das rochas.
As melhor condutoras de eletricidade eram as atacadas mais freqüentemente.
Inclusive determinou que o raio preferia não só certas rochas (quisto e
granito) mas também as linhas de contato de dois terrenos mineralogicamente
diferentes.
Professor Dauzère não demorou a desenvolver e aperfeiçoar essas
preciosas observações iniciais de seu colega, as orientando até uma nova
hipótese, que consistia em ver na maior ou menor ionização do ar a razão da atração
do raio a um lugar.
Esses íons são produzidos pela radiatividade das rochas. Isso
fazia lembrar um pouco as conclusões de Bouget, segundo as quais as rochas mais
radiativas são as de granito e as menos radiativas as calcárias.
Assim se explicava a influência da constituição geológica do
solo sobre a freqüência dos raios. Mas parece haver uma curiosa exceção pràs
calcárias contíguas às entradas de gruta e abismo.
Nesse ponto foi quando os senhores Dauzère e Bouget me associaram
a suas investigações. Apontei que encontrara freqüentemente os vestígios do raio
perto dos orifícios das simas (funis, rochas quebradas e, sobretudo, árvores
marcadas com os sulcos característicos produzidos pela chispa elétrica).
Assim conduzi senhor Dauzère aos salões das grutas, onde media
a ionização do ar cum contador gáiguer. Media também no interior, onde se
confirmou (Elster e Geitel o demonstraram em 1900) a crença de que o ar subterrâneo
é radiativo.
No verão, o período das tormentas, as grutas, que exalam uma
corrente de ar intensamente ionizada captam a descarga elétrica do raio que cai
ao salão da caverna ou ao orifício da sima.
Sob o grande pórtico rochoso da gruta de Labastide
encontrara uma sulfurita da espessura dum punho, completamente vitrificada, prova
incontestável do raio naquele lugar. EA Martel garantiu a mim que a sima de
Padirac atrai freqüentemente os raios nas violentas tormentas de verão.
As observações e as provas desse tipo são inúmeras. Não há dúvida
de que o pior que se pode fazer numa tormenta no campo é buscar refúgio numa gruta.
Essa inesperada relação entre o raio e as cavernas foi a miúdo tema
de conversação com senhor Dauzère, sem deixar de comentar a outra relação, ainda
mais inesperada, entre as greves e a ascensão de espeleólogos ao pico do Midi.
Mas se definitivamente não fiz mais que dar uma modesta
contribuição ao estudo de senhor Dauzère sobre os raios e as grutas, informei
em relação com esse tema sobre dois fatos que, mesmo sem ter algo de científico,
nem por isso deixaram de lhe interessar.
Quando criança Santo Agostinho tinha medo do ruído do trovão,
a tal ponto que quando estourava uma tormenta corria pra se refugiar numa
pequena caverna.
Um dia o raio caiu sobre seu esconderijo, o comovendo
enormemente. Doravante o menino se não se curou da fobia ao menos aprendeu que
os lugares subterrâneos não são precisamente um refúgio seguro contra a cólera do
céu.
Pra terminar evoquemos retrospectivamente os raios de
Júpiter que Vulcano e seus ciclopes forjavam nas moradas subterrâneas. Aqueles
famosos raios de bronze que Mercúrio quando criança quis roubar na gruta onde
estavam depositados mas que não levou porque eram pesados demais.
Os antigos, a miúdo observadores penetrantes e sutis, perceberam
a atração do raio às cavernas. Acaso imaginaram e dissimularam de propósito, sob
um mito, a origem subterrânea dos
raios?
Nesse caso anteciparam em milhares de anos a idéia nova e surpreendente
da influência das radiações profundas das entranhas da Terra sobre as nuvens
tempestuosas no canal das cavernas.
Norbert Casteret, Minha vida subterrânea (Ma vie souterraine), capítulo 24 - O raio e as grutas
Los rayos y las cuevas
[…]
Pero nuestra relación
y colaboración con señor Dauzère no acabaron aquí.
Después de ser
atraído por sí a las cumbres y me familiarizar con los fenómenos
meteorológicos, sería yo ahora quien lo guiaría hacia las grutas y hasta
algunos misterios de ellas.
El físico Camille
Dauzère seguía desde hacía tiempo un estudio sobre la formación de las
tormentas y del granizo. Ello lo llevó, asociado a un naturalista autodidacta,
a realizar una vasta encuesta sobre la repartición de los puntos donde caían
los rayos en la región de Bagnères de Bigorre.
Joseph Bouget, un
observador genial, notara y determinara que esa repartición de los lugares
estaba condicionada por la naturaleza de las rocas. Las mejor conductoras de
electricidad eran las atacadas más frecuentemente. Precisó incluso que el rayo
prefería no sólo ciertas rocas (esquisto y granito) sino además las líneas de
contacto de dos terrenos mineralógicamente diferentes.
Profesor Dauzère
no tardó en desarrollar y perfeccionar esas preciosas observaciones iniciales
de su colega, las orientando hacia una nueva hipótesis, que consistía en ver en
la mayor o menor ionización del aire la razón de la atracción del rayo a un
lugar.
Esos iones son
producidos por la radiactividad de las rocas. Ello recordaba en algo las
conclusiones de Bouget, según las cuales las rocas más radiactivas son las de
granito y las menos radiactivas las calcáreas.
Así se explicaba
la influencia de la constitución geológica del suelo sobre la de los rayos. Pero
parece haber una curiosa excepción para las calcáreas contiguas a las entradas
de gruta y abismo.
En ese punto fue
cuando los señores Dauzère y Bouget me asociaron a sus investigaciones. Señalé que
encontrara frecuentemente las huellas del rayo cerca de los orificios de las
simas (embudos, rocas rotas y, sobre todo, árboles marcados con los surcos
característicos producidos por la chispa eléctrica).
Así conducí al
señor Dauzère hasta los porches de las grutas, donde medía la ionización del
aire con ayuda de un aparato gáiguer. Medía también nel interior, donde se
confirmó (Elster y Geitel lo mostraron en 1900) la creencia de que el aire
subterráneo es radiactivo.
En verano, el
período de las tormentas, las grutas, que exhalan una corriente de aire
intensamente ionizada captan la descarga eléctrica del rayo que se abate sobre
el porche de la caverna o al orificio de la sima.
Bajo el gran
pórtico rocoso de la gruta de Labastide encontrara una sulfurita del grosor de
un puño, completamente vitrificada, prueba incontestable del rayo en aquel
lugar. EA Martel aseguró a mí que la sima de Padirac atrae frecuentemente los
rayos en las violentas tormentas de verano.
Las observaciones
y las pruebas de ese tipo resultan innumerables. No hay duda de que lo peor que
se puede hacer en una tormenta nel campo es buscar refugio en una gruta.
Esa inesperada relación entre el rayo y las cuevas fue a menudo tema
de conversación con señor Dauzère, sin dejar de comentar la otra relación, más
inesperada todavía, entre las huelgas y la subida de espeleólogos a la cima del
Midi.
Pero si en
definitiva no hice más que aportar una modesta contribución al estudio de señor
Dauzère sobre los rayos y las grutas, informé en relación con ese tema sobre
dos hechos que, aun sin tener algo de científico, no por eso dejaron de le interesar.
Cuando niño San
Agustín tenía miedo al ruido del trueno, hasta tal punto que cuando estallaba
una tormenta corría a se refugiar en una pequeña cueva.
Un día el rayo
cayó sobre su escondite, lo conmoviendo enormemente. Desde aquel día el niño si
no se curó de la fobia al menos aprendió que los lugares subterráneos no son
precisamente un refugio seguro contra la cólera del cielo.
Para terminar evoquemos
retrospectivamente los rayos de Júpiter que Vulcano y sus cíclopes forjaban en
las moradas subterráneas. Aquellos famosos rayos de bronce que Mercurio cuando
niño quiso robar en la gruta donde estaban depositados pero que no llevó porque
eran demasiado pesados.
Los antiguos, a
menudo observadores penetrantes y sutiles, ¿percibieron la atracción del rayo a
las cavernas, y acaso imaginaron y disimularon a propósito, bajo un mito, el origen subterráneo de los rayos?
En ese caso
anticiparon en millares de años la idea nueva y sorprendente de la influencia
de las radiaciones profundas de las entrañas de la Tierra sobre las nubes
tempestuosas nel canal de las cavernas.
Norbert
Casteret, Mi vida subterránea (Ma vie souterraine), capítulo 24 - El rayo y las grutas
Coleção cartão-postal de Joanco
Parabéns e obrigado por mais um clássico Tom & Jerry, que a geração mimimi de "especialistas" de hoje em dia insistem em boicotar por "violência excessiva".
ResponderExcluirobrigado pelo scan.
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