quarta-feira, 3 de julho de 2019

Careta 729




Imperador Omar Melão é ruivo e obeso na página 32, e moreno e gordo na 61



— Não esqueças que sou o senhor homem, quem comanda aqui, pois tenho o dom do raciocínio
 — Ter, tem. Mas não usa. Né?

O supermercado polonês é diferente do brasileiro
Nesse vídeo uma brasileira morando na Polônia fala sobre o supermercado de lá. No vídeo não se vê funcionário. Pra pegar o carrinho tem de pôr uma moeda e retirar no mesmo lugar ao o devolver. Assim se garante que o carrinho não será largado no estacionamento. E é tudo auto-atendimento. O cliente pega e escolhe qual é o item. E a apresentadora dizendo que tem ninguém vigiando, que não passa na cabeça deles que alguém passe um produto como outro mais barato. Ao passar um objeto à parte mais baixa, que é uma balança, o sistema só deixa continuar ao se detetar o peso, que é pra não pagar duas vezes. A apresentadora elogiou a preocupação em não deixar o cliente pagar duas vezes um produto.
Nos comentários o pessoal falando de como é bom viver num lugar de gente honesta, blablablá patati-patatá.
Em todo vídeo falando sobre outro país se nota nos comentários um crônico e recalcado complexo de vira-lata. O complexo é algo terrível, já virando depressivo. Só porque a coleta ao lixo é eficiente, são eficientes em tudo, são deuses.
É sobre esse raciocínio simplista que quero falar. É isso que leva a idéias racistas e outras tantas barbaridades tão persistentes. As pessoas não analisam o contexto e generalizam a partir dum ponto específico. Vemos isso em muitos iutubeiros de mistérios e conspirações. Ou seja: Falta o raciocínio científico.
Calma aí!, pessoal. Se os poloneses são tão estupendamente honestos assim, emprestes dinheiro a todo mundo, pra ver se é verdade. Topas? Se são, por quê tiveram de investir num sistema eletrônico pra garantir que não largarão o carrinho no estacionamento? Se não mostrasse como funciona, algum brasuca-lata diria que lá o povo é tão educado que não larga o carrinho no estacionamento! E, como mostrou noutro vídeo, não precisaria ter policial na rua pra multar, ou levar à delegacia se não tiver como pagar a multa na hora, quem andar na rua tomando bebida alcoólica. E, como mostrou noutro, não teriam o disseminado costume de estacionar o carro encima da calçada, pois, como disse a apresentadora, tem lei pra isso mas é uma daquelas leis que não pegam.
A ingenuidade da apresentadora achando que ninguém vigia. É lógico que vigiam cum sistema muito eficiente.
A balança que impede pagar duas vezes é preocupação contra processo, pois o europeu é cioso de seus direitos. É tudo questão de estatística, como explicou um especialista em direito do consumidor. No Brasil as empresas são picaretas porque quase ninguém reclama. Então o que tiver de pagar a alguém que reclamar compensa em comparação com a multidão que não reclama. Se a maioria reclamasse as empresas não se atreveriam tanto, porque não compensaria.
Mas outro entrave é o legislativo e o judiciário. Uma vez Glauder foi à justiça pra  reclamar contra 40 centavos a mais na conta telefônica-internética. O juiz não deixou, dizendo que é uma bagatela, pondo no chinelo todas as campanhas publicitárias pra que o povo reclame, mesmo que seja bagatela.
Como na embalagem de bacalhau português Consumir depois de abrir, gerando muita piada. É apenas pra se precaver contra os processos.
Mas um turista que tem de bloquear o cartão-de-crédito aqui o faz e pega outro na hora. Na França leva um mês. https://www.youtube.com/watch?v=5gQDazpjqic
As pessoas presumem e logo já têm certeza. Essa preguiça mental não leva só a complexo de vira-lata e a conspiranóia. Leva também a tragédia.
Na década de 2000 estava na moda a queda-livre com elástico, inspirado no ritual de rito-de-passagem pós-adolescência dos nagol de Vanuato, https://pt.wikipedia.org/wiki/Naghol. A moda parou depois duns casos da corda arrebentar. É que não existe fábrica dessa corda. Era feita artesanalmente. Nunca houve estudo sobre fadiga do material, ressecamento, etc. Se presumia que a corda serviria indefinidamente.
Um alerta pra quem ainda não pensou que a reciclagem não é ad infinitum.
Até as russas já perceberam que a moda é se casar cuma russa. Já apareceram algumas explicando que não é tão idílico assim.
Essa síndrome de presumir só é admissível em gente muito jovem, pois a pessoa adulta e boa da cabeça sabe que não existe troca só com vantagem ou só com desvantagem. Que tudo consiste em analisar se compensa.
É justamente nisso, nessa preguiça mental, nessa tendência de raciocinar apressado e prematuro, onde está a chave pra manipular a sociedade. Toda nossa tragédia intelectual-espiritual vem disso.
Desse pensamento sonambúlico brotam ideologias esdrúxulas fazendo as pessoas aceitar ser normal usar o órgão excretor como órgão sexual improvisado, um sexo na imundície mais abjeta ser visto como apenas uma variação criativa da normalidade. Nada pode ser mais surreal que isso.
As lendas urbanas. Estão usando os rumores coletivos pra propagar marcas, porque já perceberam que as propagandas tradicionais, principalmente aquelas com celebridades idiotas anunciando tal produto, não convencem mais.
É como a antiga sede de correr mundo e viver aventura. É isso que Dom Quixote satiriza. As narrativas, os gibis não transmitem cansaço, dor, odor. O herói não pega resfriado, não torce o pé, não tem dor-de-barriga nem a coluna puxando. Herman Melville e tantos outros não pensaram em escorbuto ao se lançar ao mar e percorrer o mundo.

Coleção cartão-postal de Joanco
 



3 comentários:

  1. Parabéns e obrigado pelas raridades (diversões Juvenis 27 e uma revista de 1922 em ótimo estado).
    E o Postal do Marne lembra o local da sangrenta batalha da Grande Guerra.

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  2. Ótimas raridades nostalgia à mil :)

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  3. Por favor divulgue o meu blog aqui no seu site.
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