quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Crônica joão-personense

Crônica joão-personense
Nunca temi o longo braço da lei mas sim a lengalenga e a longa língua do povo
A saudade ao mar e os estrambóticos lanches aeronáuticos Musa laxante e projetista bate-bate E recrudesce o golpe da maleta Avisos macarrônicos Como no universo dísnei, de bicho-gente e bicho-bicho, gente-gente e gente-bicho O mistério do caranguejo engarrafado Sem frio, raio, frescura nem festa julina Um banho 3-em-1 Natal derrubada e Maceió esquisita Mais comparação ônibus-avião Cinto, sinto muito! Passagem aérea é especulativa No labirinto, camiseta em João Pessoa e Lisboa em camisa Espelhos e expelhos A praça do Sebo não tem sebo As arapucas internéticas Balança mas não cai
Muita saudade de banho marinho, que é uma aventura, pois é um desafio achar uma praia própria pra banho. Com praia urbana, João Pessoa é uma opção atraente. De quebra uma ponta de festa junina e uma esticadinha a Recife, a 100km, tipo Campinas–São Paulo. Como a passagem aérea estava mais barata a Recife, fui dali a Jompa em ônibus.
Até agora, a Avianca (Parece nome russo mas é colombiana. Seria anca da ave?) é a melhorzinha em lanche. Um sanduíche decente e quentinho. Nada daquelas comida-lixo, como os saquinhos tipo pseudo-batata-frita da Azul nem as horríveis balas da Lã-Tã-Latã. Mas de bebida nem a água, que deve estar envenenada por flúor.
As aeronaves parecem ser mais novas, não aqueles calhambeques chacolejantes da Aerolinhas Argentinas, se bem que num dos vôos travou todo o sistema de vídeo. Reiniciou n vezes, e nada. Passa uma série de propaganda e depois libera as opções. Pior que no Iutube, pois não se pode desligar a coisa durantes as propagandas. Então tive que aturar a cara da Galisteu, eterna musa do iogurte laxante. Mais uma que ficaria em palpo de aranha se o fabricante se envolvesse em escândalo.
Deveria ser proibido fazer propaganda paga, assim como é proibido receber dinheiro pra doar sangue. Quem louva um produto porque é pago pra isso é um picareta, assim como é ladrão quem pega algo emprestado e não devolve.
A conexão foi Brasília. Na descida o comandante do vôo avisou que as malas estariam na esteira 3. Não era. Era na 6. Mas eu não tinha de pegar mala ali, pois a bagagem ia direto. Tanto melhor. Mas nisso senti mais vontade de dar uns cascudos no projetista.
Uma vez comentei com Ramão e Emiliana sobre como os funcionários tratam a bagagem, ao ver como um carregador tirava as malas da carroça e jogava à esteira com raiva, como se fossem fardos de feno (O mesmo num camião do correio noutra ocasião). Pois parece que um desses carregadores ascendeu na função e virou projetista de esteira-de-bagagem, ou projetava aqueles carrinhos de bate-bate de parque-de-diversão, e inventou a esteira Cataratas. E não é de Foz do Iguaçu. Nas esteiras em Brasília a mala desce do teto. Em vez de desembocar suavemente à esteira horizontal, o que se faria com menor ângulo (ou seja, não tão vertical), cai da altura de cerca de 1m, batendo forte na lateral da esteira, bum! Eu, hem?! Só fico torcendo pra que esses projetistas de esteira e de carrinho pra carregar bagagem não subam ainda mais na função e virem projetistas de avião.
Aeroporto, rodoviária e xópim são os lugares mais incômodos, chatos, bregas, feios e com os produtos mais caros e de menor qualidade, de modo que quando menos se permanecer ali, melhor. Se num ponto da cidade tem uma lanchonete boa cuma filial num xópim, difícil a xopinesca ter a qualidade da matriz.
Ali tá pior que no de Guarulhos o golpe da maleta de brinde: Fingir que dá uma maleta de brinde e conseguir empurrar uma assinatura de revista vagabunda. Estão muito ostensivos, quase coercitivos. Vão te cercando. Não sei se é um funcionário da segurança dando um alerta. Muito chato. Parecem aquelas crianças vendendo navalha múltipla e chave-de-fenda múltipla. Uma vez um cunhado não quis saber, então os moleques bateram palma em coro cantando uníssono Panduro, panduro, panduro!
No começo de tarde a chegada a Recife. Na esteira um adesivo em português, inglês e castelhano, pra ter cuidado com a esteira. Castelhano macarrônico: Atentión! É a velha questão da placa, faixa, fachada, etc, com erro que ninguém vê.
Acho graça de coisas mal redigidas, como É proibido fumar durante todo o vôo. Então se fumar só durante um trecho não tem problema? É como aquela frase Estar a mulher que ama. Mas não quis dizer Estar com a mulher amada?
Mas tem português macarrônico também.
Embarque imediato pelo portão 11. Então o portão ia embarcar e não pôde, e o pessoal embarcará por ele?
— Oi, pessoal, sou o portão 11. Minha filha, portinhola 11 está doente. Por isso não posso embarcar. Pode todo mundo embarcar por mim?
Outro era numa barraca da Lo voglio, com as mentiras de sempre:
Gelato natural. 0 conservantes, 0 corantes, 0 gordura hidrogenada
Se é zero tem de ser singular. E por quê só a gordura no singular?
Noutro lado: Como pode ser natural se é feito por alguém? Um sanduíche natural seria se fosse fruto duma árvore, a sanduicheira, por exemplo. Á! Ta! Com ingredientes naturais, quer dizer.
A corrida de táxi oficial do aeroporto à rodoviária deu R$100. Chovia muito em Recife. O inverno nordestino é como o amazônico: Em vez de ser época de frio é de chuva. O céu todo encoberto, uma abóbada cinza, como em Lima, só que mais escuro, e o dia nada claro, como no crepúsculo. O inverno é a temporada chuvosa mas neste 2017 choveu mais que a média.
No nordeste não existe frio, exceto nas localidades montanhosas, onde esfria por causa da altitude. No litoral não tem seca, que é flagelo do interior. É como no sul, onde o litoral não é frio como o interior.
 Comecei a perceber que fui infeliz na escolha da data. Restava torcer pra que Jompa não estivesse chuvosa igual. Improvável por ser tão perto mas, quem-sabe?, Recife seja um microclima como Sampa.
Na escola aprendemos que são quatro estações. Ficamos condicionados ao simplismo de associar verão a calor e inverno a frio como se fosse um fenômeno mundial.
A meio-caminho ao guichê da viação Progresso fui interceptado por um indivíduo oferecendo a vã dum colega ao lado, mais barato que o ônibus, já tá saindo, patati-patatá. Arrepiei. R$37 o ônibus. Cai fora!, caipora. O ônibus quase vazio. Os três passageiros fomos conversando a viagem toda. Um não parava de lamentar que por 10 minutos perdeu o último ônibus e terá de pernoitar em Jompa. O outro esteve no Chile. Falei sobre a Colômbia. Disse que não cogitou porque é pobre e rústica como a Bolívia e o Paraguai. Eu disse que isso é estereótipo. Que pra passear a Colômbia é ainda melhor que o Chile, e que o Paraguai é muito melhor que Uruguai e Argentina (Exceto Cidade Leste, hehehe).
Nada de paisagem excepcional. Na periferia muita favela no morro. Nalguns pontos enorme extensão de lona negra estendida pra conter a erosão. Em 2007 era Recife a cidade mais violenta do Brasil, hoje deve ser a segunda ou terceira.
Na saída da rodoviária de Jompa esse segundo companheiro de viagem consultou no celular o uber ao hotel, no centro, minha reserva. Chamei o taxista, quem disse que esse hotel é muito ruim, que fica junto a um puteiro, no centro, área perigosa, deserta e insípida, boca-do-lixo, onde nada se tem pra ver ou fazer. Que melhor ficar na praia, área turística, onde está todo o agito e se pode passear na noite sem preocupação. O outro viajante concordou, que era isso mesmo.
Sim que a gente fica meio assim-assim em situação assim. Escolhi a não-teimosia e acertei. Já noite, passou na área e mostrou a feiúra e escuridão do local. A área da lagoa Sólon de Lucena, aonde fui duas vezes, pois tem os dois únicos sebos da cidade, um grande e um minúsculo, e comprovei que realmente nada tem, nem restaurante apreciável além do que fica no parque da lagoa, que é excelente. Ali tem uma casa de importado, onde comprei um carrinho-de-feira com o qual resolvi um problema de logística: Tem vez que uma visita aos sebos me deixa com muito peso. Com o carrinho, cinta de sacola e elástico de motoqueiro esse problema foi eliminado.
Chegando à pousada dos Anjos, a duas quadras da praia, anoitecer, como não tem elevador preferi não ficar no terceiro andar e sim no primeiro, bem na cara da portaria e com todo o barulho das conversas. Caso eu achasse ruim bastaria pedir pra mudar. Não mudei. Fui bater perna na área. Já de cara um choque cultural, um catador de sucata puxando a carroça rua a baixo, ao cruzar:
— Boa noite!
— Boa noite!
E não é só esse. O pessoal ali dá bom-dia com naturalidade. E responde! Não com aquela cara de bunda do pessoal daqui, achando um saco despertar da hipnose e encarar um estranho, pois em Campo Grande só conhecido é gente.
Claro que no hotel não. Ali é aquela babaquice geral. Penso assim: Cumprimentar as pessoas é uma mostra de reverência e respeito. Mostrar que os reconhecemos como gente, não como bicho. Mas quem se comporta como bicho como bicho será tratado. Afinal, e morreria de vergonha se empinasse o nariz e então passasse mal e tivesse de ser acudido por aqueles a quem considero bicho. É assim que penso quando me deparo com gente tosca:
— Aé, né? Se passar mal não é quem está perto quem te socorrerá? E se precisar de informação não terás de desempinar o nariz?
A área turística é bem restrita, pequena e interessante, prum passeio de no máximo cinco dias. Não chovia no dia da chegada, assim pude percorrer vasto trecho na orla.
Uma pequena galeria com lojas de produto artesanal e banca de comida, com cuscuz e tapioca, uma infinidade de cachaça artesanal, de todas as marcas, licor e doce. Jaca em calda, licor de pitomba, rapadura enrolada em palha tal qual pamonha. Mas cerveja artesanal não existe ali. Tem uma cachaça cum caranguejo dentro. Outra com caju. O sabor da cachaça curtida com caranguejo não é agradável nem desagradável. Vale pela curiosidade. Prefiro o contrário: Almoçar caranguejo ao molho de cachaça. Não sei como puseram o caranguejo ali. Aqueles famosos navios na garrafa pode ser que seja desmontado, mas o caranguejo tem de ser inteiro. Será que sopram a garrafa, na fabricação, já com o caranguejo? Só pode! Já vi na tevê com cobra e com escorpião, mas com caranguejo é nova.
Aqui explica como colocam:
Numa dessas galerias é o centro cultural, onde, rente à calçada, com som alto e muito agradável, sucessão de músicas juninas, forró, etc, um grupo dançando quadrilha. As moças com saias coloridas. Empolgante. Foi a melhor surpresa da viagem, pois havia muito não via festa junina de verdade, só as muito toscas, descaracterizadas e ensurdecedoras de Campo Grande.
— Taí! Já valeu a viagem!
A festa junina ficou nisso, pois era 24 de junho, dia de são João, feriado pessoense e encerramento das festas juninas. Aqui no centro-oeste temos as festas juninas e julinas. Pra fugir da concorrência ou aproveitar as férias de julho o São-joão se estende até julho. Lã não. Lá não existe o vocábulo festa julina. Encerram o São-joão no dia de são-joão e ponto! Igual encerramos o Carnaval na Quarta-feira-de-cinza.
João Pessoa e Campina Grande são meio como Campo Grande e Corumbá. Carnaval em Campo Grande é fraco. Carnavalesco campo-grandense vive de teimoso. Em Corumbá é o melhor do estado. Pois é só encostar numa barraca e ouvir alguém suspirando:
— Ai! Queria estar em Campina Grande.
Uma cliente da barraca, quem suspirou assim, disse que hoje tem o espetáculo da Elba Ramalho em Campina Grande. Que é só lá que gostam dela, em Jompa o pessoal não gosta porque fala mal da Paraíba, que por quê mora aqui então?
Fico muito desconfiado com esse negócio de maior São-joão do mundo. Coisa muito grandiosa e badalada me deixam com pé atrás. Além do quê evento concorrido demais é caro e tumultuado. Há muito já tirei da cabeça ir a carnavais como Olinda, Rio, ou mesmo o boi-bumbá de Parintins. Alta temporada não é minha praia.
O forte ali é camarão e água-de-coco. R$2,00, R$2,50, R$3,00 a água-de-coco. E o bom é que não tem frescura. Mesmo restaurante chique serve água-de-coco e não te barra por estar de bermuda, como em Curitiba. Por isso é até salutar uma crisezinha pro pessoal deixar a frescura de lado.
Há pouco Ramão e Emiliana foram a Fortaleza. Diz que o pessoal lá não conhecia lagosta e só passaram a apreciar quando na ocupação francesa os franceses ensinaram. Os frutos-do-mar que vemos no litoral, exuberantes, em Campo Grande são caríssimos. Caríssimos, não. Nem tem. Só tem esses camarõezinhos de supermercado, o mais comum. Eu disse:
— Quê-diabo de vantagem temos em ser o mesmo país? Só de não trocar moeda, não passar alfândega nem ter de tirar visto e ou passaporte. As mercadorias deveriam circular no país todo com pouca diferença de preço. Mesmo no Mercossul. Só há a vantagem de visto. Os correios não se integram, e uma encomenda custa o olho da cara, seja o governo que for.
 No domingo começou a ficar chuvoso. Mas uma chuva diferente, umas chuviscas fortes durante um minuto, quinze minutos depois outra. Num momento a chuvisca forte veio com vento, me fustigando areia nas costas. O engraçado é que ali, onde está o marco do ponto mais oriental das Américas, não venta tanto quanto Natal, onde o garção na praia vinha cum prato ornamentado com alface na borda, e quando chegava a alface já voara toda.
Na altura da pousada o mar é impróprio pra banho. Percorrendo ao norte, no fim o calçadão muda de pedra a uma lajota, muitas faltando, onde vai ficando deserto. O lance é ir na direção sul, Tambaú e Cabo Branco. Indo o mais longe possível, na altura do hotel Solemar, descendo na areia no fundo duma barraca, um ponto semideserto, onde deixei a sacola num banco sob um guarda-sol. Ao lado outro guarda-sol onde pouco depois apareceu uma família. Passamos a tarde ali, dia de céu encoberto, plúmbeo, com chuva esporádica e mar bravio. E eu feliz feito pinto no lixo, matando a saudade de banho marinho.
Na segunda fui aos sebos. A loja perto do sebo Cultural é uma versão chique do sebo, pros incautos e apreciadores de livro novo. Os mesmos livros da loja-sebo, muito mais caros. Abre às 10h. Em Jompa e Recife as lojas em geral abrem nessa faixa, 9h, 10h.
Como no Chile e na Colômbia, tudo abre tarde, na base de 9h, 10h, pensei que não é por acaso que a cadeia de banca-de-revista de lá se chama Viña-del-Mar. Estranhei o nome, duma cidade chilena na outra ponta do continente, onde tomei meu primeiro banho marinho no Pacífico. Na praia tem uma, e no bate-perna encontrei mais duas. Uma atendente explicou que não é dono chileno nem tem chileno no meio. É o nome do edifício onde ficava a primeira banca.
O sebo Cultural é bem grande e na entrada tem uma lanchonete, que foi a única que não tem água-de-coco. Deveria se chamar sebo Labirinto, de Minos ou do Minotauro, pois os corredores resultam em verdadeiro labirinto. É um sebo que não emporcalha capa do livro com adesivo de preço e logo da loja. Almoço no restaurante da Lagoa, camarão e lagosta com purê-de-batata e arroz, e água-de-coco, claro, já voltando com o carrinho-de-feira, portanto sem preocupação com o peso da sacola.
Na janela do caixa, na direita umas camisetas penduradas em cabide. Numa, branca, estava escrito Voto nulo. Eu disse à moça do caixa:
— Esse é dos meus! Voto nulo enquanto o voto for obrigatório.
Então na direita soou a voz do dono da loja, assomando a cabeça:
— Queres ganhar a camiseta?
— Quero! Farei campanha em Campo Grande.
Ganhei a camiseta. Minha idéia é complementar o dizer, no estilo Jânio Quadros:
Voto nulo
porque fulo!
Um livro raro encontrado foi Lisboa em camisa, de Gervásio Lobato, comédia de costume portuguesa do final do século 19. Em 1960 fizeram uma série portuguesa tirada do livro. Podeis assistir:
Lisboa em camisa
Em camisa é uma expressão lusitana: Na intimidade, sem afetação social, de chinelo.

Este é sobre o assassínio a João Pessoa, verdadeira tranqueira. Já falei sobre a bobeira de ter um tranqueira como Antônio Maria Coelho como nome de rua. Pois João Pessoa é muito pior.


Primeira-dama da política local conta gafes suas, alheias e outros relatos

 Outra coleta de causos na política pessoense


Crônicas e causos do carnaval pessoense


História e percalços do bloco carnavalesco pessoense Picolé de manga


A pedra que canta
Contos de ficção-científica de autor pessoense. Só estranhei o contraditório título dum conto: A neoescravocracia advinda. Como podem os escravos governar? Mesmo assim permanecem escravos?

Durante toda a estadia em Jompa só usei bermuda, sandália e camiseta. A chuva recrudesceu a partir da quarta-feira. O rosto já estava vermelho na chegada, piorando na praiada de domingo. Por isso tive de passar filtro solar, pois serve também como hidratante, ajudando a recuperar a pele corada. Mas bobeei em não pedir o pra rosto. Então tive de suportar duas vezes o terrível incômodo de escorrer e irritar os olhos. Passei esse incômodo no dia seguinte no sebo do Anacleto. Realmente, nenhum restaurante expressivo além do da Lagoa. Então almoçar na praia.
Encostado no muro da orla o restaurante Bahamas, imitando uma choça de palha. Excelentes pratos de fruto-do-mar, água-de-coco, chope. Garções simpáticos. No caixa um garção mostrando no celular uma foto duma modelo num maiô imitando a pele masculina bem peluda. Rimos muito aludindo à canção de Luiz Gonzaga, Paraíba masculina. https://www.youtube.com/watch?v=69rv13vRK98
Como estava chuvoso demais fui pesquisar o valor duma passagem aérea pro dia seguinte, abortando a volta no sábado, por causa da chuvarada. Em Jompa já estava tudo feito, e em Recife nada a fazer com tanta chuva. Não compensava porque passagem encima da hora é muito caro. Melhor encarar a volta via Recife.
Então na chuvosa quinta-feira fui ao segundo banho marinho. De bermuda de malha, que serve de calção-de-banho, camiseta de malha e sandália, levando só uma sacola de supermercado dentro doutra, com apenas um cartão de débito, o filtro solar e R$11, subi a orla em direção sul, sem me importar com a chuva, a um ponto diferente do de domingo, não no fundo duma barraca-restaurante. Como era meio de semana e sem restaurante perto, estava bem mais deserta. Antes de atravessar a areia pus a sandália na sacola. Meu plano era enterrar a sacola na areia mas com a chuva o buraco na areia se inundava. Então deixei na beira da arrebentação. Supérfluo enterrar porque estava muito deserto.
Ali a onda era melhor, não tão forte quanto no ponto de domingo. Ali fiquei pulando onda, mais feliz que gato na caixa. O céu encoberto, plúmbeo, como Lima em junho, e o mar cinzento, cheio de alga. Esporadicamente uma rajada de chuva, mas nada de raio, pois não vi raio nem ouvi trovão em toda a estadia em Jompa e Recife. Parece que o nordeste não é terra de raio. Quando chegava um lote de chuva os edifícios altos, ao longe, na esquerda, ficavam envoltos em névoa, vaporosos como num filme do expressionismo alemão. Um banho 3-em-1: Mar, chuva e sol. Não levei relógio. Só dava pra avaliar a hora olhando a posição do Sol pelo brilho na nuvem cinzenta quando parava a chuva. Um idílio de solidão total porque as pessoas meteram na cabeça que banho marinho tem de ser com sol, esquecendo que ali a água é sempre morna. Solidão só ofuscada por duas vezes um trio caminhando ao longo, longe. E por um casal em estranha cena. Ela filmando na ponta da calçada, ele em pé, de perfil, com pose que quem fará pipi… Um instante, e se foram.
Minha receita pra quem mora longe da praia matar a saudade:
Passar filtro solar, pra ficar com o cheirinho que faz lembrar praia. Fritar camarão e tomar uma água-de-coco com canudinho. Pra matar a saudade de pular onda, pegar o carro e passar correndo os quebra-mola.
Passeio completado, driblando a chuva, na noite, numa praça-de-alimentação na orla, um pastel de camarão e, claro, água-de-coco. No caminho o restaurante Canoa de camarão cuma promoção de rodízio de camarão a R$76. Já ia passando e voltei.
— Não perco essa.
Fez lembrar o Mar e terra, de Curitiba, em 1992.
Voltei ao hotel driblando a chuva. Quando apertava me abrigava sob alguma marquise. Teve um momento em que a água começou a descer na calçada, quase chegando aonde eu esperava. Uma mulher chegou pra se abrigar exclamando:
— Ai, que frio! Ai, que frio!
Achei muita graça. Se aquilo era frio… Mas certamente num país frio o pessoal também acharia graça de meu conceito de frio.
Quando começou a chover mais tinha esquina cuja calçada ficava alagada, obrigando a andar na rua. No calçadão da orla muita poça dágua, pois em muitos pontos formava barriga, retendo água. A prefeitura pessoense deveria caprichar mais numa área turística tão pequena. Decerto o engenheiro de lá deve ser da mesma escola dos que fizeram o mirante no parque das Nações indígenas.
Minha idéia era ir embora na quinta-feira às 5h, pra pegar o primeiro ônibus e otimizar a manhã em Recife. Mas como os nordestinos abrem tudo tão tarde e com a chuvarada sem parar, não adiantaria.
O taxista contou que a época mais barata pra visitar Jompa é imediatamente após acabar o Carnaval, quando cai em fevereiro. Que Natal era excelente mas que um prefeito que teve lá fez muito estrago que derrubou o turismo, e é procurado pela Interpol. Que acha Maceió muito bela mas cidade muito esquisita.
Mais comparação entre avião e ônibus: Ambos exigem cinto-de-segurança. Não sei por quê em carro, ônibus interurbano e avião se é obrigado a usar o tal cinto mas nos ônibus urbanos o pessoal vai em pé espremido feito sardinha na lata, e mesmo pros sentados não tem cinto. É como as pessoas proibidas de fumar mas as fábricas podem exalar toneladas de fumaça.
As sacolas de viagem não são impermeáveis e parece que os bagageiros de ônibus também não. Então melhor forrar as sacolas com plástico dentro. Em Foz tive um livro capa-dura que chegou a umedecer a capa, o mais embaixo, sem prejuízo. Chegando a Recife a sacola que ficou em borrifou água acumulada encima quando o atendente pegou, sem chegar a molhar dentro. A grande vantagem do ônibus é que não pesa as malas e não tem aquela maçante palestra de segurança à qual ninguém presta atenção. Duvido que se acontecer emergência alguém se lembrará dalgum item daqueles. Talvez só das poltronas supostamente flutuantes. Serão certificadas pelo corpo-de-bombeiro? ISO não sei quantos mil? A mesma bagagem a Avianca cobrou R$160 por 8kg de excesso de bagagem! 20R$/kg!
Agora conseguiram cobrar a bagagem separado da passagem. Logo-logo conseguirão cobrar também a passagem por quilo de passageiro. Então melhor fazer dieta antes de viajar.
Outra diferença gritante é que os outros meios de transporte, ônibus, trem, navio, têm o valor fixo da passagem, o que facilita muito ante imprevisto. No aéreo é uma especulação descarada, tipo bolsa de valor, cotação a dólar, sei-lá. Além de não ter critério pra cobrar excesso de bagagem, a passagem encima da hora fica o olho da cara, o preço varia conforme a temporada ser baixa, alta (férias e feriados) ou altíssima (Carnaval). Se tivéssemos um governo nacionalista, forte, sério e competente haveria leis contra esses abusos e uma aerolinha estatal pra defender os interesses do povo. E se houvesse trem-bala singrando o continente haveria concorrência de verdade.
Chegando a Recife a reserva era no motel Sobrado. Motel mesmo, cuma parede toda espelhada. Não sei qual é a graça pra quem vai até lá pra pra pra prará praprá, mas não sou muito amigo de espelho, ainda mais que sei que em lojas os espelhos são sempre suspeitos, pois a segurança gosta de usar vidro espelhado pra monitorar o público. E há motel que filma os hóspedes, pois há um mercado-negro de filminhos pornô pra vuaiê.
Num vidro espelhado a luz tem de atravessar o espelho, pra quem está na sala 2 ver a sala 1. Então tem de haver modos de detetar e ou acusar esse fenômeno.
Eis uma forma de detetar quando é vidro espelhado e quando é espelho verdadeiro.
Aproveitando o taxista dei uma corrida até a praça do Sebo, que não sei por quê tem esse nome, pois não é ali que ficam os sebistas mas duas quadras depois, que na verdade são só dois ambulantes que expõem na calçada. Coisa mais mixuruca. Marquei com o taxista meia hora num ponto de ônibus. Enquanto esperava, um ambulante de cedê tocava umas canções góspel pra lá de brega ao máximo volume. Eta, poluição sonora! Sou mesmo perseguido por disquejoqueiros malucos!
A conclusão é que não se deve confiar demais na internete. E não falo só sobre dicas turísticas. No mapa aparece muita livraria que aparece como sebo mas não é, algumas não existem e outras é o endereço que não existe. Fui à Gira-livro em Jompa. Era uma casa residencial. O cara explicou que eram só livros didáticos e alguns bestséleres que recebia como doação e disponibilizava pra doação. Eu disse que tem de avisar os portais que ali não é sebo. Respondeu que isso poderia diminuir as doações.
Cuidado também com os portais de gerenciamento de hotel. A pesquisa é hotel e aparece motel, hostel e outras variedades. Como o caso que contei em Assunção, onde a dona do tal hotel mandou mensagem dizendo que não estaria aberto naquele horário porque não é um hotel!
O atendimento do motel Sobrado é muito simpático e solícito. Tem telefone no quarto, o que a pousada dos Anjos não tem.
Na manhã seguinte a chuva pausou. Só o que tinha perto era o xópim Rio-mar, nome por causa da região ser a foz do rio Capiberibe. Dos males o menor.
No guichê da Avianca, pra pagar o excesso de bagagem, um atendente desconfiou que o casal que entrou à fila queria fazer chequim:
— Se for chequim é ali.
Foram. Continuou:
— Vê se pode! Vira-e-mexe e o pessoal acha que o despacho da bagagem é aqui. Cadê a esteira? Cadê a balança?
A colega, apontando uma plataforma no canto oposto:
— Já responderam que aquilo ali é a balança.
Eu disse:
— Sem esteira nem balança é porque decerto estão enxugando custo. Colocarão os funcionários que freqüentam academia pra arrastar as malas e pesar com aquelas balanças de mola com gancho na ponta. Assim se exercitam de forma produtiva em vez de se exercitar a toa.
E assim ficamos rindo da coisa.

Coleção de cartão-postal de Joanco
 



Chegou o livro do mais recente projeto da editora Clock tower
Seriam contos de Arthur Machen, mas na verdade são novelas, ou mais propriamente noveletas.
Esse é um dos grandes autores da literatura mundial. Não só um literato mas um verdadeiro iniciado. Nas obras de Machen se descortinam autênticos conhecimentos ocultos enredados em trama literária.
Autor imprescindível
 
Arthur Machen – O mestre do oculto

Edição limitada reunindo 9 contos do autor galês, incluindo sua obra mais conhecida, O grande deus Pã e uma série de extra incríveis.
A editora Clock tower, responsável pelo lançamento de O rei de amarelo e O mundo fantástico de HP Lovecraft, lançou recentemente o livro Arthur Machen – O mestre do oculto, primeira obra mais completa em português reunindo obras do autor. E a editora tem plano de seguir com livros de Machen, uma vez que têm material já traduzido pra mais 2 livros.
Arthur Machen foi um escritor e jornalista galês, conhecido por suas obras sobrenaturais e de fantasia. Seu conto mais conhecido, a novela O grande deus Pã, está no livro da Clock tower junto com outras obras inéditas em nosso idioma.
Arthur Machen – O mestre do oculto pode ser adquirido com todas as facilidades possíveis na conexão:
Mais informação sobre o livro:
Lista de contos:
1 – A luz interior
2 – A mão vermelha
3 – A pirâmide de fogo
4 – Ao abrir a porta
5 – O povo branco
6 – O pó branco
7 – O sinete negro
8 – O grande deus Pã (novela)
9 – Um jovem brilhante
Apêndice
- Artigo Machen x Lovecraft
- Biografia da equipe editorial
- Nome dos colaboradores
- Endereços internéticos dos parceiros da editora




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