Crônica
joão-personense
Nunca temi o longo braço da lei mas sim a lengalenga e
a longa língua do povo
A
saudade ao mar e os estrambóticos lanches aeronáuticos ● Musa
laxante e projetista bate-bate ●
E recrudesce o golpe da maleta ●
Avisos macarrônicos ●
Como no universo dísnei, de bicho-gente e bicho-bicho, gente-gente e
gente-bicho ● O
mistério do caranguejo engarrafado ● Sem frio, raio, frescura
nem festa julina ●
Um banho 3-em-1 ● Natal
derrubada e Maceió esquisita ●
Mais comparação ônibus-avião ●
Cinto, sinto muito! ●
Passagem aérea é especulativa ●
No labirinto, camiseta em João Pessoa e Lisboa em camisa ● Espelhos
e expelhos ● A
praça do Sebo não tem sebo ● As
arapucas internéticas ●
Balança mas não cai
Muita
saudade de banho marinho, que é uma aventura, pois é um desafio achar uma praia
própria pra banho. Com praia urbana, João Pessoa é uma opção atraente. De
quebra uma ponta de festa junina e uma esticadinha a Recife, a 100km, tipo
Campinas–São Paulo. Como a passagem aérea estava mais barata a Recife, fui dali
a Jompa em ônibus.
Até
agora, a Avianca (Parece nome russo mas é colombiana. Seria anca da ave?) é a
melhorzinha em lanche. Um sanduíche decente e quentinho. Nada daquelas
comida-lixo, como os saquinhos tipo pseudo-batata-frita da Azul nem as
horríveis balas da Lã-Tã-Latã. Mas de bebida nem a água, que deve estar
envenenada por flúor.
As
aeronaves parecem ser mais novas, não aqueles calhambeques chacolejantes da
Aerolinhas Argentinas, se bem que num dos vôos travou todo o sistema de vídeo.
Reiniciou n vezes, e nada. Passa uma
série de propaganda e depois libera as opções. Pior que no Iutube, pois não se
pode desligar a coisa durantes as propagandas. Então tive que aturar a cara da
Galisteu, eterna musa do iogurte laxante. Mais uma que ficaria em palpo de
aranha se o fabricante se envolvesse em escândalo.
Deveria
ser proibido fazer propaganda paga, assim como é proibido receber dinheiro pra
doar sangue. Quem louva um produto porque é pago pra isso é um picareta, assim
como é ladrão quem pega algo emprestado e não devolve.
A
conexão foi Brasília. Na descida o comandante do vôo avisou que as malas
estariam na esteira 3. Não era. Era na 6. Mas eu não tinha de pegar mala ali,
pois a bagagem ia direto. Tanto melhor. Mas nisso senti mais vontade de dar uns
cascudos no projetista.
Uma vez
comentei com Ramão e Emiliana sobre como os funcionários tratam a bagagem, ao
ver como um carregador tirava as malas da carroça e jogava à esteira com raiva,
como se fossem fardos de feno (O mesmo num camião do correio noutra ocasião).
Pois parece que um desses carregadores ascendeu na função e virou projetista de
esteira-de-bagagem, ou projetava aqueles carrinhos de bate-bate de
parque-de-diversão, e inventou a esteira Cataratas. E não é de Foz do Iguaçu. Nas
esteiras em Brasília a mala desce do teto. Em vez de desembocar suavemente à
esteira horizontal, o que se faria com menor ângulo (ou seja, não tão vertical),
cai da altura de cerca de 1m, batendo forte na lateral da esteira, bum! Eu, hem?! Só fico torcendo pra que
esses projetistas de esteira e de carrinho pra carregar bagagem não subam ainda
mais na função e virem projetistas de avião.
Aeroporto,
rodoviária e xópim são os lugares mais incômodos, chatos, bregas, feios e com
os produtos mais caros e de menor qualidade, de modo que quando menos se
permanecer ali, melhor. Se num ponto da cidade tem uma lanchonete boa cuma
filial num xópim, difícil a xopinesca ter a qualidade da matriz.
Ali tá
pior que no de Guarulhos o golpe da maleta de brinde: Fingir que dá uma maleta
de brinde e conseguir empurrar uma assinatura de revista vagabunda. Estão muito
ostensivos, quase coercitivos. Vão te cercando. Não sei se é um funcionário da
segurança dando um alerta. Muito chato. Parecem aquelas crianças vendendo
navalha múltipla e chave-de-fenda múltipla. Uma vez um cunhado não quis saber,
então os moleques bateram palma em coro cantando uníssono Panduro, panduro, panduro!
No
começo de tarde a chegada a Recife. Na esteira um adesivo em português, inglês
e castelhano, pra ter cuidado com a esteira. Castelhano macarrônico: Atentión! É a velha questão da placa,
faixa, fachada, etc, com erro que ninguém vê.
Acho
graça de coisas mal redigidas, como É
proibido fumar durante todo o vôo. Então se fumar só durante um trecho não tem problema? É
como aquela frase Estar a
mulher que ama. Mas
não quis dizer Estar com
a mulher amada?
Mas tem
português macarrônico também.
Embarque
imediato pelo portão 11. Então o portão ia embarcar e
não pôde, e o pessoal embarcará por ele?
— Oi,
pessoal, sou o portão 11. Minha filha, portinhola 11 está doente. Por isso não
posso embarcar. Pode todo mundo embarcar por mim?
Outro
era numa barraca da Lo voglio, com as
mentiras de sempre:
Gelato
natural. 0 conservantes, 0 corantes, 0 gordura hidrogenada
Se é
zero tem de ser singular. E por quê só a gordura no singular?
Noutro
lado: Como pode ser natural se é feito por alguém? Um sanduíche natural seria
se fosse fruto duma árvore, a sanduicheira, por exemplo. Á! Ta! Com
ingredientes naturais, quer dizer.
A
corrida de táxi oficial do aeroporto à rodoviária deu R$100. Chovia muito em
Recife. O inverno nordestino é como o amazônico: Em vez de ser época de frio é
de chuva. O céu todo encoberto, uma abóbada cinza, como em Lima, só que mais
escuro, e o dia nada claro, como no crepúsculo. O inverno é a temporada chuvosa
mas neste 2017 choveu mais que a média.
No
nordeste não existe frio, exceto nas localidades montanhosas, onde esfria por
causa da altitude. No litoral não tem seca, que é flagelo do interior. É como
no sul, onde o litoral não é frio como o interior.
Comecei a perceber que fui infeliz na escolha
da data. Restava torcer pra que Jompa não estivesse chuvosa igual. Improvável
por ser tão perto mas, quem-sabe?, Recife seja um microclima como Sampa.
Na
escola aprendemos que são quatro estações. Ficamos condicionados ao simplismo
de associar verão a calor e inverno a frio como se fosse um fenômeno mundial.
A
meio-caminho ao guichê da viação Progresso fui interceptado por um indivíduo
oferecendo a vã dum colega ao lado, mais barato que o ônibus, já tá saindo,
patati-patatá. Arrepiei. R$37 o ônibus. Cai fora!, caipora. O ônibus quase
vazio. Os três passageiros fomos conversando a viagem toda. Um não parava de
lamentar que por 10 minutos perdeu o último ônibus e terá de pernoitar em
Jompa. O outro esteve no Chile. Falei sobre a Colômbia. Disse que não cogitou
porque é pobre e rústica como a Bolívia e o Paraguai. Eu disse que isso é
estereótipo. Que pra passear a Colômbia é ainda melhor que o Chile, e que o
Paraguai é muito melhor que Uruguai e Argentina (Exceto Cidade Leste, hehehe).
Nada de
paisagem excepcional. Na periferia muita favela no morro. Nalguns pontos enorme
extensão de lona negra estendida pra conter a erosão. Em 2007 era Recife a
cidade mais violenta do Brasil, hoje deve ser a segunda ou terceira.
Na
saída da rodoviária de Jompa esse segundo companheiro de viagem consultou no
celular o uber ao hotel, no centro, minha reserva. Chamei o taxista, quem disse
que esse hotel é muito ruim, que fica junto a um puteiro, no centro, área
perigosa, deserta e insípida, boca-do-lixo, onde nada se tem pra ver ou fazer.
Que melhor ficar na praia, área turística, onde está todo o agito e se pode
passear na noite sem preocupação. O outro viajante concordou, que era isso
mesmo.
Sim que
a gente fica meio assim-assim em situação assim. Escolhi a não-teimosia e
acertei. Já noite, passou na área e mostrou a feiúra e escuridão do local. A
área da lagoa Sólon de Lucena, aonde fui duas vezes, pois tem os dois únicos
sebos da cidade, um grande e um minúsculo, e comprovei que realmente nada tem, nem
restaurante apreciável além do que fica no parque da lagoa, que é excelente.
Ali tem uma casa de importado, onde comprei um carrinho-de-feira com o qual
resolvi um problema de logística: Tem vez que uma visita aos sebos me deixa com
muito peso. Com o carrinho, cinta de sacola e elástico de motoqueiro esse
problema foi eliminado.
Chegando
à pousada dos Anjos, a duas quadras da praia, anoitecer, como não tem elevador
preferi não ficar no terceiro andar e sim no primeiro, bem na cara da portaria
e com todo o barulho das conversas. Caso eu achasse ruim bastaria pedir pra
mudar. Não mudei. Fui bater perna na área. Já de cara um choque cultural, um
catador de sucata puxando a carroça rua a baixo, ao cruzar:
— Boa
noite!
— Boa
noite!
E não é
só esse. O pessoal ali dá bom-dia com naturalidade. E responde! Não com aquela
cara de bunda do pessoal daqui, achando um saco despertar da hipnose e encarar
um estranho, pois em Campo Grande só conhecido é gente.
Claro
que no hotel não. Ali é aquela babaquice geral. Penso assim: Cumprimentar as
pessoas é uma mostra de reverência e respeito. Mostrar que os reconhecemos como
gente, não como bicho. Mas quem se comporta como bicho como bicho será tratado.
Afinal, e morreria de vergonha se empinasse o nariz e então passasse mal e
tivesse de ser acudido por aqueles a quem considero bicho. É assim que penso
quando me deparo com gente tosca:
— Aé,
né? Se passar mal não é quem está perto quem te socorrerá? E se precisar de
informação não terás de desempinar o nariz?
A área
turística é bem restrita, pequena e interessante, prum passeio de no máximo
cinco dias. Não chovia no dia da chegada, assim pude percorrer vasto trecho na
orla.
Uma
pequena galeria com lojas de produto artesanal e banca de comida, com cuscuz e
tapioca, uma infinidade de cachaça artesanal, de todas as marcas, licor e doce.
Jaca em calda, licor de pitomba, rapadura enrolada em palha tal qual pamonha. Mas
cerveja artesanal não existe ali. Tem uma cachaça cum caranguejo dentro. Outra
com caju. O sabor da cachaça curtida com caranguejo não é agradável nem
desagradável. Vale pela curiosidade. Prefiro o contrário: Almoçar caranguejo ao
molho de cachaça. Não sei como puseram o caranguejo ali. Aqueles famosos navios
na garrafa pode ser que seja desmontado, mas o caranguejo tem de ser inteiro.
Será que sopram a garrafa, na fabricação, já com o caranguejo? Só pode! Já vi
na tevê com cobra e com escorpião, mas com caranguejo é nova.
Aqui
explica como colocam:
Numa
dessas galerias é o centro cultural, onde, rente à calçada, com som alto e
muito agradável, sucessão de músicas juninas, forró, etc, um grupo dançando
quadrilha. As moças com saias coloridas. Empolgante. Foi a melhor surpresa da
viagem, pois havia muito não via festa junina de verdade, só as muito toscas,
descaracterizadas e ensurdecedoras de Campo Grande.
— Taí!
Já valeu a viagem!
A festa
junina ficou nisso, pois era 24 de junho, dia de são João, feriado pessoense e
encerramento das festas juninas. Aqui no centro-oeste temos as festas juninas e
julinas. Pra fugir da concorrência ou aproveitar as férias de julho o São-joão
se estende até julho. Lã não. Lá não existe o vocábulo festa julina. Encerram o São-joão no dia de são-joão e ponto! Igual
encerramos o Carnaval na Quarta-feira-de-cinza.
João
Pessoa e Campina Grande são meio como Campo Grande e Corumbá. Carnaval em Campo
Grande é fraco. Carnavalesco campo-grandense vive de teimoso. Em Corumbá é o
melhor do estado. Pois é só encostar numa barraca e ouvir alguém suspirando:
— Ai!
Queria estar em Campina Grande.
Uma
cliente da barraca, quem suspirou assim, disse que hoje tem o espetáculo da Elba Ramalho em Campina Grande. Que é só
lá que gostam dela, em Jompa o pessoal não gosta porque fala mal da Paraíba,
que por quê mora aqui então?
Fico
muito desconfiado com esse negócio de maior São-joão do mundo. Coisa muito
grandiosa e badalada me deixam com pé atrás. Além do quê evento concorrido
demais é caro e tumultuado. Há muito já tirei da cabeça ir a carnavais como
Olinda, Rio, ou mesmo o boi-bumbá de Parintins. Alta temporada não é minha
praia.
O forte
ali é camarão e água-de-coco. R$2,00, R$2,50, R$3,00 a água-de-coco. E o bom é
que não tem frescura. Mesmo restaurante chique serve água-de-coco e não te
barra por estar de bermuda, como em Curitiba. Por isso é até salutar uma
crisezinha pro pessoal deixar a frescura de lado.
Há
pouco Ramão e Emiliana foram a Fortaleza. Diz que o pessoal lá não conhecia
lagosta e só passaram a apreciar quando na ocupação francesa os franceses
ensinaram. Os frutos-do-mar que vemos no litoral, exuberantes, em Campo Grande
são caríssimos. Caríssimos, não. Nem tem. Só tem esses camarõezinhos de
supermercado, o mais comum. Eu disse:
—
Quê-diabo de vantagem temos em ser o mesmo país? Só de não trocar moeda, não
passar alfândega nem ter de tirar visto e ou passaporte. As mercadorias
deveriam circular no país todo com pouca diferença de preço. Mesmo no
Mercossul. Só há a vantagem de visto. Os correios não se integram, e uma
encomenda custa o olho da cara, seja o governo que for.
No domingo começou a ficar chuvoso. Mas uma
chuva diferente, umas chuviscas fortes durante um minuto, quinze minutos depois
outra. Num momento a chuvisca forte veio com vento, me fustigando areia nas
costas. O engraçado é que ali, onde está o marco do ponto mais oriental das
Américas, não venta tanto quanto Natal, onde o garção na praia vinha cum prato
ornamentado com alface na borda, e quando chegava a alface já voara toda.
Na
altura da pousada o mar é impróprio pra banho. Percorrendo ao norte, no fim o
calçadão muda de pedra a uma lajota, muitas faltando, onde vai ficando deserto.
O lance é ir na direção sul, Tambaú e Cabo Branco. Indo o mais longe possível,
na altura do hotel Solemar, descendo
na areia no fundo duma barraca, um ponto semideserto, onde deixei a sacola num
banco sob um guarda-sol. Ao lado outro guarda-sol onde pouco depois apareceu
uma família. Passamos a tarde ali, dia de céu encoberto, plúmbeo, com chuva
esporádica e mar bravio. E eu feliz feito pinto no lixo, matando a saudade de
banho marinho.
Na
segunda fui aos sebos. A loja perto do sebo Cultural é uma versão chique do
sebo, pros incautos e apreciadores de livro novo. Os mesmos livros da loja-sebo,
muito mais caros. Abre às 10h. Em Jompa e Recife as lojas em geral abrem nessa
faixa, 9h, 10h.
Como no
Chile e na Colômbia, tudo abre tarde, na base de 9h, 10h, pensei que não é por
acaso que a cadeia de banca-de-revista de lá se chama Viña-del-Mar. Estranhei o nome, duma cidade chilena na outra ponta
do continente, onde tomei meu primeiro banho marinho no Pacífico. Na praia tem
uma, e no bate-perna encontrei mais duas. Uma atendente explicou que não é dono
chileno nem tem chileno no meio. É o nome do edifício onde ficava a primeira
banca.
O sebo Cultural é bem grande e na entrada tem
uma lanchonete, que foi a única que não tem água-de-coco. Deveria se chamar
sebo Labirinto, de Minos ou do Minotauro, pois os corredores resultam em verdadeiro labirinto. É um
sebo que não emporcalha capa do livro com adesivo de preço e logo da loja. Almoço
no restaurante da Lagoa, camarão e
lagosta com purê-de-batata e arroz, e água-de-coco, claro, já voltando com o
carrinho-de-feira, portanto sem preocupação com o peso da sacola.
Na
janela do caixa, na direita umas camisetas penduradas em cabide. Numa, branca,
estava escrito Voto nulo. Eu disse à moça do caixa:
— Esse
é dos meus! Voto nulo enquanto o voto for obrigatório.
Então
na direita soou a voz do dono da loja, assomando a cabeça:
—
Queres ganhar a camiseta?
—
Quero! Farei campanha em Campo Grande.
Ganhei
a camiseta. Minha idéia é complementar o dizer, no estilo Jânio Quadros:
Voto nulo
porque fulo!
Um
livro raro encontrado foi Lisboa em
camisa, de Gervásio Lobato, comédia de costume portuguesa do final do
século 19. Em 1960 fizeram uma série portuguesa tirada do livro. Podeis assistir:
Lisboa em camisa
Em camisa é uma expressão lusitana: Na intimidade, sem afetação social, de
chinelo.
Este é sobre o
assassínio a João Pessoa, verdadeira tranqueira. Já falei sobre a bobeira de
ter um tranqueira como Antônio Maria Coelho como nome de rua. Pois João Pessoa é
muito pior.
Primeira-dama da
política local conta gafes suas, alheias e outros relatos
Crônicas e causos do
carnaval pessoense
História e percalços
do bloco carnavalesco pessoense Picolé de
manga
A pedra que canta
Contos de
ficção-científica de autor pessoense. Só estranhei o contraditório título dum
conto: A neoescravocracia advinda. Como
podem os escravos governar? Mesmo assim permanecem escravos?
Durante
toda a estadia em Jompa só usei bermuda, sandália e camiseta. A chuva
recrudesceu a partir da quarta-feira. O rosto já estava vermelho na chegada,
piorando na praiada de domingo. Por isso tive de passar filtro solar, pois
serve também como hidratante, ajudando a recuperar a pele corada. Mas bobeei em
não pedir o pra rosto. Então tive de suportar duas vezes o terrível incômodo de
escorrer e irritar os olhos. Passei esse incômodo no dia seguinte no sebo do Anacleto. Realmente, nenhum restaurante
expressivo além do da Lagoa. Então
almoçar na praia.
Encostado
no muro da orla o restaurante Bahamas,
imitando uma choça de palha. Excelentes pratos de fruto-do-mar, água-de-coco,
chope. Garções simpáticos. No caixa um garção mostrando no celular uma foto
duma modelo num maiô imitando a pele masculina bem peluda. Rimos muito aludindo
à canção de Luiz Gonzaga, Paraíba
masculina. https://www.youtube.com/watch?v=69rv13vRK98
Como
estava chuvoso demais fui pesquisar o valor duma passagem aérea pro dia
seguinte, abortando a volta no sábado, por causa da chuvarada. Em Jompa já
estava tudo feito, e em Recife nada a fazer com tanta chuva. Não compensava
porque passagem encima da hora é muito caro. Melhor encarar a volta via Recife.
Então
na chuvosa quinta-feira fui ao segundo banho marinho. De bermuda de malha, que
serve de calção-de-banho, camiseta de malha e sandália, levando só uma sacola
de supermercado dentro doutra, com apenas um cartão de débito, o filtro solar e
R$11, subi a orla em direção sul, sem me importar com a chuva, a um ponto
diferente do de domingo, não no fundo duma barraca-restaurante. Como era meio
de semana e sem restaurante perto, estava bem mais deserta. Antes de atravessar
a areia pus a sandália na sacola. Meu plano era enterrar a sacola na areia mas
com a chuva o buraco na areia se inundava. Então deixei na beira da
arrebentação. Supérfluo enterrar porque estava muito deserto.
Ali a
onda era melhor, não tão forte quanto no ponto de domingo. Ali fiquei pulando
onda, mais feliz que gato na caixa. O céu encoberto, plúmbeo, como Lima em
junho, e o mar cinzento, cheio de alga. Esporadicamente uma rajada de chuva,
mas nada de raio, pois não vi raio nem ouvi trovão em toda a estadia em Jompa e
Recife. Parece que o nordeste não é terra de raio. Quando chegava um lote de
chuva os edifícios altos, ao longe, na esquerda, ficavam envoltos em névoa,
vaporosos como num filme do expressionismo alemão. Um banho 3-em-1: Mar, chuva
e sol. Não levei relógio. Só dava pra avaliar a hora olhando a posição do Sol
pelo brilho na nuvem cinzenta quando parava a chuva. Um idílio de solidão total
porque as pessoas meteram na cabeça que banho marinho tem de ser com sol,
esquecendo que ali a água é sempre morna. Solidão só ofuscada por duas vezes um
trio caminhando ao longo, longe. E por um casal em estranha cena. Ela filmando
na ponta da calçada, ele em pé, de perfil, com pose que quem fará pipi… Um
instante, e se foram.
Minha
receita pra quem mora longe da praia matar a saudade:
Passar
filtro solar, pra ficar com o cheirinho que faz lembrar praia. Fritar camarão e
tomar uma água-de-coco com canudinho. Pra matar a saudade de pular onda, pegar
o carro e passar correndo os quebra-mola.
Passeio
completado, driblando a chuva, na noite, numa praça-de-alimentação na orla, um
pastel de camarão e, claro, água-de-coco. No caminho o restaurante Canoa de camarão cuma promoção de
rodízio de camarão a R$76. Já ia passando e voltei.
— Não
perco essa.
Fez
lembrar o Mar e terra, de Curitiba,
em 1992.
Voltei
ao hotel driblando a chuva. Quando apertava me abrigava sob alguma marquise.
Teve um momento em que a água começou a descer na calçada, quase chegando aonde
eu esperava. Uma mulher chegou pra se abrigar exclamando:
— Ai,
que frio! Ai, que frio!
Achei
muita graça. Se aquilo era frio… Mas certamente num país frio o pessoal também
acharia graça de meu conceito de frio.
Quando
começou a chover mais tinha esquina cuja calçada ficava alagada, obrigando a
andar na rua. No calçadão da orla muita poça dágua, pois em muitos pontos
formava barriga, retendo água. A prefeitura pessoense deveria caprichar mais
numa área turística tão pequena. Decerto o engenheiro de lá deve ser da mesma
escola dos que fizeram o mirante no parque das Nações indígenas.
Minha
idéia era ir embora na quinta-feira às 5h, pra pegar o primeiro ônibus e
otimizar a manhã em Recife. Mas como os nordestinos abrem tudo tão tarde e com
a chuvarada sem parar, não adiantaria.
O
taxista contou que a época mais barata pra visitar Jompa é imediatamente após
acabar o Carnaval, quando cai em fevereiro. Que Natal era excelente mas que um
prefeito que teve lá fez muito estrago que derrubou o turismo, e é procurado
pela Interpol. Que acha Maceió muito bela mas cidade muito esquisita.
Mais
comparação entre avião e ônibus: Ambos exigem cinto-de-segurança. Não sei por
quê em carro, ônibus interurbano e avião se é obrigado a usar o tal cinto mas
nos ônibus urbanos o pessoal vai em pé espremido feito sardinha na lata, e
mesmo pros sentados não tem cinto. É como as pessoas proibidas de fumar mas as
fábricas podem exalar toneladas de fumaça.
As sacolas
de viagem não são impermeáveis e parece que os bagageiros de ônibus também não.
Então melhor forrar as sacolas com plástico dentro. Em Foz tive um livro
capa-dura que chegou a umedecer a capa, o mais embaixo, sem prejuízo. Chegando
a Recife a sacola que ficou em borrifou água acumulada encima quando o
atendente pegou, sem chegar a molhar dentro. A grande vantagem do ônibus é que
não pesa as malas e não tem aquela maçante palestra de segurança à qual ninguém
presta atenção. Duvido que se acontecer emergência alguém se lembrará dalgum
item daqueles. Talvez só das poltronas supostamente flutuantes. Serão
certificadas pelo corpo-de-bombeiro? ISO não sei quantos mil? A mesma bagagem a
Avianca cobrou R$160 por 8kg de excesso de bagagem! 20R$/kg!
Agora
conseguiram cobrar a bagagem separado da passagem. Logo-logo conseguirão cobrar
também a passagem por quilo de passageiro. Então melhor fazer dieta antes de
viajar.
Outra
diferença gritante é que os outros meios de transporte, ônibus, trem, navio,
têm o valor fixo da passagem, o que facilita muito ante imprevisto. No aéreo é
uma especulação descarada, tipo bolsa de valor, cotação a dólar, sei-lá. Além
de não ter critério pra cobrar excesso de bagagem, a passagem encima da hora
fica o olho da cara, o preço varia conforme a temporada ser baixa, alta (férias
e feriados) ou altíssima (Carnaval). Se tivéssemos um governo nacionalista,
forte, sério e competente haveria leis contra esses abusos e uma aerolinha
estatal pra defender os interesses do povo. E se houvesse trem-bala singrando o
continente haveria concorrência de verdade.
Chegando
a Recife a reserva era no motel Sobrado.
Motel mesmo, cuma parede toda espelhada. Não sei qual é a graça pra quem vai
até lá pra pra pra prará praprá, mas
não sou muito amigo de espelho, ainda mais que sei que em lojas os espelhos são
sempre suspeitos, pois a segurança gosta de usar vidro espelhado pra monitorar
o público. E há motel que filma os hóspedes, pois há um mercado-negro de
filminhos pornô pra vuaiê.
Num vidro
espelhado a luz tem de atravessar o espelho, pra quem está na sala 2 ver a sala
1. Então tem de haver modos de detetar e ou acusar esse fenômeno.
Eis uma
forma de detetar quando é vidro espelhado e quando é espelho verdadeiro.
Aproveitando
o taxista dei uma corrida até a praça do Sebo,
que não sei por quê tem esse nome, pois não é ali que ficam os sebistas mas
duas quadras depois, que na verdade são só dois ambulantes que expõem na
calçada. Coisa mais mixuruca. Marquei com o taxista meia hora num ponto de
ônibus. Enquanto esperava, um ambulante de cedê tocava umas canções góspel pra
lá de brega ao máximo volume. Eta, poluição sonora! Sou mesmo perseguido por
disquejoqueiros malucos!
A
conclusão é que não se deve confiar demais na internete. E não falo só sobre
dicas turísticas. No mapa aparece muita livraria que aparece como sebo mas não
é, algumas não existem e outras é o endereço que não existe. Fui à Gira-livro
em Jompa. Era uma casa residencial. O cara explicou que eram só livros
didáticos e alguns bestséleres que recebia como doação e disponibilizava pra
doação. Eu disse que tem de avisar os portais que ali não é sebo. Respondeu que
isso poderia diminuir as doações.
Cuidado
também com os portais de gerenciamento de hotel. A pesquisa é hotel e aparece
motel, hostel e outras variedades. Como o caso que contei em Assunção, onde a
dona do tal hotel mandou mensagem dizendo que não estaria aberto naquele
horário porque não é um hotel!
O
atendimento do motel Sobrado é muito
simpático e solícito. Tem telefone no quarto, o que a pousada dos Anjos não tem.
Na
manhã seguinte a chuva pausou. Só o que tinha perto era o xópim Rio-mar, nome por causa da região ser a
foz do rio Capiberibe. Dos males o menor.
No guichê
da Avianca, pra pagar o excesso de bagagem, um atendente desconfiou que o casal
que entrou à fila queria fazer chequim:
— Se
for chequim é ali.
Foram. Continuou:
— Vê se
pode! Vira-e-mexe e o pessoal acha que o despacho da bagagem é aqui. Cadê a
esteira? Cadê a balança?
A colega,
apontando uma plataforma no canto oposto:
— Já
responderam que aquilo ali é a balança.
Eu disse:
— Sem
esteira nem balança é porque decerto estão enxugando custo. Colocarão os
funcionários que freqüentam academia pra arrastar as malas e pesar com aquelas
balanças de mola com gancho na ponta. Assim se exercitam de forma produtiva em
vez de se exercitar a toa.
E assim
ficamos rindo da coisa.
Coleção
de cartão-postal de Joanco
Chegou o livro do mais recente projeto da editora Clock tower
Seriam contos de Arthur Machen, mas na verdade são novelas, ou mais
propriamente noveletas.
Esse é um dos grandes autores da literatura mundial. Não só um literato
mas um verdadeiro iniciado. Nas obras de Machen se descortinam autênticos
conhecimentos ocultos enredados em trama literária.
Autor imprescindível
Arthur
Machen – O mestre do oculto
Edição limitada reunindo 9 contos do autor galês, incluindo
sua obra mais conhecida, O grande deus Pã
e uma série de extra incríveis.
A editora Clock tower,
responsável pelo lançamento de O rei de amarelo
e O mundo fantástico de HP
Lovecraft, lançou recentemente o livro Arthur Machen – O mestre do oculto,
primeira obra mais completa em português reunindo obras do autor. E a editora
tem plano de seguir com livros de Machen, uma vez que têm material já traduzido
pra mais 2 livros.
Arthur Machen foi um escritor e jornalista galês, conhecido por suas obras
sobrenaturais e de fantasia. Seu conto mais conhecido, a novela O grande deus Pã, está no livro da Clock tower junto
com outras obras inéditas em nosso idioma.
Arthur Machen
– O mestre do oculto pode
ser adquirido com todas as facilidades possíveis na conexão:
Mais
informação sobre o livro:
Lista de
contos:
1 – A luz
interior
2 – A mão
vermelha
3 – A
pirâmide de fogo
4 – Ao
abrir a porta
5 – O
povo branco
6 – O pó
branco
7 – O
sinete negro
8 – O
grande deus Pã (novela)
9 – Um
jovem brilhante
Apêndice
- Artigo
Machen x Lovecraft
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Biografia da equipe editorial
- Nome
dos colaboradores
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Endereços internéticos dos parceiros da editora
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